sábado, 17 de outubro de 2009
NOTÍCIAS DA FRENTE
"É preciso folhear os maus livros, esquadrinhar os bons" [Jules Renard]
O sábio Feliciano de Castilho dizia: "Naquelas velharias andávamos tão embevecidos (...) que para nós não havia passeio, nem visita, nem função, que nos pagasse o gosto que desfrutávamos naquele nosso ler à ventura, sem piloto nem bússola”. Como Castilho, nós por cá (é sabido) temos essa canseira de serem os trabalhos do mês idênticos de todos os outros. Ámen!
- no próximo mês de Novembro, precisamente no dia 26, ou de S. Pedro Alexandrino (S. Conrado, que nos desculpe), ele mesmo um herege de juízo encomiástico, haverá lugar na caprichosa Biblioteca Nacional de Lisboa uma merecida Exposição, Homenagem e Invocação pública ao grande Luiz Pacheco. A entrada do sublime editor & escriba na casa-mãe da cultura – momento em que conspícuos escritorzecos, literatos & prósperos comentadores indígenas, por fastio de vida, irão cair em curiosa salmoira provinciana – será ornamentada com uma memorável pachecada, uma brochura copiosa e opulenta, um In Memoriam de talento de bien faire. Eis o grande "conversador", o facundo libertino, a idolátrica e o seu esplendor, presentes nesse dia bem-aventurado de Novembro. Até lá, o que "interessa é acordar vivo".
- livros & outros documentos em papel estão à Venda na caprichosa Livraria Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), acabado que está a elaboração do seu 43º Boletim Bibliográfico, referente ao mês de Outubro. Decorado com 642 peças magníficas, que percorrem algumas das melhores peças bibliográficas lusas, o seu Boletim é essencial ao amador de livros e valioso para assinalados bibliófilos. Consultar o Boletim, AQUI.
- o nosso amigo Carlos Bobone da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº147, Lisboa), autorizado livreiro e interessante monárquico, lançou sobre a canalha da Província o seu Catálogo 77º. O dr. Bobone, em cumprimento do dever municipalista, e por ser livreiro mor do reyno de Lisboa, deveria constituir serviço distinto aos amadores de livros da vetusta Província. Isto porque, quando o real correio por cá preside (quando preside!), e enquanto o cliente percorre o cardápio, já as peças postas em Catálogo foram vendidas pelas vozes autorizadas e céleres de cidadãos de Lisboa. Portanto, o dr. Bobone junta uma vasta livraria que lança em papel, remete-o para os seus paroquianos, mas o bom cidadão de Lisboa esgota-lhe a livralhada, mesmo antes do cobiçado Catalogo cair nas nossas mãos. Deste modo, para que não fiquemos em estado de orfandade, evitando assim que montemos um qualquer sublime Jardim ou Barraca à sua porta, seria mister enviar para a Província, dias antes, o rol dos lotes para venda. Por discrição ao Príncipe e amor-dos-homens!
- para arrematação, está à Venda uma estimada colecção de livros postos em Catálogo (mês de Outubro) pelo Livreiro-Antiquário José Vicente, da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa). O conjunto percorre temas tão distintos como Administração Pública, Arte, Colonial, Descobrimentos, História, Literatura, Memorialismo, Monografias, e outras instrutivas áreas. Consultar o Catálogo, AQUI.
- é já nos próximos dias 26 a 29 de Outubro, que a Leiloeira Renascimento irá colocar à praça pública o invulgar e valioso Leilão da Biblioteca do Dr. Paulo Monteiro Levy, conforme assinalamos. Este opulento Leilão apresenta uma invulgar Maçónica, com mais de 300 peças (muito) raras e de difícil circulação. Do seu inventário, com 1959 lotes, chama-se especial atenção para as temáticas muito estimadas sobre Inquisição, Judaísmo, Jesuítas, uma curiosa Pombalina, Constitucionalismo, rara Imprensa Periódica do sec. XIX/XX, rica Banda Desenhada, Numismática. Voltaremos a este Leilão, dado as importantes peças bibliográficas que faziam parte da Livraria de Paulo Monteiro Levy, médico, livre-pensador e conhecido (e importante) maçon. O Catálogo, elaborado por José Vicente, está já online e pode (deve) ser consultado pela sua especial importância.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
MÃOZINHAS!
É a velha história das "mãozinhas". Ou melhor, ter ou não ter. No bridge, curioso jogo perfeito, o sábio jogador, inebriado pelo carteio, busca as "mãozinhas" miraculosas. A estatística é para tais artistas, assunto sagrado e memorável. O que lhes interessa é, afinal, o prémio do jogo – honestíssimo e reparador. Mas o jogador não deve ser impetuoso. Audaz, talvez. Iluminado, decerto. Nunca fogoso nas vozes ou carteio. As "mãozinhas" são quase sempre cumpridoras.
Ora acontece que estes nossos dias-ligados-a-dias têm sido obscuros e inconsistentes. Estranhos! E não se fala aqui desse palavreado que é vertido nas caçoulas perfumadas dos jornais ou do que por aí é vibrantemente (re)dito, aliás muito bem joeirado pela turba dos Marcelinos, sobre a etérea governação do próximo governo do sr. engenheiro. É que entre o idiotismo do grupo do sr. Sócrates e o folhetinismo sobre a D. Manuela, a nossa educação política carece de sentimento e de decoro.
Tal como no carteio do bridge se trabalha para fazer as "passagens" de mão, também o sr. Sócrates se encontra viciado desse espírito assombroso. Festejar as "mãozinhas", não delapidar o pecúlio do grupo de interesses, fazer as passagens certas (à esquerda ou à direita) será o espectáculo vulgar com que o sr. Sócrates se banqueteará. Os Marcelinos não irão faltar nessa saloiice de ameaçar com a trova de novas eleições e a vinhaça (já velha) de maioria absoluta. Porém não basta tal carteio deslumbrado. É que, e antes do mais, é preciso ter jogo para jogar e ir a jogo. No bridge, como na palestra política, o bluff é puro disparate.
Toda esta nossa récita, meio descarrilada e pouco agaloada, serve para informar os ledores deste estabelecimento que nos honraram com sublimes emails a propósito de não termos vindo diariamente a despacho, que estamos na mais asfixiante reclusão. Acontece (cá está!) que estamos sem todas as "mãozinhas". A nossa impetuosidade de candidato a motard garganteou uma caricatural queda, no que resultou um desprevenido mês de braço ao peito. Já se vê o incomodo disto tudo: um mês sem bridge, sem boticadas e de muito mau humor. Por enquanto "estou a embeber-me dos óleos santos da paciência", como diria Camilo (o nosso médico e consultor de alma). Mas estamos por aqui, aqui e ali. E, apenas para os neófitos, acolá.
