segunda-feira, 29 de agosto de 2005

[Custo e preço de um medíocre]

"Senhores leitores: encarregaram-me de vos dizer que a direcção protectora decidiu proibir que vos fosse mostrado quanto custa e rende um medíocre, porque o inquérito, feito por sujeitos competentes, tinha o grave defeito de mostrar o medíocre a nu, cena eventualmente chocante para a estabilização da bolsa de mercadorias. Em seu lugar, prometemos redescobrir o Brasil, a bem da mediocração"

[Mário Henrique-Leiria, in Aqui, nº 2, Setembro 1976]

A espuma intelectual

"... O bom povo e os revolucionários de ontem deram lugar às vítimas de hoje..." [Helena Matos, in Publico]

A festa da semana, entre os intelectuais, teve a inspiração de uma deliciosa Carta Aberta de Maria João Seixas a esse talento restaurado do jornalismo, de nome Helena Matos. Na brisa do dia seguinte, o protesto à patifaria de MJS escarrapachou-se nas Cartas ao Director - cortesia José Manuel Fernandes & por amor à plebe -, pondo a descoberto essa ferramenta do intelecto (E.P.C. dixit) que assina para a imortalidade da escrita indígena, Inês Pedrosa. Ficámos entendidos.

Graciosamente, o trato espiritual da douta questão fez correr no berço da blogosfera uma série de afectadas gratidões liberais pela cheia de graça Helena, profundos & piedosos desagravos contra a sentença de MJS, acabando em reputadas sentenças em torno da moral cristã, do dever & culto da discrição intelectual, afinal qualidades temperadas nas delicias da tinta instruída da paróquia lusa. A afronta assim desmerecida fez, entre o pânico dos livres-pensadores neoliberais, esperar uma qualquer esculpida réplica pela pena ajuizado da própria Helena Matos. Debalde! O brilho profano da jornalista semanal e historiadora em part-time não se vislumbrou. A prosa e os atropelos à gramática da dita senhora foram mais um descalabro. A vassourada da doce Helena teve a inteligência dum garoto do ciclo preparatório. E o folheto heróico celebrou a inteligibilidade costumeira - nenhuma. Pobre Lucília!

Ingrid Bergman [n. 29 Agosto 1915-1982]

"I was informed that you were the most beautiful woman ever to come to Casablanca. That is a gross understatement." Captain Renault (Claude Rains) to Ilsa Lund (Ingrid Bergman), Casablanca (1942)

Locais: The Official Ingrid Bergman Web Site / Ingrid Bergman / Ingrid Bergman Gallery

quinta-feira, 25 de agosto de 2005


Elogio da vida portuguesa & aviso aos nobres leitores

"Dois copos no balcão. A garrafa / à mão" [E. G. Carneiro]

Senhores, o temor das palavras deslavadas que do charco da Nação ainda nos surpreendem, pisam os nossos pés. Acabados de arribar do doce pecado além-mar ou luz do mundo, a voz dos indígenas asseguram-nos que estamos em pastagem lusa. O taxista que não pastoreia já coisa alguma, diz-nos a oração costumeira: "os povos felizes não têm história". Evidentemente!

Sentimos, entretanto, a respiração do dr. Sampaio quando bradava contra o mundo infecto dos incendiários e ... padecemos. Sampaio tinha o corpo crivado de anos de relaxação governamental e felicidade urbano-depressiva. Todos desconheciam esse glorioso desembaraço. Mesmo os jornalistas. Sem mais, essa língua do céu que é o DN, declara a candidatura presidencial do excitante prof. Silva. Sem lastimar a nossa sorte, que as desgraças são tantas & sem repouso, sentimos de imediato a venerada atenção das donas-de-casa lusas, o arrebatamento republicano da sopeiral Helena Matos, o convite chez Espada Club para um tea-party liberal, a energia da escrita de Pulido Valente filho e as avés-marias de meia-dúzia de intelectuais ditos de gauche, todos esperando o Godot de Boliqueime. Entretanto, Figueira da Foz ardia e Coimbra expirava de dor. No resto do país o choro e o luto eram totais. Home sweet home.

Antes de abrir a alma ao casual rebuliço do leito, antes mesmo de tocarmos o silêncio no descanso das palavras, soubemos do encerramento do Arqueólogo, do Aviz, Azul Cobalto, Fora do Mundo e Joaquinzinhos. O mundo está, de facto, perigoso.

domingo, 7 de agosto de 2005


... além mar

Informamos os estimados amigos, que em boa hora caminham para o lava pés costumeiro e em inocente saudade juvenil, que os descansos deste mês de Agosto, para nós, têm o encanto de além-mar. É verdade: o Rio de Janeiro continua lindo! Diremos que a lide diária é prometedora. Estamos mais instruídos. Os sebos fazem-nos uma dor imensa, é certo, mas obedecemos à voz da perseverança. Peca-se por aqui, de felicidade. O resto não dá para dizer.

