sexta-feira, 20 de junho de 2003

XADREZ OU BRIDGE, EIS A QUESTÃO


Afinal, que seriam as nossas vidas sem um joguinho de bridge ou xadrez? Nestas noites sem dormir nocturno, sem vivalma pela frente, temos de recorrer ao Ok Bridge ou, mesmo ao velho e brioso Yahoo. Hoje não há tempo a perder. Calmas são as noites ...

Pequena anotação em torno do xadrez:

"O xadrez é uma linda amante, a quem voltamos uma e outra vez, sem que nos importe as muitas vezes em que nos rechaça."
(GM. B. Larsen)

"No xadrez, como na vida, a melhor jogada é sempre a que é realizada"
(S. Tarrasch)

"No xadrez, o vencedor é quem faz a jogada seguinte ao último erro."
(S. Tartakower)

quinta-feira, 19 de junho de 2003

A BELEZA

A beleza está na recusa. Todavia a musa está
na beleza. Assim a beleza está na tusa. A tusa,
porém, está na musa. Ora a recusa está na tereza.

[in, O Z de Leibniz, Vasco Sérlei (Vasco Santos ?), Fenda, Coimbra, 1985]

À VOLTA DOS BLOGS


Continuamos a tomar nota dos blogues, que o esforço permite. De repente, sem avisar, regressa o Pedro Mexia (espera-se que sem a poesis costumeira) e irrompe Francisco José Viegas, o que levou a minha tribo a dar gritos de contentamento (o poder das mulheres é cada dia mais complicado). Nós temos, há que dizê-lo, um misto de amor/ódio pelo Mexia. Mexe-se bem (dizem as más línguas, claro), satiriza com elevação, é bestialmente conhecido no DNA, dá conferências em grupo, fragmentos ensaísticos em linguagem pura e elegante, escreve despudoradamente bem. Veio só, ou abrindo caminho com a eloquência e o manual de etiqueta no bolso. Como somos leitores encartados, pode crer que não perdemos uma.

De Aviz, Francisco. Sempre foi, cá em casa, de grande estimação. A revista Ler foi (é) inolvidável. Corremos logo para a estante, para sacar o “Lourenço Marques”, ainda não lido, nem sequer à la Marcelo, diagonalmente. Mas agora temos Francisco à tecla. E não esqueceremos.

O "P.S" DE HENRIQUE MONTEIRO



Postou n’O Expresso com o título de «Cassandras» o conhecido Henrique Monteiro. Sabe-se que nutrimos toda a amizade pelo colunista. Tamanha é a perfeição do escriba, tal engenho e língua propaga, que ficamos com azia de tamanha perfeição. Agora nestas Cassandras bucólicas em favor do senhor Bush, modelo generoso aos neoconservadore lusitanos, é que ficou mal aquele P.S. final. Passo a citar:

«P.S. - Há que dizer claramente que no prato da balança contra Bush pesa cada vez mais a insuportável situação dos prisioneiros de Guantánamo. Passou mais do que tempo para que aquela situação não possa ser referida como mera decorrência da guerra do Afeganistão».

Não pode! Considerar cada vez mais insuportável tal situação, é a degenerescência a arribar ao democrata Henrique. É a extinção do último pulsar liberal. Ficamos preocupados, pois, com a saúde do colunista. As melhores, Henrique!

O GENIAL ARQUITECTO SARAIVA


As musas apaixonaram-se pelo director d’O Expresso. Não temos dúvidas. É que só um génio admirável, editorialista emérito ou escritor polido, como é o senhor arquitecto, pode estampar prosa assim, num jornal:

«Muita coisa mudou, de facto, com a guerra no Iraque. E ou me engano muito ou a alteração dos equilíbrios no Médio Oriente, na Europa, na relação com os EUA e na percepção de algumas personalidades mundiais vai ter no futuro próximo enormes consequências».

