quarta-feira, 26 de novembro de 2003

I EXPOSIÇÃO ALMOCREVE DAS PETAS




"Para ti, para que não julgues que o dedico a outra" [Almada]

O mar acorda o bloguista ainda no berço.
Que lindo conto! As ondas calmas e iguais levam
consigo os peixes. Quem saberá cantar?
Um dia! um dia! Morte e aventura sairão das espumas.

Para bem esclarecer as gentes que ainda estão à espera, o ALMOCREVE informa que:

- passaram 6 meses desde o primeiro fragmento de liberdade. Os seus lábios - disse ela - eram macios!
- acaba de promover a sua I Exposição. Deu entrevista ao Expresso ... valha-nos o Saraiva.
- vai estar atento ao movimento bloguístico. Mais de 30.000 cliques foram sentidos. Tomem nota!
- se tornou um Blog honrado e está à espera de alguns bisnetos. A colheita foi boa.
- declara nunca mais cuspir letras, simular modéstia ou permanecer mudo. Olha para mim, gentil mulher!
- está decidido a fazer uma pequena revolução. Temos a pedra filosofal. Já telefonámos a avisar.
- acaba de comprar um novo dicionário para fazer arte. Estamos fartos do Torrinha. Acautelem-se!
- confessa que não tem nenhuma obsessão por défices. Não temos rugas na cara. Nem o Durão para aturar.
- está vigilante. "Les recuperateurs sont parmi nous". Falamos francês. Somos do velho mundo!
- já está a acreditar em toda a gente. "Para andar, a cabeça nunca é necessária". Escrevemos, já, ao Zé Manel Fernandes.
- tem um novo ex-libris: "Porque la servidumbre ninguma parte puede tener com la libertad" [S. Juan de la Cruz]
- compreende il peccato di lussuria. Lugar às damas! Que os deuses não se esqueçam de nós. Pois ...!
- sois encantadores

SAMPAIO BRUNO [1857-1915]


 
Sampaio Bruno

Nasce a 26 de Novembro de 1857

"(...) o objectivo prosseguido por Bruno, no Plano de um Livro a Fazer, é o de uma historia dos «iniciados» ibéricos em um mistério universal qual, e sempre, o da gradual libertação humana: «libertando-se a si, libertando os seus irmãos de espécie, ele [o homem] contribuirá já para a libertação universal»[in A Ideia de Deus].

A tais libertos libertadores chamou o autor de O Encoberto os «cavaleiros do Amor». Poderia chamar-lhes também cavaleiros do Bem que, para ele «consiste em fazer convergir a maior porção de espírito alterado, de substância na revertência a Deus» [idem]. Esses cavaleiros foram e são os arautos de uma «religião da razão», o que só se tornará claro a quem tenha estudado a Ideia de Deus. Eis como ele explica o que se deverá entender por essa expressão: «a crença em Deus cumpre que seja mais que uma vantagem. A ideia de Deus cumpre que se torne uma verdade. Acessível, pois humanamente e humanamente inobjectável. Assim, portanto, as almas têm de reacender-se no raciocínio; e a fé há-de emergir do cálculo. Virá um Buda experimentalista e dialéctico. Um Cristo virá, cujos prodígios sejam argumentos» [A Ideia de Deus]

Eis aí a mensagem parcelarmente entrevista pelos «cavaleiros». Eis aí a mensagem de Sampaio Bruno, historiador esotérico do esoterismo. (...)"

[Joel Serrão, in prefácio a «Os Cavaleiros do Amor» de Sampaio Bruno, Guimarães, 1960]

terça-feira, 25 de novembro de 2003

EÇA DE QUEIROZ [1845-1900]




Nasce na Povoa de Varzim, a 25 de Novembro de 1845

" (...) Aleivosia é um termo formidável e sombrio que, se me não engana o vetusto e único dicionário que me ampara nesta dura labutação de estilo, significa - 'maldade cometida traiçoeiramente com mostras de amizade, insídia, perfída, maquinação contra a vida e reputação de alguém, etc.'. Tudo isso é pavoroso. Mas eu suponho que, sob essas vagas palavras de implicação e aleivosia, V. Ex.ª [Camilo] quer muito simplesmente queixar-se de que eu e os meus amigos o não consideramos um escritor tão ilustre, com tão alto lugar nas letras portuguesas como costumam considerar os amigos de V. Ex.ª. Ora aqui V. Ex.ª se ilude singularmente.

Eu nunca tive, é certo, a oportunidade deleitável de apreciar, nem em copioso artigo, nem sequer em curta linha, a obra de V. Ex.ª. Mas sou meridional, portanto loquaz. Por vezes, entre amigos e fumando a cigarette, tem vindo a 'talho de fouce' conversar sobre a literária de v. Ex.ª. (...)

Porque eu, falando de V. Ex.ª, considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o seu sentimento vivo ou confuso da realidade, o seu gosto, a sua arte de composição, a fraqueza ou a força do seu braço; e, pelo menos, admiro sem reserva em V. Ex.ª o ardente satírico, neto de Quevedo, que põe ao serviço da sua apaixonada misantropia, o mais quente e o mais rico sarcasmo peninsular. E os seus amigos, esses, admiram apenas em V. Ex.ª, secamente e pecamente, o homem que em Portugal conhece mais termos do Dicionário!

Sempre, 'a todo o talhe de fouce', em artigo, em local, em anúncio de partida, em felicitações de dias de anos, é V. Ex.ª pelos seus discípulos e amigos louvaminhado e turibulado - como o grande homem do vocábulo, esteio forte da Prosódia, restaurador da Ordem gramatical, supremo arquitecto das frases arcaicas, acima de tudo castiço, e imaculadamente purista! E ainda mais na intimidade, os amigos de V. Ex.ª o celebram como o homem que melhor sabe descompor o seu semelhante! E isto tão obstinadamente murmurado ou clamado, que esta geração mais nova, para quem já vou sendo um velho e V. Ex.ª quase um fantasma, não tendo como eu e os do meu tempo rido e chorado sobre os seus livros de paixões e ironia, o imaginam, a V. Ex.ª um intolerável caturra, de capote de frade, debruçado sobre um sebento léxico, a respigar termos obsoletos para com eles apedrejar todos os seus conterrâneos. (...)"

[Eça de Queirós, in "Carta a Camilo Castelo Branco"]

segunda-feira, 24 de novembro de 2003

RAMALHO ORTIGÃO [1836-1915]



Ramalho Ortigão [1836-1915]

Nasce no Porto a 24 de Novembro de 1836

"O viajante sente ao entrar na Figueira [... da Foz], no tempo dos banhos, uma impressão semelhante à que se experimenta penetrando nos gerais da Universidade em dia lectivo. É a impressão do lente, do pedagogo, da aula. Tem-se uma espécie de terror mesclado de tédio. Há uma atmosfera especial de pedanteria, de rigor e de troça. Aspira-se vagamente o cheiro dos sapatos e das velhas batinas gordurosas na aula quente e fechada. A fisionomia dos doutores, de uma grave expressão enfática, guindada e oca, as cabeleiras dos estudantes aparatosamente penteadas, os ares dogmáticos de uns, misturados com os ares patuscos de outros, um tom geral de prelecção ou de desfrute, uma tonalidade especialmente afectada na pronunciação, um desgarre peculiar de gestos e maneiras, tais são as principais notas que caracterizam a população de Coimbra. (...)

