terça-feira, 22 de março de 2005
Nanterre [22 Março de 1968]
"People who talk about revolution & class struggle without referring explicitly to everyday life, without understanding what is subversive about love & what is positive in the refusal or constraints, such people have a corpse in their mouth"
[Raoul Vaneigem, The Revolution of Everyday Life]
Miscelânea política & novenas devotas
- ausentes em terras do sul ou na planície heróica alentejana, inspirados nas recordações que a nossa inocente alma reclamava, entre transumâncias que a solenidade reuniu e a paisagem invocou, subimos mais para norte e depois de porfiada colheita nos terrenos d'Alvalade - graças senhor Pinto da Costa! - respeitámos a caminhada até terras do Mondego. O espanto e o horror da populaça jornaleira e bloguista pelos presumidos atributos do eng. Sócrates - ao que parece, diz, consagrou a alma e a governação a voto de silêncio - foram-nos indiferentes. Mas admirámos a curiosa cruzada erguida contra o programa do governo, dito copy paste do programa eleitoral. Tal movimento afectuoso é contrário à repugnância que outros, anteriormente, seguiam, o que se compreende. A vida airosa de Barroso, Lopes & Portas sempre foi o choro desvalido dos trânsfugas da política. E o que se precisa é liberalizar por aí. Há que seguir a canção.
- mas tivemos atentos e via Causa Liberal, fomos esclarecidos do talento do vate Sérgio Figueiredo, agora mergulhado na dor da queda do dólar, a partir de uma instruída redacção virtual. A comovente prédica económica, caridosamente tricotada no Jornal de Negócios a partir dos alinhavos de Antony P. Mueller ou vice-versa, que nisto de economia o (des)amor é cego, retrata bem a bondade dos nossos jornaleiros da economia. Como não vislumbramos o fascinante Figueiredo numa qualquer TV a tecer os seus rosários económico-liberais sobre o estado da nação, supomos que a plagiada foi admirável. E ficará para mais tarde recordar.
- e não deixámos de ler O Público, que agora, graças à originalidade do camarada José Manuel Fernandes, persiste numa incansável campanha de mau gosto. Não só tecendo loas ao execrável Wolfowitz, no que está em perfeita sintonia com os "ambiciosos planos" presentes nos desígnios da "nova" Mãe Pátria (JMF fez um transfert admirável, que é um study case. Da Mãe Rússia passou-se de armas e bagagens para a doce USA. Sempre e afinal o eterno problema da mãe ou da mulher).
De outro modo, para que a vergonha seja perfeita, cedeu o inefável JMF as páginas d'O Público à nata da sandice da classe política, permitindo um depoimento insano de Pedro Pinto, no mais perfeito estilo estalinista. Sabe-se como o JMF não resiste ao senhor do bigode, mas não seria aconselhável que tais ódios partidários fossem acolhidos no jornal do PSD, em vez de o ser num jornal que se quer sério? Já não há recato?
Goethe [m. 22 Março de 1832]
"O Simbolismo transforma os fenómenos visíveis em uma ideia, e a ideia em imagem, mas de tal forma que a ideia continua a agir na imagem, e permanece, contudo, inacessível; e mesmo se for expressa em todas as línguas, ela permanece inexprimível. Já a Alegoria, transforma os fenómenos visíveis em conceito, o conceito em imagem, mas de tal maneira, que esse conceito continua sempre limitado pela imagem, capaz de ser inteiramente apreendido e possuído por ela, e inteiramente exprimido por essa imagem." [Goethe]
"Tudo os Deuses dão, os infinitos,
A quem amam, por inteiro:
Todos os prazeres, infinitos,
Todos pesares, infinitos, por inteiro" [in Poemas, trad. Paulo Quintela]
"... Ainda não caminhavam há muito, quando o cortejo se encontrou diante duma grande porta de bronze, cujos batentes estavam fechados com uma fechadura de oiro. O velho chamou logo pelos fogos fátuos que não se fizeram rogados, mas bem pelo contrário acorreram pressurosos e se puseram imediatamente a consumir a fechadura e o ferrolho com a ponta das sua chamas agudíssimas. O bronze ressoou com estrondo, quando os portões se abriram instantaneamente e no santuário as dignas imagens dos reis apareceram, iluminadas pelas luzes que entravam.
Cada um se inclinou diante dos soberanos venerandos, sobretudo os fogos fátuos não se pouparam a emaranhadas curvaturas.
Depois de uma pausa, perguntou o rei de ouro:
«Donde vindes?»
«Do mundo», respondeu o velho.
«Para onde ides?», perguntou o rei de prata.