Pois, não está enganado caro director. O seu discernimento da cena política mundial – para não dar loas ao cabedal de conhecimentos caseiros que mestre Saraiva todos os sábados nos atira sobre as nossas cabeças – parece acertado. Juro, pois que me foi ensinado, docemente, pela filha da minha lavadeira. Nessas sessões expositivas, ela nunca me mentiu. Podem crer.

quarta-feira, 18 de junho de 2003

ÁLVARO DE CAMPOS



"Porque o que basta acaba onde basta
e onde acaba não basta"


[Álvaro de Campos]

PARA O ABRUPTO ...

Para o Abrupto, seguido de vénia:

«Já Voltaire disse um dia a Luís XV que um rei precisava de coleccionar qualquer coisa, como curiosidade e alegria do espírito. Parece que o filho do rei Sol lhe respondera.

“A única coisa que vale a pena coleccionar são mulheres. E mesmo isso tem mais de curiosidade do que de alegria”. Seja como for, todos nós coleccionamos qualquer coisa, mesmo sem dar por isso. (…) À parte a preocupação mundial de coleccionar selos e moedas, borboletas e caixas de fósforos, rótulos de hotel, bengalas e garrafas, existem alguns persistentes maduros que reuniram famosos agrupamentos de armas, espadas, azulejos, livros de memórias, baralhos de cartas, autógrafos, leques, caixas de rapé e até escovas de dentes célebres. Um amigo nosso, valenciano de alta categoria diplomática, possui um volumoso álbum de desenhos de touros, com especial particularidade de estes serem vistos e desenhados por toureiros. São, evidentemente, sanguíneas.»

[in, Corvos, Leitão de Barros e Abel Manta, Vol.II, E.N.P., s/d]

INTERNACIONAL


Citado do Expresso: «Este país [EUA] reagiu a uma ameaça representada pelo ditador iraquiano. Agora, alguns gostariam de rescrever a história, e a esses chamo 'historiadores revisionistas'». Bush dixit.

Cá está. Sempre entendi que mais tarde ou mais cedo alguém iria ser apodado de «revisionista». Conhecemos a palavra. 12 letrinhas, apenas.

Berlusconi não é português. Mas bem poderia ser, passe o exagero de se pensar que é adepto exempto do sistema democrático. A sua sanha demagógica contra a Justiça e os Tribunais italianos é um «study-case» para os esquizos-liberais. E premonitório para todos nós. Descortino o porfiado estudo, acompanhado de muito prozac para a ressaca, dos nossos patrícios embebidos em Berlin ou confiadamente pluralistas à moda de Oakeshott. Sai 3 posts e um soneto da União dos Blogues Livres. Berlusconi sorri!

CASA PORTUGUESA, CONCERTEZA!


Constituição Europeia. Sondagem aqui e ali, sabe-se que a rapaziada da Eurolândia é largamente favorável a uma Constituição Europeia. Li no Público, sempre bem informado. Consta que José Manuel Fernandes anda atarefado a preparar artigalho ao povo profundo, para exorcizar o demo constitucionalista. Entretanto, os neoconservadores portugas fazem as malas para os States, e levam a maleta repleta de ícones cristãos. A nossa esquerda suspira já pela V Internacional, organizando-se em comités constitucionalistas libertários. Eu já mandei limpar o fato.

70 Deputados 70. Todos ajuramentados na caridade cristã que professam na «sweet home» e na usina privativa, uns magníficos 70 deputados da Nação descobrem os abaixo-assinados e zás, exigem referências religiosas na futura Constituição Europeia. Pacheco Pereira deu o mote, os iniciados secundaram. Paulo Portas, mesmo entretido no seu ofício de mecânico aos tanques da GNR, teve tempo e arte de invectivar os pedreiros livres. Mas o que gostámos mais foi saber da justa palavra de ordem: «reconhecimento do "princípio da dignidade da pessoa humana"». Cruzes Canhoto!

terça-feira, 17 de junho de 2003

AGOSTINHO DA SILVA




«Não faço planos para a vida,
para não perturbar os planos
que a vida tem para mim
»

[Agostinho da Silva]

BLOGS, "CLOSER" E MEC


«Se eu vos disser que não me lembro de andar tão excitado desde o meu contrabando da matriz do "Closer" dos Joy Division, escondido numa fita que dizia "Grupo Folclórico de Monção" na caixa, talvez fiquem com uma ideia de como ando entusiasmado com os blogues portugueses».