Antigos estudantes reprovados, velhos cabulas incorrigíveis, de cabelos cheios de caspa, e a barba por fazer, o rosto macilento e sombrio, as unhas e os dentes sujos, os sapatos acalcanhados, passam chupando o cigarro e arrastando no macadam coberto de papeis rasgados a ponta da capa enodoada e rota. Os professores, habituados pela antiga organização da Universidade a exercerem sobre o aluno um poder quási ilimitado, afeitos à bajulação, à pusilanimidade, à subserviência dos escolares, caminham majestáticamente com a determinação imperiosa de quem mandará cortar a cabeça dos estrangeiros que se não ajoelhem na passagem deles e das suas famílias ..."

[Ramalho Ortigão, in As Praias de Portugal]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (VII)



Sociedade de Theatro da Rua da Calçada (1824) - Era uma "sociedade de curiosos", que davam espectáculos num "prédio da Rua da Calçada", hoje Ferreira Borges. [in, Conimbricense, 1905]

Sociedade do Theatro Trovão (1825) - "De 1825 para 1826, foi construído nas casas de José António Rodrigues Trovão, na extremidade da Rua Sargento-Mor, com frente também para o Caes, um dos melhores theatros particulares que houve na cidade". [ibidem]

Sociedade Philomatica de Coimbra (1827) - "Constituída por alunos de Sciencias Naturaes, foi fundada no mez de Maio de 1827". Tinha por objecto o estudo dos diferentes ramos das ciências naturais. [ibidem]

Sociedade do Theatro de Mont'Arroio (1828) - Em casa de José Pedro Velhoso [ibidem]

Sociedade dos Divodignos [Divodigus] ou Divodis (1828) - Era composta, na quase totalidade, por estudantes liberais - o seu presidente era Francisco Cesario Rodrigues Moacho -, e de onde saíram os estudantes que participaram nos assassinatos e ferimentos aos lentes e cónegos [Jeronymo Joaquim de Figueiredo e Mattheus de Sousa Coutinho, foram os lentes mortos], no dia 18 de Março de 1828, além de Condeixa [sítio do Cartaxinho]. Tinham as reuniões na Rua do Loureiro, em umas casas pequenas do lado esquerdo logo acima do Arco de D. Jacintha" [in, Apontamentos para a História Contemporânea, p. 93]. Tinham os Divodignos "uma constituição, uma lei orgânica, que prescrevia a obrigação de actos violentos, e nestes, até o assassinato" [cf. Alberto de Sousa Lamy, in A Academia de Coimbra 1537-1990]

Segundo um elemento pertencendo à sociedade [conta Joaquim Martins de Carvalho] faziam os Divodigus as assembleias num casarão quase subterrâneo, sito nos Palácios Confusos. Foi, aí, que se resolveu a trama de Condeixa, isto é, o cumprimento da deliberação de tirar do caminho de Lisboa os "membros das duas deputações " que levavam felicitações ao rei d. Miguel.

Assistiram a essa sessão dos Divodignos, 200 académicos liberais, tendo sido sorteados 13 deles para o cumprimento da missão. Segundo Joaquim Martins de Carvalho [op. cit], os membros dos Divodignos que "desfecharam as armas" foram: Delfino Antonio de Miranda e Mattos [de Barcelos], Bento Adjuto Soares Couceiro e Antonio Correia Megre.

Perante a descoberta ocasional do crime ocorreram populares e uma força de Cavalaria, que ali passava, pondo em debandada os Divodignos. Foram presos e enforcados [cf. Joaquim de Carvalho, op. cit, p. 96] nove deles [Bento Adjuto Soares Couceiro, Delfino Antonio de Miranda e Mattos, Antonio Correia Megre, Domingos Barata Delgado, Carlos Lidoro de Sousa Pinto Bandeira, Urbano de Figueiredo, Francisco do Amor Ferreira Rocha, Domingos Joaquim dos Reis e Manuel Inocêncio  de Araújo Mansilha]. Foram conduzidos para Lisboa e do processo resultou na sentença [muito contestada juridicamente] de morte por "enforcamento" no dia 20 de Junho de 1828, no "cais do Tejo, a Santa Apolónia" [cf. Lamy, op. cit].

Ainda segundo J. Martins de Carvalho evadiram-se os quatro restantes [diga-se que José Germano da Cunha, nos "Apontamentos para história do Concelho do Fundão" (Lisboa, 1892) diz-nos que foram enforcados 10 dos membros dos Divodignos e que escaparam 3, referindo: Bernardo Nunes, o padre Bernardo Antonio Ferreira e Francisco Sedano Bento de Mello], registando Martins de Carvalho os seguintes:

Antonio Maria das Neves Carneiro (do Fundão, e que acabou por ser enforcado em 1830), Francisco Sedano Bento de Mello (Caldas da Rainha), José Joaquim de Azevedo e Silva (Lisboa) e Manuel do Nascimento Serpa (falecido na Misericórdia de Lagos, com o nome de "Fresca Ribeira"- ver obra citada e, principalmente, o Capitulo XII, "Sentença  que condenou à morte os 9 estudantes enforcados a 20 de Junho de 1828"; do mesmo modo, consultar os "Grande Dramas Judiciários", de Sousa e Costa; idem para Oliveira Martins, in Portugal Contemporâneo, vol I.; ou Teófilo Braga, "História da Universidade de Coimbra", tomo IV; tb Camilo Castelo-Branco, in "O Retrato de Ricardina".

[texto com aditamentos vários]

domingo, 23 de novembro de 2003

PARABÉNS HERBERTO!

Herberto Helder nasce no Funchal, 23 de Novembro de 1930

HERBERTO HELDER é Português. Poeta da Magia, do corpo, do ser, da poetização da linguagem. HERBERTO é o poeta órfico, sedutor na linguagem, sublime na autenticidade. HELDER ensina-nos a dormir e a respirar, «nos brancos abismos» ... destruídos os textos. HERBERTO HELDER, poeta obscuro, que «todo um corpo é um espelho torrencial com fibras dentro das grutas», é o nosso mito maior, inominável. Poeta do luxo, do «eternamente recomeçado», sabe caminhar entre os escolhos, ensina-nos a voar sobre o abismo. «ÀS VEZES SOU UM ESPELHO ONDE ELA SE CONTEMPLA A PERDER DE VISTA. QUANDO DURMO, TREMEM EM MIM OS DIAS DOS MESES INTELIGENTES».


"... Os símbolos saem da noite terrena - rápidos e luzentes - referidos como flores ou pássaros, e a mesma noite reabsorve a sua matéria fugitiva. Porque a noite não é terna. Desta noite que fermenta silenciosamente destaca-se o nosso vocabulário, ele já sistema básico de símbolos, pronto para o jogo e o uso apocalípticos. Mexer neste vocabulário é uma incorrência em perigos incógnitos, e nessa aventura (e não nas passagens fotográficas) lavra-se a biografia criminal, e a exposição à morte. (...)
Escrever não afasta; aproxima. Escrever é o pior de tudo. Não há universos linguísticos e extra, custe à universidades. Os ofícios de cabotagem e estiva do significado/significante localizam-se como capítulos dos esforços pela paz de não perceber conforme. (...) Escrever não mostra o que resta, mas o que falta. Para tocar o fundo. Disso se morre, de escrita. Mas nada vale senão morrer. O sentido revelador disto está em que tudo desaparece com cada um. Morre-se para que o mundo morra, e crime e culpa se dissolvam, como se a escrita – morte alheia e própria – fosse uma espécie de exasperada, misteriosa e emblemática regeneração ..."

