sexta-feira, 6 de maio de 2005


Aniversário do Abrupto

"Este retrato vosso é sinal
ao longe do que sois, por desemparo
deste olhos de cá ...
" [Sá de Miranda]

Motivo de felicitação. O Abrupto comemora o segundo ano de bem aventuranças, entre memórias e testemunhos virtuosos. Fonte de abundância discursiva, pouco acomodado às normas do politicamente correcto, impetuoso na análise e parco nos lamentos, JPP parece olhar o mundo, timidamente, como se de um imenso tumulto de tratasse. Aqueles que à sombra da bênção das instituições se procriam entendem que é pura insensatez. Puro engodo ornamental. Caso passional. Pouco complacentes, tais personagens nunca compreenderão a vida nas (das) palavras. Como o poderiam?

O desterro político de JPP, engolfado entre colunas de jornais e o blog, é a nossa ventura. A sua afoiteza intelectual, a nossa glória. O seu cativeiro partidário a nossa fraqueza. E a sua desdita. Porque JPP não tem nada em comum com tão estranha gente, porque "não há fidelidade que não seja pessoal" [H.H.]. Assim o cremos.

Muitos parabéns, acompanhados de um ror de inveja por não termos sucateiros tão ilustrados e felizes no seu trabalho. É a vida!

[foto: Vilamoura, Feira do Livro, Agosto 2001]

terça-feira, 3 de maio de 2005


Hugo Gellert [n. 3 Maio de 1892-1985]

Locais: Hugo Gellert / Hugo Gellert: índex / Hugo Gellert: History of a Controversy / A Depression Art Gallery

Niccolo Machiavelli [n. 3 Maio de 1469-1527]

"Todo aquele que, conquistando um Estado habituado a viver livre, não o destrói, deve esperar a própria destruição ... Qualquer que seja a precaução tomada, faça-se o que se fizer, se não se dissolver o Estado, se não se dispersar os habitantes, ver-se-á que na primeira oportunidade lembrarão, invocarão a sua liberdade, as suas instituições perdidas, esforçando-se por recuperá-las ..." [Maquiavel]

"... Bem se deve compreender que não é possível a um príncipe, e sobretudo a um novo príncipe, observar em seu proceder tudo quanto permite sejam os homens considerados pessoas de bem, e que muitas vezes é ele obrigado, para manter o Estado, a agir contra a humanidade, contra a caridade, contra a própria religião. Por conseguinte, é preciso que tenha o espírito bastante flexível para se voltar em todas as direcções, conforme o exigem o sopro e os acidentes da fortuna; é preciso, como se disse, que, tanto quanto possível, não se afaste do caminho do bem, mas que, se necessário, saiba entrar no do mal ..." [idem]

Locais: Machiavelli / Niccolo Machiavelli / Niccolò Machiavelli (1469-1527) / Teoria Política

[Fahrenheit 451 em corrente incendiária]

Seguindo o farol da tradição e em obediência salutar à missiva d'La Force des Choses, aqui deixamos sem empacho os nossos ditos sentenciosos, com todas as licenças necessárias. Gratia Plena.

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
- Aquele que fosse tão simples como a textura de um lábio e que nos olhe luzente como um místico. Estamos a falar, evidentemente, nos Cantos de Maldoror. Hoje, estamos decididamente Lautréamont. Como alternativa gentil, de prazer e de luxúria, e em honra do valente Montag, preferíamos ser mais "um cacto no cu da arte"". Reinventar o livro livrado era o que era, mas sabemos que acabamos todos, um dia, no fogareiro.

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
- Desde o projecto de acordar até ao dormir nocturno temos sentimentos naturais. O Fritz cá de casa é que não entende. É a vida! Confessamos que pela manhã estamos muito Nero Wolfe à volta dos ovos e do pão torrado. Pela tarde transfiguramo-nos em Lucas Corso (d'O Clube Dumas) em louvor de velhas viúvas com bibliotecas em fundo. Pode ser que uma qualquer Justine nos atravesse pelo caminho e que de repente se solte o Pursewarden que há em cada um de nós, mas nunca fiando. Ao fim da tarde, na Benard, na Mexicana ou no Casino da Figueira balança-se entre o Jean-Marc e o Duc no Fim-de-Semana, mas cedo corremos a ser Jack London. Maior ventura não pode haver.

3. Qual foi o último livro que compraste?
- Há muito que não compramos um livro. Resgata-se bibliotecas, afaga-se papéis impressos, capricha-se nas lombadas. Da última colheita registe-se alguns livros de linhagens, a Bibliografia Coimbrã de Pinto Loureiro, os Anos Vinte em Portugal do José-Augusto França, a Formação Humana no Projecto da Modernidade, de Cabral Pinto, o ultimo do Eco e Longe de Manaus do Francisco.

4.Qual o último(s) livro(s) que leste?
- As Aranhas Douradas de Rex Stout; 5 Aproximações de Yvette Centeno e o livro do Cabral Pinto, atrás citado.

5. Que livros estás a ler?
- Com gosto e para cura espiritual atacamos no antiquíssimo Maçonaria Universal do José Bernardo Ferreira (1921); folheamos deslumbrados o Jornal A Luz (1918-1928); soletramos A Literatura Clandestina de Oliveira Marques e acompanhamos aos tropeções The Plot Against America, de Philip Roth.