Começa, assim, o texto de Miguel Esteves Cardoso no DNA último e que está disponível no Pastilhas. Lembrei-me logo do Padre António Vieira, quando dizia que «a maior saudade é a da vida». Tinha razão. E estou a ver o Miguel com «as fitas matrizes de ‘Closer’ num saco de plástico da Sapataria Lisbonense» (Escrítica Pop, Miguel Esteves Cardoso, Querco, 1982), para imaginar o gozo que sentiu. Com um sorriso, cúmplice, de Vieira. E nosso, já agora!

«’Closer’ é limpidamente belo – tem a transparência silenciosa da solidão, sem nunca se transformar em auto-compaixão ou sentimentalismo. É o momento em que nos damos fé duma tristeza insolúvel, e da futilidade de a conhecer. Não há revolta – apenas um lento despertar, corajosamente assumido e aceitado. O encanto principal dos Joy Division não é o virtuosismo, ou sequer a criatividade da música – é, sobretudo, uma inesquecível sinceridade (…)» (op.cit.)

Não há qualquer «messianismo» ou nostalgia, olhando para trás. Apenas o gozo que a libido ainda nos permite. E o blogar não é mais que isso mesmo. O prazer de encantamentos mil, livre e liberto. Ou modo de estarmos vivos. Ainda.
Mas, se nenhuma leitura é inocente, e algumas são mesmo perversas, a decifração ou desconstrução das linguagens e discursos presentes no «território» da blogosfera, exije meios de inscrição conceptuais, que permita aceder à «provocação» que o movimento da blogosfera faz aos velhos medias e a todos nós, intervenientes e leitores. Porém não é, ainda, o tempo de os blogs serem «objecto cientificamente analisável», embora se comece já a notar algumas fissuras na rede de interdependências que o discurso deste novo medium configura e que aos media institucionais (des)legitima. Alguns blogs deixaram argumentação - Abrupto, Pastilhas, Mar Salgado, Blog de Esquerda, Montanha Mágica, Gato Fedorento - sobre a matéria. Temos alguma dúvidas, mas o que nos interessa salientar são os seguintes pontos nodais, a saber:

- as novas tecnologias de informação contaminam toda a cultura, nivelam o imaginário de todos e conduzem a novas formas de sociabilidade, no sentido das «tribos» em Maffesoli. As redes de «unidades sociais afectivas» contra a desconstruções dos afectos, só podem decorrer a partir das condições materiais de existência (Marx ou Bourdieu).

- o dizer de Maffesoli, quando refere «uma cultura de sentimento» num «presente vivido colectivamente» e que a Internet transporta, muito bem, dado que o simulacro se cola ao real, habita essa «comunidade emocional». E, aí está a União dos Blogs Livres, ou a listagem classificada nalguns blogs, todos diferentes, porém todos iguais.

- poderá esta «socialidade» moderna ('presenteísta, tribal e estética') provocar uma guerrilha com os media? Que reencantamento encontrar num veículo comunicacional que destabilizaria (como alguns assumem) a organização e os conteúdos jornalísticos?

- a «estetização da vida quotidiana» (Featherstone) invade todos os saberes, tornando-os tecnicamente utilizáveis (circulação de imagens, textos, signos, …). Este jogo tecnológico – de sedução plena – presente nos intervenientes da blogosfera conduzirá a um novo mercado de «signos-mercadoria», a outro negócio? E se sim, então o saber cairia (sempre assim foi ou será?) ou existiria, apenas, como valor de troca, ou mercantilização do saber através das competências ou performances operacionais.