Desta forma, para que não vos canseis de horrores sócraticos & mendistas, daqui vos damos um sopro de viração & devoção ardente, ali do lado esquerdo da pedra. Nada mais que o tumulto de José Mário Branco em "Cantiga de Alevantar". Que é o que mais precisamos. Aceitai-o no vosso coração. E a continuação de boas férias, sol & banhos. Disse.

Curtas ou como amontoar cascalho

"Há penúria de escriturários. Tudo corre para o jornalismo" [Karl Krauss]

- à sombra da adega, que a noite era devota para animar o gentio de Vilarelho, a rapaziada da Periférica fez uma ousada entrevista a Helena Matos, conhecida militante liberal e escriba privativa d'O Público. A ventura desta arrojada paixão pelas sentenças sopeirais da dita senhora lá foi germinando, presume-se entre algum desporto líquido presenteado pelo verde puríssimo e o debate sobre as ilustrações da Atlântico, ocupando algumas páginas hilariantes da revista dos moçoilos. O calão político vulgaríssimo da grande educadora liberal foi de uma puerilidade feminina espantosa. A erudição não foi bem trabalhada. A trovadora liberal orna a ignorância com vistosa colheita de mesa-de-café. Compreende-se, pois, que o clamor picaresco da estimosa senhora eduque a boa gente liberal. Após alusões de circunstância e outras regateiradas, os entrevistadores e a insigne senhora partiram de enxada às costas para novas pregações. Virtude admirável! Quem os viu assegurou que os seus lábios eram avaros. Tal como os dias.

- a saraivada de "livros para férias" que o prof. de Oxford, João Carlos Espada, da mansidão da rotina da silly season descreve, no Expresso, para uso e abuso de veraneio, são mimosas leituras para corpos delicados e espíritos abatidos. O colunista do "Mar Aberto", averso a leituras ao longo do annus horribilis de práticas gastronómicas, assinala copiosas obras, a saber: o conhecido Martin Wolf, tormento do magistério de José Manuel Fernandes; o lembrado "What América Can Learn from School Choice in Other Countries", onde se celebram virtudes aos pobres e à classe operária em geral; as controvérsias de Scalia, para constitucionalistas prudentes e seus confessores; a narrativa social-cristã de D. António dos Reis Rodrigues sobre o lugar da Família, da propriedade privada e do Estado (versão soft de Engels); um tal "Milagre Português", croniquetas de desmando panfletário do César das Neves e 1 (um) romance recrutado ao inefável arq. António José Saraiva. Ficámos acabrunhados. Nem um policial de algibeira, uma poesia inspirada, ou romances e novelas graciosas, nos foram impacientemente sugeridos. O clima poético ou romanceado da livraria avulsa do colunista não atinge a altura intelectual chez Espada. O coração livresco do desabusado professor é um desastre. Confirma-se, assim, o dizer: "as obras fazem os homens diferentes". Boas leituras.


"Bem-aventurado o coleccionador! Bem-aventurado o homem privado!" [Walter Benjamin] [aqui]

"O bibliófilo está sempre garimpando. Basicamente é o «viciado» por obras raras ou edições de arte ... Interessa-nos a capa, a encadernação, as ilustrações, a dedicatória, o autógrafo, as anotações no meio do livro ..." [José Salles Neto, Presidente da Confraria dos Bibliófilos]

"A arte de «bookinar», expressão do poeta Carlos Drummond de Andrade, está cada vez mais difícil" [professor Marcondes] [in A paixão na prateleira]

"Apesar dos anos de garimpagem, [José] Mindlin não se define como um colecionador, mas, antes de tudo, um leitor inveterado. «Estou sempre com um livro na mão», conta. «Sou um leitor que passou a bibliófilo.» A leitura foi a origem de sua vasta coleção, com os livros sendo adquiridos um a um. Mas como Mindlin interessa-se pelos mais variados assuntos - ficção, poesia, teatro, biografia, ensaio, relato de viagem, para ficar em alguns -, a biblioteca cresceu «indisciplinadamente», como ele gosta de frisar (...) Aos poucos, vai surgindo o interesse pelas primeiras edições, as encadernações, as tipologias, ou seja, a atração do livro como objeto. Chega-se então à busca de raridades. Nesse ponto, o leitor já está irremediavel mente perdido. Foi o que aconteceu comigo. Dei-me conta de que era uma doença incurável, mas, ao contrário das outras, só me fazia bem. Por isso, nunca me preocupei." [ler mais aqui]

"... não somos nós que temos a biblioteca, ela é que nos tem" [Guita]