«Para o mundo», disse o velho
«Que pretendeis fazer aqui?», perguntou o rei de bronze.
«Acompanhar-vos», disse o velho ..."
[Goethe, in O Conto da Serpente Verde, 1932]
quinta-feira, 17 de março de 2005
Olga Orozco [n. 17 Março de 1920-1999]
"Yo, Olga Orozco, desde tu corazón digo a todos que muero.
Amé la soledad, la heroica perduración de toda fe,
el ocio donde crecen animales extraños y plantas fabulosas,
la sombra de un gran tiempo que pasó entre misterios y entre alucinaciones,
y también el pequeño temblor de las bujías de la noche (...)"
[O. Orozco, in Las muertes]
"Mis poderes son escasos. No he logrado trizar un cristal con la mirada, pero tampoco he conseguido la santidad, ni siquiera a ras del suelo. Mi solidaridad se manifiesta sobre todo en el contagio: padezco de paredes agrietadas, de árbol abatido, de perro muerto, de procesión de antorchas y hasta de flor que crece en el patíbulo. Pero mi peste pertinaz es la palabra. Me punza, me retuerce, me inflama, me desangra, me aniquila. Es inútil que intente fijarla como a un insecto aleteando en el papel. ¡Ay el papel! «blanca mujer que lee en el pensamiento" sin acertar jamás»" [aqui]
"Una mano, dos manos. Nada más.
Todavía me duelen las manos que me faltan,
esas que se quedaron adheridas a la barca fantasma que me trajo
y sacuden la costa con golpes de tambor,
con puñados de arena contra el agua de migraciones y nostalgias.
Son manos transparentes que deslizan el mundo debajo de mis pies,
que vienen y se van.
Pero estas que prolongan mi espesa anatomía
más allá de cualquier posible hoguera,
un poco más acá de cualquier imposible paraíso,
no son manos que sirvan para entreabrir las sombras,
para quitar los velos y volver a cerrar.
Yo no entiendo estas manos (...)"
[O. Orozco, in Esfinges suelen ser]
Locais: Olga Orozco (Argentina) / Olga Orozco (1920-1999) / Homenaje a Olga Orozco / Olga Orozco / Poesias / Homenaje a Alejandra Pizarnik por Olga Orozco
Livros & Arrumações
* Curiosa separata da "Nação Portuguesa", tomo I, série V, intitulada "Investigação Sobre Combatentes d'Ourique em Documentos Medievais", Lisboa, 1928, pelo Tenente-Coronel A. Botelho da Costa Veiga. O autor, a partir da "Memoria de Santa Cruz de Coimbra" onde se nomeavam os combatentes de Ourique (Fernando Mendes Bragança, Egas Moniz e seus dois filhos, Afonso ou Moço Viegas, Soeiro Viegas, Garcia Mendes, Lourenço (e Fernando) Mendes de Gundar, Gonçalo Mendes da Maia, Pêro Paes, Diogo Gonçalves, Godinho Fafes, Paio Guterres, Martim Anaya, Fuas Roupinho, Martim Moniz, Fernão Pires e Gonçalo Dias, entre os 21 indivíduos citados), procura a partir de referências várias a possibilidade desses combatentes terem ou não militado na "campanha de Julho-Agosto de 1139". É um conjunto estimado de referências que nos é sugerido, a partir de documentos medievais (e "fidedignos"), concluindo o autor da "admissibilidade da presença, na lide de Ourique, de 20 dos 21 personagens mencionados por Fr. António Brandão". Conclui o opúsculo com uma curiosíssima "Nota sobre cálculos estatégicos".
* O "Crime da Poça das Feiticeiras", que apaixonou o país [trata-se do drama do assassinato de João Alves Trindade, tendo recaído as culpas sobre o genro e na própria filha, nos tempos idos de 1925] aparece sob a pena de Álvaro de Magalhães (advogado), com a republicação de dois artigos anteriormente saídos no Diário de Lisboa (1939/1940) e um outro no Século (1932). É referido o pedido de revisão do processo, formulado pelos drs. Orlando Marçal e Alberto Pinheiro Torres. Na capa pode-se ler a afirmação de Vieira de Castro: "Das grades da cadeia é que se vê bem a lama que vai pela rua!". A juntar ao conjunto assinalável de livros e artigos saídos sobre o assunto.