6. Que livros levarias para uma ilha deserta?
- Tal instrução administrativa era uma solenidade curiosa. Em abono da humanidade e meditando no que nos é dito no Fahrenheit 451 ["a temperatura a que um livro se inflama e consome"] levaria o Tratado d'Agricultura Theorico-Pratico do Dr. João António Bella, o Catálogo da Biblioteca do Dr. Rodrigo Veloso (13.000 títulos a recordar) e, evidentemente, a Obra Poética de Herberto Helder. Bastava.

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
- Ao António do Opiniondesmaker, para o castigar por ser anti-lampião; ao Aly do Letteri Café, porque de facto "a vida não é um armário" e à nossa Desassossegada, por estar demasiado recatada. Saúde e Fraternidade.

domingo, 1 de maio de 2005



1º de Maio

A administração cede, ali no lado esquerdo musical, em sinal de modesto recolhimento proletário, a voz de culto de José Mário Branco. A manejar a palavra e para o que vier.

Um 1º de Maio feliz.

O Cardeal

"O futuro já não é aquilo que era" [P. Valéry]

Eis que a fábula de um Ratzinger (Cardeal) tomado como crítico radical da razão, sujeito supostamente alapado ao projecto da modernidade, subversivo & provocador na reconstrução do "projecto inacabado" da modernidade se torna o consolo, sustento e redenção da classe lusa opinadora, de finos costados liberais. O entusiasmo febril do indígena quando, após espreitadela a velhos canhenhos e sucumbido pelo cansaço de viçosas leituras filosóficas, tomou conhecimento do elogiado debate Habermas-Ratzinger mostra-nos que "razão como vontade da razão" [Habermas] pode não ser totalmente libertadora.

Um Ratzinger anti-liberal e anti-moderno, clamando contra a "abolição do homem" e pela "racionalidade da fé"; recusando a "auctoritas legislativa" porque fonte paradoxal do "domínio da maioria"; defenestrando Adam Smith por motivo que "utilitas, non veritas facit pacem"; fazendo a apologia da fé contra a política, sem lugar a qualquer promiscuidade, e ao mesmo tempo tecendo loas aos "gloriosos políticos cristãos" saídos do primeiro pós-guerra [cf. Ratzinger], o que não deixa de ser estranho se tivermos em conta Franco e Salazar; em defesa de uma lei que sendo "realmente direito" o seja pelo "ordenamento justo nas relações recíprocas em face da criação e do Criador" e "da sua verdade" [idem]; acentuando a fé e o seu mistério como salvação da razão; um Ratzinger assim ressituado fora do campo da desconstrução da modernidade e ao mesmo tempo tão louvado pelos liberais lusos, não deixa de ser curioso e grosseiramente contraditório.

A história profética do Cardeal é que não há salvação fora da Igreja Católica. A gramática Ratzingeriana ao pretender impedir a retirada do homem da história fá-lo cair definitivamente nas mãos de Deus. Compreende-se, portanto, que a "nova" querelle, em torno da "razão, liberdade, igualdade e justiça", assim suscitada, nada tenha que ver com uma qualquer Aufklarung, pois o tribunal da razão mais não é, chez Ratzinger, que a extraordinária tarefa de refundir a razão com a fé e o eterno regresso à sua Revelação primitiva. Segundo os seguidores do Cardeal a "morte de Deus", ao que parece, tem os dias contados. Assim como os conceitos de "secularização, crítica, progresso, revolução, desenvolvimento e emancipação". A dogmática está, pois, de volta e em força.
[O que é o tempo?]

"Não houve nenhum tempo em que não fizésseis alguma coisa, pois fazíeis o próprio tempo. Nenhuns tempos Vos são coeternos porque Vos permaneceis imutável; e se os tempos assim permanecessem, já não seriam tempos. Que é pois o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras, o seu conceito? (...) O que é, por conseguinte o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer esta pergunta, já o não sei. Porém atrevo-me a declarar com certeza que se nada passasse, não haveria tempo passado, e se nada sobreviesse não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente.
De que modo existem aqueles dois tempos, o passado e o futuro, pois que o passado já não existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se fosse presente, já não seria tempo, mas eternidade. Pois se o presente, para ser tempo, necessariamente tem de passar para o pretérito, como podemos afirmar que ele existe, se a causa da sua existência está em esse tempo deixar de existir? Para que digamos que o tempo só verdadeiramente existe, porque tende a não ser"

[Santo Agostinho, As Confissões, XI, 14]

Anunciação Futebolística

Hoje alimentámos virtudes numa fornalha ardente. Devotos soubemos honrar a tribo. Fomos inesgotáveis. Cerimoniosos. Sem fadiga. As festas na Luz, Coimbra e Figueira da Foz foram um tumulto no nosso coração. Uma paixão consumada. Um dia heróico. Uma noite memorável. Até ver!

sábado, 30 de abril de 2005


Félix Guattari [n. 30 Abril de 1930-1992]

"O desejo é sempre extraterritorial, desterritorializado, desterritorializante. Ele passa por cima e por baixo de todas as barreiras" [Felix Guattari]

"... existe para o homem a possibilidade de ele mesmo ser o fundador de sua própria lei? Ou estará condenado a permanecer sempre em rede?" [idem]