Chamas do nosso desvario

nós temos chegado ao fim de tudo. o fado deste país é andarmos a ser, desde sempre, administrados por criaturas banais. o discurso confiado na classe política é a perda na nossa dignidade. deputados ou ministros, jornalistas e cidadãos, todos nós estamos resignados. chorados. pagamos o tributo desde o óasis cavaquista, que nos desviou da lide agrícola em troca dos enfeites citadinos e da maravilha da sociedade de consumo. passámos prestáveis pela cobiçada aventurança guterrista que nos fez prostrar de joelhos no défice e no compadrio dos boys. encantamentos tivemos na apalavrada época barrosista, afinal protector de uns poucos para perseguição, sacrifício e desgraça de muitos mais. e que nos condenou para todo o sempre a sermos as ovelhas negras da União. sorrimos na desgraça do santanismo & da sua garotada, que o desastre era já ali. voltámos a ser fervorosos da saudade decente de querermos um governo digno, proveitoso, moralmente são. sem qualquer esperança tudo nos arde. incautos deparámos com novas humilhações. a nossa virtude é não termos virtude alguma. sermos rascas. delicadamente grosseiros. a censura não passa, nunca, por aqui. está sempre noutro lado. estamos, decisivamente, embaraçados. assombrados de miséria.

sábado, 30 de julho de 2005


Patroa e amiga:

todo mundo dize que vosmecê presta a tensão a fala que ressoa dos lados de cá, assim a modos que sustança espanto & danação. a senhora patroa conhece de mim, não a quero desencaminhar, mas conversa já conversada a atrasado me deu saudade e um soluço dificultoso como romance-velho e a modos estou por cá muito descriado no vai e vem desta vida. eu não queria querer contar, que a dotôra "que é da cidade tem diproma e posição", mas tem um particular remexendo na lembrança é que sôr Virgulino mais a jagunçada braba morre em terras de Angico aventurando balas amor carinho riso e nem a senvergonha da noticia na miudez das normas da blogosfera o fraseado de seu Lampião sai. carece de prevenir. arrespeite mê pai o cabra português contava que sôr Virgulino "olhava, sem pousar os olhos" os cabras periquitavam assobiando e Maria Bonita era rio de braveza. descarecia. sabe todo o mundo espera que o sertão vem até que o dia deu mas o sertão é dentro da gente lá canta Guimarães Rosa.

pelo dito e visto vosmecê me lembra a honra dessa gente por isso encaminho a missiva

deus a tenha

almocreve

PS: com sua licença dada e reprazer dos ledores lhe mando um desenho de sêo Lampião mais Maria Bonita e solto ali de lado a sentimento meu uma moda dançadinha que cá sou pé de salão a musica recantada de seu Luiz Gonzaga o vira e mexe que "a vida é ingrata no macio de si". agradecido.

Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) [1897-m. 28 Julho 1938]

"Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor...
" [Zé Ramalho]

Locais: Lampião / Lampião: O Rei do Cangaço / Biografia de Lampião / Biografia de Virgulino / Conheça a história de Lampião, o "Rei do Cangaço" / Maria Bonita / A verdadeira história de Lampião / Lampião 65 anos sem o rei do Cangaço / História do Cangaço / Justiça para Lampião / Cangaço no teatro / A Volta de Virgulino pra consertar o Sertão (Literatura de Cordel) / A Chegada de Lampião ao céu (Literatura de Cordel)
Por uma vez ...

«pode o Governo s.f.f. colocar em linha os estudos sobre o aeroporto da OTA para que na sociedade portuguesa se valorize mais a 'busca de soluções' em detrimento da 'especulação'?» [JPP]

... ou o choque tecnológico não permite traduzir, ainda, os sinais dos tempos e a necessária transparência do debate sobre o investimento e gestão dos bens públicos? Ou deve continuar a permitir-se, ainda, que anúncios tão abundantes e robustos, estudados por tamanho cabedal de ideias, restem no bolor dos gabinetes sem servir a causa pública e à mercê de cruzadas pessoais e partidárias? Afinal, o sacrifício imposto (despudoramente) aos cidadãos contribuintes, ao longo destes malfadados anos de prosápia anti-défice, não merece respeito e atenção? Será que não vos assusta a vossa indolência governativa e a vossa miséria democrática? Será!?

Dias frenéticos de molha pés

A imprudência destes dias sem blogar nocturno resultou numa reviva de lembranças & delícias saudosas, desconhecidas. E, como diria E.P.C., "um dia não acaba em um dia". Louvado seja, pois, o talento da preguiça e a credibilidade dos restaurantes. Diremos que as águas estavam de uma canseira suave em demasia para homem esclarecido. Não inspiravam assunto. Nem vontade de desprender horizontes. Como o areal andava sem alvoroço e os mercadores de jornais nem vê-los - toma lá Ó arq. Saraiva! -, ficámos entre os letrados d'A Bola & a instrução do Record, acompanhando gratuitamente o vexame governamental pronunciado pela memorável assistência de veraneantes. A oratória fortalecida do bridge nocturno foi a nossa piedosa salvação. Estamos de volta, do meio da água, retemperando forças para novas vigias além-mar e a respeito do mundo temos súbitos enfados. Nada mais.