* Curiosa separata da "Nação Portuguesa", tomo I, série V, intitulada "Investigação Sobre Combatentes d'Ourique em Documentos Medievais", Lisboa, 1928, pelo Tenente-Coronel A. Botelho da Costa Veiga. O autor, a partir da "Memoria de Santa Cruz de Coimbra" onde se nomeavam os combatentes de Ourique (Fernando Mendes Bragança, Egas Moniz e seus dois filhos, Afonso ou Moço Viegas, Soeiro Viegas, Garcia Mendes, Lourenço (e Fernando) Mendes de Gundar, Gonçalo Mendes da Maia, Pêro Paes, Diogo Gonçalves, Godinho Fafes, Paio Guterres, Martim Anaya, Fuas Roupinho, Martim Moniz, Fernão Pires e Gonçalo Dias, entre os 21 indivíduos citados), procura a partir de referências várias a possibilidade desses combatentes terem ou não militado na "campanha de Julho-Agosto de 1139". É um conjunto estimado de referências que nos é sugerido, a partir de documentos medievais (e "fidedignos"), concluindo o autor da "admissibilidade da presença, na lide de Ourique, de 20 dos 21 personagens mencionados por Fr. António Brandão". Conclui o opúsculo com uma curiosíssima "Nota sobre cálculos estatégicos".
* O "Crime da Poça das Feiticeiras", que apaixonou o país [trata-se do drama do assassinato de João Alves Trindade, tendo recaído as culpas sobre o genro e na própria filha, nos tempos idos de 1925] aparece sob a pena de Álvaro de Magalhães (advogado), com a republicação de dois artigos anteriormente saídos no Diário de Lisboa (1939/1940) e um outro no Século (1932). É referido o pedido de revisão do processo, formulado pelos drs. Orlando Marçal e Alberto Pinheiro Torres. Na capa pode-se ler a afirmação de Vieira de Castro: "Das grades da cadeia é que se vê bem a lama que vai pela rua!". A juntar ao conjunto assinalável de livros e artigos saídos sobre o assunto.
Otto Gross [n. 17 Março de 1877-1920]
Locais: International Otto Gross Society / The conflict between S.Freud, CG.Jung and Otto Gross / "The Psychology of the Unconscious is the Philosophy of the Revolution!"
domingo, 13 de março de 2005
André João Antonil [m. na Baía a 13 Março de 1716]
"O inconveniente do pseudónimo [André João Antonil é pseudónimo de João António Andreoni] envolveu, durante muito tempo o autor da «Cultura e Opulência do Brasil» em atmosfera de duvidas e confusões. Houve até quem admitisse tratar-se de um escritor paulista [S. Blake], de origem ignorada [Inocêncio considera-o de origem italiana]. No entanto João António Andreoni era muito conhecido em seu tempo, pelas funções eclesiásticas por ele exercidas. Mas a circunstância predominante que o deixou no olvido, reside na excessiva precaução do governo lusitano, determinando o sequestro e destruição da obra que ele escreveu, em virtude das noticias consideradas indiscretas, sobre as minas de ouro e prata, tornaram-se, igualmente, raríssimos os exemplares das edições subsequentes (...)
Trata-se do primeiro economista que manifestou publicamente, em livro, durante o período colonial (...) Além das contribuições prestadas, com referência ao cultivo da cana do açúcar e do fumo, à indústria incipiente do açúcar e do tabaco, encerra informações sobre pecuária, a extracção e exportação do pau brasil e ouro (...) Além da parte agrícola, encerra excelentes dados estatísticos sobre o progresso da colónia no segundo século de existência e oferece subsídios do maior interesse para o estudo económico do Brasil.
A despeito de haver logrado franco parecer, favorável à sua publicação, por parte dos representantes do santo ofício e do censor do paço, houve ordem de sequestro imediato (...) Destruíram a edição de 1711, da oficina real de Deslandes, salvando-se apenas três ou quatro exemplares. Nova tiragem se fez, quase um século depois, graças às providências de frei José Mariano da Conceição Velloso, quando dirigia a tipografia do Arco Cego, em Lisboa. Fê-la porém incompleta, pois só extraiu do exemplar que lhe foi confiado pelo conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, a primeira parte, relativa ao açúcar, com o título de «Extracto sobre os engenhos de assucar no Brasil e sobre o methodo, já então praticado, na factura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e Opulência (...)». José Sylvestre Ribeiro, distinto bibliógrafo português, servindo-se talvez do mesmoe exemplar pertencente a Ordonhes, ou por sus influencia, cuidou da 3ª edição, em 1837. Afonso de Taunay, no 4º capitulo do estudo bio-bibliográfico de Antonil, relata as ocorrências sobre as edições do encarecido livro.
Antonil usara também do pseudónimo Anonymo toscano, circunstancia que determinou Barbosa Machado, no dizer de Varnhagen, haver excluído a obra da sua Biblioteca Lusitana..."