- o jogo comunicacional (destinatário/ destinador) é uma relação desigual, dado que na falta de regras não haverá «jogo». Outros jogam pelo prémio do «jogo» e não mais pelos simples «jogo», gozo ou fruição. A chegada à blogosfera de militantes partidários, é disso prova.

- um controlo disciplinar exercido por alguns (simbolicamente, sò que o seja) permite estratégias de sobrevivência, numa lógica de cuidado curiosa nalgum discurso bloguista. Afinal o putativo «umbiguismo» e a lucidez dessa praxis discursiva, é isso mesmo. Ritos de passagem? Rituais perdidos?

Enquanto a problemática ganha o fedback necessário para uma «gramática» blogosferiana, fiquemos recostados nos maples,em auto-serviço, fazendo espaço conversável. Se nos permitirem

sábado, 14 de junho de 2003

DORMIR



«Nos brancos abismos é que se estuda, e dormir faz bem às palavras»

[Herberto Helder]

SOCIEDADE DO RAIO - 140 ANOS


A referência 'mítica', quer do imaginário do movimento académico, como o prof. António Nóvoa considera (A Sociedade do Raio na Coimbra Académica de 1861-1863), quer da literatura esóterica assente nas sociedads secretas e que a Sociedade do Raio protagonizou, fez 140 anos. Muito se disse sobre a filiação dos seus intervenientes e das medidas conspirativas dos seus membros.

Antero de Quental foi um dos seus mentores, juntamente com José Falcão, José da Cunha Sampaio e seu irmão Alberto, e muitos outros. Em 1863 a reestruturação pretendida por Antero não vingou. Alguns criaram novos 'modelos clandestinos' (Nóvoa, op. cit.) como José da Cunha Sampaio a partir da Loja Maçonica Reforma, e outros partiram para outras lutas.

Seja como for, e independente da bibliografia havida, ainda não está feito o estudo, quer da influência de Hegel, Marx, Proudhon ou Comte na Sociedade do Raio e na Academia Coimbrã; quer da solidarieade verificada para com o povo polaco e a atenção que, então, davam os estudantes à situação internacional; quer, por último, da importância (como muito bem refere Nóvoa) contributiva para 'uma experiência formadora de percursos individuais e de projectos colectivos' (op. cit.) que a agitação consumou.

MANUEL FERREIRA E AS CARTAS FAC-SIMILADAS DE PESSANHA

A notícia publicada no Público (dia 13 de Junho) deixou atónitos alguns amadores de livros e bibliófilos: a venda em leilão (leilão da Biblioteca de Sérgio Oliveira) de supostas cartas originais trocadas entre Camilo Pessanha e Ana de Castro Osório, de elevado valor em praça, e que mais tarde se verificou serem reproduções saídas à estampa pela Colóquio Letras. Ora, se de facto o erro em causa é lamentável num leilão daquela envergadura, parece-nos justo que se diga que o nome do livreiro e excelente catalogador Manuel Ferreira não pode estar em causa sob pretexto algum. Porque não passa pela cabeça de quem quer que seja, que Manuel Ferreira tenha deliberadamente forjado qualquer fraude. Manuel Ferreira, com provas dadas ao longo de dezenas de anos não é desses. Como reconheceu, ao Público, 'facilitou' e quando soube do erro rapidamente resolveu o caso com o cliente, como sempre o faria. O mesmo procedimento ético, segundo se lê na notícia, não se pode dizer do anterior proprietário da biblioteca, que não só sabia que as cartas não eram originais e se calou, bem como entendeu não ressarcir o livreiro alfarrabista. O que é lamentável.