Boa noute!
sábado, 10 de outubro de 2009
Tomás da Fonseca (1877-1968) via ANTÍGONA
- Na Cova dos Leões – Fátima. Cartas ao Cardeal Cerejeira [c/ pref. Reis Torgal]
"Este livro é porventura um dos mais emblemáticos textos «subversivos» impressos em Portugal durante o salazarismo. Foi escrito por um republicano racionalista e livre-pensador abjurado pela Igreja Católica e pelo regime autoritário e «catolaico» do Estado Novo. Depois, a democracia nascida da revolução de 25 de Abril de 1974 acabou também por o ostracizar. Estas serão, de resto, razões suficientes para que alguns títulos da sua prolífica obra logrem ser redescobertos e reeditados pela Antígona numa altura em que se aproxima o centenário da proclamação da Primeira República em Portugal (1910-2010)"
- O Santo Condestável. Alegações do Cardeal Diabo [c/ pref. João Macdonald]
"Este texto reproduz uma conferência de Tomás da Fonseca, proferida na Universidade Livre de Coimbra, em 1932. Decorridos setenta e sete anos sobre a publicação de O Santo Condestável – Alegações do Cardeal Diabo, a orquestra reorganizou-se para a celebração da canonização de Nuno Álvares Pereira, que a Igreja e os seus cúmplices levaram a cabo neste ano de 2009. Seria, portanto, indelicadeza da Antígona não se associar aos festejos desta nova forma de consubstanciação; por isso, considerámos oportuna a reedição deste livro.
José Tomás da Fonseca nasceu no dia 10 de Março de 1877. Foi um homem de impressionante produção literária, tendo publicado ao longo da vida cerca de quarenta títulos. Colocou-se permanentemente na linha da frente do arriscado confronto político."
Publicação pela Antígona - Editores Refractários.
[idem no Almanaque Republicano]
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
FIGUEIRA DA FOZ - COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA
"A Figueira da Foz é uma cidade, reconhecidamente, com fortes tradições liberais e republicanas. Esse espírito puro (e idealista) acompanhou os (…)
Uma plêiade notável de homens e mulheres foram os obreiros dessas fortes convicções liberais, republicanas e democráticas. Pessoas e colectividades, a imprensa local, grupos e cidadãos, com entusiasmo e desassombro, trabalharam em prol do bem comum e da emancipação do povo figueirense. O espírito e alma republicana, sob o lema liberdade, igualdade e fraternidade, fazem parte, exaltantemente, do álbum das memórias figueirenses. Por isso, esse ideário republicano tem de ser evocado. Deve ser reivindicado. Tem de ser honrado.
No ciclo das comemorações do Centenário da República, que agora decorre, é tempo de reclamar a ideia da República e exaltar a sua herança. O legado republicano é uma missão que exige uma recordação condigna da sua própria grandeza. Por isso, correspondendo ao apelo da Comissão Nacional das Comemorações do Centenário da República, um grupo de cidadãos da Figueira da Foz, republicanos e democratas, em harmonia com os objectivos gerais das Comemorações, visa constituir uma Comissão Cívica da Figueira da Foz para as Comemorações do Centenário da República.
Essa Comissão Cívica terá como objectivo dinamizar - com as instituições, colectividades, associações e cidadãos que adiram a este projecto - um conjunto de iniciativas culturais diversificadas a nível concelhio, em ordem a contribuir para homenagear pessoas e instituições, contribuir para uma maior mobilização e participação da sociedade civil nas comemorações do Centenário, dando assim uma maior visibilidade dos objectivos pretendidos pela Comissão Nacional, especialmente junto das gerações mais jovens.
Este blog ou espaço conversável será, doravante, a pedra inicial que desvela essa pretensão e pretende animar este reencontro antiquíssimo com a nossa história local. Assim, convidamo-lo a aderir a essa futura Comissão Cívica, a divulgar este nosso apelo e a participar por uma República melhor.
Saúde e Fraternidade" [ler AQUI]
in Blog "100 Anos da República Figueira da Foz"
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
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V. Excia encomendou-os para a noute Domingueira!? Vejamos. V. Excia quer graciosamente repetir esse embaraço quando toda a prudência, depois de se lhes observar a face e conhecidos os gestos, o fazem livremente reflectir? V. Excia que cultiva a arte da democracia & liberdade e que fecha os olhos de vergonha quando a visão se turva envolta naquela gente sem dávida & sem luz, quer ainda encomendar? Ter-se-á V. Excia, que não tem espírito servil e tem palavra & carácter, dado conta que depois de amanhã é Domingo?
Boa noute!
TOP DO MERCADO POLÍTICO
Para o mais completo TOP dessa prosa disparatada, desse charivari mal-humorado e com atropelos de alienação; mas também aos que em exarados afagos de cidadania foram grandes e com aprumo literário; & mesmo aos outros, avessos às patrulhas ideológicas, e que nem uma palavra sequer ouvimos sobre esta pocilga eleitoral; aqui, graciosamente, V. deixamos o nosso TOP Eleitoral:
Melhor Argumento Eleitoral – Cavaco Silva
Melhor Blog de Direita – Blasfémias
Melhor Blog de Esquerda – Cinco Dias
Melhor Blogger – Luís Januário
Melhor Blogger apoiante do PS – Medeiros Ferreira
Melhor Blogger apoiante do PSD – João Gonçalves
Melhor Blogger votante no BE – José Neves
Melhor Blogger votante da CDU – Carlos Vidal
Melhor Campanha – PS
Melhor Colunista – Manuel António Pina
Melhor Comentador TV – Manuel Villaverde Cabral
Melhor Director de Jornal - não atribuído
Melhor Jornal Diário – Público
Melhor Semanário - Expresso
Melhor TV – RTP(N)
Melhor Twitter – José Manuel Fernandes
Pior Argumento Eleitoral – Manuela Ferreira Leite
Pior Blog de Direita – Simplex
Pior Blog de Esquerda – Simplex
Pior Blogger – João Paulo Pedrosa
Pior Campanha – PSD
Pior Colunista – José António Saraiva
Pior Comentador TV – Emídio Rangel
Pior Director de Jornal – João Marcelino
Pior Jornal Diário – Diário de Notícias
Pior Semanário - Sol
Pior TV – SIC Notícias
Pior Twitter – António Nogueira Leite
O MERCADO POLÍTICO NA BLOGOSFERA
O mercado político eleitoral, nesta paróquia de infantes indignados, teve nestas eleições uma curiosa actuação em versão de "free-rider". Não só entre os jornaleiros (em especial direktores e mirrados colunistas) mas principalmente via essa pitoresca blogosfera oficiosa. O que é curioso, nessa empoeirada zarzuela, é nunca tantos clientes dos bens públicos se esconderam ("dos beiços ao cachaço") dessa obscura "maleita" de viver à conta do Estado, ao mesmo tempo que em mavioso ritmo pregavam contra a sua enormidade. Por isso mesmo, nunca tantos controladores (patrulhadores) da agenda eleitoral deram tantos e calamitosos pinotes a denunciar o "grávido" Estado e ao mesmo tempo que colhem dele os seus benefícios e privilégios pessoais. Eis a actividade afadigada de "rent-seeking" em todo o seu esplendor.
A acção dos grupos de interesses ofereceu-nos, para a posteridade, atrevidos inéditos e reclamos vaidosos, quanto histéricos. Bramindo quase sempre conselhos políticos enternecidos (quanto dramáticos) ao que presumem ser o "gado eleitoral", estiveram os do clube Simplex, que como se sabe têm privilégios no "bastardo" mercado keynesiano e estão matriculados na ensopada pia universitária. De modo geral, tais beatos vultos procuram apenas “maximizar o tamanho dos seus orçamentos” e lugares na administração do Estado, de onde nunca saíram. Tais criaturas tiram vantagem do seu grupo de interesses, fixam a agenda política, desviam (distorcendo) a informação, anestesiam a canalha.
