segunda-feira, 4 de abril de 2005
Leilão de uma notável Biblioteca - Dias 4, 5 e 6 de Abril
Realiza-se hoje, pelas 21 horas na Casa da Imprensa (Rua da Horta Seca, nº20, Lisboa) a primeira parte do leilão de mais uma biblioteca. A cargo do livreiro-alfarrabista José Manuel Rodrigues (Largo do Calhariz, 14, Lisboa) o leilão, a continuar por mais 2 noites, possui Catálogo competente. Das 1092 peças a leiloar estão incluídas temáticas tão diversas como: "Náutica, Marinharia Portuguesa, Descobrimentos, Viagens e Explorações, Literatura, História, Arte, Ultramar, Alvarás, Mapas e Manuscritos". Uma excelente oportunidade para fazer gastos entusiastas em livros, sendo que alguns são bem difíceis de encontrar, senão já raros.
Algumas referências para a 1ª noite (dia 4): Teatro Popular Português, por Azinhal Abelho, 1968-73, VI vols / Álbum dos Costumes Portuguezes, 1888 / A Engomadeira, de Almada Negreiros, 1917 / A Invenção do Dia Claro, de Almada, 1921 / História da Igreja em Portugal, por Fortunato de Almeida, 1967-71, IV vols / Alvará. Carta de estabelecimento da Academia Geral da Marinha, 1779 / A Barca dos Sete Lemes, por Alves Redol, 1958 (mais, Anúncio, Fanga, etc.) / Tratado de Cozinha e Copa, por Carlos bento da Maia, 1904 / A Paródia, publ. sob direcção de Bordalo Pinheiro, 1903-1904, II vols, 106 nums / Livro do Monte, por Bulhão Pato, 1896 / A Campanha do Bailundo em 1902, de Francisco Cabral Moncada, 1903 / Caminhos de Ferro do Minho (lote de 7 obras), 1875 / De Angola à Contra-Costa, por Capello & Ivens, 1886, II vols / De Benguela às Terras de Iácca, idem, 1881, II vols / A Queda de um Anjo, de Camilo, 1866 / A Senhora Rattazzi, idem, 1880 / Amor de Perdição, idem / Inspirações, idem, 1851 / O Demónio do Ouro, idem, 1873 / A Ribeira de Lisboa, por Júlio de Castilho, 1940-45 (2ª ed.), V vols / Flores de Coral. Últimos Poemas, de Alberto Osório de Castro, Dili, 1908 / Manual de Prestidigitação, mais, Primavera Autónoma das Estradas, por Mário Cesariny Vasconcelos / Quadros da História de Portugal, junto com Folheto explicativo dos Quadros, por Chagas Franco & João Soares, 1932 e 1929 resp. / Os Ciganos de Portugal, por F. Adolpho Coelho, 1892 / Compendio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra no tempo da invasão dos denominados Jesuítas ..., Lisboa, 1772 / O Amor em Portugal no Século XVIII (ilust. de Alberto de Sousa), por Júlio Dantas, 1917 (2ª ed.) / Os Macondes de Moçambique, por Jorge Dias, 1964
A propósito de algum anti-clericalismo
"Bom observador é aquele que guarda com cuidado o que ainda pode servir, exactamente como é bom revolucionário o que poupa o que ainda é útil: quem teima em conservar aquilo que já está bem roído de traça e de desfaz ao menor toque é apenas avarento ou desmazelado; quem deita fora sem escolher desatento ou furioso" [Agostinho da Silva, in Carta Vária]
"A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras" [idem, in Considerações e Outros Textos]
"Bom observador é aquele que guarda com cuidado o que ainda pode servir, exactamente como é bom revolucionário o que poupa o que ainda é útil: quem teima em conservar aquilo que já está bem roído de traça e de desfaz ao menor toque é apenas avarento ou desmazelado; quem deita fora sem escolher desatento ou furioso" [Agostinho da Silva, in Carta Vária]
"A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras" [idem, in Considerações e Outros Textos]
Karol Józef Wojtyla (1920-2005)
"A guerra nunca é uma fatalidade. Ela é sempre uma derrota da humanidade. O direito internacional, o diálogo franco, a solidariedade entre os Estados, o exercício tão nobre da diplomacia, são os meios dignos do homem e das nações para resolver as suas contendas (...)
E que dizer das ameaças de uma guerra que se poderia abater sobre as populações do Iraque, terra dos profetas, populações já extenuadas por mais de doze anos de embargo? A guerra nunca pode ser considerada um meio como outro qualquer, que se pode usar para regular os diferendos entre as Nações. Como recordava a Carta da Organização das Nações Unidas e o Direito Internacional, não podemos recorrer a ela, mesmo quando se trata de garantir o bem comum, a não ser como última possibilidade segundo condições muito rigorosas, sem negligenciar as consequências para as populações civis durante e depois das operações militares"
[Discurso de João Paulo II, proferido ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé na audiência de 13 de Janeiro de 2003]
quarta-feira, 30 de março de 2005
4 - Aniversários - 4
Ah! Aniversariantes magníficos. As cerimónias resplandecentes que pressentimos nestes dias, têm dobrado merecimento. Vós sois o nosso amparo. A nossa salvação. E a nossa ruína, também. Neste remanso de solidão em terras do Mondego, lançamos à Montanha Mágica, ao Fumaças, ao Paulo Querido e às Musas do nosso coração, a maior das felicidades. Já estamos a comemorar.
Memória: It's the Economy, Stupid!
Enquanto Abril tarda, algo saudosos devemos confessar, lá regressámos a Adam Smith e a Ricardo, à economia política e ao seu discurso. Sempre esse princípio deslumbrado. No apuro da escolha não encontrámos qualquer fenómeno natural, auto-regulado, estático, despojado de poder, mas sim um lugar de jogo de poderes. O "teste de mercado", que sempre se deu bem com a regulamentação nos tempos de Reagan e Thacher, foi o que vimos: crise e recessão mundial, aumento das desigualdades sociais e inter-regionais, guerras sem fim à vista.