LEILÃO LIVROS

Tomem nota - Dia 25 e 26 de Junho, pleas 15 horas, no Palácio do Correio Velho, ali à Calçada do Combro. Algumas dicas, pessoais:

- Conjunto significativo de textos manuscritos de Luiz Pacheco e 17 cartas de Pacheco ao 'seu amigo' Luis Piteira. Peças de colecção
- Parte do espólio do Doutor Armindo Rodrigues de Sttau Monteiro, divididos em: Relações Luso-Britânicas na II GM; Demisssão do embaixador e neutralidade de Portugal na II GM (correspondência trocada com Salazar); Política Internacional (Guerra de Espanha) e Vida Académica e vida pública. Importante e valioso
- Parte do espólio do escritor Sttau Monteiro, com vários cadernos manuscritos em torno do teatro, cinema e política nacional.
- 1ª edição da Mensagem de Fernando Pessoa, rara e valiosa
- Conjunto de Manuscritos importantes, composto por cartas (de D. João VI, D.Luiz I ao Marquês Sá da Bandeira), ofícios, pareceres (D. Pedro V) e outros documentos.
- Rico conjunto de obras versando Direito
- Exemplar da suposta 3ª edição das Rimas de Luiz de Camões, 1607, muito raro
- Outros: Brasões da Sala de Sintra (Braamcamp Freire);História da Igreja em Portugal (Fortunato de Almeida);

quinta-feira, 12 de junho de 2003

LADAINHA DO SONO




"Sono, cama dossel que a todos querem servir
Mas mais a quem não sabe já o que é dormir,
Ó Sono, meu amor, eu clamo. Vem-me ouvir.
....................................
Sono! Coca, papão, fedor de fumarada,
Máscara nariguda, renda perfumada,
Beijos duma qualquer ou beijos só da amada!
Ladra Nocturna, Borborinho Transtornado,
Cheirinho a levantar-se de tumba escavada!"

[Tristan Corbière].

quarta-feira, 11 de junho de 2003

PORTUGAL (A NAÇÃO)


«Portugal a cabeça, cuja fronte patenteia três sentidos - o que respira, o que concede a palavra e o da visão -, é o Consciente de Europa.
Encarnação de Marte - o Mestre da Força, da Acção e da Luta -, é o estratego excelente, o criador das Quinas, dos Escudos ou Heróis, o construtor eminente dos Castelos - a sua invencível Fortaleza - e o realizador, por mérito próprio, do seu nobre, glorioso e ariano Solar.

Representando o princípio masculino, a força centrífuga, o movimento de translação, é o génio do Amor, da Aventura e da Saudade, o protector dos Argonautas, o Siva da Fé, aquele que, debruçado na sua Ponte-Cais, olhando fixo o cristalino do Mar, avista ali, diante de si, num só ponto, os quatro pontos cardeias, a par da vitória daqueles Argonautas contra todos os Titãs e contra o próprio Mestre da Morte e dos Infernos, e, por fim, como prémio, o mundo-terra a seus pés.

Portanto, os Portugueses - os homens dos portos - vencedores do Mar Tenebroso e descobridores dos quatro caminhos do Mundo, foram os construtores, os instituidores, os fundadores do Império.»

Os Atlantes, Vasco da Gama Rodrigues, 1961

terça-feira, 10 de junho de 2003

LUSITANA ANTIGA LIBERDADE


Lusitana Antiga Liberdade

Eis que arribou à blogosfera Henrique Barrilaro Ruas, li no Santa Liberdade. Faz tempo que não leio nada dele. Lembro-me esse espantoso texto sobre Santa Maria de Seiça, publicado na Cultura Portuguesa. E a soidade regressa. Seja bem vindo Henrique.