[Herberto Helder in Profissão: Revólver, & ETC, nº19, Janeiro de 1974]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (VI)


Outra Loja Maçónica ao Arco de Almedina (1821) - "Vem citada nas «Memórias de Garrett», por Francisco Gomes de Amorim. É possível certa confusão com a anterior, mas como a casa citada por Amorim não é a mesma a que se refere Joaquim Martins de Carvalho (nos «Apontamentos para a História Contemporânea) ... Segundo Amorim: a citada associação, fundada ou ajudada a organizar por Garrett, era em casa de Jacques Orcel, livreiro ao Arco de Almedina". Corria que era a Loja da Carbonária [in, Conimbricense, 1905]

Sociedade dos Amigos das Lettras (1821) - Patrocinada pelos irmãos Castilho, sendo presidente o pai, dr. José Feliciano de Castilho, lente da Faculdade de Medicina. Pertenciam Garrett, Joaquim António de Aguiar. Eram públicas as sessões. [ibidem]

Loja Maçónica da Rua do Norte (1823) - Estabelecida nas casas da Rua do Norte, onde morava o dr. António Nunes de Carvalho, que pertenciam à Imprensa da Universidade. Dela faziam parte muitos lentes e doutores. De referir que durante o Governo Constitucional de 1820/30, as sociedades secretas eram toleradas sem que sofressem as perseguições de tempos anteriores. Com a "queda do sistema liberal, no fim de Maio e principio de Junho de 1823, chegou a hora das provações dos liberais". Foi então em 1823 que se dissolveu a Loja Maçónica da Rua do Norte. "No dia 14 de Julho de 1823, pela meia-noite, Manoel do Rosário Curado, mestre alfaiate desta cidade, servindo de Juiz do Povo na ausência do efectivo, com o seu escrivão Bento dos Santos, mestre sapateiro, acompanhado de 60 a 80 homens do povo armados de diferentes armas, dirigiram-se às casas da Rua do Norte, em que morava o dr. António Nunes de Carvalho, e onde supunham que havia uma loja maçónica. Ali visitaram e examinaram miudamente todas as salas, quartos, varandas, lojas, móveis, roupas, papeis e livraria e nada encontraram" [ibidem]

Sociedade do Theatro do Pateo do Castilho (1824) - Sociedade dramática, de que faziam parte os filhos de Feliciano de Castilho, situada em casa do dr. Feliciano de Castilho, ao Arco de Almedina, no chamado Pateo do Castilho. [ibidem]

sábado, 22 de novembro de 2003

DEVE-SE ESCREVER ...


"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." (Graciliano Ramos) [in finado (?) Linhas Tortas]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (V)


Sociedade do Theatro da Rua de Coruche (1818) [in, Conimbricense, 1905]


Sociedade Maçónica da Rua dos Coutinhos (1819) – Reunia nas casas pertencentes ao Visconde da Bahia, "do lado esquerdo quando se caminha da Sé Velha", onde habitava o Padre Joaquim Cordeiro Pereira, que tinha sido vigário em Eiras e prof. de Latim no Collegio das Artes. Diz o Conimbricense, que a Loja sofreu uma busca da policia, tendo-se encontrado a urna onde se encontrava as listas para votação dos cargos, e apenas face à desenvoltura do vizinho do lado direito da rua (negociante António de Oliveira e Sá), amigo do Padre Couceiro, evitou um desfecho trágico, porque misturou na urna o nome de pessoas importantes e "pronunciadamente realistas", o que levou as autoridades a desistirem. [ibidem]


Sociedade Secreta dos Jardineiros (1820) – Era também chamada, «Sociedade Keporática» (képoros – jardineiro) e estava estabelecida numas casas na Rua do Cabido, pertencentes a José Guedes Coutinho Garrido. Foram as casas arrendadas, em 1820, por três estudantes: Manoel Gomes da Silva, 3º ano de Medecina, do Porto, e conhecido pelo nome de Chicara (mesma alcunha do pai); António Fortunato Martins da Cruz, 2º ano de Medecina, tb do Porto; Thomaz Aquino Martins da Cruz, irmão do anterior e no 2º ano jurídico (foi mais tarde governador civil de Coimbra, juiz de direito em Estarreja e juiz da relação do Porto). Ora, assustados com os acontecimentos políticos de 1823, decidiram tirar todos os objectos da sociedade, que estavam na sala de reuniões, e lançaram-nos numa cisterna existente no pátio das referidas casas, entregando as chaves ao Padre Cordeiro (vide associação anterior). Acontece que, o proprietário das casas veio para Coimbra, acompanhado com os filhos (para fazerem exame de latim), e descobriu os objectos depositados na cisterna das casas. Participou ou Juiz, o qual com o corregedor e provedor da comarca, procederam ao "exame" dos tais objectos, e para satisfazer a curiosidade dos habitantes mandaram espalhar no pátio da Sé Velha tais descobertas, tendo havido forte afluência do povo.

Um dos fundadores da sociedade foi um estudante brasileiro, natural da Bahia, Francisco Gomes Brandão (que parece que mudou o nome no Brasil para Francisco Gé Acayaso de Montesuma. Os acontecimentos foram muito comentados, tendo havido muitas publicações sobre o assunto, alguns com "disparates" à mistura, como os folhetos do Padre João Duarte Beltrão.
Ao que parece, pertencia à sociedade Almeida Garrett, segundo carta publicada na Gazeta de Lisboa de 26 de Junho de 1823. [ibidem]


Loja Maçónica ao Arco de Almedina (1821) - Existiu uma Loja nas casas ao Arco de Almedina, que pertenciam ao próprio Juiz de Fora José Corrêa Godinho, depois Visconde de Corrêa Godinho. "Como a entrada pelo lado do Arco de Almedina é muito publica, serviam-se os IIr. da Loja, para entrar para ellas, de uma pequena porta que está num muro na Rua de Sobripas, e que por meio de uma comprida escada que desce pelos quintaes, dá comunicação para as ditas casas". [ibidem]

LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS



LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS – Hotel Roma, 25 e 26 de Novembro [Conclusão]