"As máquinas técnicas funcionam, evidentemente, com a condição de não serem estragadas. As máquinas desejantes, ao contrário, não cessam de se estragar funcionando; só funcionam quando estragadas. A arte utiliza com frequência esta propriedade, criando verdadeiros fantasmas de grupo que curto-circuitam a produção social com uma produção desejante, e introduzem uma função de estrago na reprodução das máquinas técnicas" [Deleuze e Guattari, O Anti-Édipo]

Locais: Félix Guattari / Left and Right Readings of Deleuze-Guattari / Félix Guattari militant / De la pluridisciplinarite a la tansdisciplinarite / A subjetivação subversiva / Entretien avec Félix Guattari

quarta-feira, 27 de abril de 2005


Choque Tecnológico

"Não deveis enganar-vos: cada verso
tem um selo fraterno caminhando
para a branca cidade sob o sol
" [Fernando A. Pacheco]

Eis que uma formidável ufania, genuinamente encomiástica & pacientemente tecno, nos acometeu neste nosso oficio memorialista. Em devoção extremada & em penitência Socrática, daqui lançamos, a soldo da moral pós-Ratzingeriana e associando-nos à boa obra do feytor & beato José Manuel Fernandes, o ferrete do Choque Tecnológico. Há que dizer que este arrebatamento imprevisto não é mera oratória sacra. Nesta harmonia celestial blogosférica sabe-se que é mister acatar a razão do "corpo falante" e, deste modo, os trabalhos profanos merecem a nossa total observância.

Até o cansaço & os anjos do Gates o permitirem tendes ali, do lado esquerdo da pedra, a âncora da vossa salvação. Hoje (e para a eternidade) a sagrada Chavela Vargas. Depois, outros vícios e maledicências musicais.

Concluindo: Vos estis lux mundi & sic luceat lux vestra coram hominibus

Pedro Oom [1926 - m. 27 de Abril 1974]

"Alegra-me ser todas as coisas e as sombras que elas projectam
ser a sombra dos teus seios e da tua boca
o criado de smoking branco que te agita os cabelos
para um cocktail estimulante e fresco
a mesa onde passo a ferro o teu corpo
as espáduas as coxas a curva macia dos joelhos
alegra-me ser o contorno da tua nuca e o binário motor dos
teus braços ...
" [Pedro Oom, in O Homem Bisado]

"Poesia não é uma medalha para por no peito dos tiranos mas uma imensa solidão feita de pedras, onde o despotismo pode encomendar o ataúde. Cada um de nós odeia o que ama. Por isso o poeta não ama a poesia que é só desespero e solidão mas acalenta ao peito as formigas da revolta e da rebeldia, que todos os déspotas querem submissas e procriadoras. Só os voluntários da miséria e da submissão patriarcal querem a poesia na Arca da Aliança com a tradição pacóvia e regionalista dos pretéritos dias, glórias patrioteiras, heroicidades frustres, pirataria ignara. Todo o verdadeiro poeta despreza o pequeno monte de esterco onde o dejectaram no planeta e a que os outros chamam Pátria, e só ama os grandes continentes mares e oceanos da liberdade e do amor ..." [Pedro Oom, Poema, in Grifo, 1970]

Locais: Pedro dos Santos Oom do Vale / Actuação Escrita [Poema] / Permanência da Anarquia: a propósito de uma Antologia do Surrealismo Português

segunda-feira, 25 de abril de 2005



Bom Dia!

"Esta é a madrugada que eu esperava
0 dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo"

[Sophia Mello Breyner]

sexta-feira, 22 de abril de 2005


XLIX Catálogo da Livraria Moreira da Costa

A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) publicou o Catálogo do Mês de Abril, que pode ser consultado on line.

Algumas referências: Origem e Evolução dos Movimentos de Capitães, de Dinis de Almeida, 1977 / Annuario Portuguez Scientifico, Litterario, ..., Typ. Universal, 1864 / Monarchicos e Republicanos, de Homem Christo, 1928 / Divina Voluptuosidade (poemas), por Jaime Cortesão, 1923 / Origem das Procissões da cidade do Porto, pelo Pe Luís de Sousa Couto, 1936 / Nas Encruzilhadas do Mundo e do tempo [Fernando Pessoa e os do seu tempo], CEP, s.d. / Mémoires de Chirurgie Militaire, et Campagnes, de D. J. Larrey, Chez J. Smith, 1812-1817, IV vols / O Renegado, por Gomes Leal, 1881 / A Traição, de Gomes Leal, 1881 [trata-se da carta que G.L. mandou a El-Rei D. Luiz sobre a venda de Lourenço Marques] / Magalhães Lima e a sua Obra, por Archer de Lima, 1911 / Os Portos Marítimos de Portugal, de Adolfo Loureiro, 1904-1924, VII vols / Conduta das operações Coloniais, por Jorge Botelho Moniz, 1944 / A Vida turbulenta do Padre José Agostinho de Macedo / Almas e Estrelas, por Fernando Pessoa, Livraria Pax, Braga (dir. de Petrus), s.d. / Antologia de Salazar, dir. de Manuel Dias da Fonseca, textos e cord. De Eduardo Freitas da Costa, 1966

quinta-feira, 21 de abril de 2005


John Maynard Keynes [m. 21 Abril 1946]

"À memória de J. M. Keynes

Só as palavras que não são.
Sobretudo as das mãos.

- Porque as mãos não traem!"