«Terras por onde passa (a meia hora) a linha dos comboios e, um pouco mais além, a estrada de Lisboa ao Porto não podem ser terras de ceara farta do Espírito. A não ser, meu Deus, que seja certo que o Espírito sopra donde quer e para onde quer. E pode ser que lá venha o dia em que novos Povoadores e novas Cisteres, como os outros que despertaram dos séculos de ferro, tragam de novo a bênção. Já nem sei se de azeite, de vinho, de broa e de carqueja, de tojo e de giesta, de caça miúda e de couves mais altas que um homem - mas de Alegria, Senhor... Da alegria que nasce de um coração que aprendeu e compreendeu a antiga e veneranda regra:"Ora et labora!

[SANTA MARIA DE CEIÇA, in, Cultura Portuguesa nº 2, Janeiro-Fevereiro de 1982]

segunda-feira, 9 de junho de 2003

CAMPOS DO MONDEGO


"Sem ordem nem desordem" [Eluard]

Voltar à saudade sebástica, ao antiquíssimo cantar nestes campos do Mondego, com mar ao fundo. Para escusar a fadiga relembremos António Telmo, Manuel Gandra, Agostinho da Silva, António Quadros, José Marinho, Leonardo Coimbra, e muitos muitos outros.

«Coexiste comigo muita gente
que vive comigo apenas porque
dura comigo
» F.P.

O salutar descanso nos doces campos do Mondego e o regresso sempre mais razoável, prudente e sensato. Longe vai o tempo de longas vigílias para fazer mandas aos profanos. Pascoaes, Sampaio Bruno o Encoberto(Telmo dixit), Sant’Ana Dionísio, Botelho, Álvaro Ribeiro, Dalila Pereira da Costa, e muitos muitos outros.

«A vida é tão brava
A alma tão vasta
Ai passa ao de leve
A soidade hausta

Choras e ris
Acoit’o bater
Duma flor de Liz
Neste Alvoracer

A Alva é de brôa
Seu colmo seu linho
Num búzio ressôa
Eterno menino

Luz que vem de estrêla
Estrêla desce à terra
Anuncia à bela
O viria qu’encerra

Senhora do Ó
Que estás em botão
Já trazes ao colo
A palma da mão.

[Francisco Palma Dias, Senhora do Ó]

Retomando a ventura de mestre Ferreira, o encadernador, folheio a Revista Leonardo, levada assim para fim de semana. Volta-se as paisagens como páginas. Refeito que foi o ânimo, estranho o discurso de alguns, concebidos no Integralismo bafiento, que na blogosfera fazem um exercício petulante e caprichoso, contra cavalheiros livres e incómodos, infames. O nevoeiro da Santa Liberdade é a má língua do passado. É o arrocho desbragado da vida. A pátria rumando contra Porto Graal. Aqui, professores mesmo que loquazes, não podem ensinar a voar sobre o abismo. Porque, afinal, ‘onde se está a viver, se se vive distante da vida?

Chega-se a Coimbra pelas terras do Mondego. Pedro e Inês. Morada esguia e perversa. A armadilha do caminho e do corpo. ‘A terra que pisas já não é a mesma em que o olhar se deitava antes de teres partido’. Há muitos, muitos anos.

É A CULTURA ESTÚPIDO!

Leio e assino, por baixo, o que o Contra a Corrente diz com seriedade:

«A blogosfera é, acima de tudo, um espaço de liberdade onde, cada um, alinhava uma espécie de diário inconsequente, sobre os mais diversos temas: política, amor, literatura, futebol, cinema, suinicultura, etc. É um espaço de comunhão, afectos, humor, vaidade (muita vaidade!), ódios. É um meio de comunicação efémero: não sendo palpável, como o são as folhas de um livro, jornal ou revista, nem um recorte se guarda. Vai tudo ficando para trás, por entre links e links de arquivo, que nunca mais se lerão. Terá o seu tempo, que pode ser de meses, anos ou décadas. Não é alternativa a nada, nem se substitui a nada. Como dizem os políticos, em relação às sondagens, “vale o que vale.”».

Absolutamente de acordo.