O novo modismo neo-liberal do supply-side, a curva de Laffer, o velho pronunciamento de equilíbrio geral, não nos excitou. Há muito se sabe a confusão ideológica entre crescimento, desenvolvimento económico e distribuição de rendimento. Lembrámo-nos, tout court, do lento desnudar de Kaldor e Pasinetti, da Escola de Cambridge, a partir da análise de Harrod-Domar. Relemos a crítica feita de Samuelson e Modigliani, que ao contestarem a validade do caso Pasinetti, acentuam a propensão a poupar dos trabalhadores como motor do processo de crescimento. Sorrimos. Deixámos de lado Von Neuman e Leontief, os modelos de reprodução simples e alargada de Marx. Coisas de culto divino, que o tempo lembra.
Mas a transformação de valor em preços era bem mais curioso. Lá andámos com Piero Sraffa, acompanhando o renascimento da economia ricardiana (afinal era possível falar de conflito de classes em função da repartição do rendimento, sem o recurso ao conceito marxiano de exploração, pasme-se), Bortkiewcz, Winternitz, Morishima, Meek, Seton, Abraham Frois. Pairámos em Steedman, com algum azedume, mas nunca deixámos a teoria do valor. E ela, ao que parece, está de novo aí, finda que está a dormência a que se sujeitou. Porque a economia política sempre foi uma admirável metanarrativa, com algumas flores de génio.
A "oferta" e a "procura" explicada ao Povo
A Páscoa, por vezes, tem destas coisas: lança remédios celestiais & penitências ponderadas aos prevaricadores da relaxação social. A epístola aos "esquerdistas" & ao povo teve, neste pascoar, a aventurança do sublime João Miranda num letreiro intitulado: Um esquerdista é um fulano que não entende muito bem o que é isso da «Lei da Oferta e da Procura». Esse bloguista instruído do mundo e da tortura económica invectivou um "operário" da blogosfera lusitana e pronunciou, urbi et orbi, uma profissão de fé sobre o "funcionamento" da sociedade e da "economia", absolutamente admirável. Palmas e martírios.
Tinha-se ideia que um inocente "esquerdista", numa egolatria pecaminosa, desconhecia que a Terra girava e que havia coices e quedas espirituais, não era atreito às malas-artes, inchava de vinhos & petiscos & propaganda, declarava estranheza pela filosofia e a poesis, privava de cinemanias & outros atoalhados que fazem curvar a fronte cismadora, era indiferente aos esforços do pulsar erótico da libido porque pecador com cio se confessava, venerava a propriedade do ócio, ia em manada para a Zambujeira & afins, dormia como um cevado, pensava na revolução, era feliz. Desafortunadamente, nunca se pensou que o nosso protagonista "esquerdista" gaguejava na "Lei da Oferta e da Procura". O que espanta é que, desaustinado da modernidade, o nosso "esquerdista" tenha estagnado na redacção da dita "Lei". E que não tenha, o nosso infeliz recluso oeconomicus, qualquer opinião sobre o assunto. Mas, hélas!, eis que João Miranda vem amassar o nosso sombrio conhecimento. Nós, quebrantados de nervos, já nos decidimos: depois de Marx Abril.
Catálogo 9 da Livraria D. Pedro V
A Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa) publicou mais um catálogo, o nono, elaborado por Carla Teixeira.
Algumas referências: O Inferno de Dante Alighieri, 1887 / Memórias do Sexto Marquês do Lavradio, de D. José Luiz de Almeida (Lavradio), 1947 / Descrição Geral e Histórica das Moedas cunhadas em nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, por A.C. Teixira de Aragão, III vols / Tratado de Óleos e Enxofres, Vitríolo, Philosophorum, Alecrim, Salva e da Água Ardente, de Duarte Madeira Arraes (apres. de Yvette Centeno), 1993 / Aos Pés do Mestre, de Muhammad Rashid (aliás António Barahona), 1974 (raro) / A legitimidade dos governantes à luz da doutrina cristã, de Marcello Caetano, 1952 / De Angola à Contra-Costa, por Ivens Capello, 1886, II vols / Seroens em S. Miguel de Seide, de Camilo Castelo Branco, 1885, 6 tomos em 2 vols / Camillo Castello Branco. Typos e Episódios da sua galeria, de Sérgio de Castro, 1914, III vols / Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (org. Natália Correia), 1966 / Os Telles de Albergaria, por Carlos Malheiro Dias, s.d. / Ossadas, de Afonso Duarte, 1947 / Os Passos em Volta, de Herberto Hélder, 1963 / O Bebedor Nocturno, de Herberto Hélder, 1968 / A Ilha de Próspero. Texto & Fotos ..., por Rui Knopfli, 1972 / Danças Portuguesas, de Pedro Homem de Mello, 1962 / Cartas de Inglaterra, de Pedro Homem de Mello, 1973 / Peças em um Auto, por Luís de Sttau Monteiro, 1966 / Obras de Eça de Queirós. Edição do Centenário, 1946, XVI vols / Guia de Portugal Artístico, por M. Costa Ramalho (direc.), 1933, XI tomos em VI vols / O Espectro (jornal clandestino escrito por António Rodrigues Sampaio, durante as lutas liberais, nº1 16 Dez. 1846 a nº63, 3 Julho 1847), 1880 (2ª ed.) / Em Demanda do Graal, por Afonso Lopes Vieira, s.d
domingo, 27 de março de 2005
[Iconografia de Jesus]
"Quem te pintou triste e secreto,
Ó Cristo de olhar vendado,
Ó Cristo misterioso,
Abandonado
No Museu das Janelas Verdes,
Quem te pintou saudoso,
Talvez do Céu, talvez do Homem,
Talvez da criação antes da prova,
Quem te pintou assim, sereno e encoberto,
Imagem nova
Que um povo a ti votado
Um dia descobriu? ..."
[António Quadros, in Ode ao Cristo das Janelas Verdes]
[Epítome]
"Reino do Mar, abrange todo o Oceano desvendado pelo Argonauta, por aquele que, ardendo em Fé, deixou certa vez o porto de Portugal em busca do sagrado vaso do Amor do imortal João - o Prestes.
Ilha Encoberta, diluída sobre todo o espaço da Terra, é a Pátria do Ar - o Terceiro grau do Ar -, a Essência Quinta, mergulhada em sonhos isentos de manchas, sombras e terras, o centro autêntico da Inteligência da Redenção universal, o núcleo do Coração generoso do Homem sem limite nem lugar.
Como trono do Cordeiro - o Príncipe do Encoberto -, é o Paraíso do Mundo.
Ora os Lusitanos, os homens dos portos, os descobridores do Mar vivo e da Ilha Encoberta - a Pátria da Essência Quinta -, como todos os discípulos da última Pessoa da Trindade, chamam-se ATLANTES".
