segunda-feira, 7 de setembro de 2009


DEBATES ELEITORAIS & COMENTADORES: O RANÇO

Não sei o que é o homem. Só sei o seu preço” [Brecht]

Os debates eleitorais se fossem feitos num país civilizado e comentados por criaturas intelectualmente genuínas, e não (como é o caso indígena) por sopradores ideologicamente ridículos ou maníacos ignorantes, teriam dignidade responsável e estima acrescida. Porém, cá pela paróquia espanejam-se nos jornais e, principalmente, alapam-se nas TV’s um curioso raminho de criaturas barulhentas (uma estrebaria quase se assemelha a um lugar de êxtase) e que recitam, todos e de igual modo (lembrando a velha Mocidade Portuguesa), os intelectivos complementos dos seus triunfantes repertórios partidários.

Os factos, as argumentações e os episódios ocorridos entre os candidatos eleitorais, passam a ser para esses prodigiosos comentadores, de imediato, um lugar de desabrida arena partidária e um grave reduto de comunhão geral de ignorância e de iliteracia. Os comentadores que temos são quase sempre ignorantes e nada prudentes, pouco estudiosos e muito vaidosos, indigentes e nada sensatos. Sem nunca transportar o cidadão para a matéria e o desafio que o orador propôs, referindo o cuidado conceptual exposto e as impressões ou erros que o contraditório esgrimiu, os nossos dobrados comentadores-políticos travam de imediato a (sua) dura peleja contra o presumido adversário ideológico, como se fossem eles sábios e talentosos dirigentes partidários. Tais especiosos agitadores, que na maioria das vezes nem sabem do que estão a falar, diriam sempre idênticos superlativos, mesmo se o debate nunca tivesse existido. A cassete, essa, está sempre lá.

Veja-se, sobre o assunto, o prosaísmo dessa laudatória criatura, de nome João Vieira Pereira (Expresso, p. 8), que, qual vendedor de banha da cobra, afirma, em comentário ao debate Sócrates-Portas:"... este era porventura o mais difícil debate que Sócrates tinha pela frente, daqui em diante terá alguns passeios no parque com os restantes candidatos, inclusive com Manuel Ferreira Leite" [sic]. Escreve esta genialidade num jornal de referência. Bem-humorado e beneficente anda o rapaz, Henrique Monteiro.

Porém, o máximo exibicionismo dessa fancaria televisiva teve (ontem) lugar após o (apenas) melhor e mais esclarecedor debate, até à data, patrocinado por Louçã e Ferreira Leite. Em todas as TV’s (SIC-N, RTPN e TVI7), qual barraca de feira, divinamente surgiram um raminho de comentadores da boa escola da superstição liberal, quase sempre desleixados no belo argumento, que com respigadas tiradas garganteadas de remotos tempos económicos e com cabotina espuma labial, trataram o dr. Louçã com o desprezo e a idiotia que a D. Manuela não personificou.

O mundo dessas criaturas - com especial relevância para o ridículo João Duque, a bafienta Inês Serra Lopes, o mastigado Joaquim Aguiar ou aquele jovem decorativo que a RTPN nos deu a conhecer e que garante que os "custos salariais" das PME são mais determinantes para elas que os seus "custos financeiros" (o garrote financeiro das PME é para esse iluminado fruto, unicamente, da Lei Laboral) -, que nunca foram gestores de coisa alguma e nem a isso se candidataram, o mundo (económico e social) para tais sábios parou no tempo. Eis o ranço desses novos Velhos do Restelo!

Quando o sábio Joaquim Aguiar, em defesa do seu patrão Mello e sobre um pacífico assunto (pelo menos nos países civilizados) sobre a detenção pelo Estado de bens essenciais (referido por Louçã), regressa em assombro a 1975 (e cita até Melo Antunes), diz bem o atoleiro em que a saudosista e indigente intelectualidade nos meteu. E de que não há saída.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009


Sócrates VERSUS Portas: APEGAÇÕES SUAVES

"amabilis insania, et mentis gratissimus error"

Duas criaturas com egos do tamanho do mundo palestraram (ontem) na TVI. A extraordinária parelha, sem fadiga nem desvelo, limitou-se, numa escaveirada retórica, a papaguear as obras disparatadas das suas "autorizadas" vaidades. Gente sem crédito nem insónias, sem ideias nem talento, reincidiram em notícias & registos da obra passada, no meio de silencioso (e táctico) ruído. Sempre empavonados, assomadiços na sua verdade, nada acrescentaram à vacuidade das suas ideias. O fanatismo professo é total.

Neste debate entre o sr. Sócrates e o dr. Portas não houve lugar a novidades: o resoluto projecto pessoal de cada um está primeiro, o país (e a crise estrutural) vem pincelado depois. Afogados em patranhas, as criaturas, que nem intimamente se chocam, não são para levar a sério nas suas escolásticas intervenções.