[Arthur Motta, in História da Litteratura Brasileira, São Paulo, 1930]
Locais: André João Antonil / André João Antonil (1649-1716) / André João Antonil / Cultura e opulência do Brasil / Cultura e opulência do Brasil (pdf) / Da abundância de mantimentos, e de todo o usual que hoje há nas minas, e do pouco caso que se faz dos preços extraordinariamente altos / Conselhos a um Senhor
sexta-feira, 11 de março de 2005
Para não esquecer o Horror
"Creio no homem. Já vi
dorsos despedaçados a chicote,
almas cegas avançando aos saltos
(espanhas a cavalo
de fome e sofrimento). E acreditei.
Creio na paz. Já vi
altas estrelas, recintos chamejantes
e amanhecentes, incendiando rios
fundos, caudal humano
para outra luz: vi e acreditei.
Creio em ti, pátria. Digo
o que já vi: relâmpagos
de raiva, amor em frio e uma faca
chiando, fazendo-se em pedaços
de pão: embora hoje só haja sombra, vi
e acreditei"
[Blas de Otero, Fidelidad, in Pido la Paz y la palavra, 1955, trad. José Bento (1985)]
Um ano depois do horror do 11 de Março, em Madrid. Dessa tormenta que não nos abandona. Desse remanso incrédulo que as lágrimas não hão-de deter. Da dor e espanto desenganado. "Una sombra tristíssima, indefinible y vaga / como lo incerto, siempre ante mis ojos va / tras de outra vaga sombra que sin cesar la huye / corriendo sin cesar ..." [Rosalia de Castro]. Limpámos as feridas. E depois? Que é feito de nós? Da nossa culpa, do desespero, da nossa raiva? Que abismo é o nosso? Lançai os olhos ao mundo e vede que o clamor não se pode quedar discreto. Um ano depois desse cansaço que temos na memória, o maior tributo após um ano sobre o 11-M será nunca o esquecermos. Nos nossos afectos. Para nossa protecção e liberdade. Porque se faz tarde.
quinta-feira, 10 de março de 2005
Boris Vian [n. 10 Março de 1920-1959]
"... O erotismo de Os cento e Vinte Dias de Sodoma quando não cai num ridículo assaz cómico não vai nunca além de um Petit Larousse perverso; e os preparativos da orgia que duram páginas e páginas são maçadoras e bem inferiores em sugestão ao Catalogue Général de la Manufacture d'Armes et Cycles de Saint-Etienne, ou ainda aos anúncios matrimoniais do Chasseur français. (...) Pseudo-erotismo também os livros de Delly, de Max du Veuzit e de todas as damas cuja função principal parece se a de fabricar, a longo prazo, novos complexos para uso das jovens católicas (...)
Um outro grande erótico: Ernest Hemingway. Coisa curiosa, é perto das mulheres, reputadas como menos sensíveis que os homens às solicitações do livro, que Hemingway tem maior peso. As cenas de Por quem os sinos dobram onde o herói e a heroína fazem uma data de coisas dentro de um saco de dormir foram-me descritas e relembradas por todas as amáveis pessoas que interroguei sobre a sua concepção de literatura erótica ..." [Boris Vian, in Escritos Pornográficos, Livraria Utopia, 1988]
"Monsieur le Président,
je vous fais une lettre,
que vous lirez peut-être,
si vous avez le temps.
Je viens de recevoir
mes papiers militaires
pour partir à la guerre
avant mercredi soir.
Monsieur le Président
je ne veux pas le faire,
je ne suis pas sur terre
pour tuer de pauvres gens.
C'est pas pour vous fâcher,
il faut que je vous dise,
ma décision est prise,
je m'en vais déserter ..." [Boris Vian, in Le Déserteur]
Locais: Boris Vian (1920-1959) / Boris Vian / Boris Vian e il jazz / Boris Vian, Artista Multifacetado / Vernon Sullivan ou les pseudo-traductions de Boris Vian
Livros & Arrumações
* "Alexandre Sá Pinto", pelo Dr. António Luiz Gomes, Lisboa, 1967. Trata-se de um conferência, proferida na Escola Industrial Marquês de Pombal, sobre Alexandre Sá Pinto, nascido em Gondozende, Esmoriz, a 7 de Dezembro de 1833. Refere que sai da sua terra, com 16 ou 18 anos, sem ter frequentado uma escola, a não ser "a escola da vida", em direcção à Baía, seguindo depois para Buenos Aires, por lá falecendo em 1926. Foi pintor e forrador de casas, compra e vende terrenos em Buenos Aires, sendo, à medida que a capital da Argentina se desenvolve, senhor de uma considerável fortuna. Consta que veio a Portugal duas vezes, sem passagem pela sua aldeia natal, morrendo solteiro e sem família directa. Pelo seu testamento foi contemplada a Escola Técnica Marquês de Pombal e a sua "similar" do Porto, a Misericórdia de Ovar, o Hospital de Santo António do Porto, bem como instituições em Buenos Aires. Por último é dito que pouco se sabe sobre Alexandre Sá Pinto, sendo que o nosso embaixador na Argentina dizia: "Ninguém sabe nada dele, ninguém o conhecia". O que não deixa de ser curioso. Conclui, António Luiz Gomes, por estabelecer um paralelismo do homenageado com outras personagens, como o Conde de Ferreira (enriqueceu no Brasil) e Rovisco Pais.
