Livros & Arrumações
* Páginas Portuguesas de Afonso Botelho, Lisboa, 1949, é um opúsculo correspondente a três artigos e uma resposta a Pequito Rebelo [Pequito Rebelo e a Nova Geração), publicados anteriormente no "Ressurgimento" e, no caso da resposta a PR (dizia PR, "a primeira geração do Integralismo teve de combater a Anti-nação, vós tereis e não só vós, mas a mocidade de todo o mundo porque o erro é universal..."), lido no acampamento monárquico de 1948. Este último texto é importante. Considerando que "Pequito Rebelo não falou a um grupo de Integralistas novos" mas sim "falou a uma geração", Afonso Botelho tece considerandos vários sobre o Integralismo e a sua doutrina, assumindo que entre a doutrinação integralista e "o começo da nossa juventude há uma espaço vazio de missão". E que "houve alguns momentos em que supusemos ter encontrado o nosso caminho mas, dolorosamente, muito antes da idade própria para as desilusões, desiludimo-nos". Refª várias a Salazar ("a grande esperança de Salazar era a juventude e expressamente o disse, mas na realidade não o podia ser, porque a ideia que ele fazia dessa juventude era totalmente contrária à realidade"). Curioso.
* José V. de Pina Martins é admirável de se ler. O opúsculo "A Poesia de D. Francisco Manuel de Melo", Edições Brotéria, 1967, tem sempre esse encantamento, essa luminosidade, que só alguns escritos nos conseguem dar. O exercício ensaístico sobre as Cartas Poéticas de Francisco Manuel de Melo, é um trabalho meticuloso, sempre com a presença de apuradas notas e reflexões, muitas em nota de pé-de-página, de rara sensibilidade. O texto de Pina Martins percorre 30 páginas que se lêem num fôlego. Está lá tudo: a "espiritualidade" de FM de Melo que se funda na "destas dores da experiência", a leitura da poesia a partir do "drama espiritual" e "no sofrimento moral proveniente da sua privação da liberdade", o realce para alguns aspectos e "motivos de reminiscência platónica", a lírica religiosa que inspira "O Canto da Babilónia", a situação moral do poeta, a presença da modernidade na poesia de F. Manuel de Melo. Um livro a não perder.