[J. P. Feio, D'Après Marceau, in Two Poetical Tracts & a Post-Scriptum, 2003]

Figueira da Foz - Manda a Factura

Ao lado dos Manos da blogosfera Figueirense & Contra os Aumentos da tarifa da Água. Presente!

[Cardeal Ratzinger]

"Liberalismo e marxismo tinham encontrado um terreno mútuo de mutuo entendimento ao contestarem à religião tanto o direito como a capacidade de plasmar a res publica e o futuro comum da humanidade (...)

[sobre a Droga] "... a droga é uma forma de protesto contra a situação de facto. Quem a toma recusa resignar-se à pura e simples realidade de facto [nota: o "mundo mau da factualidade", este mundo "inteiramente marcado pelo mal" (cf. a Bloch, citado por Ratzinger] Está à procura de um mundo melhor (...) A humilde e paciente aventura da ascese, que, a curtos passos para o alto, se avizinha do Deus que para nos Se inclina, é substituída pelo poder mágico, pela magia reveladora da droga ..."

[sobre o Terrorismo] "A origem do terrorismo é estreitamente afim à da droga: também aqui se encontra o protesto contra o mundo tal como é, e o desejo de um mundo melhor. Na raiz, o terrorismo representa uma forma de exasperação do empenhamento moral, em certa medida uma espécie de moralismo (...) Na verdade, não é por acaso que o terrorismo teve início nas universidades, sob a influência das teologias modernas, entre jovens de extracção fortemente religiosa. O terrorismo da primeira hora foi um apaixonado impulso religioso desviado para a dimensão mundana, uma expectativa messiânica transposta para o fanatismo político (...) Deus já não é considerado como sujeito realmente operante (...) A náusea pelo vazio espiritual e moral da nossa sociedade, a aspiração ao Totalmente-Outro, a exigência de uma salvação sem condições, sem barreiras e sem limites; eis ... a componente espiritual do fenómeno do terrorismo (...) [na intelectualidade moderna] não é o ser mas o que há-se ser que fundamenta a moral. O Homem há-de projectá-la a partir de si. O único valor moral que efectivamente existe é constituído pela sociedade futura (...) Daqui deriva que o novo critério moral tenha esta definição: moral é o que serve ao advento da nova sociedade (...) A moral passa a ser «científica»: já não tem como fim «um fantasma» - o Paraíso -, mas sim uma entidade ao alcance da iniciativa humana: a nova era. Deste modo, moral e religião passam a ser algo de «positivo» e de «científico». Que mais será preciso? (...) Só uma análise mais atenta nos fará descobrir em tudo isto o pezinho do Diabo e o eco do seu gargalhar ..."

"... o fenómeno moral perdeu a sua evidência. Na sociedade moderna, já só uma pequena porção de homens acredita na existência de mandamentos divinos (...) A única função que pode talvez ficar para Deus é ter dado início ao cosmos com o Big Bang. Que Ele opere no meio de nós e que o Homem viva na dependência da sua vontade é coisa que parece à maioria como concepção de Deus ingenuamente antropomórfico ..."

"É característico do pensamento formado sobre o modelo das ciências naturais julgar que entre o mundo dos sentimentos e o mundo dos factos se abre um abismo (...) Atribuir ao átomo, fora das sua características matemáticas, qualquer qualidade que seja, por exemplo, de natureza moral ou estética, é considerado, nesta lógica, pura fantasia. Esta redução da natureza a dados de facto exaustivamente penetráveis e também manipuláveis, tem, ... por consequência que nenhuma mensagem moral vinda do circulo do nosso Eu pode ser encontrada. O fenómeno moral e o religioso são considerados como pertencentes à esfera da subjectividade; não têm a mais pequena cidadania na dimensão da objectividade (...) A verdade é que, submetido a tais processos cognitivos, o Homem deixa de ser Homem. Também ele ... terá de ser tido por mera factualidade (...)

"De facto, a Natureza não é ... obra do acaso e das regras do seu jogo, mas sim Criação. Nela Se exprime o Creator Spiritus. Por isso não temos só leis naturais no sentido de determinismo psico-físico: a lei natural propriamente dita é ao mesmo tempo (também) lei moral ..." [Cardeal Ratzinger, in A Igreja e a Nova Europa, 1999]

terça-feira, 19 de abril de 2005


Livros de Abril

Jornais e Imprensa Operária

Faz tempo que referenciámos jornais como "O Protesto Operário", "O Pensamento Social", "A Revolução Social", "A Greve", "O Sindicalista", "Terra Livre". Trata-se do que se denomina por "imprensa operária" e que correspondia à evolução do movimento operário em Portugal. Começa com o "Ecco dos Operários", a 28 de Abril de 1850, e não mais tem fim. Alguns desses antigos periódicos são absolutamente notáveis. Refira-se, além dos citados, "Lumén", "Germinal", "A Sementeira", "A Batalha", "O Pensamento", "Avante", "Bandeira Vermelha", "O Comunista", "A Renovação", até mesmo o "Nacional-Sindicalista", etc. Existem diversas publicações e obras de consulta sobre esses jornais, revistas e almanaques que representam em conjunto um período importante da nossa história.