[Vasco da Gama Rodrigues, in Os Atlantes, Lisboa, 1961]
"Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe
...
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava ..."
[Alberto Caeiro (aliás Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos]
[Manhã de Páscoa]
"- Que fizeste das palavras do filho do Homem
saídas duma mesma espécie e cripta?
Que diziam elas deste mundo e do outro?
E que fizeste do seu coração sofredor
sangrando em carne viva?
Alguém bateu à porta da tua vida:
como lhe respondeste?
Só uma flor por ti respondeu: amor-perfeito.
Um gole do cálice de sua bebida sagrada
provaste? ..."
[Dalila Pereira da Costa, in Hora Prima]
"- Que fizeste das palavras do filho do Homem
saídas duma mesma espécie e cripta?
Que diziam elas deste mundo e do outro?
E que fizeste do seu coração sofredor
sangrando em carne viva?
Alguém bateu à porta da tua vida:
como lhe respondeste?
Só uma flor por ti respondeu: amor-perfeito.
Um gole do cálice de sua bebida sagrada
provaste? ..."
[Dalila Pereira da Costa, in Hora Prima]
quinta-feira, 24 de março de 2005
Bom Dia! Lawrence Ferlinghetti [n. 24 Março de 1919]
"Allen Ginsberg is dying
It's in all the papers
It's on the evening news
A great poet is dying
But his voice
won't die
...
It is high tide and the seabirds cry
The waves break over him now
and the seabirds cry ..."
[Lawrence Ferlinghetti, in Allen Ginsberg is Dying]
"E cada piloto d'elite com bombas & napalm debaixo das asas
E cada piloto do céu abençoando os bombardeiros na descolagem
E cada Departamento do Estado de qualquer super estado
vendendo armas aos dois campos
...
E a todos que matam e matam e matam & matam pela Paz
ergo o dedo do meio
na única saudação que merecem" [L. F., in Boca da Verdade]
Locais: Lawrence Ferlinghetti / Beat Generation Lawrence Ferlinghetti / L. Ferlinghetti / A Brief History of Lawrence Ferlinghetti / A Conversation with Lawrence Ferlinghetti / A Short History of City Lights Bookstore / The Works of Lawrence Ferlinghetti / "se calhar sou eu o banqueiro anarquista" / Poems / Poems by Lawrence Ferlinghetti
Boletim Bibliográfico 24 de Luís Burnay
Saiu o Catálogo do mês de Março de Luís P. Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), como sempre de grande estimação.
Algumas referências: Memoria concernente à construção da Doca do Ilheo de Villa Franca do Campo na Ilha de S. Miguel, de João António G. d'Abranches, 1834 / Annaes e Código dos Pedreiros Livres em Portugal, por Miguel António Dias, 1853 (aliás, reimpr. fac-similada, 1998) / Alcobaça e Batalha: recordações de uma excursão, por William Beckford, 1914 / Biographia do Remexido o celebre guerrilheiro do Algarve ..., Tavira, 1892 / Historia da Luzitania e da Ibéria desde os tempos primitivos ..., de João Bonança, 1887 / Alma minha gentil ..., de Luís de Camões, Lisboa, 1886 / Portugal em Roma, pelo Pe. José de Castro, 1939, II vols (c/ uma "relação nominal dos Miguelistas existentes no Ducado de Modena e uma relação das pessoas que embarcaram para o Brasil com a Coroa Portuguesa") / Causa dos Frades, e dos Pedreiros Livres no Tribunal da Prudência, [por José Máximo Pinto da Fonseca Rangel, inf. Inocêncio], Porto, 1821 / Don Miguel Ier, Paris, Delaforest, 1828 [por António Ribeiro de Saraiva (inf. Inocêncio) onde se fundamenta a legitimidade ao trono de D. Miguel] / Exame da Constituição de D. Pedro, e dos direitos de D. Miguel, ..., trad. do francez por J.P.C.B.F. [José Pinto Cardoso Beja, sob inf. de Inocêncio], Lisboa, 1829 / Outras Terras Outras Gentes, de Henrique Galvão, s.d., II vols / Portugal no Balanço da Europa, do que tem sido e do que ora lhe convem saber na nova ordem das coisas do mundo civilizado, de Almeida Garrett, Londres, 1830 (publ. anónima, raro) / O Gungunhana, Lisboa, 1896 (raro) / A Franco-Maçonaria em si mesma e em suas relações c/ as outras Sociedades Secretas da Europa, ..., pelo Abbade GYR, Poro, 1865, II vols / Historia dos Filósofos Antigos e Modernos ..., por Francisco Luiz Leal, 1788, II vols (raro) / [Mns] Orações devotas para o tempo da prenhez, trad. do alemão em Portuguez, Anno de 1798 / Dicionário Geographico das Províncias e posessões portuguezas no Ultramar ..., de José Maria de Souza Monteiro, Lisboa, 1850 (raro) / Discuros do Sr. Deputado Passos Manuel na Sessão de 18 d'Outubro de 1844, Lisboa, 1845 (raro) / A Praia da Costa da Caparica: estancia balnear, de cura, de repouso e de turismo, s.d. / Portugal de Relance, de Maria Ratazzi, Lisboa, 1881 (imp. por ter dado origem à polémica onde participou Camilo com o folheto "A Senhora Ratazzi") / Discursos de Salazar, 1935-1967, VI vols / Nós, Os Loucos ..., de Ary dos Santos, 1953 / Historia das Sociedades Secretas Politico Religiosas: os Carbonarios, a Inquisição, os Franco-Maçons , ..., de Pierre Zaccone, trad. de Heliodoro Salgado, Lisboa, s.d., II vols
Livros & Arrumações
* "Lãs e Ovinos no Concelho de Almodôvar (Subsidio para o seu Estudo)", por Artur Marreiros Portela, Porto, 1943. Trata-se do relatório final do curso de Regente Agrícola. Como quase todos estes relatórios, contêm importantes informações regionais, dados de interesse monográfico e bibliográfico. O autor começa por caracterizar o concelho de Almodôvar, fala da propriedade e das culturas dominantes (trigo, aveia e cevada), refere outras mais, descreve as pastagens, reflecte sobre os pousios, etc. A parte dedicada à transumância dos rebanhos é muito curiosa. Depois, a partir da apreciação dos ovinos, da sua ascendência, das suas castas e caracterização, aponta uma extensa lista, à época, dos principais criadores de gado ovino das freguesias de Almodôvar, Santa Cruz e Rosário [refira-se, o dr. António Figueira de Freitas e Joaquim Domingos Messias, de Almodôvar; António Guerreiro Gomes, de Gomes e Aires; Carlos da Costa, de S. Pedro de Sólis; Álvaro Colaço (c/ o rebanho mais numeroso da região); D. António Cordes Mascarenhas de Azevedo, Herdade dos Toucinhos; Francisco da Costa, Monte da Vinha; Joaquim António da Palma Ferreira, da Telhada; Francisco da palma, do Barranco; D. Maria Paula Guerreiro Paleta, de Santa Clara; etc.]. Descreve a vida pastoral, inclui, ainda, a soldada dos maiorais (12$00 mil réis/ano), as "achêgas" e o "pegulhal", bem como um notável conjunto de informações sobre Lãs, sua classificação, rendimento, produção, utilização fabril, laboração, transacção e comércio. Por fim, apresenta um estudo particular sobre alguns rebanhos da região. Estimado.