A narrativa ideológica dessa gente (dos jornais aos blogs) foi, portanto, um sacerdócio laborioso, acasalado em recordações pueris, metáforas deslocadas e conceitos provincianos. Desviando (distorcendo) a informação e a agenda política, reincidiram na publicidade enganosa – a sua "Public Choice" –, martelaram ideias lunáticas (note-se a suposta questão das nacionalizações, ou do regresso ao Salazarismo), fizeram remoques ao seu próprio passado político. Foram ridículos nos artigalhos, grotescos nas postas, geniais na incoerência económica e política. Ardilosos!
[continuação]
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
In-Libris – MAIS LIVROS DE SETEMBRO 2009
A In-Libris (Porto) apresenta um novíssimo e curioso Catálogo de livros – "Saberes da Terra" – com peças muito estimadas sobre Agricultura, Botânica, Silvicultura, Etnografia, Antropologia, Culinária, História Regional, Arte Popular, Artesanato, Linguística, Medicina Tradicional, etc.
Registe-se um já raro livro das Edições Afrodite [Nova Recolha de Provérbios e outros lugares comuns portugueses, Lisboa, 1974]; o útil & curiosíssimo "Lavrador Moderno ou o Novo Tratado de Agricultura e Jardinagem" [Lisboa, 1854]; a peça de colecção "Álbum de Costumes Portuguezes" [Edição luxuosa de David Corazzi, 1888]; o estimado e raro "Diccionario Portuguez das Plantas e Arbustos, Matas, Arvaores, Animaes quadrupedes, e reptis, Aves, Peixes, Mariscos, Insectos, Gomas, Metaes, Pedras, Terras, Mineraes, &c. que a Divina Omnipotencia creou no globo terraqueo para utilidade dos viventes" [de José Monteiro de Carvalho, em 1817]; o "Guia do Vinicultor" [de António Xavier Pereira Coutinho, 1889]; o notável "Tratado d’Agricultura Theorico-Pratica" [do Dr. João António Dalla-Bella, de 1805]; a reputada obra escrita por Francisco da Fonseca Henriquez [ou o “Dr. Mirandela”] intitulada "Ancora Medicinal para Conservar a vida com saúde" [1721]; o curioso livro de Santiago Garcia de Mendonza ["A Agua. Compilação dos principaes elementos de Geologia para o descobrimento dos mananciaes aquáticos", 1866]; o interessante "Maravilhas da Creação ou História e Descripção Illustrada dos Animaes comprehendendo Mamiferos, Aves, Reptis e Peixes ... [por M. Pedro Posser, de 1879]; a curiosa e premiada obra de João da Motta Prego [“Quinta do Diabo (Avicultura)"]; a 1ª e invulgar edição de Teixeira de Aragão "Diabruras, Santidades e Prophecias" [Lisboa, 1894].
A consultar on line.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
IRRESPONSABILIDADES
"Nu, como o discurso de um académico" [Alfred de Musset]
Como era de esperar, a paróquia transformou-se nesta "ingente mercearia" que o encarregado-geral, o dr. Cavaco Silva, caseira & irresponsavelmente faz vivificar. O admirável leader, Cavaco Silva, por amor da colectividade da direita "mais estúpida da Europa", tem uma coterie de incendiários & abstrusos sujeitos que o cortejam emotivamente, ad usum Patroni.
A agremiação cavaquista, onde pontificam amanuenses criaturas, literatos analfabetos, espíritos desorientados e outras tantas individualidades originais, ainda não compreendeu, que para lá dessas minúcias de intimidade liberal e trabalho cénico de direita, o dr. Cavaco foi (é) o coveiro dessa mesma direita e, em especial, do PSD. Os factos, simplesmente, o demonstram.
Os males são conhecidos. Perante o pior governo (o desastre económico e social, é evidente) destes últimos 35 anos – sempre angelical no cárcere autoritário e pesporrente na propaganda governamental –, o Presidente da República, roído decerto pela voluptuosidade dos seus tiques arrogantes, foi-lhe de uma fidelidade humilhante (outros dirão, esclarecida ou de estado), e desde o início do seu mandato foi grandioso e inesgotável de elogios e prebendas a Sócrates. Onde alguns esperavam ambiciosos contraditórios ou enternecidos gestos de amor democrático e de simples exercício de cidadania (veja-se o código laboral ou o caso paradigmático da educação e dos professores), saiu-lhes um Presidente estimulante de carinho socrático, macilento, escandalosamente apoiante do governo: isto é, um excelente director-geral do reyno. Pior não era possível!
É certo que muitos dos seus pitorescos apoiantes, no meio desse engulho, apostavam que o sábio Cavaco, neste seu primeiro (e suspeita-se, único) mandato, tenderia a dar lastro às medidas económicas e sociais da governação (não a vitimizando), para num momento posterior (fim do mandato ou no seguinte) repor o ideário “perdido” de uma outra direita dos interesses. É certo que a derrocada económica e social, a crise financeira, o desastre nas relações convencionais de cidadania, o negócio obscuro das corporações, a imolação da ex-direcção do PSD, a confrontação directa (e inesperada para Cavaco) com o governo, fez antecipar a (previsível) ruptura. Porém, o bisonho Cavaco – que é de um tacticismo exasperante e pouco dotado para a estratégia política –, rodeado de altíssimos amadores e irresponsáveis conselheiros, não só não honrou a instituição Presidência da República, como por recato ou omissão teve o condão de se auto-imolar, ao mesmo tempo que liquidou (de vez) a candidatura eleitoral de Ferreira Leite. Hic Cavaco, hic salta.
O paroxismo deste caso das “escutas” (ou "inventona de Agosto") engendrou tamanha trapalhada, que, desde a arraia-miúda ao mais prócere dos comentadeiros, a indigestão política e a intensidade da "coisa" deixou o “corpo do rei” em fragmentos que serão difíceis de reunir. O dr. Cavaco, em excesso de irresponsabilidade, perdeu a legitimidade política. Porque espaço político já o tinha perdido há muito. A piedosa lenda sobre Cavaco tornou-se uma tragédia e numa farsa. É a vida!
A “INGENTE MERCEARIA”
Não sem surpresa, quando regressados da nossa tournée (ou giro de boudoir), os desagravos inspiradores da liça eleitoral estavam no seu esplendor. A prosa estragada de D. Manuela era impiedosa, mas vulgar. O sr. Sócrates especulava em solenidade depravada sobre as atrocidades económicas e sociais dos anos da barbárie a.S. (o sr. Sócrates nunca governou!). O dr. Portas berrava saloiamente, em feiras e mercados, o seu conhecido repertório reacionário. O B.E. era injuriado por criaturas analfabetas e já sem esperanças de casar. O camarada Jerónimo vira o homem da luta, cantarolando os amanhãs que cantam. Os jornaleiros e paineleiros locais esmiuçavam a oposição (o grupo Sócratico, nunca existiu!). O D.N., com unhas para dar e vender, era um coro de bufaria, de ir às lágrimas. A laracha simplória e a deliciosa comédia eleitoral sobre as socrancrices "escutas" atingia o seu zénite, com o silêncio e as omissões do dr. Cavaco. E nunca um Presidente da República foi tão parco & sombrio de ideias. Na espera da tremenda "bomba atómica" (pós-eleitoral) que o sábio Cavaco, absurdamente, ameaça sob enorme chiadeira nos locais do costume, os paroquianos de direita adivinham já estóicas lutas. A "ingente mercearia" treme de emoção.