Algumas referências: O Litoral: Revista, sob dir. Carlos Queirós, 1944-45, 6 num. / Corte na Aldeia e Noytes de Inverno, de Francisco Rodriguez Lobo, 1695 (raro) / Istoria do cativeiro dos prezos d'estado na Torre de S. Julião da barra de Lisboa ..., 1833-34, 4 vols (c/ descrição da vida dos presos políticos na época) / Carta de Fogaça ou Historia do Cerco de Saragoça ..., por José Agostinho de Macedo / Manuscrito (Profecias sec. XVIII, contendo profecias do Beato António da Conceição, de Bandarra e outras "que se acharão no Colégio da Ilha da Madeira em huma caixinha de madeira") / 3 Obras estimadas de Rocha Martins ( Episódios da Guerra Peninsular, 1944, 3 vols/ D. Manuel I, s/d, 2 vols/ Pimenta de Castro, s/d) / Monografia do Concelho de Tarouca, pelo Ab. Vasco Moreira, 1924 / Canto Matinal, de Vitorino Nemésio, Angra do Heroísmo, 1916 (1ª ed. do 1º livro de Nemésio, quando tinha apenas 15 anos, raro) / Violão do Morro. Tem Xacara, em Samba, tem Farsa Dramática ..., de Vitorino Nemésio, Lisboa, 1968 (opúsculo raro) / Acrónios, poesia de Pedro Luís, 1932 (c/ prefácio de Fernando Pessoa, raro) / A Fabrica de Louça do Rato, de José Pessanha, 1898 / Fábula, de Fernando Pessoa (edição privada fora de mercado), tip. J. R. Gonçalves, 1951 (raro) / O Orpheu e a Literatura Portuguesa, de Fernando Pessoa, 1952 (tiragem de 85 expls, raro) / Uma Carta a Teixeira de Pascoaes, por Fernando Pessoa, Cadernos de Poesia, s/d (separata do fasc. 14 dos Cadernos de Poesia, tiragem de 35 expls, raro) / Poe, Edgar, de William Wilson, Edições Delta, 1952 (pref. de Fernando Pessoa, raro) / 20 lotes, compostos em média por 11 livros de e s/ Fernando Pessoa / Pharmacopeia Geral ..., 1794, 2 vols (raro) / 6 obras de Bordallo Pinheiro, sobre Faiança das Caldas da Rainha / Máximas e Reflexões Politicas de Gonçalo de Magalhães Teixeira Pinto ..., Nova Goa, 1859 (raro) / Poesia Experimental: Cadernos de Poesia, org. de Ant. Aragão e Herberto Helder (raro) / O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, Lisboa, Revista Occidental, fasc. Com a 1ª versão da obra, publicada em partes na Revista, 1875 / Revista de Portugal, dir. de Eça e Queirós, 1889-92, 4 vols (valiosa publicação literária) / Arte de Cozinha dividida em três partes ..., de Domingos Rodrigues, Lisboa, 1795 (raro) / Indícios de Mário de Sá Carneiro, Presença, 1937 (raro) / Asas de José Carlos Ary dos Santos (1º livro do autor), 1952 (raro) / Histoire des Societes Secretes Politiques e Religieuses ..., por Pierre Zaccone, 1867

sexta-feira, 21 de novembro de 2003

HEINRICH VON KLEIST [1777-1811]



Heinrich von Kleist [1777-1811]

Morre a 21 de Novembro de 1811

"Um homem de trinta e dois anos, com cabeça uma cabeça redonda, vincado pela vida, sujeito a caprichos, bom como uma criança, pobre e altivo" [Brentano sobre Kleist, in Stefan Zweig, O Combate com o Demónio]

"Eu não posso estar alegre senão quando estou sozinho, porque só então me é permitido ser absolutamente verdadeiro" [Kleist, ibidem]

"Falta aos homens um meio de expressão. A palavra, o único meio de comunicação que nós conhecemos, não é suficiente. Não sabe pintar a alma, dá apenas retalhos dela. " [ibidem]

"Um homem livre que reflecte não fica onde o acaso o põe ... sente que se pode elevar acima do destino, e que pode até dirigi-lo, dentro do seu verdadeiro significado. E decide, de acordo com a sua razão, o que é para ele a felecidade suprema: estabelecer o seu plano de vida" [ibidem]

"Minha muito querida Ulrica:

O que te escrevo pode custar-te a vida, mas é preciso que o faça, é preciso, é preciso e eu faço-o. Reli a minha obra em Paris, ou pelo menos o que já tinha escrito, repudiei-a e queimei-a [trata-se de "Guiscard"]; agora tudo acabou. O céu recusa-me a glória, o maior dos bens da terra; como uma criança caprichosa, abandono-lhe todos os outros. Não posso mostrar-me digno da tua amizade e, no entanto, é-me impossível viver sem ela; refugio-me na morte. Não tenhas receio, alma sublime, morrerei a bela morte das batalhas ... vou alistar-me no exército francês e em breve o exercito vogará para Inglaterra; o fim de nós todos será o mar e embriaga-me a ideia desse explêndido e infinito tumulo" [ibidem]

"Fiz tudo quanto está no poder dum homem ... Tentei o impossível. Pus a minha última esperança num lance de dados. O dado decisivo rolou. Sou obrigado a compreender ... que perdi" [in Pentesileia, ibidem]

LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS [CONTINUAÇÃO]


Algumas referências: Canto de Morte e Amor, de Afonso Duarte, 1952 / Estrada Larga: antologia dos números especiais, relativos a um lustro do Suplemento "Cultura e Arte" de "O Comercio do Porto", 3 vls / Peregrino Curioso da Vida ..., pelo Pe. António de Mariz Faria, 1721 (c/ interesse bracarense) / Mudança, de Vergílio Ferreira, 1949 / Folhas de Arte: publicação mensal sob dir. de Augusto Santa Rita, 1924, 2 num. (raro) / Rosa dos Ventos, por Manuel da Fonseca, 1940 / Brasões da Sala de Sintra (2ª ed.), de Anselmo Braamcamp Freire, 1921-1930, 3 vols / Saudades da Terra: Historia Genealógica de Sam Miguel, por Gaspar Frutuoso, 1876 / Galeria dos Deputados das Cortes Geraes Extraordinárias e Constituintes da Nação Portugueza ..., 1822 (raro) / 2 estimadas obras de Henrique Galvão (Outras Terras Outras Gentes e Ronda de Africa) / Génio Constitucional, dir. Alfredo Braga e António Luís d'Abreu, 1820, 77 num. (colecção completa e rara) / Quinto Império, de Augusto Ferreira Gomes, 1934 / A Vista Alegre, de Marques Gomes, 1924 (raro) / Lettere Dell'Ill.re Signor Don António Di Gvevara ..., 1591 (raro) / Historia completa das Inquisições de Itália, Hespanha, e Portugal, 1822 (edição anónima, proibida em 1825, rara) / Historia dos salteadores mais celebres e dos Bandidos mais notáveis que tem existido em diversos países, 1841 (inclui a vida e aventura do Padre Inácio, ladrão português) / Indícios de Ouro: edição privada fora de mercado, Porto, 1951-1952, 8 num. (colecção completa desta edição com apenas 30 expls hoje muito raros) / Sodoma Divinisada, por Raul Leal (Henoch), Olisipo, 1923 (c/ prefacio de Fernando Pessoa. Raro)

[Continua]

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS



LEILÃO DE LIVROS ANTIGOS – Hotel Roma, 25 e 26 de Novembro

No próximo dia 25 (e 26 de Novembro), pelas 21 horas abrirá a praça no Hotel Roma (Lisboa) o Leilão de Livros Antigos, sobre História, Descobrimentos, Cerâmica, Oriente, Modernistas, Monografias, Periódicos, a cargo de Luís P. Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa). O conjunto de 720 peças contempladas neste leilão é estimado, com trabalhos de reconhecido mérito e grande procura, com lotes de raridades apreciáveis, sendo excelente para bibliófilos ou simples amantes de livros.