Com maior disponibilidade [e um site de apoio, porque nos blogs não cabe de tudo] iremos, à medida do possível, apresentar alguns desses testemunhos e a que temos acesso, bem como procuraremos fornecer algum material sobre o movimento social e operário posterior, não só que formata a ascensão do Estado Novo mas, principalmente, a luta contra o seu derrube. Assim, ao longo do tempo, daremos referências, indicações, notas e bibliografia vária sobre as diversas organizações políticas que, de algum modo, se opuseram ao fascismo, desde a Renovação Democrática ao MUD, dos Monárquicos aos Integralistas, dos anarquistas aos socialistas, do PCP à denominada extrema-esquerda, em especial a corrente marxista-leninista.

Como bibliografia absolutamente fundamental, apontaremos as importantes anotações no "The Portuguese Revolution 25 April 1974", organizado por Ronald H. Chilcote, Centro Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra, 1987- 98, II vols.

O tédio de João Carlos Espada

"Mas, ao princípio, não foi assim" [Mt 19, 8]

O privilégio de ler o novo beato João Carlos Espada, assim repousado em êxtase liberal nas sopinhas de letras do Cartaz d'O Expresso, empalidece qualquer um. O mestre de Oxford, talhado numa era sem Deus e, presume-se, sem Adam Smith, diz-nos que dentro do seu perturbado peito existe um tédio verdadeiramente exaurido.

Chorámos, em profundíssimo respeito, enquanto o professor Espada nos fazia a oratória semanal, em companhia de um tal Tim G. Ash "pelas ruas silenciosas de Oxford". Pedimos misericórdia ao pressagiar, cá do continente lusitano, o toque dos "sinos de várias igrejas" que acompanharam as profecias de Espada. Por momentos, fomos confessadamente pecadores quando, num esgar lascivo, pousamos por breves segundos o olhar no peito admirável da jovem que, da televisão, teimava em soltar-se ecrã fora. Era, afinal, a armadilha do "reino do tédio" que tão habilmente o salmo Espadiano testemunhava. Desconhecíamos os ínvios caminhos da santidade. Ignorávamos que "es modus in rebus". Mas jurámos abstinência, doravante.

Graças amado Espada. E graças, também, santíssimo Arq. Saraiva por nos dar a ler este conversor d'almas e abençoado liberal. O nosso reconhecimento.

domingo, 17 de abril de 2005


Remix sobre a reflexão semanal do Eng. Saraiva d'O Expresso

"Julgo que fui a primeira pessoa a escrever (...) que o PPD cortava a sociedade de alto a baixo (...) A misturada que o PPD representava (...) teve o azar de atrair muitos dos piores, dos mais interesseiros, dos que desesperadamente (...) representam a face obscura do PSD (...). O PSD só faz sentido se congregar Manuel Ferreira Leite... Isaltino de Morais, Alberto João Jardim... Mendes Bota... Fernando Ruas... Luís Filipe Menezes... Valentim Loureiro... António Preto... Tavares Moreira... Dias Loureiro... Morais Sarmento... Fernando Seara (...) Gente simples que (...) temia o comunismo (...) por um alto sentido do dever (...) gente de bem (...) preocupada com os seus mesquinhos interesses (...) tinham conseguido manter em respeito (...) os militante sérios (...) e ao qual gente com o mínimo de reputação não quereria pertencer (...)

Não tenho nada contra (...) os «socialistas elitistas e liberais» (...) só que com Sá Carneiro e Balsemão (...) eu vaticinei o contrário: (...) o PSD tornar-se-ia a curto prazo numa espécie de «associação de malfeitores» (com as devidas aspas), juntando (...) altos funcionários ressabiados, desempregados políticos (...) sem eira nem beira (...). Não quero com isto dizer que (...) Marque Mendes terá vencido a batalha (...) até porque, como todos sabemos, o poder não se conquista: o poder perde-se (...)

O PSD tanto é o partido de Cavaco Silva como de Santana Lopes (...). Mendes tem uma coisa e outra (...) o tempo não é de cigarras mas de formigas (...) até lá, o Partido Social Democrata vai ter muito com que se entreter (...). Cavaco Silva desistiu do poder e por isso o PSD perdeu-o. Guterrres cansou-se do poder e por isso o PS perdeu-o. Santana Lopes desbaratou o poder e por isso o PSD voltou a perdê-lo. Quando o PS se cansar ou desistir (...) o PSD regressará naturalmente ao poder (...) O próximo primeiro-ministro será, muito simplesmente, quem estiver a frente do partido quando o PS cair (...) Já a seguir às férias (...)"

[leitura infecta, nesta relaxação domingueira & prudentemente colegial, da bula do senhor director a discípulos reformados do tempo & da glória]

Leilão - Biblioteca do Prof. Doutor Artur Moreira de Sá [conclusão]

