quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Sócrates VERSUS Portas: APEGAÇÕES SUAVES
"amabilis insania, et mentis gratissimus error"
Duas criaturas com egos do tamanho do mundo palestraram (ontem) na TVI. A extraordinária parelha, sem fadiga nem desvelo, limitou-se, numa escaveirada retórica, a papaguear as obras disparatadas das suas "autorizadas" vaidades. Gente sem crédito nem insónias, sem ideias nem talento, reincidiram em notícias & registos da obra passada, no meio de silencioso (e táctico) ruído. Sempre empavonados, assomadiços na sua verdade, nada acrescentaram à vacuidade das suas ideias. O fanatismo professo é total.
Neste debate entre o sr. Sócrates e o dr. Portas não houve lugar a novidades: o resoluto projecto pessoal de cada um está primeiro, o país (e a crise estrutural) vem pincelado depois. Afogados em patranhas, as criaturas, que nem intimamente se chocam, não são para levar a sério nas suas escolásticas intervenções.
Os argumentos de cada um são por demais conhecidos. Mas tão semelhantes são em soluções inertes, que não comovem ninguém. É uma grande imaginação supor agitadas diferenças entre Sócrates, o actual "chefe" reformador dos interesses da nova direita, e o dr. Portas, o aquartelado jovem do antigo e reacionário Portugal. O sr. Sócrates acantonou-se economicamente à probidade das corporações de interesses e ao lirismo da direita económica. Ninguém o derruba dos seus intuitos pessoais e de grupo. O embaraço de Portas (bem como da D. Manuela) e a procriação retrógrada dos herdeiros socráticos, assim o demonstra. Está lá tudo!
Da farraparia recolhida no debate de ontem fica-nos o seguinte: as contas públicas, a nossa colossal divida externa, o embuste sobre a actual situação da segurança social e o estado caótico e a qualidade da instrução pública – factura que as gerações vindouras irão pagar caro –, são para essa gente extravagâncias disparatadas no debate político. Tal repertório não é matéria de discussão, nesses inquilinos do poder.
Sabe-se apenas, humoristicamente, que Sócrates "dá o seu melhor", a fazer lembrar os escritos falados dessa faísca intelectual que dá pelo nome de Paulo Bento, e que os erros do ensino se "devem à democracia" (sic). Por seu lado, o dr. Portas – jovem plastificado à nascença – não estuda o suficiente (tal a sua amnésia de fantasia) para poder responder aos dislates inqualificáveis do adversário político (veja-se o caso da usual utilização bolsista do fundo da Segurança Social pelos vários governos e que o sábio Sócrates questionou) e até, em pitoresca afectação mental, se esqueceu da audaz glória de ter votado, em sede parlamentar, na Lei Penal, que agora dramatiza. Enfim, vulgares comediantes, em trapos vistosos.