Algumas referências: Afinidades: Revista Cultural, 20 num., 1942-46 (colaboração de Abel Salazar, Casais Monteiro, Gaspar Simões, Cardoso Pires) / Cartas de Afonso de Albuquerque, seguidas de documentos que a elucidam (publicadas sob direcção de Bulhão Pato), 1884-88, 7 vols / Alma Nacional: Revista Republicana, dir. António José de Almeida, 34 num., completa (colaboração de Aquilino, Tomás da Fonseca, Raul Proença) / Os Gatos, de Fialho de Almeida, 1889-94, 57 fasc. (c/ os 3 últimos números de 1894, que são raros. Encad., valioso) / Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria ..., de Manuel Carlos de Andrade, 1790, c/ 93 est., 454 p. (valioso e raro livro) / Apontamentos da vida de João Brandão por elle escriptos nas prisões do Limoeiro ..., 1870 (raro) / Athena: Revista de Arte, c/ dir. de Fernando Pessoa, Ruy Vaz, 1924-25, 5 nums colaboração de Almada, Boto, Pessoa, Augusto Ferreira Gomes, Sá Carneiro, Mário Saa, Raul Leal. Enc.. Importante revista modernista) / Goa Antiga e Moderna, por Frederico Diniz Ayalla, 1888 (rara monografia) / Historia da Censura Intelectual em Portugal, de José Timóteo da Silva Bastos, Coimbra, 1926 / O Lyma de Diogo Bernardes em o qual se contém as sua Éclogas e Cartas, (por Diogo Bernardes), 1761, junto com Rimas Varias, Flores do Lima (idem), 1770, junto ainda com Varias Rimas ao Bom Jesus(idem) 1770, raro conjunto (enc.) / Bulla do Santíssimo Padre Leão XII contra os Pedreiros Livres, 1828 (virulenta bulla Papal contra a Maçonaria, com a curiosidade de ter em nota manuscrita na folha de guarda, uma nota a dizer que foi manada publicar com uma pastoral na Igrejas de Celorico e as datas. Raro) / A Rebelião Monárquica em Traz-Os-Montes, por Augusto César Ribeiro de Carvalho, 1919 (raro) / Ensaio histórico-politico sobre a Constituição e Governo do Reino de Portugal, de José Liberato Freire de Carvalho, 1830 (raro) / Questões da Índia, por Manuel de Carvalho (raro) / O Brasão de Coimbra, por Augusto Simões de Castro, 1872 (raro) / Noticia Histórica e Descriptiva da Sé Velha de Coimbra, 1881 (idem) / 3 títulos de Ruy Cinatti raros ( Borda d’Alma, 1973, O A Fazer, Faz-se Antes que, 1974, Import Export, 1974) / Les Luttes de Classes au Portugal a la fin du Moyen Age, por Álvaro Cunhal, Paris, 1967 (rara edição policopiada francesa)

[Continua]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (IV)


Sociedade do Theatro da Rua das Figueirinhas (1810-1834) [in, Conimbricense, 1905]

Sociedade Dramática dos 40 (1813) - Tratava-se de uma associação de académicos com 40 sócios, que foi proibido dado as ideias liberais da peça "Bruto" de Voltaire [ibidem]

Sociedade do Theatro da Rua da Calçada (1813) - Na casa do relojoeiro João Pedro, na (hoje) rua Ferreira Borges. [ibidem]

Sociedade do Theatro da Sé Velha (1817) - Funcionava na casa onde habitava o cónego Manuel José Coutinho, ao largo da , em frente ao lado principal da Igreja. [ibidem]

Sociedade de Theatro da Rua dos Coutinhos (1817) - Entre 1817/1818, Coimbra era frequentada por entusiastas das ideias liberais, com fortes aspirações de mudança. Entre eles figurava Almeida Garrett. Ora, muitos dos que foram proibidos pela peça "Bruto", acima citada, estabeleceram-se na Rua dos Coutinhos, na casa pertencente à família Coutinho. Mais tarde fundaram aí em 1817/18, uma Sociedade Maçónica a cargo do padre Joaquim Cordeiro Pereira. Em 1817/18 faziam parte do teatro, Garrett, Joaquim Sanches e José Maria Grande. De referir que Garrett apresentou, duas tragedias: «Lucrécia» e «Xerxes» [ibidem]

Loja Maçónica Sapiência (1818)- No dia 18 de Outubro de 1817, foram enforcados em Lisboa Gomes Freire de Andrade e seus companheiros. Outros liberais promoviam novas conspirações, dirigidas por Manoel Fernandes Thomaz, no que resultou o movimento de 24 de Agosto de 1820. Caiu o governo, dando lugar a um governo liberal.

Esta Loja Maçónica reunia-se perto do Colégio Novo e a ela pertenceram muitos doutores, como Manoel de Serpa Machado, João Alberto Pereira de Azevedo, Sebastião de Almeida e Silva e António Pinheiro de Azevedo. Este último seria mais tarde vice-reitor da Universidade, renunciando às ideias liberais, tornando-se "um pronunciado absolutista". Ainda pertencia à Loja, um respeitável e rico comerciante de nome Francisco da Silva Oliveira. Como curiosidade, diga-se que não era permitido admissões de estudantes, sendo que havia um só, o estudante de Medicina José Maria Lemos, dado ser parente do Bispo D. Francisco de Lemos. [ibidem]

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

EPISTOLÁRIO




Caro camarada a Dias:

Mando-te junto a croniqueta que o pessoal do Indy me pediu, porque sei que sociologicamente falando preferes o CM, o Crime e a Maria ou esse Record de grande jornalismo e não tens pachorra para leres prosas intelectuais. Dado os meus afazeres bloguísticos e, agora, com compromissos profissionais de monta, não te posso ir abraçar e dar-te uma monumental maçada sobre politica, música e futebol. Eu que até vesti a pele de mouro e tudo, enfim obrigações de intelectualóide lisboeta. Uma merda, pá. Mas o que me custa, é andar com os tipos do Público em cima. São uma cola, lá se dizia no Nino's Show, e não me posso ausentar das Lisbias. Deves compreender, que és nortista.
Tenho dias que não dá para blogar. Até pensei se não seria melhor começar a escrever obras de grande espessura, que o país precisa é leituras pesadas para adormecer com liberalidade, apesar de reinar a ordem em todo o país, mas depois penso que até uma segóvia era melhor. Coisas de tímido. Estava melhor era a fazer testes ao governo, mas a rapaziada neocon lá do jornal não compreenderia. A propósito, sabes que por vezes fico com a sensação (vi isso no A Perfect World, de Clint Eastwood) que o JPC é um infiltrado, assim que a modos que com prosa afiada de lumpen-fnacista a atirar para a sociedade sem classes? Enfim, com o PM é que não se pode contar, agora que anda em pousio pelos cafés e restaurantes em trabalho de escopofilia ao mulherio. Espero é que não tome a peito aquela máxima comuna de "a mulher a quem a trabalha". Seria a catástrofe. Que o céu não lhe caia em cima.
 
Tenho de acabar que estou com pressa de ir escrever dois ensaios ("Algumas palavras de conselho e estimulo aos nossos trabalhadores de blogs nobres" e "Ninguém há-de chorar os avós da classe operária"), um opinativo protestatório sobre "Jorge Sampaio em presidência à Berta" e terminar o livro de propaganda que o Portas me encomendou (quinhentinhos já cá cantam) que intitulei, "Schwarzenegger: um homem Lusitano".

