quarta-feira, 6 de julho de 2005

Livros & Arrumações [encomenda para o L. Miranda, Zé Viana e pró Motinha, algures a algarviar]

- curiosa separata da Revista Agronómica [vol.23(4):201-220, 1935] de Manuel de Sousa da Câmara intitulada "Abegão e Abegoaria". Trata-se, como se diz, de "ligeiros subsídios para um vocabulário agrícola e florestal português", importante para o conhecimento da "indústria agrária" e útil à "ciência dos campos". Estes apontamentos são agraciados ao Padre Luisier, Gustavo Matos Sequeira, Carlos Paim dos Reis, Augusto Ruela, Veloso de Araújo, Domingos Rosado, Rodrigues Simões e Carlos Rates (curioso!). Sobre cada uma das palavras [abegão e abegoaria] o autor faz um historial etimológico interessante, de vastas referências; depois parte para o significado da palavra, subsídios corográficos e elementos genealógicos

Para abegão temos, então, dirigente da abegoaria, empregado, chavão da lavoura, abaixo de feitor, carpinteiro de carros, fabricante de utensílios de lavoura e, ao que é dito, só é observado a sul do Mondego já que a Norte subsiste o moço, rapaz de penso ou pensador. Ao que o autor nos diz, abegão governa, para os lados de Benavente, o mancebo, os maiorais de bois, os contramaiorais, o roupeiro e o anojeiro, isto é "manda em todos os campinos". Portanto "ser abegão apresenta grandes dificuldades no exercício do logar; carece de grande experiência, bastante esperteza, muito desembaraço e provada honestidade". Cita o autor o excelente livro "Ribatejo" (1929), de Francisco Câncio, Mendes Leal Júnior ["O Campino", 1860] e "Atravez dos Campos - Usos e Costumes Agricolo-Alentejanos? (1903), de José da Silva Picão. Refira-se que, ao que se sugere, nalgumas terras alentejanas a palavra "abegão" foi substituída por "apeirador" (Campo Maior). Mais registos bibliográficos: Memória sobre a População e a Agricultura de Portugal (1868), de Rebelo da Silva; Épocas de Portugal Económico, de Lúcio de Azevedo. Para "Abegoaria", consultar ainda: Cintra Pinturesca (1838), de J. A. Pereira de Lacerda; O Livro do Alportel (1928), de Estanco Louro; Elucidário das palavras e Frases que em Portugal Antigamente se Usaram (1865), de Frei Joaquim de Santa Rosa Viterbo.

Nota necessária: "Aos estábulos de bois em Gouveia e regiões circunvisinhas denominam-os simplesmente lojas e em Santarém, Almeirim e povoados limítrofes lhes chamam motas, assim como noutros pontos do Ribatejo os distinguem por palheiros". Valeu!?