* "Lãs e Ovinos no Concelho de Almodôvar (Subsidio para o seu Estudo)", por Artur Marreiros Portela, Porto, 1943. Trata-se do relatório final do curso de Regente Agrícola. Como quase todos estes relatórios, contêm importantes informações regionais, dados de interesse monográfico e bibliográfico. O autor começa por caracterizar o concelho de Almodôvar, fala da propriedade e das culturas dominantes (trigo, aveia e cevada), refere outras mais, descreve as pastagens, reflecte sobre os pousios, etc. A parte dedicada à transumância dos rebanhos é muito curiosa. Depois, a partir da apreciação dos ovinos, da sua ascendência, das suas castas e caracterização, aponta uma extensa lista, à época, dos principais criadores de gado ovino das freguesias de Almodôvar, Santa Cruz e Rosário [refira-se, o dr. António Figueira de Freitas e Joaquim Domingos Messias, de Almodôvar; António Guerreiro Gomes, de Gomes e Aires; Carlos da Costa, de S. Pedro de Sólis; Álvaro Colaço (c/ o rebanho mais numeroso da região); D. António Cordes Mascarenhas de Azevedo, Herdade dos Toucinhos; Francisco da Costa, Monte da Vinha; Joaquim António da Palma Ferreira, da Telhada; Francisco da palma, do Barranco; D. Maria Paula Guerreiro Paleta, de Santa Clara; etc.]. Descreve a vida pastoral, inclui, ainda, a soldada dos maiorais (12$00 mil réis/ano), as "achêgas" e o "pegulhal", bem como um notável conjunto de informações sobre Lãs, sua classificação, rendimento, produção, utilização fabril, laboração, transacção e comércio. Por fim, apresenta um estudo particular sobre alguns rebanhos da região. Estimado.
terça-feira, 22 de março de 2005
Nanterre [22 Março de 1968]
"People who talk about revolution & class struggle without referring explicitly to everyday life, without understanding what is subversive about love & what is positive in the refusal or constraints, such people have a corpse in their mouth"
[Raoul Vaneigem, The Revolution of Everyday Life]
Miscelânea política & novenas devotas
- ausentes em terras do sul ou na planície heróica alentejana, inspirados nas recordações que a nossa inocente alma reclamava, entre transumâncias que a solenidade reuniu e a paisagem invocou, subimos mais para norte e depois de porfiada colheita nos terrenos d'Alvalade - graças senhor Pinto da Costa! - respeitámos a caminhada até terras do Mondego. O espanto e o horror da populaça jornaleira e bloguista pelos presumidos atributos do eng. Sócrates - ao que parece, diz, consagrou a alma e a governação a voto de silêncio - foram-nos indiferentes. Mas admirámos a curiosa cruzada erguida contra o programa do governo, dito copy paste do programa eleitoral. Tal movimento afectuoso é contrário à repugnância que outros, anteriormente, seguiam, o que se compreende. A vida airosa de Barroso, Lopes & Portas sempre foi o choro desvalido dos trânsfugas da política. E o que se precisa é liberalizar por aí. Há que seguir a canção.
- mas tivemos atentos e via Causa Liberal, fomos esclarecidos do talento do vate Sérgio Figueiredo, agora mergulhado na dor da queda do dólar, a partir de uma instruída redacção virtual. A comovente prédica económica, caridosamente tricotada no Jornal de Negócios a partir dos alinhavos de Antony P. Mueller ou vice-versa, que nisto de economia o (des)amor é cego, retrata bem a bondade dos nossos jornaleiros da economia. Como não vislumbramos o fascinante Figueiredo numa qualquer TV a tecer os seus rosários económico-liberais sobre o estado da nação, supomos que a plagiada foi admirável. E ficará para mais tarde recordar.
- e não deixámos de ler O Público, que agora, graças à originalidade do camarada José Manuel Fernandes, persiste numa incansável campanha de mau gosto. Não só tecendo loas ao execrável Wolfowitz, no que está em perfeita sintonia com os "ambiciosos planos" presentes nos desígnios da "nova" Mãe Pátria (JMF fez um transfert admirável, que é um study case. Da Mãe Rússia passou-se de armas e bagagens para a doce USA. Sempre e afinal o eterno problema da mãe ou da mulher).
De outro modo, para que a vergonha seja perfeita, cedeu o inefável JMF as páginas d'O Público à nata da sandice da classe política, permitindo um depoimento insano de Pedro Pinto, no mais perfeito estilo estalinista. Sabe-se como o JMF não resiste ao senhor do bigode, mas não seria aconselhável que tais ódios partidários fossem acolhidos no jornal do PSD, em vez de o ser num jornal que se quer sério? Já não há recato?