Agradecemos o rol de missivas, que nos fizeram corar de assombro e alvoroçada alegria, prometendo responder a todos sem distinção. Vale!

sexta-feira, 29 de julho de 2005


Alexis de Tocqueville [n. 29 Julho 1805-1859]

"A liberdade política dá, de quando em quando, a certo número de cidadãos, sublimes prazeres. - A igualdade oferece diariamente uma multidão de pequenos gozos a cada homem. Os encantos da igualdade sentem-se a todo o instante, acham-se ao alcance de todos; os mais nobres corações não lhe são insensíveis e as mais vulgares almas nela encontram suas delícias. A paixão originada pela igualdade deve, pois, ser simultaneamente enérgica e geral"

"Nos tempos de igualdade, os homens não têm fé alguma uns nos outros, por causa de sua semelhança: esta própria semelhança, porém, dá-lhes uma confiança quase ilimitada no juízo do público, pois não lhes parece verosímil que, possuindo todos luzes semelhantes, não se encontre a verdade com a maioria ... Por conseguinte, o público possui, entre os povos democráticos, um poder singular, cuja ideia as nações aristocráticas não podiam sequer conceber. Mão insinua, mas impõe as suas crenças, fazendo-as penetrar nas almas, por uma espécie de imensa pressão do espírito de todos sobre a inteligência de cada um?"

"[é] na comuna que reside a força dos povos livres. As instituições comunais são para a liberdade o mesmo que as escolas primárias para a ciência; colocam-na ao alcance do povo, permitem-lhe saborear o seu uso tranquilo, habituam-no a servir-se dela. Sem instituições comunais, pode uma nação escolher um governo livre, mas não possui o espírito da liberdade. Paixões efémeras, interesses momentâneos, o acaso das circunstâncias podem dar-lhe as formas exteriores da independência; mas o despotismo, recalcado no interior do corpo social, cedo ou tarde reaparecerá na superfície"

[Alexis de Tocqueville]

Catálogo 50 da Livraria Moreira da Costa

A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) deu à estampa o seu Catálogo, número 50, de livros raros, esgotados ou curiosos. Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Álbum dos Vencidos, de Alberto Pereira de Almeida, s.d. / Portugal Económico (tomo I e único publ.), por Anselmo de Andrade, 1918 / Mea Villa de Gaya (Guia illustrado do Concelho de Gaya), de António Arroyo et al, 1909 / O Último Cartuxo. Da Scala Caeli de Évora, por António Francisco Barata, 1891 / Les Deus Prostitutions, de F. Carlier (contem uma parte que trata da homossexualidade masculina "considerada um estudo pioneiro"), 1887 / Uma Página da Universidade. Precedida de uma carta ao author por Levy Maria Jordão, de José Cardoso Vieira de Castro, 1858 / Colecção Portucale, Edições Inapa, 2001, XI vols / Vida Debaixo da Terra. Tragedia histórica de um preso politico de Caxias, por Fernão Corte-Real, 1912 / A Democracia Nacional, de Henrique de Paiva Couceiro, 1917 / A Guerra de Africa em 1895 (Memorias), de António Ennes, Lisboa, 1898 / A Restauração de Portugal. Alma Portugueza, 1902-1903, III vols /O Balio de Leça, de Arnaldo ama, 1872 / História de Portugal (dir. de Damião Peres), 1928-81, IX vols / Analyse da Carta Constitucional da Monarchia Portugueza, por Fr. João Baptista de Jesus, 1863 / Discurso Juridico, Historico e Critico Sobre os Direitos Dominicaes ?, de Manuel de Almeida e Sousa de Lobão, Lisboa, 1819 / Manifesto dos Direitos de Sua Magestade Fidelíssima, a Senhora Dona Maria Segunda e Exposição da Questão Portugueza, Londres, 1829 / Socialismo Libertário ou Anarchismo. Historia e doutrina, de Silva Mendes, 1896 / Novo methoso para Aprender a Grammatica Latina, de Manoel Monteiro, 1746 / Guia do Viajante nos Caminhos de Ferro ao Norte do Douro ..., por Júlio César d'Abreu Nunes, Porto, 1879 / Guia do Viajante na Cidade do Porto e seus Arrabaldes, de Alberto Pimentel, Porto, 1877 / Código Pharmaceutico Lusitano ou Tratado de Pharmaconomia ..., de Agostinho Albano da Silveira Pinto, 1836 / Revolta Militar no Porto em 31 de Janeiro de 1891. Os Conselhos de Guerra e as Respectivas Sentenças, Porto, 1891

quinta-feira, 21 de julho de 2005


Habilitações necessárias para Ministro

[em louvor & pasmo de Teixeira dos Santos]

Saídos do banho em delícia de veraneio & honrando o corpo a expensas de prazeres muito carnais, para leitores instruídos, porém devedores do santo trabalho, daqui, desta espuma que o exílio evoca, lançamos ao respeitável público o rol de "habilitações necessárias para ministro", obviamente dedicado ao novel Ministro da Fazenda. E à paixão do défice, que tem enterrado os nossos melhores filhos. Sem um único queixume mas com sofrimento & tragédia pública. O carinho com que acompanhamos, em banho de lágrimas diga-se, a solução do magno problema da fazenda faz-nos andar com "as mãos na água" e a "cabeça no mar". Entenda-se!