Entretanto o país caminha triunfalmente para a falência, o pé adeante na ruína que está já aí, e não há incidente espalhafatoso que fulmine toda essa mundana gente. Ah! E voltaram os Gatos, com a mais-valia milagreira do RAP. Lá me avisou a minha olímpica vizinha. E – digo eu – está em marcha dois leilões de livrarias, um dos quais será certamente inolvidável. Por último, uma estimada homenagem ao grande Luiz Pacheco terá lugar, oportunamente, na Biblioteca Nacional. Mais não é preciso.
Vale!
terça-feira, 8 de setembro de 2009
ALMANAQUE REPUBLICANO
"Fazemos saber, em canto de reimpressão, o nosso antigo e aceite Édito com que abrimos e instalámos o Almanaque Republicano. Esta confraria de Homens Livres tem vindo a publicar memórias e testemunhos bio-bibliográficos em homenagem & invocação da Grande Alma Republicana. E asseguramos: “aqui se escreverão novas histórias”. Tal como o vate Camões disse e nós, em humílimo préstimo, pretendemos regularizar.
Por estarmos (quase) a entrar nas celebrações do Centenário da República renovamos tamanha viagem “aos homens de novo nascidos”. Até porque o futuro será sempre, para nós, a duração iluminada do nosso passado.
Valete Frates!" [ler tudo AQUI]
Actualizações: Efemérides de Setembro / Biografia de João Fiel Stockler / In Memoriam Hermínio Palma Inácio [incompleto] / Biografia de Francisco Gonçalves Velhinho Correia / Comissão Militar Revolucionária do 5 de Outubro de 1910 / Comissão Municipal Republicana do Porto [22 de Junho de 1904].
Boas leituras.
In-Libris – LIVROS DE SETEMBRO 2009
A In-Libris (Porto) apresenta um Catálogo de livros estimados de temática variada, com destaque para um curioso conjunto manuscrito de receitas culinárias, peças valiosas pessoanas, obras sobre Agricultura, Arte, Fotografia, História, Literatura e Poesia.
Algumas referências: Lote de Receitas Culinárias [ms. – caligrafia do início de século XX, algumas redigidas em francês] / Tratado das Significaçoens das Plantas ..., pelo Pe. Isidoro da Barreyra, 1698 [ed. Fac-similada, 2005] / Vinificação Moderna, por Pedro Bravo & Duarte de Oliveira, 1913 / Diccionario da Antiga Linguagem Portugueza, de Brunswick, 1910 [curiosa e inolvidável obra] / Vieira-Pregador, por Luiz Gonzaga Cabral, 1901, II vols / Tratado d’Agricultura Theorico-Pratica, por João António Dalla-Bella, 1805 / Tratado Novo e Curioso do Café, do Chá e do Chocolate, de Philippe Sylvestre Dufour, [1941, 4ª ed.] / curiosas peças de literatura infantil [Colecção Quá-Quá] / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão, Freitas Cruz & António Montês, 1943-45, II vols / A Divina Arte Negra e o Livro Português, por José Pacheco, 1888 / Sentido que a Vida Faz. Estudos para Óscar Lopes, 1997 / História da Igreja, pelo Pe. Miguel de Oliveira, 1942 / Obras de Alberto Pimentel, Almada Negreiros, Álvaro Guerra, Ana de Castro Osório, António Ferro, António Osório, António Sérgio, Bernardim Ribeiro, Cardoso Martha, Eugénio de Andrade, Eugénio de Castro, Fernando Pessoa, Fialho de Almeida, Francisco Bugalho, Hélder Macedo, Herberto Helder, João José Cochofel, João Miguel Fernandes Jorge, João Penha, Jorge de Sena, José Carlos Gonzalez, José Carlos Vasconcelos, Manuel Alberto Valente, Melo e Castro, Oliveira Martins, Pedro Veiga [Petrus], Sidónio Muralha, Somerset Maugham [Creatures of Circumstance, 1947, 1ª ed.].
A consultar on line.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
DEBATES ELEITORAIS & COMENTADORES: O RANÇO
“Não sei o que é o homem. Só sei o seu preço” [Brecht]
Os debates eleitorais se fossem feitos num país civilizado e comentados por criaturas intelectualmente genuínas, e não (como é o caso indígena) por sopradores ideologicamente ridículos ou maníacos ignorantes, teriam dignidade responsável e estima acrescida. Porém, cá pela paróquia espanejam-se nos jornais e, principalmente, alapam-se nas TV’s um curioso raminho de criaturas barulhentas (uma estrebaria quase se assemelha a um lugar de êxtase) e que recitam, todos e de igual modo (lembrando a velha Mocidade Portuguesa), os intelectivos complementos dos seus triunfantes repertórios partidários.
Os factos, as argumentações e os episódios ocorridos entre os candidatos eleitorais, passam a ser para esses prodigiosos comentadores, de imediato, um lugar de desabrida arena partidária e um grave reduto de comunhão geral de ignorância e de iliteracia. Os comentadores que temos são quase sempre ignorantes e nada prudentes, pouco estudiosos e muito vaidosos, indigentes e nada sensatos. Sem nunca transportar o cidadão para a matéria e o desafio que o orador propôs, referindo o cuidado conceptual exposto e as impressões ou erros que o contraditório esgrimiu, os nossos dobrados comentadores-políticos travam de imediato a (sua) dura peleja contra o presumido adversário ideológico, como se fossem eles sábios e talentosos dirigentes partidários. Tais especiosos agitadores, que na maioria das vezes nem sabem do que estão a falar, diriam sempre idênticos superlativos, mesmo se o debate nunca tivesse existido. A cassete, essa, está sempre lá.
Veja-se, sobre o assunto, o prosaísmo dessa laudatória criatura, de nome João Vieira Pereira (Expresso, p. 8), que, qual vendedor de banha da cobra, afirma, em comentário ao debate Sócrates-Portas:"... este era porventura o mais difícil debate que Sócrates tinha pela frente, daqui em diante terá alguns passeios no parque com os restantes candidatos, inclusive com Manuel Ferreira Leite" [sic]. Escreve esta genialidade num jornal de referência. Bem-humorado e beneficente anda o rapaz, Henrique Monteiro.
Porém, o máximo exibicionismo dessa fancaria televisiva teve (ontem) lugar após o (apenas) melhor e mais esclarecedor debate, até à data, patrocinado por Louçã e Ferreira Leite. Em todas as TV’s (SIC-N, RTPN e TVI7), qual barraca de feira, divinamente surgiram um raminho de comentadores da boa escola da superstição liberal, quase sempre desleixados no belo argumento, que com respigadas tiradas garganteadas de remotos tempos económicos e com cabotina espuma labial, trataram o dr. Louçã com o desprezo e a idiotia que a D. Manuela não personificou.
O mundo dessas criaturas - com especial relevância para o ridículo João Duque, a bafienta Inês Serra Lopes, o mastigado Joaquim Aguiar ou aquele jovem decorativo que a RTPN nos deu a conhecer e que garante que os "custos salariais" das PME são mais determinantes para elas que os seus "custos financeiros" (o garrote financeiro das PME é para esse iluminado fruto, unicamente, da Lei Laboral) -, que nunca foram gestores de coisa alguma e nem a isso se candidataram, o mundo (económico e social) para tais sábios parou no tempo. Eis o ranço desses novos Velhos do Restelo!