Goethe [m. 22 Março de 1832]
"O Simbolismo transforma os fenómenos visíveis em uma ideia, e a ideia em imagem, mas de tal forma que a ideia continua a agir na imagem, e permanece, contudo, inacessível; e mesmo se for expressa em todas as línguas, ela permanece inexprimível. Já a Alegoria, transforma os fenómenos visíveis em conceito, o conceito em imagem, mas de tal maneira, que esse conceito continua sempre limitado pela imagem, capaz de ser inteiramente apreendido e possuído por ela, e inteiramente exprimido por essa imagem." [Goethe]
"Tudo os Deuses dão, os infinitos,
A quem amam, por inteiro:
Todos os prazeres, infinitos,
Todos pesares, infinitos, por inteiro" [in Poemas, trad. Paulo Quintela]
"... Ainda não caminhavam há muito, quando o cortejo se encontrou diante duma grande porta de bronze, cujos batentes estavam fechados com uma fechadura de oiro. O velho chamou logo pelos fogos fátuos que não se fizeram rogados, mas bem pelo contrário acorreram pressurosos e se puseram imediatamente a consumir a fechadura e o ferrolho com a ponta das sua chamas agudíssimas. O bronze ressoou com estrondo, quando os portões se abriram instantaneamente e no santuário as dignas imagens dos reis apareceram, iluminadas pelas luzes que entravam.
Cada um se inclinou diante dos soberanos venerandos, sobretudo os fogos fátuos não se pouparam a emaranhadas curvaturas.
Depois de uma pausa, perguntou o rei de ouro:
«Donde vindes?»
«Do mundo», respondeu o velho.
«Para onde ides?», perguntou o rei de prata.
«Para o mundo», disse o velho
«Que pretendeis fazer aqui?», perguntou o rei de bronze.
«Acompanhar-vos», disse o velho ..."
[Goethe, in O Conto da Serpente Verde, 1932]
quinta-feira, 17 de março de 2005
Olga Orozco [n. 17 Março de 1920-1999]
"Yo, Olga Orozco, desde tu corazón digo a todos que muero.
Amé la soledad, la heroica perduración de toda fe,
el ocio donde crecen animales extraños y plantas fabulosas,
la sombra de un gran tiempo que pasó entre misterios y entre alucinaciones,
y también el pequeño temblor de las bujías de la noche (...)"
[O. Orozco, in Las muertes]
"Mis poderes son escasos. No he logrado trizar un cristal con la mirada, pero tampoco he conseguido la santidad, ni siquiera a ras del suelo. Mi solidaridad se manifiesta sobre todo en el contagio: padezco de paredes agrietadas, de árbol abatido, de perro muerto, de procesión de antorchas y hasta de flor que crece en el patíbulo. Pero mi peste pertinaz es la palabra. Me punza, me retuerce, me inflama, me desangra, me aniquila. Es inútil que intente fijarla como a un insecto aleteando en el papel. ¡Ay el papel! «blanca mujer que lee en el pensamiento" sin acertar jamás»" [aqui]
"Una mano, dos manos. Nada más.
Todavía me duelen las manos que me faltan,
esas que se quedaron adheridas a la barca fantasma que me trajo
y sacuden la costa con golpes de tambor,
con puñados de arena contra el agua de migraciones y nostalgias.
Son manos transparentes que deslizan el mundo debajo de mis pies,
que vienen y se van.
Pero estas que prolongan mi espesa anatomía
más allá de cualquier posible hoguera,
un poco más acá de cualquier imposible paraíso,
no son manos que sirvan para entreabrir las sombras,
para quitar los velos y volver a cerrar.
Yo no entiendo estas manos (...)"
[O. Orozco, in Esfinges suelen ser]
Locais: Olga Orozco (Argentina) / Olga Orozco (1920-1999) / Homenaje a Olga Orozco / Olga Orozco / Poesias / Homenaje a Alejandra Pizarnik por Olga Orozco
Livros & Arrumações
* Curiosa separata da "Nação Portuguesa", tomo I, série V, intitulada "Investigação Sobre Combatentes d'Ourique em Documentos Medievais", Lisboa, 1928, pelo Tenente-Coronel A. Botelho da Costa Veiga. O autor, a partir da "Memoria de Santa Cruz de Coimbra" onde se nomeavam os combatentes de Ourique (Fernando Mendes Bragança, Egas Moniz e seus dois filhos, Afonso ou Moço Viegas, Soeiro Viegas, Garcia Mendes, Lourenço (e Fernando) Mendes de Gundar, Gonçalo Mendes da Maia, Pêro Paes, Diogo Gonçalves, Godinho Fafes, Paio Guterres, Martim Anaya, Fuas Roupinho, Martim Moniz, Fernão Pires e Gonçalo Dias, entre os 21 indivíduos citados), procura a partir de referências várias a possibilidade desses combatentes terem ou não militado na "campanha de Julho-Agosto de 1139". É um conjunto estimado de referências que nos é sugerido, a partir de documentos medievais (e "fidedignos"), concluindo o autor da "admissibilidade da presença, na lide de Ourique, de 20 dos 21 personagens mencionados por Fr. António Brandão". Conclui o opúsculo com uma curiosíssima "Nota sobre cálculos estatégicos".
* O "Crime da Poça das Feiticeiras", que apaixonou o país [trata-se do drama do assassinato de João Alves Trindade, tendo recaído as culpas sobre o genro e na própria filha, nos tempos idos de 1925] aparece sob a pena de Álvaro de Magalhães (advogado), com a republicação de dois artigos anteriormente saídos no Diário de Lisboa (1939/1940) e um outro no Século (1932). É referido o pedido de revisão do processo, formulado pelos drs. Orlando Marçal e Alberto Pinheiro Torres. Na capa pode-se ler a afirmação de Vieira de Castro: "Das grades da cadeia é que se vê bem a lama que vai pela rua!". A juntar ao conjunto assinalável de livros e artigos saídos sobre o assunto.
* Curiosa separata da "Nação Portuguesa", tomo I, série V, intitulada "Investigação Sobre Combatentes d'Ourique em Documentos Medievais", Lisboa, 1928, pelo Tenente-Coronel A. Botelho da Costa Veiga. O autor, a partir da "Memoria de Santa Cruz de Coimbra" onde se nomeavam os combatentes de Ourique (Fernando Mendes Bragança, Egas Moniz e seus dois filhos, Afonso ou Moço Viegas, Soeiro Viegas, Garcia Mendes, Lourenço (e Fernando) Mendes de Gundar, Gonçalo Mendes da Maia, Pêro Paes, Diogo Gonçalves, Godinho Fafes, Paio Guterres, Martim Anaya, Fuas Roupinho, Martim Moniz, Fernão Pires e Gonçalo Dias, entre os 21 indivíduos citados), procura a partir de referências várias a possibilidade desses combatentes terem ou não militado na "campanha de Julho-Agosto de 1139". É um conjunto estimado de referências que nos é sugerido, a partir de documentos medievais (e "fidedignos"), concluindo o autor da "admissibilidade da presença, na lide de Ourique, de 20 dos 21 personagens mencionados por Fr. António Brandão". Conclui o opúsculo com uma curiosíssima "Nota sobre cálculos estatégicos".