Algumas referências para o dia 19 de Abril: Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Évora, 1978, II vols / Historia da Arte em Portugal, de Aarão de Lacerda, 1942-53, III vols / Dialoghi Di Amore Di Leone Hebreo Medico, 1558 / Leitura Nova de Dom Manuel I (intr. de Maria J. Mexia Bigotte Chorão & Sylvie Deswarte-Rosa), 1977, II vols / Vita Christi ..., Ludolfo de Saxónia, 1581 / Bibliotheca Lusitana, por Digo Barbosa Machado, 1965-67, IV vols / [manuscritos] [Offficios originaes de António de Araújo Azevedo, sec. XIX, em II vols / Morgado de Góis, Casa de Sortelha (informações "valiosas" sobre as vilas de Oliveira de Conde, Currellos, Penalva de São Gião e Goês e Salaviza ...", sec. XVII) / Titolos dos Morgados de Goês e Alentejo pertencentes a Silveiras, sec. XVI] / L'Afrique de Marmol de la tradvction de Nicolas Perrot sieur D?Ablancovrt ..., 1667, III vols / MOSES BEM NAHMAN [Novas da Lei ou Comentários ao Pentateuco], Lisboa, Eliezer Toledano, 16 de Julho de 1489 [precioso e significativo fragmento do primeiro livro impresso em Lisboa, e tanto quanto é do conhecimento geral, o segundo impresso em Portugal, apenas precedido pelo Pentateuco de Samuel Gacon, produto da tipografia hebraica de Faro, terminado em Junho de 1487 (um único exemplar conhecido na Biblioteca Britânica)"] / Anales eclesiásticos y seculares de la muy noble y mui leal ciudade de Sevilha, ..., por D. Diego Ortiz de Zuñiga, 1795-96, V vols / King Henry V, William Shakespeare ["edição escolar, que pertenceu a Fernando Pessoa, certamente durante os seus últimos anos em Durban, de onde regressou em Outubro de 1905. Encontra-se repleto de anotações a lápis pelo punho do poeta, nomeadamente em cerca de 90% das 110 páginas do texto da peça, e em boa parte da introdução e notas finais..."] / Sketches of Portuguese life, manners, costume, and character by A. P. D. G., London, 1826 / Ásia Portuguesa de Manuel Faria e Sousa, 1666-75, III vols / La Circe com otras Rimas y Prosas, de Félix Lope de Veja Carpio, 1624

quinta-feira, 14 de abril de 2005

[Há noites]

"Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
.......
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que são só iguais
À mais longínqua onda do teu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo ...
" [Natália Correia]

Alberto Pimentel [n. 14 Abril de 1849-1925]

Amigo "devoto" de Camilo, nasceu no Porto, colaborou em inúmeros jornais e revistas, foi "professor na Escola Académica e no Colégio Parisiense, de Lisboa", "inspector das escolas primárias", "dministrador do concelho de Portalegre", "redactor da Câmara dos Pares e Deputado" [in Dicionário de Camilo Castelo Branco, de Alexandre Cabral, 1988]. Registe-se que Henrique Marques na sua "Bibliografia Pimenteliana", aponta "198 títulos originais, traduzidos, prefaciados" de Alberto Pimentel.

Algumas obras importantes: Os Amores de Camillo (1899) / As Constituintes de 1911 e os seus Deputados (1911, publ. sem o nome do autor) / Chronicas de Viagem (1888) / A Dança em Portugal (1892. Raro opúsculo) / Esboço Biographico da Senhora Marqueza de Rio Maior (1897) / A Guerrilha de Frei Simão (1895) / Guia do Viajante na Cidade do Porto e seus Arrebaldes (1877) / A Jornada dos Séculos (1885) / Júlio Diniz. Esboço Biographico (1872) / Lyra Cívica. Poesia Anti-Iberica (1868) / Luar de Saudade. Recordações de um velho escritor ..., (1924) / A Musa das Revoluções (1885) / Peregrinações n'Aldeia (1870, camiliano) / O Porto na Berlinda (1894) / Portugal de Cabelleira (1875, camiliano) / O Romance do Romancista. Vida de Camillo Castello Branco (1890) / Sangue Azul (Estudos históricos) (1898) / Telas Antigas (1906) / O Torturado de Seide (Camillo Castello Branco) (1921) / A Triste Canção do Sul (1904) / A Ultima Corte do Absolutismo em Portugal (1893) / Um Contemporâneo do Infante D. Henrique (1894)

Leilão - Biblioteca do Prof. Doutor Artur Moreira de Sá

Nos dias 18 e 19 de Abril, pelas 21 horas (Amazónia Lisboa Hotel, ao Jardim das Amoreiras), será leiloada parte da Biblioteca de Artur Moreira de Sá (640 peças). O catálogo (excelente) e toda a organização do leilão estarão a cargo de Pedro de Azevedo (Rua Custódio Vieira, 2ª, Lisboa).

Trata-se da extraordinária biblioteca de Artur Moreira de Sá (n. no Porto a 23 Abril de 1913), com invulgares e raras obras de arqueologia, bibliografia, história e filosofia, direito, manuscritos, revistas, etc. Artur M. de Sá foi licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas (com o trabalho "Os Precursores de Descartes"). Mais tarde prestou provas de doutoramento com o trabalho "Francisco Sanches, filósofo e matemático" (1947), frequentou Harvard e o "Teachers College" da Columbia University, tendo regressado à Faculdade de Letras em 1949 para exercer funções docentes. Fez parte da União Nacional, tendo sido "membro da Comissão Executiva do Congresso da União Nacional realizado em Coimbra, em 1951? [in Curriculum Vitae de Artur Moreira de Sá, 1954]. Foi membro de várias associações científicas nacionais e estrangeiras, "secretário da revista Rumo", fez parte do Instituto de Alta Cultura e apresenta um rol extenso de obras de referências, entre as quais "Álvaro Gomes, Tratado da Perfeição da Alma" (1946), "O Infante D. Pedro e a Crítica Histórica" (1950), "Diogo Lopes Rebelo - Do Governo da República pelo Rei" (1951), "Pedro Hispano Prior da Igreja de Santa Maria de Guimarães e Arcebispo da Sé de Braga" (1954), "Índices de Livros Proibidos em Portugal no Século XVI?" (1983), entre muitas.