* importante separata da Revista da Universidade Técnica de Lisboa, nº12 de Dezembro de 1962, sobre "O Professor Doutor M. B. Amzalak", na data da sua jubilação (4 de Outubro de 1962). Estas Notas Biobibliográficas, com um retrato do antigo Reitor da UTL, referem os seus cargos políticos, a actividade docente, as sociedades científicas que fez parte, as comissões de serviços e, principalmente, apresenta uma extensa bibliografia de "livros, lições e apontamentos em revistas científicas". Divide-se em Economia, História das Doutrinas Económicas, História das Doutrinas Económicas em Portugal (mais de 60 títulos), Economistas Brasileiros, História, Discursos, etc. Nada nos é dito, mas sabe-se que o prof. Amzalak tinha uma importante e copiosa biblioteca, que foi vendida ao "desbarato", depois do 25 de Abril.
* "Alexandre Sá Pinto", pelo Dr. António Luiz Gomes, Lisboa, 1967. Trata-se de um conferência, proferida na Escola Industrial Marquês de Pombal, sobre Alexandre Sá Pinto, nascido em Gondozende, Esmoriz, a 7 de Dezembro de 1833. Refere que sai da sua terra, com 16 ou 18 anos, sem ter frequentado uma escola, a não ser "a escola da vida", em direcção à Baía, seguindo depois para Buenos Aires, por lá falecendo em 1926. Foi pintor e forrador de casas, compra e vende terrenos em Buenos Aires, sendo, à medida que a capital da Argentina se desenvolve, senhor de uma considerável fortuna. Consta que veio a Portugal duas vezes, sem passagem pela sua aldeia natal, morrendo solteiro e sem família directa. Pelo seu testamento foi contemplada a Escola Técnica Marquês de Pombal e a sua "similar" do Porto, a Misericórdia de Ovar, o Hospital de Santo António do Porto, bem como instituições em Buenos Aires. Por último é dito que pouco se sabe sobre Alexandre Sá Pinto, sendo que o nosso embaixador na Argentina dizia: "Ninguém sabe nada dele, ninguém o conhecia". O que não deixa de ser curioso. Conclui, António Luiz Gomes, por estabelecer um paralelismo do homenageado com outras personagens, como o Conde de Ferreira (enriqueceu no Brasil) e Rovisco Pais.
* importante separata da Revista da Universidade Técnica de Lisboa, nº12 de Dezembro de 1962, sobre "O Professor Doutor M. B. Amzalak", na data da sua jubilação (4 de Outubro de 1962). Estas Notas Biobibliográficas, com um retrato do antigo Reitor da UTL, referem os seus cargos políticos, a actividade docente, as sociedades científicas que fez parte, as comissões de serviços e, principalmente, apresenta uma extensa bibliografia de "livros, lições e apontamentos em revistas científicas". Divide-se em Economia, História das Doutrinas Económicas, História das Doutrinas Económicas em Portugal (mais de 60 títulos), Economistas Brasileiros, História, Discursos, etc. Nada nos é dito, mas sabe-se que o prof. Amzalak tinha uma importante e copiosa biblioteca, que foi vendida ao "desbarato", depois do 25 de Abril.