Quando o sábio Joaquim Aguiar, em defesa do seu patrão Mello e sobre um pacífico assunto (pelo menos nos países civilizados) sobre a detenção pelo Estado de bens essenciais (referido por Louçã), regressa em assombro a 1975 (e cita até Melo Antunes), diz bem o atoleiro em que a saudosista e indigente intelectualidade nos meteu. E de que não há saída.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Sócrates VERSUS Portas: APEGAÇÕES SUAVES
"amabilis insania, et mentis gratissimus error"
Duas criaturas com egos do tamanho do mundo palestraram (ontem) na TVI. A extraordinária parelha, sem fadiga nem desvelo, limitou-se, numa escaveirada retórica, a papaguear as obras disparatadas das suas "autorizadas" vaidades. Gente sem crédito nem insónias, sem ideias nem talento, reincidiram em notícias & registos da obra passada, no meio de silencioso (e táctico) ruído. Sempre empavonados, assomadiços na sua verdade, nada acrescentaram à vacuidade das suas ideias. O fanatismo professo é total.
Neste debate entre o sr. Sócrates e o dr. Portas não houve lugar a novidades: o resoluto projecto pessoal de cada um está primeiro, o país (e a crise estrutural) vem pincelado depois. Afogados em patranhas, as criaturas, que nem intimamente se chocam, não são para levar a sério nas suas escolásticas intervenções.
Os argumentos de cada um são por demais conhecidos. Mas tão semelhantes são em soluções inertes, que não comovem ninguém. É uma grande imaginação supor agitadas diferenças entre Sócrates, o actual "chefe" reformador dos interesses da nova direita, e o dr. Portas, o aquartelado jovem do antigo e reacionário Portugal. O sr. Sócrates acantonou-se economicamente à probidade das corporações de interesses e ao lirismo da direita económica. Ninguém o derruba dos seus intuitos pessoais e de grupo. O embaraço de Portas (bem como da D. Manuela) e a procriação retrógrada dos herdeiros socráticos, assim o demonstra. Está lá tudo!
Da farraparia recolhida no debate de ontem fica-nos o seguinte: as contas públicas, a nossa colossal divida externa, o embuste sobre a actual situação da segurança social e o estado caótico e a qualidade da instrução pública – factura que as gerações vindouras irão pagar caro –, são para essa gente extravagâncias disparatadas no debate político. Tal repertório não é matéria de discussão, nesses inquilinos do poder.
Sabe-se apenas, humoristicamente, que Sócrates "dá o seu melhor", a fazer lembrar os escritos falados dessa faísca intelectual que dá pelo nome de Paulo Bento, e que os erros do ensino se "devem à democracia" (sic). Por seu lado, o dr. Portas – jovem plastificado à nascença – não estuda o suficiente (tal a sua amnésia de fantasia) para poder responder aos dislates inqualificáveis do adversário político (veja-se o caso da usual utilização bolsista do fundo da Segurança Social pelos vários governos e que o sábio Sócrates questionou) e até, em pitoresca afectação mental, se esqueceu da audaz glória de ter votado, em sede parlamentar, na Lei Penal, que agora dramatiza. Enfim, vulgares comediantes, em trapos vistosos.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
CADERNO DE LEMBRANÇAS & OUTROS APONTAMENTOS
1. "Há certas coisas em que a mediocridade é insuportável: a poesia, a música, a pintura, os discursos públicos" [La Bruyère]
2. OSTRAS EM FORMA DE SONHOS: "Abertas, e entesadas as ostras, ..., alimpem-se, e marinem-se em vinho branco com alho, cebolas, hervas finas, sal, pimenta, e rodas de limão; em estando marinadas o tempo necessário, escorram-se, enxuguem-se em um pannno; passem-se por uma polme feito com farinha, ovos, e vinho branco; depois frijam-se em manteiga clarificada, fritas, e de boa côr, sirvam-se para prato de entermeio, guarnecidas com salsa frita de roda" [in Annonia ou Mixto-Curioso. Folheto Semanal que ensina o Methodo de Cosinha e Copa com um artigo de Recreação, tomo II, nº22, Lisboa, Impr. De C.A.S.Carvalho, 1837]
3. ESTRADAS OFICIAIS: a circulação do indígena pelas estradas do interior da paróquia (municipais) é uma curiosa & ingénua aventura. Fora das auto-estradas, o desprevenido excursionista padece de todos os males: pisos (?) acidentados, escalavrados - que nem as bestas lá querem passar -, abomináveis, letreiros manhosos. Para a província, só de cocheiro! O Estado cuida que os lugares do interior são meros apeadeiros para uso da canalha. E que esta deve traquinar longe da civilização, preferencialmente, em gozo pedestre. Compreende-se, portanto, o admirável entusiasmo do(s) governo(s) (e das oposições) pelas modernas vias rápidas e as virtuosas auto-estradas da nação. E tal auditório conta, não por acaso, com a bênção de gratidão da eterna Brisa. Sempre a bem – dizem – da proveitosa Nação.
4. O SIMÕES: nas férias, o amador de livros não tem como evitar a ventura da ida ao Simões, estimado alfarrabista ancorado em Faro. Aos sábados, presume-se pela intriga do fim-de-semana algarvio, lá está o livreiro no seu frequentado estabelecimento, fatalmente envolto na sua costumada bata azul. Mas o festim não dá gozo, se bem que a fé bibliófila seja (ainda) inabalável. É que o comércio do livro antigo é, curiosamente, desconhecido nos Allgarves. Na verdade, o dr. Pinho afrouxou a sua benemérita acção propagandística e não soube insinuar a exigência de novos redis, em serviço do público ledor. Por isso mesmo, o nosso Simões-livreiro é a única figura com livraria e obra montada. Com tal monopólio, o nosso respeitável livreiro espreme-nos a bolsa, sim senhor, mas por outro lado enche-nos a alma. Só por isso, além das qualidades que manifesta no ofício, merece uma visita e deve constar nos roteiros.
5. OPOSIÇÃO. Em ensaio de apuro o sr. Sócrates faz oposição ao governo. É ouvi-lo prometer para os próximos anos, se tivermos paciência infinita, convictos e infindáveis projectos, maquetes e reformas aos paroquiantes, verdadeiramente assunto de bengalada contra o inepto governo que temos. É comovente a sua labuta por exigir medidas sociais, e curiosos planos na saúde, na justiça e educação, contra a insensível governação destes quatro anos de terror financeiro e de cárcere político. O governo que se cuide, pois não há lacaio, comediante, simplexe ou contra-regra que congregue a boa vontade. Aquilo é que é talento!
6. JOSÉ SEBAG
"... as palavras
que usamos
têm a idade que aparentam
atingidas pela velhice ou pelo descrédito
num alvoroço se oferecem ao abismo
despenhadas rolam
e se confundem com a lava
com a espuma tensa do tempo ainda intacto
para de novo nascerem noutra pátria
mais respirável ..."
7. Estamos de volta. Et pour cause
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
NOTÍCIAS DO VERANEIO
NOTÍCIAS DO VERANEIO
"alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler" [Ant. José Forte]
1. PASSEIOS PERIPATÉTICOS: Oliveira Martins (em cima na foto), o respeitável gestor das contas da paróquia – como prova do seu apuro nos buracos orçamentais e demais pastorícias – dá longas caminhadas no areal dos Allgarves. É vê-lo, rompendo a frescura da tarde e em pitoresca expedição, cismando nas erratas a fazer na repartição do pastor Sócrates. O gentio a banhos na Falésia sofre pelo seu infando cativeiro contabilístico. Nos Tomates, a tradição ainda é o que era.