Algumas referências para o leilão do 1º dia: Aegidius Columna Romanus - Theoremata de hóstia cõsecrata Egidij de Roma ordinis heremitam sancti Augustini, 1490 / Tractatus de Officio Fiscalis ..., de Francisco de Alfaro, 1639 / Libros del saber de astronomia del Rey D. Alfonso X de Castilla, por Alfonso X, 1863-67, V vols / O Archeologo Português, red. de Leite de Vasconcelos, III séries, 1895 a 1977 / Compilação de varias obras do insigne portuguez João de Barros ..., sob o cuidado do Visconde de Azevedo, 1869 / Da Ásia de João de Barrros e Diogo Couto, 1778-1788, XIV vols / Nova floresta ou sylva de vários ..., pelo Pe. Manuel Bernardes, 1706-1728, V vols / Na historical view oh the revolutions of Portugal..., pelo Cap. John Murray Browne, 1827 / Description de LÁfrique contenant les Noms, ?, por Olfert Dapper, 1686 / Achillis Statij Lusitani ..., por Aquiles Estaço, 1553 (muito raro) / Expresso, nº1 ao nº52, 1973 (curioso!) / De Ivsto Império Lvsitanorvm Asiatico, por Frei Serafim de Freitas, 1625 / Obras de Don Lvis de Gongora, 1658 / Historia da literatura portuguesa ilustrada, sob dir. de Forjaz de Sampaio, 1929-42, IV vols / Memorias históricas del Rei D. Alonso El Sábio, de Gaspar Ibañez de Segóvia, 1777

[a continuar]

sábado, 9 de abril de 2005


Praia da Vieira de Leiria

"Cachopas-boieiras, de aguilhada erguida, caminham afanosas ao lado dos bois, que, em parelha, puxam as redes; raparigas-casadoiras, de canos-polainudos, sentam-se aqui e além, na areia fofa, tendo à ilharga a canastra do peixe; meninas, que são o sonho e o tormento dos moços pescadores, travam falinhas mansas de amor ou de receio por aqueles que lá andam na penitência do mar (...)

À beira-mar, moçoilas esbeltas, de lenços vermelhos, e de aventais nevados, enchem cântaros que põem à cabeça, recordando a Samaritana ao voltar da fonte sagrada ..."

[V. G. P., Entre Mar e Terra, 1933]

Vergílio Guerra Pedrosa [n. Vieira Leiria 9 Abril de 1895-1952]

"... As areias finas da praia [Praia da Vieira de Leiria] a sublinhar a eterna verdura dos pinheiros; a esteira luminosa do Liz, no seio dum vale pequenino e fecundo, a fazer o milagre da leiva; a litania do mar, ora manso e fagueiro, ora raivoso e truculento; o fogo do sol poente, raiado de sangue e de oiro, por entre nuvens espessas como ardósias; a orquestração da floresta, no silêncio místico da noite; a aleluia da faina da pesca em todo o movimento da vida são motivos que gritam à alma ..."

[V. G. Pedrosa, in Entre Mar e Terra, Leiria, 1933]

sexta-feira, 8 de abril de 2005

[Missão e Promissão]

"No momento de crer
criando
contra as forças da morte
a fé.
No momento da prece
orando
pela fé que perderam
os outros.
No momento da fé
crivado
com umas setas de amor
as mãos
e os pés e o lado esquerdo,
Amem
"

[Jorge de Lima, in Invenção de Orfeu]

Pablo Picasso [m. 8 Abril 1973]

[Francisco de Sá Carneiro - 31 anos atrás]

"... O programa básico do nosso Partido, há dias aprovado no Congresso, confirnou e tornou claro o carácter social democrático da via que preconizamos para a resolução das contradições e desigualdades da sociedade portuguesa (...)

O socialismo democrático que propomos é um desafio constante à participação activa de todo o Povo e apenas à dedicação dos nossos militantes.
É isso a social democracia: realização de socialismo em liberdade segundo a cadência de reformas determinada pelo voto popular, para a construção de uma sociedade liberta da exploração e da lei do lucro (...)

Nem se diga que a social democracia é incompatível com o nosso atraso. Este é real, sem que por isso a nossa situação deixe de ser muito superior à dos povos peruano ou cubano, por exemplo.
Mas a experiência da Europa mostra bem como é falso afirmar que a social democracia só é possível em países desenvolvidos.
Os países que o são hoje graças a regimes sociais democratas não o eram quando tomaram resolutamente a via do socialismo democrático (...)

A Noruega, a Dinamarca, a Finlândia, a Islândia, em parte a Áustria, não eram, nessa altura, países industrialmente desenvolvidos, com indústrias pesadas e ligeiras poderosas. A própria Suécia só o era em medida limitada (...)

Tais países não tinham, obviamente, há 30 ou 40 anos um nível cultural muito superior ao que Portugal tem hoje; nem eram grandemente desenvolvidos e industrializados; passaram a sê-lo com governos sociais democratas ..."