Mas é bom regressar a Eça de Queiroz. Assim, neste hora solene, quasi post-sócratica, dali, da pedra esquerda consolativa, agitamos, para reanimar as gerações vindouras, o ilustre Eça de Queiroz em "Habilitações necessárias para ministro". Sob leitura de Jacinto Ramos. Boa tarde!

Crise na Fazenda do Eng. Sócrates

"Os economistas são respeitáveis professores da ciência sombria" [Carlyle]

Este País não tem remendo possível. Ora se consome em palavrosos conflitos - bramindo sublevado ruídos sobre a validade da pátria - ora se abate em copiosas lágrimas por um repudiado ministro caído em desgraça, novo mártir que os opinativos colunistas erguerão em dor pungente. O cinismo disto tudo é um desaforo nada aceitável. Enquanto a soldadesca liberal regurgita de fúria face à desgraça pública da saída do ministro, animados que foram pela profunda reflexão de Campos & Cunha sobre a tormenta dos investimentos, dada à estampa no jornal do companheiro JMF, os incansáveis socialistas acham tudo absolutamente normal. Isto é, se o evangelho liberal, como sempre, navega à vista na confusão da sua revolução conservadora, os procuradores da maioria governamental são marionettes nada exigentes. A coerência é total.

O espantoso disto tudo é a quantidade de fantásticos professores-economistas que ao longo dos anos são deliciosamente maltratados. Ao trocar a prelecção da sebenta no cadeiral universitário pela efabulação do sofá ministeriável os senhores professores mostram não só o que aprenderam sob pavilhão estrangeiro mas também arriscam revelar o que na cátedra ensinam à mente conspícuo do estudante. É bom de ver que as formosas teorias económicas e financeiras tricotadas habilmente pelos lentes resultam invariavelmente, quando a prescrição exige e o BCE aplaude, numa enorme trapalhada de opiniões, que aliás a história do pensamento económico bem cedo anotou. Está na lembrança o opinioso protestatório em torno do milagroso superavit em tempos idos de Junho de 1913, sob a alçada de Afonso Costa, e a comoção havida entre os "economistas" domésticos. Não há, pois, gratidão ou respeito algum pela inteligentzia. Que a lamentação, em breve, de Teixeira dos Santos seja piedosa, é o que se deseja. A bem do magistério.
"Manifestação de apoio e não só"

"A multidão invadira a praça, rodeando a estátua que lá em cima apontava algo glorioso. Espezinhando canteiros, inundando ruas adjacentes, vociferante. A manifestação.
Palavras de ordem. Guinchos. Várias crianças à procura do pai.
Era o apoio. Incondicional, ininterrupto, ao Primeiro Ministro.
Ali, na praça enorme e paciente.
O Primeiro Ministro olhou por uma das janelas, no terceiro andar antiquíssimo do Paço Ministerial. Sorriu levemente. Apalpou a cara, passou uma das mãos pela lapela do casaco, numa carícia inconsciente. Acenou com a cabeça, discreto, um pouco irónico, ao ministério perfilado no fundo da Sala de Actos.
Dirigiu-se à varanda alta, sobre a praça apopléctica.
Abriu a janela num gesto paternal e deu um passo em frente.
Ouviu-se um som murcho e abafado, uma espécie de paff, lá em baixo, no empedrado decorativo que circundava o Paço.
Alguém tirara a varanda. Toda.
Isto não se faz, é muito feio."

[Mário Henrique-Leiria, in Aqui, nº 2, Setembro de 1976]

Hart Crane [n. 21 Julho 1899-1932]

"Muitas vezes das ondas, do largo desta escarpa
os dados de ossos dos afogados que ele vira mandam-lhe
embaixadas. Os números quando os notava
caíam na praia e se volviam obscuros.
...
E então no circuito calmo de uma vasta curva,
encantado o chicotear e conformada a malícia,
gelados olhos havia que levantavam altares;
e silentes respostas se esgueiravam de astro a astro.

Bússolas, quadrantes, sextantes já não forçam
mais marés. Alta nos azuis declives
a monodia ao marinheiro não despertará.
Esta sombra fabulosa só o mar a guarda"

[Hart Crane, "No Túmulo de Melville", trad. de Jorge de Sena]

Locais: Hart Crane (1899-1932) / Harold Hart Crane / Hart Crane (1899-1932) / À Ponte de Brooklyn [poema de H. Crane] / Contemplação do Urbano (Ensaio sobre a poesia de Hart Crane) / Brooklyn Bridge: facto ou símbolo? / As Vozes Submersas: Nome, Prece e Canção em The Bridge, de Hart Crane / O poeta Hart Crane suicida-se no mar [poema de Vinícius de Moraes]

sexta-feira, 8 de julho de 2005


Boletim Bibliográfico 26 de Luís P. Burnay

Referente ao mês de Julho, acaba de sair o 26 Boletim Bibliográfico do livreiro Luís P. Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), como sempre excelente. Peças monográficas, históricas, literárias, alguns lotes modernistas valiosos e raros, caracterizam este boletim.