quarta-feira, 9 de março de 2005
Bom dia, John Cale [n. 9 Março de 1942]
Locais: John Cale / John Cale Biography / An Interview with John Cale / Para ouvir "HoboSapiens", aqui / Loop (mp3) / John Cale Lyrics
terça-feira, 8 de março de 2005
2-Aniversários-2
[na noute finda em que passaram 2-Aniversários-2]
Nestes dias últimos em que a palidez nocturna nos atraiçoou, curvados que estivemos em trabalho suplicado, este pecador almocravado lança daqui, da tenda do Mondego, eternas felicitações ao Alexandre Andrade e ao Tiago Cavaco
[na noute finda em que passaram 2-Aniversários-2]
Nestes dias últimos em que a palidez nocturna nos atraiçoou, curvados que estivemos em trabalho suplicado, este pecador almocravado lança daqui, da tenda do Mondego, eternas felicitações ao Alexandre Andrade e ao Tiago Cavaco
José Raúl Capablanca [m. 8 Março de 1942]
Salvé Capablanca! Oh venerável Mestre! Hoje, já fartos de ler novas sobre a garotada, ainda à espera das amêndoas governativas, absolutamente sem pachorra para a economia ou consultas poéticas, corremos para o tabuleiro. Aconteceu-nos a glória do poder divino. Afinal - Mestre! - que seriam as nossas noites sem um jogo de Xadrez?
E Vc porquê espera? Deixe os embrulhos das fotografias das amadas, arrecade a amargura de ser ainda miúdo e ... vá jogar com(o) o Mestre. Ou assista, civilizadamente, a uma admirável partida entre Capablanca contra Alekhine. Buenos Aires, 1927. O tango está a passar por ali. Haja esperança.
Locais: José Raúl Capablanca / Most Played Openings / Historical Photographs (xadrez) / World Chess Champions / World champion: 1921 to 1927
Livros & Arrumações
* Páginas Portuguesas de Afonso Botelho, Lisboa, 1949, é um opúsculo correspondente a três artigos e uma resposta a Pequito Rebelo [Pequito Rebelo e a Nova Geração), publicados anteriormente no "Ressurgimento" e, no caso da resposta a PR (dizia PR, "a primeira geração do Integralismo teve de combater a Anti-nação, vós tereis e não só vós, mas a mocidade de todo o mundo porque o erro é universal..."), lido no acampamento monárquico de 1948. Este último texto é importante. Considerando que "Pequito Rebelo não falou a um grupo de Integralistas novos" mas sim "falou a uma geração", Afonso Botelho tece considerandos vários sobre o Integralismo e a sua doutrina, assumindo que entre a doutrinação integralista e "o começo da nossa juventude há uma espaço vazio de missão". E que "houve alguns momentos em que supusemos ter encontrado o nosso caminho mas, dolorosamente, muito antes da idade própria para as desilusões, desiludimo-nos". Refª várias a Salazar ("a grande esperança de Salazar era a juventude e expressamente o disse, mas na realidade não o podia ser, porque a ideia que ele fazia dessa juventude era totalmente contrária à realidade"). Curioso.
* José V. de Pina Martins é admirável de se ler. O opúsculo "A Poesia de D. Francisco Manuel de Melo", Edições Brotéria, 1967, tem sempre esse encantamento, essa luminosidade, que só alguns escritos nos conseguem dar. O exercício ensaístico sobre as Cartas Poéticas de Francisco Manuel de Melo, é um trabalho meticuloso, sempre com a presença de apuradas notas e reflexões, muitas em nota de pé-de-página, de rara sensibilidade. O texto de Pina Martins percorre 30 páginas que se lêem num fôlego. Está lá tudo: a "espiritualidade" de FM de Melo que se funda na "destas dores da experiência", a leitura da poesia a partir do "drama espiritual" e "no sofrimento moral proveniente da sua privação da liberdade", o realce para alguns aspectos e "motivos de reminiscência platónica", a lírica religiosa que inspira "O Canto da Babilónia", a situação moral do poeta, a presença da modernidade na poesia de F. Manuel de Melo. Um livro a não perder.
* Páginas Portuguesas de Afonso Botelho, Lisboa, 1949, é um opúsculo correspondente a três artigos e uma resposta a Pequito Rebelo [Pequito Rebelo e a Nova Geração), publicados anteriormente no "Ressurgimento" e, no caso da resposta a PR (dizia PR, "a primeira geração do Integralismo teve de combater a Anti-nação, vós tereis e não só vós, mas a mocidade de todo o mundo porque o erro é universal..."), lido no acampamento monárquico de 1948. Este último texto é importante. Considerando que "Pequito Rebelo não falou a um grupo de Integralistas novos" mas sim "falou a uma geração", Afonso Botelho tece considerandos vários sobre o Integralismo e a sua doutrina, assumindo que entre a doutrinação integralista e "o começo da nossa juventude há uma espaço vazio de missão". E que "houve alguns momentos em que supusemos ter encontrado o nosso caminho mas, dolorosamente, muito antes da idade própria para as desilusões, desiludimo-nos". Refª várias a Salazar ("a grande esperança de Salazar era a juventude e expressamente o disse, mas na realidade não o podia ser, porque a ideia que ele fazia dessa juventude era totalmente contrária à realidade"). Curioso.