* O "Crime da Poça das Feiticeiras", que apaixonou o país [trata-se do drama do assassinato de João Alves Trindade, tendo recaído as culpas sobre o genro e na própria filha, nos tempos idos de 1925] aparece sob a pena de Álvaro de Magalhães (advogado), com a republicação de dois artigos anteriormente saídos no Diário de Lisboa (1939/1940) e um outro no Século (1932). É referido o pedido de revisão do processo, formulado pelos drs. Orlando Marçal e Alberto Pinheiro Torres. Na capa pode-se ler a afirmação de Vieira de Castro: "Das grades da cadeia é que se vê bem a lama que vai pela rua!". A juntar ao conjunto assinalável de livros e artigos saídos sobre o assunto.
Otto Gross [n. 17 Março de 1877-1920]
Locais: International Otto Gross Society / The conflict between S.Freud, CG.Jung and Otto Gross / "The Psychology of the Unconscious is the Philosophy of the Revolution!"
domingo, 13 de março de 2005
André João Antonil [m. na Baía a 13 Março de 1716]
"O inconveniente do pseudónimo [André João Antonil é pseudónimo de João António Andreoni] envolveu, durante muito tempo o autor da «Cultura e Opulência do Brasil» em atmosfera de duvidas e confusões. Houve até quem admitisse tratar-se de um escritor paulista [S. Blake], de origem ignorada [Inocêncio considera-o de origem italiana]. No entanto João António Andreoni era muito conhecido em seu tempo, pelas funções eclesiásticas por ele exercidas. Mas a circunstância predominante que o deixou no olvido, reside na excessiva precaução do governo lusitano, determinando o sequestro e destruição da obra que ele escreveu, em virtude das noticias consideradas indiscretas, sobre as minas de ouro e prata, tornaram-se, igualmente, raríssimos os exemplares das edições subsequentes (...)
Trata-se do primeiro economista que manifestou publicamente, em livro, durante o período colonial (...) Além das contribuições prestadas, com referência ao cultivo da cana do açúcar e do fumo, à indústria incipiente do açúcar e do tabaco, encerra informações sobre pecuária, a extracção e exportação do pau brasil e ouro (...) Além da parte agrícola, encerra excelentes dados estatísticos sobre o progresso da colónia no segundo século de existência e oferece subsídios do maior interesse para o estudo económico do Brasil.
A despeito de haver logrado franco parecer, favorável à sua publicação, por parte dos representantes do santo ofício e do censor do paço, houve ordem de sequestro imediato (...) Destruíram a edição de 1711, da oficina real de Deslandes, salvando-se apenas três ou quatro exemplares. Nova tiragem se fez, quase um século depois, graças às providências de frei José Mariano da Conceição Velloso, quando dirigia a tipografia do Arco Cego, em Lisboa. Fê-la porém incompleta, pois só extraiu do exemplar que lhe foi confiado pelo conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, a primeira parte, relativa ao açúcar, com o título de «Extracto sobre os engenhos de assucar no Brasil e sobre o methodo, já então praticado, na factura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e Opulência (...)». José Sylvestre Ribeiro, distinto bibliógrafo português, servindo-se talvez do mesmoe exemplar pertencente a Ordonhes, ou por sus influencia, cuidou da 3ª edição, em 1837. Afonso de Taunay, no 4º capitulo do estudo bio-bibliográfico de Antonil, relata as ocorrências sobre as edições do encarecido livro.
Antonil usara também do pseudónimo Anonymo toscano, circunstancia que determinou Barbosa Machado, no dizer de Varnhagen, haver excluído a obra da sua Biblioteca Lusitana..."
[Arthur Motta, in História da Litteratura Brasileira, São Paulo, 1930]
Locais: André João Antonil / André João Antonil (1649-1716) / André João Antonil / Cultura e opulência do Brasil / Cultura e opulência do Brasil (pdf) / Da abundância de mantimentos, e de todo o usual que hoje há nas minas, e do pouco caso que se faz dos preços extraordinariamente altos / Conselhos a um Senhor
sexta-feira, 11 de março de 2005
Para não esquecer o Horror
"Creio no homem. Já vi
dorsos despedaçados a chicote,
almas cegas avançando aos saltos
(espanhas a cavalo
de fome e sofrimento). E acreditei.
Creio na paz. Já vi
altas estrelas, recintos chamejantes
e amanhecentes, incendiando rios
fundos, caudal humano
para outra luz: vi e acreditei.
Creio em ti, pátria. Digo
o que já vi: relâmpagos
de raiva, amor em frio e uma faca
chiando, fazendo-se em pedaços
de pão: embora hoje só haja sombra, vi
e acreditei"
[Blas de Otero, Fidelidad, in Pido la Paz y la palavra, 1955, trad. José Bento (1985)]
Um ano depois do horror do 11 de Março, em Madrid. Dessa tormenta que não nos abandona. Desse remanso incrédulo que as lágrimas não hão-de deter. Da dor e espanto desenganado. "Una sombra tristíssima, indefinible y vaga / como lo incerto, siempre ante mis ojos va / tras de outra vaga sombra que sin cesar la huye / corriendo sin cesar ..." [Rosalia de Castro]. Limpámos as feridas. E depois? Que é feito de nós? Da nossa culpa, do desespero, da nossa raiva? Que abismo é o nosso? Lançai os olhos ao mundo e vede que o clamor não se pode quedar discreto. Um ano depois desse cansaço que temos na memória, o maior tributo após um ano sobre o 11-M será nunca o esquecermos. Nos nossos afectos. Para nossa protecção e liberdade. Porque se faz tarde.
quinta-feira, 10 de março de 2005
Boris Vian [n. 10 Março de 1920-1959]
"... O erotismo de Os cento e Vinte Dias de Sodoma quando não cai num ridículo assaz cómico não vai nunca além de um Petit Larousse perverso; e os preparativos da orgia que duram páginas e páginas são maçadoras e bem inferiores em sugestão ao Catalogue Général de la Manufacture d'Armes et Cycles de Saint-Etienne, ou ainda aos anúncios matrimoniais do Chasseur français. (...) Pseudo-erotismo também os livros de Delly, de Max du Veuzit e de todas as damas cuja função principal parece se a de fabricar, a longo prazo, novos complexos para uso das jovens católicas (...)