Algumas referências: 30 Anos do Estado Novo, dir. Matos Gomes, 1957 / Mistérios da Praia da Rocha, por Marcos Algarve, 1926 / Obras Completas de Nicolau Tolentino, 1861 / Santos Portugueses, de João Ameal, 1957 / 3 primeiras edições de Sophia Mello Breyner (Livro Sexto, 1963; Mar Novo, 1958 e Dia do Mar, 1947) / Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, com notas de Natália Correia, ed. Rio de Janeiro / Roteiro da Ribeira de Lima, pelo Conde da Aurora, 1929 / Algarve Monumental, de Correia de Azevedo, 1977 / Ruas de Lisboa, de J. J. Gomes de Brito, 1935, III vols / Lisboa nas auras do povo e da historia, por Luís Chaves, 1961-69, IV vols / O Livro do Nómada Meu Amigo, de Ruy Cinatti, 1958 / Historia do Infante D. Duarte, irmão del Rei D. João IV, por José Ramos Coelho, 1920, III vols / Conta publicada pela Comissão encarregada de dirigir a distribuição do Donativo Votado pelo Parlamento do Reino Unido ... para socorro das Terras de Portugal devastadas pelo inimigo em 1810, Lisboa, 1813 / Documentos Históricos da Câmara Municipal de Lisboa. Livro dos Reis, Lisboa, 1957-1964, VIII vols / Documentos para a Historia da Arte em Portugal (or. De Raul Lino e Luís Siveira), 1969-1976, XV vols / 40 Noites de Insónia de fogo de dentes numa girândola implacável e outros poemas, de António José Forte, 1958 (raro) / O Saloio, por João Paulo (Mário) Freire, 1948 / Monografia do Parque da Pena, de Mário de Azevedo Gomes, 1960 / Ofício Cantante 1953-1963, de Herberto Hélder, 1967 / Historia de Portugal, de Alexandre Herculano, 1853-58, IV vols / Integralismo Lusitano (dir. de Luís de Almeida Braga, Hipólito Raposo), vol. I e II, Abril de 1932 a Março de 1934, 24 fasc. Em II vols / Os Pescadores da Vila de Peniche, por Albino Lapa, 1954 / Sindicalismo Personalista: plano de salvação do mundo, de Raul Leal, 1960 (raro) / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jarry seguido de o Senhor Cágado e o menino, de António Maria Lisboa, 1958 (raro) / O Livro de Alportel, por Estanco Louro, 1929 / Legendas de Portugal, de Rocha Martins, XIV tomos em IV vols / Mundo Português: imagens de uma exposição histórica, 1940 / Orpheu, por Almada Negreiros, 1965 / Relevos, de Fernando Namora, 1937 / O verbo e amorte, por Vitorino Nemésio, 1959 / Entre a cortina e a vidraça, de Alexandre O'Neill, 1972 / Na Inquisição do Salazar, de Luís Portela & Edgar Rodrigues, pref. de Roberto das Neves (conjunto de cartas sobre "as atrocidades cometidas pela policia politica do Estado Novo" ? foi proibido em Portugal), Rio de Janeiro, 1957 / Nobilíssima Visão, de Mário Cesariny Vasconcellos, 1959 / Planisfério e outros poemas, idem, 1961 / Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos, idem, 1953 / O Paço de Queluz, de Francisco Câncio, 1950 / Graal (revista), dir. António Couto Viana, nº 1 (Abril/Maio de 1956) a nº 4 (Dez 1956 /Julho 1957), IV nums, completa / Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, Bertrand, 1944 (raro)


Locais: Al Qaeda strikes in London's heart / Al-Qaida is exporting the war from Iraq to Europe / And this is why they did it / Conflit de valeurs / Esta vez, Londres / Iraq: the wrong war / La presse européenne s'inquiète d'une menace globale / Let the Olympics be a memorial / London: The latest ground zero / London lives / Online photos proliferate after London blasts / Please Appease Me / The price of occupation / The struggle against terrorism cannot be won by military means

quinta-feira, 7 de julho de 2005



[blogs] About this boy / Andrew Ian Dodge / BackCountry Conservative / Blood and Treasure / BuzzMachine / Europhobia / Guardian news blog / Norm Geras / perfect.co.uk / Project Nothing / Rhymes with Right / The Command Post / Tim Worstall / Tinkerty Tonk

Londres ... de novo a barbárie

Que resta dizer quando o ruído que trazemos na alma é um imenso distúrbio e a memória é coisa ininteligível. Ainda que esta cortina, negra, aberta ao terrorismo, à barbárie, ao terror, seja um vendaval constante, uma maldição - neste sonho colectivo de democracia que não pode quebrar -, ainda que o labirinto da nossa memória viva excessivamente, ainda que a prudência nos diga que "precisamos de inteligência" para o combate ao fundamentalismo religioso islâmico, ainda ... assim esta estranha incapacidade de construirmos uma estratégia comum contra o terror e a violência, perdura. Hoje Londres, ontem Madrid e Nova Iorque. Amanhã outro lugar. O espaço do terrorismo desliza na paisagem. O gesto para o derrubar exige muito mais. Entre eles esse trabalho de laicizar os Estados, seja eles quais forem. E manter a dignidade, a nobreza e as virtudes reveladas pelos londrinos que, como noutros tempos, nunca vacilaram mesmo sendo a amargura imensa. Sem vergar!