[Excerto do discurso de F. de Sá Carneiro, Porto, 29/11/1974, in Notas Complementares de Introdução à Política, ed. Comissão Concelhia do Porto do PPD, Fev. 1975]

quinta-feira, 7 de abril de 2005


Pastores Lusos

"Do pastor depende a boa administração do rebanho" [in Livraria do Lavrador]

Os avisos & reflexões, queixas & castigos, dos pastores da opinião pública são de um fascínio tremendo. O incauto indígena lê a pragmática desses defensores do povo, aprumados por detrás do varandim dos jornais, e teme pelos seus progenitores. Salpicados em desbragadas retóricas & empolgantes sentenças, o leitor aflito vacila entre o silêncio inclemente e a afeição ardente pelo depravado jornaleiro. Os folhetos dos escribas que pastoreiam a choupana lusa, em alegres rabiscos, retardam "o cio" político ao mesmo tempo que dão "rações suplementares" a outros lacrimantes e suspirosos cavalheiros.

Os opinadores dos jornais têm bom treino, são genuínos "cães de parar". Estão neste mister, entre outros, o alienado João Carlos Espada, o bestial Luís Delgado, o incurável José Manuel Fernandes, o copista Sérgio Figueiredo ou o habilidoso Sarsfield Cabral. As vassouradas distribuídas ao rebanho são quase sempre resplandecentes.

Esta semana a última página d'O Expresso-Actual ressuscitou o melhor de J. Carlos Espada. Engolfado sobre as dernières nouvelles dos ex-companheiros da UDP, o professor Espada aconselha as direitas portuguesas, avisa-nos dos malefícios da "introspecção acerca das definições" (ultríssimo pecado conceptual), confessa o que soletrou em Karl Popper há meia dúzia de anos e traz o recado do magno problema português - está Espada, por esta altura, em colossal agitação ante o declínio europeu, sumariando sinais para aulas de apoio pedagógico acrescido. Ora o que o professor revela animadamente é a existência de um maravilhoso "paradoxo", dito europeu, que em cordial gratidão quer partilhar. Pois que se trata? Nada menos que a infame estatização e consequente desmoralização "espiritual". Com lágrimas vertidas na face, o professor Espada, bem adestrado em "discutir soluções", atira-nos com um tal George Weigel para lavar as mãos neo-liberais, ou quiçá para nos fazer a biografia espiritual, enquanto exaura um último pensamento: o necessário e proveitoso estudo da realidade americana. Eis, pois, o elixir e novo bálsamo para a alma lusa. O nosso devir. Que cem Espadas floresçam. Temos dito.

Eleições no G.O.L.

"António Reis, Luís Vaz e Carlos Morais Santos são os três nomes até agora perfilados nas eleições para o cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, a mais antiga ordenação maçónica portuguesa que vai a votos a 4 de Junho.

As candidaturas serão analisadas pelo Grande Tribunal Maçónico no próximo dia 24 de Abril e, a partir do aval deste órgão, são consideradas oficiais, podendo os candidatos iniciar a campanha eleitoral pelas lojas espalhadas pelo país (...)

Carlos Morais Santos, há muitos anos elemento da maçonaria, é a segunda vez que concorre ao cargo de Grão-mestre, tendo estado na corrida de 2002 que acabou por eleger António Arnaut para o mais alto posto da instituição.

A candidatura deste socialista, que será formalmente apresentada no próximo dia 12, num jantar em Lisboa, diz querer assumir os lemas da «fraternidade, progresso e contemporaneidade» e, segundo o próprio, fazer com que a maçonaria «volte a construir obras sociais e não seja meramente especulativa»" [ler Aqui]

quarta-feira, 6 de abril de 2005


Erich Muhsam [n. 6 Abril de 1878-1934]

"Name? Asked the interrogator.
I told him my name.
Born?
I said: yes.
I mean when!
I gave the date.
Religion?
That's not your concern.
So, a Jew!
" [Erich Muhsam]

Locais: Erich Muhsam / Erich Muhsam (1866-1934) / Erich Muhsam; German Jewish anarchist (1878-1934) / Life And Death of Erich Musham
Livros & Arrumações

* Separata do Instituto de Cultura Italiana em Portugal, nº 4 e 5, 1941, intitulada "Dante em Portugal e no Brasil. Ensaio bíblio-iconográfico", pelo Director de Arquivo Histórico Militar de Lisboa, Cor. Henrique de Campos Ferreira Lima. O autor a partir da "interessante e valiosa exposição" (15 de Junho de 1929) realizada na Biblioteca Nacional sobre Dante, sem que houvesse a publicação de qualquer catálogo, empreendeu a tarefa de fornecer material bibliográfico sobre tudo o que se publicou em língua portuguesa "relativamente ao autor da Divina Comédia", dado a sua falta quer em Portugal ou no Brasil. Assim, além de uma introdução necessariamente explicativa - onde é sugerido algumas das "influências dantescas na nossa literatura", como em Garcia de Resende, no poeta D. João Manuel, Anrique da Mota, em Diogo Brandão, Duarte de Brito. Refere, ainda, uma provável intervenção na obra de Bernardim Ribeiro ou Camões) -, Henrique de Campos Ferreira apresenta 214 obras, entre traduções (47), comentários, críticas, biografias, livros com referência, etc., registos iconográficos, uma vária e um suplemento.

"Assim de todo mudado
Ali junto me cheguei;
E neste modo fallei
Assas bem temorisado.
Oh gentes atribuladas,
Porque razão de vós dê
Dizei a causa porque
Sois assim atormentadas!
" [Diogo Brandão, in Fingimento de amor]