Um abraço

VEM AÍ A SRA FERREIRA LEITE ...


"Ora deixai-me dizer / que vejo tudo ao contrário / do que era lícito ver" [M.C.V.)

A inefável Ferreira Leite está de volta. Sabedora que o relatório do Banco de Portugal prevê um défice público, em 2003, de 5% do PIB, não entrando em conta com as engenharias contabilísticas costumeiras, a extraordinária Ministra corre célere e comenta, com sorriso seráfico, "que a política a seguir deve ser esta".

A tribo dos economistas, em fila de espera para os despojos da maior hecatombe da economia portuguesa dos últimos anos, curva-se respeitosamente perante o dogma ferreira-leitista do imaculado défice e, em gesto de fervor intelectual, atira com os velhos canhenhos de economia politica para o sótão da sua parcimónia intelectual. Lá estão em faxina, o paradigmático Jorge Neto, o frugal Miguel Beleza, o excitado Tavares Moreira, o abominável César das Neves, o casto Nogueira Leite, o nefelibata António de Sousa, ou esse mestre do suspense que dá pelo nome de Carlos Rosado de Carvalho mais o seu painel amestrado do Público, todos em desvairada arrumação dos economistas políticos clássicos e modernos, liberais ou nem por isso, mas outrora de muita estimação.

Sobre a agonizante caminhada descendente para o caos económico e social, com previsões que apontam para um PIB negativo à volta de 1%, como resultado de "um fraco estímulo ao investimento e a incapacidade das famílias em realizarem mais compras", e as consequências que tal provoca, suspeita-se que o receituário não vem em nenhum manual na língua de Camões, nem que possa ser traduzido de uma qualquer língua herege para uma necessária leitura chez Mercearia Leite & Família, e nem consta que se consiga já ouvir o que gritam Miguel Cadilhe, Cavaco Silva, Silva Lopes, Eduardo Catroga, Ernâni Lopes, Ferreira do Amaral, João Salgueiro, Rui Vilar, et all.

Afinal, se em tempos idos de 1993, a Sra. Ferreira Leite obteve uma performance no défice de perto de 6% do PIB, temos que nos regozijar pela proficiência de hoje. E aceitar, como nos diz Pessoa, que a crise provem "do excesso de civilização dos incivilizáveis". O que é justo.

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (III)


Arcádia Conimbricense (179...) - Com o nome de Arcádia apareceram várias sociedades literárias, que adoptavam o nome de um pastor. Sobre esta pouco se sabe, apenas que é referida nas poesias de António Soares de Azevedo [in, Conimbricense, 1905]

Sociedade do Theatro da Rua Nova (1800) - Foi constituída nas casas com frente para a Rua da Sofia, por alguns académicos, e foi dissolvida pelo vice-reitor José Monteiro da Rocha [ibidem]

Novo Rancho (1803) - O mesmo vice-reitor, José Monteiro da Rocha, participava (a 20/09/1803), que se tinha formado "um rancho ou súcia de estudantes vadios e libertinos, que de dia em dia engrossava mais e era temível". Consta que foram presos perto de dezoito, sabendo-se que tinham mensageiros e sinais de convocação, bem como existia uma casa "onde se juntavam de noite a comer e a dançar com meretrizes e dai tomados de vinho e armados, infestavam toda a cidade". [ibidem]

Sociedade do Theatro da Rua de Coruche (1804)

2ª Sociedade de Theatro da Rua Nova (1806)

Sociedade do Theatro da Brôa (1806) - Era constituída por estudantes que residiam no colégio então chamado da Brôa, que ficava ao fundo da Rua dos Loyos, com frente para a Rua do Rego de Água. [ibidem]

terça-feira, 18 de novembro de 2003

PAUL ELUARD [1895-1952]



Paul Eluard [1895-1952]

Morre em Charenton-le-Pont, 18 Novembre 1952

"Ela surge - mas só à meia-noite, quando todos os pássaros brancos fecham as suas asas sobre a ignorância das trevas, quando a irmã das miríades de pérolas oculta as mãos na sua cabeleira morta, quando o triunfador se compraz na volúpia dos soluços, cansado das suas devoções à curiosidade, máscara e esplêndida armadura de luxúria. Ela é tão meiga que o meu coração se transforma. Eu temia as grandes sombras que tecem os tapetes do jogo e dos vestidos, tinha medo das contorções do sol ao cair da noite, dos inquebráveis ramos que purificam as janelas de todos os confessionários onde as mulheres adormecidas nos esperam." [Ela surge ...]

"..........
Já não basta o refúgio dos pássaros
Nem a fadiga ou a inércia
A recordação dos caprichos
Na manhã das carícias visíveis
Na madrugada da ausência da queda
Perderam-se os barcos dos teus olhos
Nos limbos das desaparições
O golfo abriu-se os outros que o extingam
As sombras que tu crias não têm direito à noite
.........." [Primeiramente]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (II)


Rancho dos 12 (1737)

Passados quinze anos da setença de morte ao estudante do Rancho de Carqueja, Francisco Jorge Ayres, eis que surge em Coimbra um Rancho de 12 estudantes, que "praticando tais excessos obrigaram a Mesa do Desembargador do paço a dirigir provisão ao Juiz de Fora". [in, Conimbricense, 1905]

Sociedade de Sciencias Naturaes e Económicas (178...)

Diz o Conimbricense, que não há "indicação de quem fossem os fundadores desta sociedade e a sua data de fundação". Ao que se sabe, Balthazar da Silva Lisboa, "doutor em leis" assegura que a sociedade se formou em Celas, após a criação da Regia Academia, portanto à volta de 1780. Esta Associação era uma "sociedade de mancebos patriotas, que desejando ser úteis à Pátria, se destinavam a trabalhos nos diferentes ramos da filosofia, divididas em quatro classes": História Natural, Agricultura, Arte e Comércio [ibidem]

Theatro da Rua dos Coutinhos (1785)

Constitui-se uma sociedade de curiosos em 1787, e um teatro na Rua dos Coutinhos, "do lado direito quando se sobe, na casa das famílias deste nome, onde existiu posteriormente - de 1822 a 1826 - a Imprensa do Reitor da Sé Catedral, Padre Manoel Nunes da Fonseca". [ibidem]

Theatro do Collegio de S. Bento (1786)

Patrocinado pelos monges do mesmo colégio. [ibidem]

segunda-feira, 17 de novembro de 2003

À MEMÓRIA DE J. M. KEYNES - POR J. P. FEIO



D'Après Marceau


À memória de J. M. Keynes

Só as palavras que não são.
Sobretudo as das mãos.

- Porque as mãos não traem!

