quinta-feira, 21 de abril de 2005


[Cardeal Ratzinger]

"Liberalismo e marxismo tinham encontrado um terreno mútuo de mutuo entendimento ao contestarem à religião tanto o direito como a capacidade de plasmar a res publica e o futuro comum da humanidade (...)

[sobre a Droga] "... a droga é uma forma de protesto contra a situação de facto. Quem a toma recusa resignar-se à pura e simples realidade de facto [nota: o "mundo mau da factualidade", este mundo "inteiramente marcado pelo mal" (cf. a Bloch, citado por Ratzinger] Está à procura de um mundo melhor (...) A humilde e paciente aventura da ascese, que, a curtos passos para o alto, se avizinha do Deus que para nos Se inclina, é substituída pelo poder mágico, pela magia reveladora da droga ..."

[sobre o Terrorismo] "A origem do terrorismo é estreitamente afim à da droga: também aqui se encontra o protesto contra o mundo tal como é, e o desejo de um mundo melhor. Na raiz, o terrorismo representa uma forma de exasperação do empenhamento moral, em certa medida uma espécie de moralismo (...) Na verdade, não é por acaso que o terrorismo teve início nas universidades, sob a influência das teologias modernas, entre jovens de extracção fortemente religiosa. O terrorismo da primeira hora foi um apaixonado impulso religioso desviado para a dimensão mundana, uma expectativa messiânica transposta para o fanatismo político (...) Deus já não é considerado como sujeito realmente operante (...) A náusea pelo vazio espiritual e moral da nossa sociedade, a aspiração ao Totalmente-Outro, a exigência de uma salvação sem condições, sem barreiras e sem limites; eis ... a componente espiritual do fenómeno do terrorismo (...) [na intelectualidade moderna] não é o ser mas o que há-se ser que fundamenta a moral. O Homem há-de projectá-la a partir de si. O único valor moral que efectivamente existe é constituído pela sociedade futura (...) Daqui deriva que o novo critério moral tenha esta definição: moral é o que serve ao advento da nova sociedade (...) A moral passa a ser «científica»: já não tem como fim «um fantasma» - o Paraíso -, mas sim uma entidade ao alcance da iniciativa humana: a nova era. Deste modo, moral e religião passam a ser algo de «positivo» e de «científico». Que mais será preciso? (...) Só uma análise mais atenta nos fará descobrir em tudo isto o pezinho do Diabo e o eco do seu gargalhar ..."

"... o fenómeno moral perdeu a sua evidência. Na sociedade moderna, já só uma pequena porção de homens acredita na existência de mandamentos divinos (...) A única função que pode talvez ficar para Deus é ter dado início ao cosmos com o Big Bang. Que Ele opere no meio de nós e que o Homem viva na dependência da sua vontade é coisa que parece à maioria como concepção de Deus ingenuamente antropomórfico ..."

"É característico do pensamento formado sobre o modelo das ciências naturais julgar que entre o mundo dos sentimentos e o mundo dos factos se abre um abismo (...) Atribuir ao átomo, fora das sua características matemáticas, qualquer qualidade que seja, por exemplo, de natureza moral ou estética, é considerado, nesta lógica, pura fantasia. Esta redução da natureza a dados de facto exaustivamente penetráveis e também manipuláveis, tem, ... por consequência que nenhuma mensagem moral vinda do circulo do nosso Eu pode ser encontrada. O fenómeno moral e o religioso são considerados como pertencentes à esfera da subjectividade; não têm a mais pequena cidadania na dimensão da objectividade (...) A verdade é que, submetido a tais processos cognitivos, o Homem deixa de ser Homem. Também ele ... terá de ser tido por mera factualidade (...)

"De facto, a Natureza não é ... obra do acaso e das regras do seu jogo, mas sim Criação. Nela Se exprime o Creator Spiritus. Por isso não temos só leis naturais no sentido de determinismo psico-físico: a lei natural propriamente dita é ao mesmo tempo (também) lei moral ..." [Cardeal Ratzinger, in A Igreja e a Nova Europa, 1999]