2. INCURSÃO MONÁRQUICA: centenas de indígenas, que abrilhantavam com as suas caprichosas toilettes as festas amadoras no T Clube, perfilharam atónitos a milícia monárquica que tomou de assalto o castelo fortificado do sr. António Costa. O formidável ajuntamento seguiu depois, desembaraçadamente e após festim de circunstância, directamente da Quinta do Lago até ao solar do dr. Cavaco. Os Bons Primos de Faro (e Silves) riram-se do espaventoso préstimo.
3. FIM DA CRISE: comoveu o gentio do Reyno do Allgarve o decreto do fim da crise que o enternecido sr. Sócrates promulgou. Esse talentoso propagandista, repelindo a infausta "economia real" (inexistente para o douto engenheiro) e descrendo do perfil W da crise, fermentou tão copiosas teorias que os impressores do regime, de imediato, celebraram nos periódicos. O delírio (ou drama) foi tão comovente que inspirou o patético João Constâncio ("o filho do outro") para o seu teatrozinho filosófico. O engenho observou, ainda, pelo desagravo deputal do inefável regateiro Galamba (conhecido taberneiro do aparelho), a utilização de plebeísmos filológicos licenciosos ou "linguagem de hábito" para uso de futuro deputado. Eis a política, essa "putain respectueuse". Sartre dixit!
4. COSMOCÓPULA:
"O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta ..." [Natália Correia]
5. MAGNIFICAT: "Aconteceu-me uma poesia" [F. Pessoa]
Off. aos Excelentíssimos Ledores, com todas as licenças do sra. Lurdes Rodrigues, e ordinário com privilégio Socrático por 4 anos, com Censura da E.R.C.. Vende-se na loja da Kadoc, e na esquina do Liberto’s.
sábado, 8 de agosto de 2009
DE ABALADA
Este viçoso estabelecimento, onde se lavram protestos & se limam louvores variados, parte de novo para as terras do sul do Reyno. Iremos aportar no (sempre) temeroso Allgarve (tás desculpado Ó Manelinho!) – lux mundi da paróquia. Faremos incursões, silenciosas e sacras, a terras do Alentejo, altar da Terra. Continuaremos atentos à impiedosa estação política e literária.
Este estabelecimento não fecha durante as férias indígenas. Em vosso tributo!
Do mesmo modo, o Almanaque Republicano, continuará nos seus trabalhos profanos, na sua romagem à grande Alma Lusitana, em memória e coro festivo do quási-Centenário da República. A ociosidade do cronista não é nossa distracção nem será a nossa ruína. Estará aberto o Almanaque Republicano a V. Excias., sempre com o douto preceito: elegância e apuro da escolha. Uns partem, outros estão de regresso. Eis a "vida como ela é".
Boas Férias
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
BLOGS!?? ONDE ESTAVÁMOS NÓS???
A introdução (sempre essa problemática cruciante) dos blogs partidários na blogosfera doméstica entusiasmou tanto a plateia literária (ou pocilga política) que, de imediato, a praça pública, ora de gatas ora em finca-pé, homenageou laboriosamente tais criaturas. As histórias promulgadas no Simplex, de feição humorista-socratista, concorrem com o lento latejar da lida de inéditos da sra. Ferreira Leite, para os lados do Jamais.
Num, o depoimento político ou negócio de recados, capricha a necrologia do regime, a lembrar os vieux temps marcelistas, firmados pelo autorizado carteiro, com o "cabelinho à fosga-se", o sr. João Tiago Silveira. No outro estabelecimento, olhos fitos no trautear cavaquista, o viveiro arruinado da Rua de São Caetano à Lapa faz estampadas postas para conjurar a dita luxúria da escola do dr. Cavaco.
No primeiro, a ciência política é uma simplória gambiarra do governo, enquanto a economia política se lhes afigura uma epidemia glossológica (siga-se para o efeito, mansamente, os trabalhos desse leitor de lombadas financeiras, o jovem Galamba ou as primorosas estatísticas do superlativo Hugo Mendes). Naquele outro, o espectador conclui, invariavelmente, que não só a política precisa de ser modernaça (isto segundo a predicada bondade filosófica do paladino José Gomes André) como a sra. Ferreira Leite, antes & depois do balsedo eleitoral ou pela intensidade vulgaríssima da sua doutrina visionária e que tanto obrou em tempos idos, é essa salvação certa contra os tementes do sr. Sócrates.
Curiosamente, no Simplex, a pragmática celebrada (das origens ao presente) de alguns viciosos catilinários do sr. Sócrates & Maria de Lurdes segue o método exposto pelo subtil Curzio Malaparte (sempre de utilidade didáctica nestes assuntos). Isto é, a coberto dos interesses corporativos mais descarados (que não graciosamente ideológicos), prolifera a técnica de paralisar os adversários, concentrando esforços em objectivos principais e "atacar directa e duramente sem fazer barulho". Assim se explica o rancor analfabeto de João Paulo Pedrosa, crocando exteriorizadas postas reaccionárias contra certa esquerda, que o leva singularmente a nunca observar, manusear ou debater as políticas seguidas pelo seu patrono. Como aluno do sr. Santos Silva (o picaresco malhador), não poderia estar melhor. Não por acaso o rapaz, serôdia e tacanhamente, diz-se militante da ala direita do sr. Sócrates. Como se não o soubéssemos já!
terça-feira, 4 de agosto de 2009
DELFIM GUIMARÃES [N. 4 DE AGOSTO DE 1872]
Delfim de Brito Guimarães [Porto, 1872 – Amadora, 6 de Julho 1933] foi poeta, ensaísta, tradutor, bibliófilo [ver o curioso Catálogo do leilão da sua livraria], editor, republicano e maçon [iniciado em 1907 na Loja "O Futuro", de Lisboa].
Fundou a preciosa editora "Guimarães, Libânio e C.ª" [1899] onde foram editados livros de Cervantes, Tolstoi, Baudelaire, Victor Hugo, Zola, Alexandre Dumas, Goethe, Balzac, Gorki, Nietzsche ou Marx.
Locais: Delfim Guimarães / Guimarães Editores / Amadora [de F. Piteira Santos]
domingo, 2 de agosto de 2009
IN MEMORIAM DE M.S.LOURENÇO (1936-2009)
"O seu corpo, durante o banho, revelou para a posteridade o segredo da sua natureza genética: M. S. Lourenço era uma truta. As suas escamas caíram uma a uma e foram finalmente engolidas pelos esgotos do condado. Jaz no estrume de Dorchester com a esperança de se tornar num cacto" [in Pássaro Paradípsico]
"Quem dirá o numero dos meus dias?
Como será então o som da minha boca?
...
Quando encontrares o lugar do justo
Os campos cobrir-se-ão de trigo ..." [in Desenvolvimento, Wytham Abbey]
"Ainda ontem, que era dia santo, os homens andaram toda a tarde para trás e para a frente por causa dum motivo bem fútil: extinguir a concupiscência do mundo
...