[J. P. Feio, in Two Poetical Tracts & A Post-Scriptum, 2003]

ASSOCIAÇÕES DE COIMBRA (I)


 
Associações de Coimbra ( I )

A Irmandade dos Clérigos Pobres de Coimbra (1530), ao que diz o Conimbricense, pode "considerar-se como uma associação de socorros mútuos", sendo que a data citada se refere ao "mais antigo compromisso" da instituição em causa. Fundada na Igreja da Sé Velha, passou depois para a paróquia de S. Cristóvão, e em 1905 tinha sede na Igreja de S. João de Almedina. Além de prestar socorros médicos e farmacêuticos, fornecendo subsídios a doentes e impossibilitados, tinha como lugar central o culto da Virgem, "especialmente no mistério da sua Apresentação".
[In, Conimbricense, Ano 1905]


Rancho de Carqueja (1720)

Ao que se sabe, no ano de 1720/21, estudantes da Universidade de Coimbra formaram uma sociedade a que se deu o nome de Rancho de Carqueja. Tal nome vinha do facto de, com carqueja, terem queimado a porta das casas de João de Sequeira. Sabe-se que os membros dessa associação "praticavam os maiores atentados na cidade, estando os habitantes e as autoridades em terror permanente". Como a questão não se resolvia, D. João V mandou no dia 20/02/1721, um regimento de cavalaria e outro de Infantaria "tomar as portas da cidade", tendo-se procedido a buscas nas casas dos principais mentores da associação. O seu chefe era Francisco Jorge Ayres, que foi condenado á morte e degolado em Lisboa (para onde forma enviados os membros do grupo), "sendo a sua cabeça espetada num pinheiro e trazida para Coimbra, sendo exposta na Praça de S. Bartolomeu". Camilo C. Branco, no 1º volume de "Noites de Insomnia" (1874), deu "ao Rancho o nome de Rancho de Carqueja, dado fazer parte um facínora de Viseu, chamado Carqueja”, embora “erradamente como demonstrou o estudioso e antiquário Martins de Carvalho." [ibidem]

domingo, 16 de novembro de 2003

JACQUES DERRIDA - "ESPECTROS DE MARX"




"Shakespeare sabía mejor que nuestros pequeños burgueses cómo el dinero, forma de la propiedad la más general de todas, tiene poco que ver con las particularidades de las personas".

"En lugar de cantar el advenimiento del ideal de la democracia liberal y del mercado capitalista en la euforia del fin de la historia, en lugar de celebrar el fin de las ideologías y el fin de los grandes discursos emancipatorios, no seamos negligentes jamás con esta evidencia macroscópica hecha de innumerables sufrimientos singulares. Ningún progreso nos permite olvidar jamás, en cifras absolutas, que jamás tantos hombre, mujeres y niños han sido esclavizados, han estado hambrientos y han sido exterminados sobre la tierra." [Espectros de Marx]

"Não há lugar neutro ou natural no ensino."

"Pode a universidade (e de que maneira?) afirmar uma independência incondicional, reivindicar uma forma de soberania, uma espécie bem original, uma espécie excepcional de soberania, sem nunca se arriscar ao pior, a saber, em função da abstração impossível dessa soberana independência, ter que se render e capitular sem condição, deixar-se conquistar ou comprar a qualquer preço?"

"Cuidado com os abismos e as gargantas, mas cuidado também com as pontes e as 'barriers'. Cuidado com o que abre a Universidade para o exterior e para o sem-fundo, mas cuidado também com o que, fechando-a em si mesma, não criaria senão um fantasma de cercado, a colocaria à mercê de qualquer interesse ou a tornaria perfeitamente inútil. Cuidado com as finalidades, mas o que seria uma Universidade sem finalidade?"

"Se enceno, se dispenso um saber, para mim ensinar consiste em deixar o outro como outro, deixo ao outro a responsabilidade de se 'débrouillé'. A cada momento que cada um se 'débrouille', trate seu próprio fantasma, é isso a responsabilidade impossível de compartilhar. Cada um deve ficar só. É isso a solidão. Quando falo de solidão, da minha solidão, você pensa na sua e se diz, pode ser a mesma coisa - mas como você se engana. Mas é isso a linguagem. Há um grande poeta inglês Hopkins que elaborou uma teoria que ele chamava: self selving, como um 'self se selve', como um eu se torna ele mesmo. Ele o faz através do que Hopkins chama de - self taste - o gosto de si mesmo. O gosto que cada um tem de si mesmo. É absolutamente indescritível, incompartilhável. Ninguém pode partilhar o gosto de si mesmo. Tente descrever a alguém descrever o gosto de uma cerveja. O gosto não se compartilha." [Seminários EHESS]

"... toda a soberania é delirante a priori. Não há pretensão à soberania que não seja excessiva, hiperbólica, injustificável e, portanto, demente. A soberania é se sentir vivo, mas ninguém dá vida a ninguém, nem mesmo a mãe. Em todo caso, o soberano é alguém que diz: se dou a vida, posso tomá-la de volta. Dar e tomar a vida é o delírio do soberano."

"Com o fim da guerra fria, os Estados Unidos adotaram o conceito de 'rogue States' (Estados delinquentes) para designar países que desafiam a sua hegemonia. Ao fazê-lo, no entanto, extrapolam do abuso do poder e tornam-se, eles próprios, um 'rogue State'.

JACQUES DERRIDA: UNIVERSIDADE DE COIMBRA - 17 A 19 NOVEMBRO


 
Jacques Derrida: Universidade de Coimbra - 17 a 19 Novembro


"Le Souverain Bien" ou "être en mal de souveraineté", é o título da conferência de Derrida, na abertura do Colóquio Internacional, que decorrerá por três dias no Auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Hoje, haverá a cerimónia de concessão do Doutoramento Honoris Causa (11 horas) a Jacques Derrida pela Universidade de Coimbra.

sexta-feira, 14 de novembro de 2003

O ÚNICO HOMEM


"O único homem feliz é o que não toma nada a sério. Quanto mais as cousas se tornam a sério, mais infeliz se é. O que toma a sério a sorte da humanidade é quase o mais infeliz de todos os homens ... Quase, porque o que toma a sério a sorte do mundo e o enigma do universo é ainda mais infeliz"

[Fernando Pessoa, in Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, 2003]

DO PERIGO DE PROIBIR CERTOS LIVROS ESTRANGEIRO





"... Com a data de 8 de Novembro de 1768, o Bispo de Coimbra, D. Miguel de Anunciação expediu uma pastoral celebre, que o leitor se for curioso destes assuntos, pode ver integralmente reproduzida na «Revista de História», de 1912, onde foi publicada pela primeira vez em letra de forma por Fortunato de Almeida.

Fervia em França o grande movimento filosófico do sec. XVIII e D. Miguel da Anunciação mostrava-se alarmado com a «torrente inundante de doutrinas várias e peregrinas que se têm derramado nesta cidade (Coimbra) ... com prejuízo imenso das almas e das consciências»
D. Miguel da Anunciação enumerava, na sua aflição, vinte e quatro obras «perigosas» (...)

Entre os livros anatematizados encontrava-se a monumental Enciclopédia de Diderot e d’Alembert; O Contrato Social, de Rousseau; Discurso sobre a desigualdade dos homens, do mesmo; Resumo de História, de Voltaire; Ensaio sobre a História, do mesmo; Henriade, idem; etc. «O desígnio destes autores, comentava o Bispo, parece ser de arrancar dos corações dos fiéis pela raiz as regras puras dos costumes, a doutrina mais sã da lei, os ditames mais sólidos da moral, e de introduzir o indiferentismo e fanatismo capaz de fazer que muitos naufraguem na fé; de por em maior risco as preciosas vidas dos reis e dos príncipes, e de alterar a boa harmonia que deve haver entre o sacerdócio e o império» (...)

Pois um mês depois da expedição da dita pastoral, na madrugada de 9 de Dezembro de 1768, D. Miguel da Anunciação teve um mau despertar: o Paço estava cercado de tropas e oficiais da Justiça entraram-lhe pela casa dentro com inexorável mandado de prisão.