* José V. de Pina Martins é admirável de se ler. O opúsculo "A Poesia de D. Francisco Manuel de Melo", Edições Brotéria, 1967, tem sempre esse encantamento, essa luminosidade, que só alguns escritos nos conseguem dar. O exercício ensaístico sobre as Cartas Poéticas de Francisco Manuel de Melo, é um trabalho meticuloso, sempre com a presença de apuradas notas e reflexões, muitas em nota de pé-de-página, de rara sensibilidade. O texto de Pina Martins percorre 30 páginas que se lêem num fôlego. Está lá tudo: a "espiritualidade" de FM de Melo que se funda na "destas dores da experiência", a leitura da poesia a partir do "drama espiritual" e "no sofrimento moral proveniente da sua privação da liberdade", o realce para alguns aspectos e "motivos de reminiscência platónica", a lírica religiosa que inspira "O Canto da Babilónia", a situação moral do poeta, a presença da modernidade na poesia de F. Manuel de Melo. Um livro a não perder.
domingo, 6 de março de 2005
Afonso Duarte [m. 6 Março de 1958]
"Não posso já com ervas nem com árvores;
Prefiro os lisos, frios mármores
Onde nada está escrito
Meu gosto da paisagem fez-se escuro;
Nenhures é o lugar que mais procuro
Como homem proscrito.
...
Eu não sei se amanhã será meu dia,
Recolho-me furtivo na poesia,
Incerto o chão que habito ..." [A. Duarte, in Grito, 1940]
Locais: Afonso Duarte, 1884-1958 / Afonso Duarte / Ereira ou a memória de Afonso Duarte / 6 Poemas
sábado, 5 de março de 2005
Anna Akhmatova [m. 5 Março de 1966]
"Bebo ao lar em pedaços,
À minha vida feroz,
À solidão dos abraços
E a ti, num brinde, ergo a voz...
Ao lábio que me traiu,
Aos mortos que nada vêem,
Ao mundo, estúpido e vil,
A Deus, por não salvar ninguém" [A. Akhmatova, in Último Brinde]
Locais: Ana Akhmatova / Anna Akhmatova (1889-1966) - pseudonym of Anna Andreyevna Gorenko / Anna Akhmatova / Anna Akhmatova(Cronologia) / A Collection of Poems / Poesia
Passa por mim no Governo!
"A generosidade é o dom do que convém, sem qualquer reparo, à compensação" [Avicena]
Temos governo. Os missionários de Sócrates são aquilo que se esperava. Abundantes tecnocratas, made in IST & outras Instituições meditabundas, consumidos pela respeitosa sebenta, alguns profanos aparentemente virtuosos e estimados profissionais da labuta política. Ainda não foi, segundo dizem o rol da eminência parda jornaleira que domestica o país, espalhado o perfume pátrio governativo, mas para nossa glória não houve recurso à tralha Guterrista em dose elevada, pelo que a epidemia está contida. Resta esperar.
Como curiosidade, refiram-se os sediciosos ecos que os comentadores costumeiros lançaram ao rebanho luso, em torno das personagens eleitas. Desde logo um sujeito, que se desconhece o que tem feito para a posteridade da pátria, de nome Van Zeller, absolutamente fascinado pela presença de Freitas do Amaral na governação. De tal modo confundiu o comércio da CIP com a azia revoltosa perante o excomungado Freitas, que julgámos recuar a 1975. E lá fomos, obedientemente, consultar o calendário. Uf! O Van Zeller afinal era um fingidor.
Depois, recebemos as instruções do monge Luís Delgado que com a sua louvável caridade liberal atestou que este Governo era pior do que o prometido, e, evidentemente, inabilitado para a função, isto depois de evocar Lopes & Portas, em reza. A noite não podia findar sem que o pensamento de Guilherme Silva, o desamparado guerreiro Santanista & Jardinista, na mais pura ex ironia, nos tenha dito cobras e lagartos desta segunda, terceira ou mesmo quarta escolha socrática. Excelente!