Ontem sim, que era dia santo. Ontem é que toda a gente sabia da coisa. Esteve lá o Senhor Presidente do município ..." [in Imitação da Cruz, O Desequilibrista]
"Que espécie de palavras é esperança
É da cor da cinza
Sabe a feno antigo depois da chuva
Opaca ao tacto como o muro alto e branco
Cheira a traineiras
À corda húmida depois da pesca
O ritmo oscila na clave
O acento entre sílabas que conspiram átonas ..." [in Gama, Arte Combinatória]
"... A poética de M. S. Lourenço parte, quanto a mim, deste princípio: a poesia não tem que ser. A poesia é. Assim, não obedece a regras ou escolas, nem, tão pouco, a modas ou conveniências, sejam elas políticas, sociais ou religiosas. A poesia, pela sua essência e pela sua natureza, está permanentemente no estado amoroso de não alinhada, na exclusão do ordenamento, na perfeição de todas as imperfeições, na procura do indizível, na ausência de qualquer procedimento determinado. A poesia é e o poeta é um visionário ..." [Liberto Cruz, in M. S. Lourenço: O Desequilibrista Defenitivo]
LOCAIS: M. S. Lourenço / M.S. Lourenço [página pessoal] Uma Entrevista a M.S. Lourenço [Miguel Tamen] / Recordar M. S. Lourenço [Desidério Murcho] / Lourenço, M. S. [Colóquio Letras]
sábado, 1 de agosto de 2009
SACRIFICE – PORQUE HÁ NOUTES ASSIM
"As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente ..."
Herberto Helder, in A Faca não corta o fogo, 2008
A MINISTRA DE MIGUEL REAL – já nas LIVRARIAS
Conforme aqui dissemos está já nas livrarias o último livro de Miguel Real, "A Ministra". Faz parte de uma tetralogia de novelas dedicadas à mulher. Esta refere-se "a uma mulher maquiavélica, calculista, feia e má, que reduz a realidade ao cálculo dos seus interesses". Eis alguns extractos:
"Foi meu sonho como assistente universitária escrever um manual de construção e manipulação de números, tabelas e estatísticas, evidenciando ser a sua natureza um meio ao serviço de todos os fins, defensor de todas as teses, mesmo as mais contrárias e contraditórias; se era isto que Estaline praticava com o nome de «engenharia social», são estalinistas todas as instituições ou organizações sociais que trabalham com estatísticas, e fazem bem, é dever das elites não perturbar com hesitações, verdades problemáticas e indecisões a consciência ignorante e estupidificante das populações, mas iluminar-lhes o caminho através de uma certeza certeira, exposta com clareza aos olhos do vulgo, e, de facto, os números - pau para toda a obra, grão para todo o bico - servem para solidificar e cristalizar estas certezas certeiras. Como professora, as minhas aulas são objectivas, manipulo números e índices ensinando os alunos a inclinar as perguntas dos questionários de modo que não seja frustrada a previsão dos resultados, sei que os alunos me presumem fria e racional, é exactamente como me sinto, imune à emoções." [pp-28-29]
"Corre para o lado da direcção do vento, foi o conselho que o tio-pai me deu antes de morrer, assim mesmo, mal dito, mas de sentido verdadeiro, eu, pequenina, não percebi, mas fixei a frase na memória infantil e hoje não penso noutra coisa, aliás, desde que entrei na Faculdade e me casei que não penso noutra coisa, por isso fui, sem pudor nem convicção, marxista à seguir a revolução do 25 de Abril de 1974, uns breves meses, logo percebi que a inteligência e a riqueza se encontravam em outro lado, depois, assumi-me à frente dos alunos como social-democrata, e hoje sei-me qualquer coisa vaga como neoliberal, não sei o que serei amanhã, mas, se preciso for (...) afirmar-me-ei defensora de uma ditadura burocrática, administrativa, securitária e electrónica (...)" [p. 36]
"Há sete anos, na manhã da véspera de Natal, entreguei o meu primeiro relatório sobre o ensino secundário e a passagem dos alunos à vida activa ao então Ministério a Educação (…); escrevera no relatório que o estado da educação exigia uma revolução radical, trinta anos depois da revolução popular do 25 de Abril faltava fazer o 25 de Abril na educação, acabar de vez com a reprodução de um ensino de elites para elites e fazer o povo entrar na escola, não o povo em si, que já lá estava, a escola de massas era bem visível, os filhos dos trabalhadores possuíam frequência escolar, mas o espírito vulgar do povo, o espírito comum, banal; os programas e as matérias têm permanecido iluministas (fora a palavra que escrevera), visando fazer de cada aluno um pequeno sábio, matérias curriculares extensíssimas para regalo dos teóricos da educação, todo o ensino se destina à memorização de teorias ou, ao contrário, à aprendizagem de competências vazias, como o «saber fazer» ou o «saber aprender a aprender», inúteis na vida profissional, umas e outras, o ensino académico prevalece e esmaga o ensino técnico e tecnológico, originando uma alta taxa de reprovações, um ensino aristocrático para um povo ignorante dava como resultado o abandono em massa da escola pelos estudantes, é forçoso inverter este estado de coisas; em primeiro lugar, escrevia no relatório, facilitar tudo, simplificar todos os procedimentos, elaborar programas minúsculos com o essencial – só o essencial – das matérias, apresentadas do modo mais ligeiro possível (hesitei em escrever «do modo mais fácil possível»); depois, testes e exames exclusivamente sobre as questões essenciais, previamente marteladas em aulas sobre aulas, até à exaustão e o mais ingente dos alunos as compreender, passando de ano; em terceiro lugar, estabelecer como objectivo a passagem de 99% dos alunos, forçar os professores a eliminarem conceitos abstractos e explicações complexas, resumir, resumir, resumir, seria a nova palavra de ordem pedagógica, com a consequente eliminação de todo o conhecimento supérfluo: história de um conceito, eliminar; nomes de autores de invenções, de teorias, de descobertas, eliminar; questões filosóficas, eliminar; problematização de matérias, eliminar; levantamento de mais do que duas hipóteses de solução para a compreensão de uma questão, eliminar; raciocínios com mais do que três premissas, eliminar; matérias que exigem memorização para além da memória de trabalho, eliminar; em quarto lugar, responsabilizar os professores pelos resultados dos alunos, «como se responsabiliza o mecânico pelo arranjo do nosso carro», assim escrevera, considerando-o um óptimo exemplo; em quinto lugar, introduzir maciçamente o ensino profissional, eliminando deste, totalmente, matérias históricas, filosóficas e estéticas, os alunos deveriam aprender apenas o sumo dos sumos, nada mais, o mínimo que se exige para o início de uma profissão, nada mais; este era o espírito do povo que deveria presidir à nova reforma educativa, que se evidencia, acrescentara, como uma autêntica revolução pedagógica; num «P. 5.» esclarecedor, que registara num memorando confidencial para ser lido apenas pelo Primeiro-Ministro e pelo Ministro da Educação, considerara que esta revolução teria de ser feita contra os técnicos da educação das universidades e os professores das escolas públicas (...)" [pp. 40-42]
sexta-feira, 31 de julho de 2009
LIBERDADE RESPEITOSA
Paulo Querido organizou uma joeirada conferência – le dernier cri de idolatria ao poder – que mostrou arrumados bloggers à volta do sr. primeiro-ministro, radiantes do prodígio e mimados pelo agasalho. Tão inolvidável evento foi curioso de seguir, evidentemente ex-post, dada a natureza do choque tecnológico em curso.