Locais: A Letter To The Terrorists, From London / BBC News / Coordinated terrorist attack in London / Letter from London / London Bomb Blasts Pool / News Now / Rush-hour attack on London / Technorati:London

quarta-feira, 6 de julho de 2005


[diálogos improváveis]

-- Mira, Fidel, éste Dirceu és un cabrón. Más uno traidor de la revolución? Donde fué que erramos, jefe?

-- Queda tranquilo, mio Che. Como dice el Bob Dylan, "Los tiempos cambian". Además, hoy en día, hay que endurecer pero sin perder la gordura.

[via Prosa Caótica]

5 - Aniversários atrasados - 5

"(... para amanhã ter a ilusão
de que o mundo é um sonho sem forma
a sair-me da cabeça.)
" [J.G. Ferreira]

A desdita fez com que 5- blogs -5 celebrassem a glória do aniversário e nós por cá nem desfalecemos de alegria. As virtudes com que pedalamos na blogosfera [Oh! P'rá nós na sedução em serviço de duas rodas], neste abraçado mês de Julho, comprometem a movida. Porém, são sinceros os votos de felicitações ao Adufe, Litle Black Spot, Opiniondesmaker, Pantalassa & Um Mundo Imaginado. Sejam, por isso, benevolentes. Esvoacem de gozo & grandeza. Vistam-se de graça. Saúde e fraternidade. Cheers!

No aniversário ido ... do Dias com Árvores

[para a Manuela. Felicitações]

"¿Cómo vive una rosa
si la arrancas del suelo?
" [Luis Cernuda]

"... Plantar uma árvore é desejar viver na natureza, incorpora-se nela e prolongar a própria existência. Nós vivemos com as árvores que plantamos, e, ainda quando o seu desenvolvimento máximo deva ser atingido muitos anos depois, nós acompanhamos, em espírito, esse desenvolvimento através do tempo e como que assistimos aos benefícios que essas árvores hajam de espalhar na frescura da sua sombra, na beleza do seu porte, na doçura dos seus frutos e até na riqueza da sua própria madeira. Isto é: vivemos no futuro com a árvore; e os que vierem depois de nós, hão-de certamente, lançar um olhar piedoso para essa árvore que cresceu, representando, na sua mente, a memória bendita daqueles que a plantaram ..."

[José de Castro, in pref. A Árvore, Biblioteca da Infância, 1913]

Devaneios e trapalhadas da Rosa

"Pela estrada plana, toc, toc, toc,
Guia o jumentinho uma velhinha errante ...
" [G. Junqueiro]

Está claro: vem aí uma formidável trapalhada. A sentença para o país, dada com pompa e circunstância, ontem em sede do PIIP e a sua consolação, já noite dentro, pelo assombroso Sócrates (num bom momento de forma) via SIC, fundamenta os receios que lavram na paróquia lusa. O aspecto irrepreensível da apresentação da "coisa", que no dizer de Sócrates se "destina a criar um clima de confiança e de apelo ao crescimento", não ultrapassou sequer o seu merecido rescaldo.

Era ver os inauditos empresários, todos muito ajeitadinhos & ao molhe, do alto da sua imaculada quanto prudente essência empresarial, partirem à desfilada porta fora, para outro refúgio. O peditório, presume-se, não foi de muita estimação. O empresário indígena ainda se guia pelas doutrinas da infância do Estado Novo. Adormece quando lhe fazem ver que é empresário e/ou capitalista. Cá no burgo, o capital é uma vaidade para mostrar aos amigos, família & afins. Não é ferramenta intelectual nem o risco, decerto, é esmero que se venda a qualquer um.

Assim, esperar que este noviciado Plano de Fomento rosa, para além das megalomanias costumeiras e do desperdício de dinheiros públicos que gera, se concretize na/pela participação/decisão de investidores particulares lusos resulta em coisa pouco credível e, no invés, dará trapalhada certa. O exercício socrático de chamar a si ... os empresários e a populaça arrisca-se a uma pura esterilidade.