Um outro grande erótico: Ernest Hemingway. Coisa curiosa, é perto das mulheres, reputadas como menos sensíveis que os homens às solicitações do livro, que Hemingway tem maior peso. As cenas de Por quem os sinos dobram onde o herói e a heroína fazem uma data de coisas dentro de um saco de dormir foram-me descritas e relembradas por todas as amáveis pessoas que interroguei sobre a sua concepção de literatura erótica ..." [Boris Vian, in Escritos Pornográficos, Livraria Utopia, 1988]
"Monsieur le Président,
je vous fais une lettre,
que vous lirez peut-être,
si vous avez le temps.
Je viens de recevoir
mes papiers militaires
pour partir à la guerre
avant mercredi soir.
Monsieur le Président
je ne veux pas le faire,
je ne suis pas sur terre
pour tuer de pauvres gens.
C'est pas pour vous fâcher,
il faut que je vous dise,
ma décision est prise,
je m'en vais déserter ..." [Boris Vian, in Le Déserteur]
Locais: Boris Vian (1920-1959) / Boris Vian / Boris Vian e il jazz / Boris Vian, Artista Multifacetado / Vernon Sullivan ou les pseudo-traductions de Boris Vian
Livros & Arrumações
* "Alexandre Sá Pinto", pelo Dr. António Luiz Gomes, Lisboa, 1967. Trata-se de um conferência, proferida na Escola Industrial Marquês de Pombal, sobre Alexandre Sá Pinto, nascido em Gondozende, Esmoriz, a 7 de Dezembro de 1833. Refere que sai da sua terra, com 16 ou 18 anos, sem ter frequentado uma escola, a não ser "a escola da vida", em direcção à Baía, seguindo depois para Buenos Aires, por lá falecendo em 1926. Foi pintor e forrador de casas, compra e vende terrenos em Buenos Aires, sendo, à medida que a capital da Argentina se desenvolve, senhor de uma considerável fortuna. Consta que veio a Portugal duas vezes, sem passagem pela sua aldeia natal, morrendo solteiro e sem família directa. Pelo seu testamento foi contemplada a Escola Técnica Marquês de Pombal e a sua "similar" do Porto, a Misericórdia de Ovar, o Hospital de Santo António do Porto, bem como instituições em Buenos Aires. Por último é dito que pouco se sabe sobre Alexandre Sá Pinto, sendo que o nosso embaixador na Argentina dizia: "Ninguém sabe nada dele, ninguém o conhecia". O que não deixa de ser curioso. Conclui, António Luiz Gomes, por estabelecer um paralelismo do homenageado com outras personagens, como o Conde de Ferreira (enriqueceu no Brasil) e Rovisco Pais.
* importante separata da Revista da Universidade Técnica de Lisboa, nº12 de Dezembro de 1962, sobre "O Professor Doutor M. B. Amzalak", na data da sua jubilação (4 de Outubro de 1962). Estas Notas Biobibliográficas, com um retrato do antigo Reitor da UTL, referem os seus cargos políticos, a actividade docente, as sociedades científicas que fez parte, as comissões de serviços e, principalmente, apresenta uma extensa bibliografia de "livros, lições e apontamentos em revistas científicas". Divide-se em Economia, História das Doutrinas Económicas, História das Doutrinas Económicas em Portugal (mais de 60 títulos), Economistas Brasileiros, História, Discursos, etc. Nada nos é dito, mas sabe-se que o prof. Amzalak tinha uma importante e copiosa biblioteca, que foi vendida ao "desbarato", depois do 25 de Abril.
* "Alexandre Sá Pinto", pelo Dr. António Luiz Gomes, Lisboa, 1967. Trata-se de um conferência, proferida na Escola Industrial Marquês de Pombal, sobre Alexandre Sá Pinto, nascido em Gondozende, Esmoriz, a 7 de Dezembro de 1833. Refere que sai da sua terra, com 16 ou 18 anos, sem ter frequentado uma escola, a não ser "a escola da vida", em direcção à Baía, seguindo depois para Buenos Aires, por lá falecendo em 1926. Foi pintor e forrador de casas, compra e vende terrenos em Buenos Aires, sendo, à medida que a capital da Argentina se desenvolve, senhor de uma considerável fortuna. Consta que veio a Portugal duas vezes, sem passagem pela sua aldeia natal, morrendo solteiro e sem família directa. Pelo seu testamento foi contemplada a Escola Técnica Marquês de Pombal e a sua "similar" do Porto, a Misericórdia de Ovar, o Hospital de Santo António do Porto, bem como instituições em Buenos Aires. Por último é dito que pouco se sabe sobre Alexandre Sá Pinto, sendo que o nosso embaixador na Argentina dizia: "Ninguém sabe nada dele, ninguém o conhecia". O que não deixa de ser curioso. Conclui, António Luiz Gomes, por estabelecer um paralelismo do homenageado com outras personagens, como o Conde de Ferreira (enriqueceu no Brasil) e Rovisco Pais.
* importante separata da Revista da Universidade Técnica de Lisboa, nº12 de Dezembro de 1962, sobre "O Professor Doutor M. B. Amzalak", na data da sua jubilação (4 de Outubro de 1962). Estas Notas Biobibliográficas, com um retrato do antigo Reitor da UTL, referem os seus cargos políticos, a actividade docente, as sociedades científicas que fez parte, as comissões de serviços e, principalmente, apresenta uma extensa bibliografia de "livros, lições e apontamentos em revistas científicas". Divide-se em Economia, História das Doutrinas Económicas, História das Doutrinas Económicas em Portugal (mais de 60 títulos), Economistas Brasileiros, História, Discursos, etc. Nada nos é dito, mas sabe-se que o prof. Amzalak tinha uma importante e copiosa biblioteca, que foi vendida ao "desbarato", depois do 25 de Abril.
quarta-feira, 9 de março de 2005
Bom dia, John Cale [n. 9 Março de 1942]
Locais: John Cale / John Cale Biography / An Interview with John Cale / Para ouvir "HoboSapiens", aqui / Loop (mp3) / John Cale Lyrics
terça-feira, 8 de março de 2005
2-Aniversários-2
[na noute finda em que passaram 2-Aniversários-2]
Nestes dias últimos em que a palidez nocturna nos atraiçoou, curvados que estivemos em trabalho suplicado, este pecador almocravado lança daqui, da tenda do Mondego, eternas felicitações ao Alexandre Andrade e ao Tiago Cavaco
[na noute finda em que passaram 2-Aniversários-2]
Nestes dias últimos em que a palidez nocturna nos atraiçoou, curvados que estivemos em trabalho suplicado, este pecador almocravado lança daqui, da tenda do Mondego, eternas felicitações ao Alexandre Andrade e ao Tiago Cavaco
José Raúl Capablanca [m. 8 Março de 1942]
Salvé Capablanca! Oh venerável Mestre! Hoje, já fartos de ler novas sobre a garotada, ainda à espera das amêndoas governativas, absolutamente sem pachorra para a economia ou consultas poéticas, corremos para o tabuleiro. Aconteceu-nos a glória do poder divino. Afinal - Mestre! - que seriam as nossas noites sem um jogo de Xadrez?