Por fim, ainda não tínhamos atacado o café matinal, já o camarada José Manuel Fernandes, o devoto militante que no principio dos anos oitenta não renunciava à reorganização do PC, para espanto de todos, freneticamente escrevia no seu jornal achar tumultuoso a presença de Freitas do Amaral no governo da Nação. A verdade é que Feitas do Amaral era um perigoso terrorista anti-Bush, novo Rei do Mundo para o estabelecido JMF, o que, presumimos, nos poria a guerrear com o exército americano. Cruzes, canhoto! Mas, como nos lembrámos da animada cena passada in illo tempore no Palácio de Cristal, a que decerto o camarada JMF serviu, compreendemos a reprimenda. E o fogo ardente do senhor director. Há coisas que não esquecem.
Pier Paolo Pasolini [n. 5 Março de 1922-1975]
"Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
...
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
...
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua"
[Eugénio de Andrade, Requiem a Pier Paolo Pasolini, 1977]
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quinta-feira, 3 de março de 2005
Eugénio de Castro [n. 4 Março de 1869-1944]
"Aqui, Eros! Para quê de ampulhetas um par!
Dupla medida tens, leviano? - Numa, a hora,
Se os amantes estão juntos, é voadora;
Se estão longe, na outra, expira devagar"
[Zeitmass (aliás Medida do Tempo) de Goethe, trad. de Eugénio de Castro]
Locais: Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944) / No centenário da publicação de Oaristos
Em louvor do Pe. Nuno Serras Pereira
Participamos ao piedoso Padre Serras Pereira, a quem consagramos tributo de lágrimas e martírios inconfessáveis, mais alimento para as seus votos por ora postos em formato de Anúncio Público, para que o ilustre padre possa ser grande, respeitoso e devoto. Daqui nos curvamos, meditando nos prodígios dos cânones e nas instruções recebidas, porque justos e misericordiosos. Graças!
"... Abandonar uma Avé-Maria a meio, contar uma anedota ou chupar pevides de abóbora durante a missa, destruir um hino ou uma ladainha, rasgar ou riscar um salmo penitencial, são atitudes que abrem a porta ao pecado ..."
[Lândon, in Livro das Coisas Santas, de Carlos Mota de Oliveira, Fenda, 1995]
"... Segundo recentes estudos religiosos, cada penitência resulta de alguns gramas de pecado. E por cada dez gramas de pecado, o penitente aniquila cento e oito gramas de boas acções ..." ["Dictatus Papae, Gregório VII, ibidem]
"... Ao confessar uma multidão de maus juízos e palavras ásperas, o penitente sofre grandes mordidelas da parte do demónio. Isto depende muito do sacerdote confessor, pois tem que escolher entre a quantidade e a qualidade do pecado. E o diabo está sempre presente. Alguns cardeais consideram que esta mordidela é mais ou menos violenta conforme o número de pecados confessados. Outros, porém, sustentam que o diabo prefere a qualidade e morde com menos intensidade quando sabe que o penitente se confessa sem o propósito de se emendar..." [palavras de Pelágio I, ibidem]
"... Sei que os sacerdotes ficam inquietos quando a abadessa Joana entra nos meus aposentos. É evidente que todas as manhãs recebo a sua visita e depois rezamos (...) Tendo em conta a perturbação que estas visitas causam no meu pessoal religioso, mandei colocar dois informadores à entrada da alma de cada um. E o que eu tenho sabido, meu Deus! Entram, diariamente, na alma de cada sacerdote, uma legião de anjos cheios de delírios! Outros, aluados! Outros adoidados! Outros, marijuanados! E digno, digno de respeito, só vi um anjo!..." [Confidência de João XI (931-935), ibidem]
"... Uma nódoa de cereja no hábito de uma monja é desmazelo. Aos olhos dos monges, porém, é tentação. Alguns Irmãos acreditam que os pecados estão colados aos vestidos das monjas como as estrelas estão pegadas ao céu ..." [extracto de uma carta de Pio V, ibidem]
"... À maneira que nos aproximamos da Porta Celestial, vamos deixando progressivamente os pecados. O calor começa a apertar e é preferível ir largando toda a roupa terrena. Peça a peça, ali ficamos nós, à entrada: nus, nuzinhos, uns atrás dos outros, em mansa fila, rosados, róseos e rosadinhos. Alguém, então, autorizará que penetremos ..." [extracto carta dirigida «A Todos os Filhos da Igreja», por Eugénio II (824-827), ibidem]
"... Se são rezadas sete missas por dia, aumente-se para catorze! E quintupliquem-se os outros serviços religiosos! Um baptismo, por exemplo, é pouco! Três, quatro, cinco, pelo menos! E se for preciso, em vez de uma Páscoa, arranjem-se duas Páscoas! Há que depurar, esburgar, expurgar e extirpar!..." [manuscrito encontrado no espólio do Duque de Montorio, de autoria de Silvestre I (314-335), ibidem]
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