Enquanto isso, as comadres do Bloco Central, à falta de coisa melhor, lavam a roupa em S. Bento. A parceria da futricagem é verdadeiramente espantosa. O frenesim dos reparos em torno do Omo que lava melhor é uma oratória encadeada de respostas e contra-respostas, de regras e contra-regras, de desaforos liceais bem inspirados. E o Ministro das Finanças, em devoção extremada & em abono do défice, lá vai arranjando lenha para a fogueira dos impostos de todos nós, dando ocasião ao delicioso Santos Silva e ao imortal Oliveira Martins para fazerem o quebranto da rosa. Tudo engenhosamente sublime, decadente e rasca. O naufrágio está, portanto, à vista. Cuidem-se!
Livros & Arrumações [encomenda para o L. Miranda, Zé Viana e pró Motinha, algures a algarviar]

- curiosa separata da Revista Agronómica [vol.23(4):201-220, 1935] de Manuel de Sousa da Câmara intitulada "Abegão e Abegoaria". Trata-se, como se diz, de "ligeiros subsídios para um vocabulário agrícola e florestal português", importante para o conhecimento da "indústria agrária" e útil à "ciência dos campos". Estes apontamentos são agraciados ao Padre Luisier, Gustavo Matos Sequeira, Carlos Paim dos Reis, Augusto Ruela, Veloso de Araújo, Domingos Rosado, Rodrigues Simões e Carlos Rates (curioso!). Sobre cada uma das palavras [abegão e abegoaria] o autor faz um historial etimológico interessante, de vastas referências; depois parte para o significado da palavra, subsídios corográficos e elementos genealógicos

Para abegão temos, então, dirigente da abegoaria, empregado, chavão da lavoura, abaixo de feitor, carpinteiro de carros, fabricante de utensílios de lavoura e, ao que é dito, só é observado a sul do Mondego já que a Norte subsiste o moço, rapaz de penso ou pensador. Ao que o autor nos diz, abegão governa, para os lados de Benavente, o mancebo, os maiorais de bois, os contramaiorais, o roupeiro e o anojeiro, isto é "manda em todos os campinos". Portanto "ser abegão apresenta grandes dificuldades no exercício do logar; carece de grande experiência, bastante esperteza, muito desembaraço e provada honestidade". Cita o autor o excelente livro "Ribatejo" (1929), de Francisco Câncio, Mendes Leal Júnior ["O Campino", 1860] e "Atravez dos Campos - Usos e Costumes Agricolo-Alentejanos? (1903), de José da Silva Picão. Refira-se que, ao que se sugere, nalgumas terras alentejanas a palavra "abegão" foi substituída por "apeirador" (Campo Maior). Mais registos bibliográficos: Memória sobre a População e a Agricultura de Portugal (1868), de Rebelo da Silva; Épocas de Portugal Económico, de Lúcio de Azevedo. Para "Abegoaria", consultar ainda: Cintra Pinturesca (1838), de J. A. Pereira de Lacerda; O Livro do Alportel (1928), de Estanco Louro; Elucidário das palavras e Frases que em Portugal Antigamente se Usaram (1865), de Frei Joaquim de Santa Rosa Viterbo.

Nota necessária: "Aos estábulos de bois em Gouveia e regiões circunvisinhas denominam-os simplesmente lojas e em Santarém, Almeirim e povoados limítrofes lhes chamam motas, assim como noutros pontos do Ribatejo os distinguem por palheiros". Valeu!?

segunda-feira, 4 de julho de 2005


2 - Aniversários - 2

"Quem dirá o número dos meus dias?
Como será então o som da minha boca? ...
" [M.S. Lourenço]

Eis um somatório de virtudes: um homem & duas mulheres, entre poemas, análises, ideias e vocábulos - geometria imortal - teimam em iluminar a blogosfera lusitana. O viço das palavras é uma felicidade perturbante. Os mysterios (ou a miséria) da lide política comentados no Bloguitica & a perpétua poesis do/no Tempo Dual são puríssimos resguardos para todos nós. Fazem 2 libertos anos. Parabéns, saúde e fraternidade.

Para o Barnabé na Hora da sua Viagem

"Sou um marco
plantado há muitos anos:
Sei que aqui começa a vila
Sei que aqui começa o campo.
...
Muitas colheitas passaram,
crianças homens estão
a vila cresce e nas vinhas
amadurecem as uvas.
Tudo passa, por toda a vida
soluçam cheias as mãos ...
... Só eu sou o marco,
imóvel para sempre,
seco por uma angústia
de não ser vila nem campo
"

[Angel Crespo, in Aqui, trad. Manuel de Seabra]

4 de Julho

"América dei-te tudo e agora não sou nada.
...
Não me sinto nada satisfeito não me chateies.
Não vou escrever o meu poema enquanto não estiver
Perfeitamente equilibrado.
América quando serás tu angélica?
Quando é que te despes?
Quando é que olharás para ti através do sepulcro?
...
América porque estão as tuas bibliotecas cheias de
lágrimas?
América quando é que enviarás os teus ovos para a Índia?
Estou farto das tuas exigências loucas.
...
América não empurres eu sei o que faço
América as flores de ameixieira estão a cair ..."

[Allen Ginsberg, in "América", trad. Manuel de Seabra]


Live8

sexta-feira, 1 de julho de 2005

[Marginal]

"Marginal é quem escreve à margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha"

[Leminski]