domingo, 13 de março de 2005


André João Antonil [m. na Baía a 13 Março de 1716]

"O inconveniente do pseudónimo [André João Antonil é pseudónimo de João António Andreoni] envolveu, durante muito tempo o autor da «Cultura e Opulência do Brasil» em atmosfera de duvidas e confusões. Houve até quem admitisse tratar-se de um escritor paulista [S. Blake], de origem ignorada [Inocêncio considera-o de origem italiana]. No entanto João António Andreoni era muito conhecido em seu tempo, pelas funções eclesiásticas por ele exercidas. Mas a circunstância predominante que o deixou no olvido, reside na excessiva precaução do governo lusitano, determinando o sequestro e destruição da obra que ele escreveu, em virtude das noticias consideradas indiscretas, sobre as minas de ouro e prata, tornaram-se, igualmente, raríssimos os exemplares das edições subsequentes (...)

Trata-se do primeiro economista que manifestou publicamente, em livro, durante o período colonial (...) Além das contribuições prestadas, com referência ao cultivo da cana do açúcar e do fumo, à indústria incipiente do açúcar e do tabaco, encerra informações sobre pecuária, a extracção e exportação do pau brasil e ouro (...) Além da parte agrícola, encerra excelentes dados estatísticos sobre o progresso da colónia no segundo século de existência e oferece subsídios do maior interesse para o estudo económico do Brasil.

A despeito de haver logrado franco parecer, favorável à sua publicação, por parte dos representantes do santo ofício e do censor do paço, houve ordem de sequestro imediato (...) Destruíram a edição de 1711, da oficina real de Deslandes, salvando-se apenas três ou quatro exemplares. Nova tiragem se fez, quase um século depois, graças às providências de frei José Mariano da Conceição Velloso, quando dirigia a tipografia do Arco Cego, em Lisboa. Fê-la porém incompleta, pois só extraiu do exemplar que lhe foi confiado pelo conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, a primeira parte, relativa ao açúcar, com o título de «Extracto sobre os engenhos de assucar no Brasil e sobre o methodo, já então praticado, na factura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e Opulência (...)». José Sylvestre Ribeiro, distinto bibliógrafo português, servindo-se talvez do mesmoe exemplar pertencente a Ordonhes, ou por sus influencia, cuidou da 3ª edição, em 1837. Afonso de Taunay, no 4º capitulo do estudo bio-bibliográfico de Antonil, relata as ocorrências sobre as edições do encarecido livro.
Antonil usara também do pseudónimo Anonymo toscano, circunstancia que determinou Barbosa Machado, no dizer de Varnhagen, haver excluído a obra da sua Biblioteca Lusitana..."

[Arthur Motta, in História da Litteratura Brasileira, São Paulo, 1930]

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