E o que se passou nesse alpendre modernista? Ao que nos dizem, supõe-se que o sr. Sócrates se deixou folhear (docemente) numa sala (cantina da LX Factory), sóbria e à moda antiga, por consagrados génios da política indígena e outras tantas intelectivas eminências da bloguística paroquial. Nesse armazém de sabedoria ou sessão de esclarecimento o mistério para nós era saber o que fariam ali tão pasmados bloggers, como se de expositores de tratassem, fora do mau génio do seu teclado ou affaire tecnológico. Temos para nós (salvo veneráveis excepções) que se aos bloggers lhe tirarem o habitat natural, a costumada convicção ou erudição do blogger deixa de o atormentar e o seu reportório torna-se manso e sombrio. O que se verificou, piedosamente.
Depois, se a cenografia era fechada se bem que envolvente, os detalhes épicos desse inolvidável espectáculo foram esclarecedores. Um curioso grupo de delegados, que desconhecíamos que existissem fora das sedes partidárias ou do governo, apadrinhou a redacção do sr. Sócrates com prosa migada e palavras sem dor. Desses, que entrados na vida pública capricham no serviço, registe-se, pelo assombro do nervosismo e comicidade teatral, o marçano do ministério da educação de Lurdes Rodrigues, o jovem Hugo Santos Mendes (seguir todo o enredo aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Se na sua obra na Sociologia da Educação, onde o rapaz está matriculado, nada consta de excitante, já a inteligência do moço para dar recados ou conselhos ao sr. Presidente do Conselho é total. Curiosamente, Paulo Querido, o mestre-de-cerimónias, pelo que aqui se lê, conhece o intelecto do jovem Hugo tão bem como perfilha a ignorância do sr. Sócrates nos assuntos da governação. Só por tal audácia Paulo Querido pode dizer que a acção de propaganda foi um sucesso. Subscrevemos.
Em minúcia, o que se viu foi uma peça de fancaria governamental, um arraial saloio de meninas e meninos bem comportados a interpelar o admirável leader. Todos em "liberdade respeitosa". Todos dispostos à excitante ventura de fazer uma pergunta ao sr. presidente do conselho. Mas que se tratasse de uma, soi-disant, blog conferência é puro arroto semântico. Que nos desculpem.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
ECOS PARA O BLOGUISTA INSTRUÍDO
Da Ópera Bufa: comprai e dai a ler aos V. rebentos o novo guia do admirável leader, abreviado & escrito num serão da blogosfera, com diálogos entre o sábio aio e seus discípulos, composto em latim twittado e traduzido por Paulo Querido, mestre-de-cerimónias. Á venda nas filiais do Largo do Rato.
Do Discurso Inaugural: vai sair brevemente a novíssima epístola aos "Novos" bloguistas sobre a vida doméstica da paróquia nos próximos anos, posta a correr pela gloriosa patriarca laranja, Ferreira Leite, com sátiras, epigramas e anedotas eleitorais. Experimentado em laboratório. Verdadeiro tesouro contra a relaxação da moral económica e financeira da charneca lusitana. Pedidos à Rua de São Caetano à Lapa, nº 9.
De Lisboa: diatribes contra a timonice acerca da história geral das dívidas da vereação, novena ou exercício devoto desses dias originalíssimos, colegialmente coligidos pelo seráfico Lopes da D. Ferreira Leite e o comendador Costa, da colectividade "Amigos Socráticos". Com todo o género de materiais de desengano de erros comuns sobre bicas, fontes, praças públicas, S. Bento e outros lugares do termo. Brinde aos leitores do bloco central com o utilíssimo ecos da alma do escriba virtual Bettencourt Resendes. Tip. Diário de Noticias.
Do Troféu: curioso reportório dos tempos esquerdistas do sr. Vale de Almeida ou aventuranças de um homem de qualidade na pré-modernidade, recolhidas em todos os blogs da praça por um independente do mundo e da fortuna, com avisos e reflexões sobre o que deve obrar um gay para satisfação pessoal e conversa futura casamenteira. Passeios e digressões, com ou em estampas, nas vielas modernistas do sr. Sócrates. Dedicado à saudosa memória da classe operária.
Do Volteio: corre por aí, que o SIMPLEX, que se tornou um blog reputadamente honrado e esforçadamente socrático, acaba de publicar o primeiro fascículo do 25 de Abril de 1974. Aceita fotos de Valter Lemos ou na alternativa de José Miguel Júdice. Utilíssimo para postar a pregadores desenganados.
Do Passo de Escola: Irene Pimentel, mui atenta ao movimento "utopia” 1917, subscreve sem reservas a necessária avaliação de desempenho para os professores e investigadores do ensino universitário, da qual é hóspede. Para o efeito alugou o bar da Universidade Nova de Lisboa, para os chás dançantes.
Do Almocreve: colecção de miscelâneas, narrativas & folhetos para uso do vulgo contra o profundo sono do esquecimento, publicada com todas as licenças necessárias, a Occidente de Coimbra. Secção especial contra o antídoto celestial do sr. Sócrates e a profissão de fé de D. Ferreira Leite. Á venda nas boas livrarias e casas de passe.
DE ABALADA
"Já não há malhadas nem cantigas, não há desfolhadas nem beijos às raparigas"
De regresso ao Centro que a lida chama por nós. Deixámos terras encantadas, intimidades aconchegadas, conversas à tardinha. Os aromas vieram connosco. E os melhores ares que o tempo tece. Os campos e os sabores deixam soidade. Como a ternura dessa gente séria. Da serra bravia (como é dito no "Alentejo não tem sombra") não há qualquer monotonia, mesmo que a “solidão e o silêncio” só raramente se quebre. Por isso o cansaço não existe.
A pedido de várias "famílias" (via mail), pela paciência fugidia de não conseguirem ouvir (ali em baixo) o G.A.C., aqui V. postamos o cante desses homens de trabalho duro e mão suave. Que se o sonho morreu, a vida dos homens é eterna.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
ALENTEJO - SEMANA GASTRONÓMICA DO GASPACHO E DA TOMATADA
De 25 a 31 de Julho, de Almodôvar a Nisa e de Grândola a Elvas - V. Excia terá ocasião de se servir de pézinhos de tomatada, gaspacho pobre ou rico, gaspacho com jaquinzinhos fritos, gaspacho em cama de bacalhau fumado, sopa de tomate com ovos escalfados, galinha de campo de tomatada, migas de tomate com carapaus fritos, marinada de sardinhas fritas com migas de tomate, bochechas de porco de tomatada, cação frito com migas de tomate ou tamboril de tomatada e, evidentemente, terá oportunidade do prémio da doçaria conventual ... que o doce nunca amargou!
Ah! e seja competente e bravo no beber. À Vossa Saúde!
Locais: lista a consultar, AQUI.
HÁ DIAS ... ASSIM!
"Esta gente parece ter alma
porque a música está a tocar" [J.G.Ferreira]
Estamos entre a solidão da planície, histórias de ganhões, o cante sempre entoado e a protecção das belas letras. Estamos extravagantes! Recolhemos de madrugada por montados de sobro e veredas de estevas. A noute, a calma inspirada, a caça rude e as moças boas, matam-nos de desejo. De modos que a largada daqui é um desperdício de festa.
Esta vida estirada e longe da ralé que corre nos jornais - e pelo que parece o infausto cavaquismo está de volta, enquanto os amigos do sr. Sócrates rebolam em corrupio de prebendas – arrastam-nos de felicidade. Graças a S. Pedro – santo dos pastores -, umas malgas de sopas, comeres de gente e conduto farto, nos braços de aurora vamos lá seguindo. O nosso rafeiro está de atalaia. Não há engano: depois de um ensopado de carneiro e um requeijão a condizer estamos a coberto.
Boa noute!
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