Daí a pouco o desditoso Prelado era levado para Lisboa, ente forte escolta de cavalaria - como se fosse o mais temível dos bandidos. Atiraram-no para uma masmorra do forte de Pedrouços (...) É que tinha sido preso por mandado do omnipotente Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal (...)
Seria por acaso o despótico Conde de Oeiras partidário das ideias materialistas, individualistas, liberais e democráticas, demolidoras do trono e do altar, pregadas por enciclopedistas, por homens como Voltaire e Rousseau? (...)

Oeiras mandou para a enxovia o Bispo de Coimbra por motivos muito diferentes. Além dos livros que citei, a Pastoral mencionava dois de Luís Elias Dupin, que quási ninguém hoje conhece: De Antiqua Ecclesiae Discipline; e Dissertationes Historicae; e um de Justino Febronio: De statu Ecclesiae et legitimi potestate Romani Pontificis. A proibição destes livros é que fez deflagrar as iras do Ministro - qual em tudo via a acção dos Jesuítas! Os censores que por sua ordem examinaram a pastoral, concluíram que esta fora inspirada pela Companhia de Jesus, então já expulsa do país..."

[A. Da Rocha Brito, in Primeiro de Janeiro, 18 (?)/ 02/1944]

MARÉ NEGRA DO "PRESTIGE" - UM ANO DEPOIS

















Maré negra do 'Prestige' - Um Ano Depois


"Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.
" [Jorge de Sena]

Dias Estranhos / La Hispaniola / Lembra-te / Nunca Mais / Burla Negra

quinta-feira, 13 de novembro de 2003

GNR, O IRAQUE, JOSÉ MANUEL FERNANDES & CIA



1. Alapados na secretária, copulando nas teclas, os [José Manuel] Fernandes & Cia estão num caminho coerente: nunca levantam as nádegas para a acção. Ainda não nos esquecemos do que expressavam sobre a guerra colonial. Estamos avisados.

2. Mesmo quando dizem: "on ne fait pas des omelletes sans casser des œufs", não nos assustamos, pois sabemos que é dito por manequins reformadores, embora lhes compremos os jornais, pois gostamos do cheiro da tinta tanto como os Fernandes & Cia suspiram pelo roncar das armas.

3. É falso que o problema do Iraque seja "nosso". Ainda não recebemos a primeira tranche em petróleo. Suspirar pela pátria é insultar a totalidade dos seus cidadãos, pois nunca vimos o "motor que produz a luz". Podem anotar.

4. Sabemos que a nossa GNR é fantástica e por isso lhes enviamos felicidades, mas estamos muito assustados. E, por isso, "nem um só grito sairá dos nossos lábios". Continuamos muito assustados.

5. Finalmente, dizemos, que o único responsável pelo que de bom ou mau acontecer aos agentes da GNR, tem um nome: José Manuel Durão Barroso. Não temos metafísica de míope.

AUTORIDADE E LIBERDADE














..........
Liberdade
A liberdade conhece-se pelo seu fulgor.
Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só. Mas são mais revérbero no mesmo fulgor.
Trocar a liberdade em liberdades é a moeda corrente do libertino.
..........
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro – nunca sairá um escravo.
Autoridade e liberdade são uma e a mesma coisa.

[Mário Cesariny de Vasconcelos]

O REGRESSO DOS LENTES


"Serás flagelado por estar certo e por estar mal, e dói de ambas as vezes - mas nunca tanto quando a certeza te assiste" [Hunter Thompson]

Entendamo-nos: as revindicações do estudantariado fazem rir. Já antes o dissemos. Mas, a confiar no que é dito, parece que a rapaziada de Coimbra, em recreio prolongado, corre tudo a cadeado, feliz no incêndio dos seus corações. Frenéticos, depois de copiosa noite pela Alta, instalam-se perplexos junto à Porta Férrea, em acampamento suspicaz. Ah! que a poesia se deve fazer madrugando e dar vida por uma ideia, pode ser uma luzidia questão. Anuncia-se, pois, tempos difíceis em Coimbra, que a liberdade pode ser "como uma corrente de ar", mas já não se pode dizer que está tudo por fazer.

Porém, não se trata, aqui, de aceitar ou não a luta dos estudantes universitários, pois não cabe a nós "decretar que é apenas aqui ou ali que ela pode brilhar". Mas somente assinalar o regresso dos Lentes à vetusta Universidade, vindos do aconchego das suas tocas, para dar a lição num corps-a-corps de muita pedagogia, com direito a patrocínio radiofónico e com vários clichés à mistura, à sombra da velha Universidade. Que lição a de João Loureiro, que saudades de Coimbra!

Vede o espectro do lente a pairar sobre a Academia, ali junto à Porta Férrea. Vede o insólito da prelecção do Lente nesta outonal tribuna, sem que se vislumbre qualquer movimento nas bancadas corridas, nem se ouça qualquer manifestação nas coelheiras atulhadas - como garantem os jornais e as rádios. Vede! E nós a estremecer ... de espanto! Que saudade dos mysterios de Coimbra!

terça-feira, 11 de novembro de 2003

ANTÓNIO MARIA LISBOA [1928-1953]




Morre em Lisboa, 11 de Novembro de 1953

Nasceu em Lisboa a 1 de Agosto de 1928. Frequenta em 1942 a António Arroio onde contacta com Vespeira e Pomar. Tem por companhia, então, Risques Pereira, mas também Alves Redol e Irene Lisboa. Forma em 1947, com Pedro Oom e Henrique Risques Pereira um grupo à parte do grupo surrealista de António Pedro, O'Neill e José Augusto França. Parte para Paris em 1949, tomando contacto com a Egiptologia e o Ocultismo. Posteriormente, é internado num sanatório perto de Coimbra, acabando pouco depois por falecer em Lisboa, com 25 anos de idade.

"... Nunca o caminho percorrido é o mais acertado logo que reavemos a nossa capacidade de auto-critica e nos imaginamos pelo outro que não percorremos. O percurso que não fizemos é sempre melhor, e o melhor que teríamos feito, só porque se pensa que se se pensasse não se faria. Nós sabemos: somos um erro - mas a consciência disso isola-nos do erro alheio. Qualquer que seja a conduta humana não é falsa nem verdadeira - É (embora se possa pensar e sentir sempre errada)..." [AML, in Erro Próprio, 1952]

"... o perigo não nos vem da morte mas da vida. A morte é uma consequência do viver ou do viver demasiado. A força da morte é metafísica, a da vida é real. Não é a morte que mata a vida, mas esta que vai morrendo..." [AML & HRP]

"............
e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços

a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim" [AML, Z]

Algumas Obras: Ossóptico (Coimbra, 1952) / Erro Próprio (conf.- manifesto, 1952) / A Afixação Proibida. Primeira Comunicação Pública do Movimento Surrealista (colab., Contraponto, 1953) / Isso Ontem Único (Contraponto, 1953) / A Verticalidade e a Chave (Contraponto, 1956) / Exercício Sobre o Sonho e a Vigília de Alfred Jarry, Seguido de O Senhor Cágado e o Menino (Ed. Gráfica Portuguesa, 1958) / Poesia (Antologia, Guimarães, 1962) / Poesia de António Maria Lisboa (A & Alvim, 1977)