E Vc porquê espera? Deixe os embrulhos das fotografias das amadas, arrecade a amargura de ser ainda miúdo e ... vá jogar com(o) o Mestre. Ou assista, civilizadamente, a uma admirável partida entre Capablanca contra Alekhine. Buenos Aires, 1927. O tango está a passar por ali. Haja esperança.
Locais: José Raúl Capablanca / Most Played Openings / Historical Photographs (xadrez) / World Chess Champions / World champion: 1921 to 1927
Livros & Arrumações
* Páginas Portuguesas de Afonso Botelho, Lisboa, 1949, é um opúsculo correspondente a três artigos e uma resposta a Pequito Rebelo [Pequito Rebelo e a Nova Geração), publicados anteriormente no "Ressurgimento" e, no caso da resposta a PR (dizia PR, "a primeira geração do Integralismo teve de combater a Anti-nação, vós tereis e não só vós, mas a mocidade de todo o mundo porque o erro é universal..."), lido no acampamento monárquico de 1948. Este último texto é importante. Considerando que "Pequito Rebelo não falou a um grupo de Integralistas novos" mas sim "falou a uma geração", Afonso Botelho tece considerandos vários sobre o Integralismo e a sua doutrina, assumindo que entre a doutrinação integralista e "o começo da nossa juventude há uma espaço vazio de missão". E que "houve alguns momentos em que supusemos ter encontrado o nosso caminho mas, dolorosamente, muito antes da idade própria para as desilusões, desiludimo-nos". Refª várias a Salazar ("a grande esperança de Salazar era a juventude e expressamente o disse, mas na realidade não o podia ser, porque a ideia que ele fazia dessa juventude era totalmente contrária à realidade"). Curioso.
* José V. de Pina Martins é admirável de se ler. O opúsculo "A Poesia de D. Francisco Manuel de Melo", Edições Brotéria, 1967, tem sempre esse encantamento, essa luminosidade, que só alguns escritos nos conseguem dar. O exercício ensaístico sobre as Cartas Poéticas de Francisco Manuel de Melo, é um trabalho meticuloso, sempre com a presença de apuradas notas e reflexões, muitas em nota de pé-de-página, de rara sensibilidade. O texto de Pina Martins percorre 30 páginas que se lêem num fôlego. Está lá tudo: a "espiritualidade" de FM de Melo que se funda na "destas dores da experiência", a leitura da poesia a partir do "drama espiritual" e "no sofrimento moral proveniente da sua privação da liberdade", o realce para alguns aspectos e "motivos de reminiscência platónica", a lírica religiosa que inspira "O Canto da Babilónia", a situação moral do poeta, a presença da modernidade na poesia de F. Manuel de Melo. Um livro a não perder.
* Páginas Portuguesas de Afonso Botelho, Lisboa, 1949, é um opúsculo correspondente a três artigos e uma resposta a Pequito Rebelo [Pequito Rebelo e a Nova Geração), publicados anteriormente no "Ressurgimento" e, no caso da resposta a PR (dizia PR, "a primeira geração do Integralismo teve de combater a Anti-nação, vós tereis e não só vós, mas a mocidade de todo o mundo porque o erro é universal..."), lido no acampamento monárquico de 1948. Este último texto é importante. Considerando que "Pequito Rebelo não falou a um grupo de Integralistas novos" mas sim "falou a uma geração", Afonso Botelho tece considerandos vários sobre o Integralismo e a sua doutrina, assumindo que entre a doutrinação integralista e "o começo da nossa juventude há uma espaço vazio de missão". E que "houve alguns momentos em que supusemos ter encontrado o nosso caminho mas, dolorosamente, muito antes da idade própria para as desilusões, desiludimo-nos". Refª várias a Salazar ("a grande esperança de Salazar era a juventude e expressamente o disse, mas na realidade não o podia ser, porque a ideia que ele fazia dessa juventude era totalmente contrária à realidade"). Curioso.
* José V. de Pina Martins é admirável de se ler. O opúsculo "A Poesia de D. Francisco Manuel de Melo", Edições Brotéria, 1967, tem sempre esse encantamento, essa luminosidade, que só alguns escritos nos conseguem dar. O exercício ensaístico sobre as Cartas Poéticas de Francisco Manuel de Melo, é um trabalho meticuloso, sempre com a presença de apuradas notas e reflexões, muitas em nota de pé-de-página, de rara sensibilidade. O texto de Pina Martins percorre 30 páginas que se lêem num fôlego. Está lá tudo: a "espiritualidade" de FM de Melo que se funda na "destas dores da experiência", a leitura da poesia a partir do "drama espiritual" e "no sofrimento moral proveniente da sua privação da liberdade", o realce para alguns aspectos e "motivos de reminiscência platónica", a lírica religiosa que inspira "O Canto da Babilónia", a situação moral do poeta, a presença da modernidade na poesia de F. Manuel de Melo. Um livro a não perder.
domingo, 6 de março de 2005
Afonso Duarte [m. 6 Março de 1958]
"Não posso já com ervas nem com árvores;
Prefiro os lisos, frios mármores
Onde nada está escrito
Meu gosto da paisagem fez-se escuro;
Nenhures é o lugar que mais procuro
Como homem proscrito.
...
Eu não sei se amanhã será meu dia,
Recolho-me furtivo na poesia,
Incerto o chão que habito ..." [A. Duarte, in Grito, 1940]
Locais: Afonso Duarte, 1884-1958 / Afonso Duarte / Ereira ou a memória de Afonso Duarte / 6 Poemas
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