Os argumentos de cada um são por demais conhecidos. Mas tão semelhantes são em soluções inertes, que não comovem ninguém. É uma grande imaginação supor agitadas diferenças entre Sócrates, o actual "chefe" reformador dos interesses da nova direita, e o dr. Portas, o aquartelado jovem do antigo e reacionário Portugal. O sr. Sócrates acantonou-se economicamente à probidade das corporações de interesses e ao lirismo da direita económica. Ninguém o derruba dos seus intuitos pessoais e de grupo. O embaraço de Portas (bem como da D. Manuela) e a procriação retrógrada dos herdeiros socráticos, assim o demonstra. Está lá tudo!

Da farraparia recolhida no debate de ontem fica-nos o seguinte: as contas públicas, a nossa colossal divida externa, o embuste sobre a actual situação da segurança social e o estado caótico e a qualidade da instrução pública – factura que as gerações vindouras irão pagar caro –, são para essa gente extravagâncias disparatadas no debate político. Tal repertório não é matéria de discussão, nesses inquilinos do poder.

Sabe-se apenas, humoristicamente, que Sócrates "dá o seu melhor", a fazer lembrar os escritos falados dessa faísca intelectual que dá pelo nome de Paulo Bento, e que os erros do ensino se "devem à democracia" (sic). Por seu lado, o dr. Portas – jovem plastificado à nascença – não estuda o suficiente (tal a sua amnésia de fantasia) para poder responder aos dislates inqualificáveis do adversário político (veja-se o caso da usual utilização bolsista do fundo da Segurança Social pelos vários governos e que o sábio Sócrates questionou) e até, em pitoresca afectação mental, se esqueceu da audaz glória de ter votado, em sede parlamentar, na Lei Penal, que agora dramatiza. Enfim, vulgares comediantes, em trapos vistosos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009


CADERNO DE LEMBRANÇAS & OUTROS APONTAMENTOS

1. "Há certas coisas em que a mediocridade é insuportável: a poesia, a música, a pintura, os discursos públicos" [La Bruyère]

2. OSTRAS EM FORMA DE SONHOS: "Abertas, e entesadas as ostras, ..., alimpem-se, e marinem-se em vinho branco com alho, cebolas, hervas finas, sal, pimenta, e rodas de limão; em estando marinadas o tempo necessário, escorram-se, enxuguem-se em um pannno; passem-se por uma polme feito com farinha, ovos, e vinho branco; depois frijam-se em manteiga clarificada, fritas, e de boa côr, sirvam-se para prato de entermeio, guarnecidas com salsa frita de roda" [in Annonia ou Mixto-Curioso. Folheto Semanal que ensina o Methodo de Cosinha e Copa com um artigo de Recreação, tomo II, nº22, Lisboa, Impr. De C.A.S.Carvalho, 1837]

3. ESTRADAS OFICIAIS: a circulação do indígena pelas estradas do interior da paróquia (municipais) é uma curiosa & ingénua aventura. Fora das auto-estradas, o desprevenido excursionista padece de todos os males: pisos (?) acidentados, escalavrados - que nem as bestas lá querem passar -, abomináveis, letreiros manhosos. Para a província, só de cocheiro! O Estado cuida que os lugares do interior são meros apeadeiros para uso da canalha. E que esta deve traquinar longe da civilização, preferencialmente, em gozo pedestre. Compreende-se, portanto, o admirável entusiasmo do(s) governo(s) (e das oposições) pelas modernas vias rápidas e as virtuosas auto-estradas da nação. E tal auditório conta, não por acaso, com a bênção de gratidão da eterna Brisa. Sempre a bem – dizem – da proveitosa Nação.

4. O SIMÕES: nas férias, o amador de livros não tem como evitar a ventura da ida ao Simões, estimado alfarrabista ancorado em Faro. Aos sábados, presume-se pela intriga do fim-de-semana algarvio, lá está o livreiro no seu frequentado estabelecimento, fatalmente envolto na sua costumada bata azul. Mas o festim não dá gozo, se bem que a fé bibliófila seja (ainda) inabalável. É que o comércio do livro antigo é, curiosamente, desconhecido nos Allgarves. Na verdade, o dr. Pinho afrouxou a sua benemérita acção propagandística e não soube insinuar a exigência de novos redis, em serviço do público ledor. Por isso mesmo, o nosso Simões-livreiro é a única figura com livraria e obra montada. Com tal monopólio, o nosso respeitável livreiro espreme-nos a bolsa, sim senhor, mas por outro lado enche-nos a alma. Só por isso, além das qualidades que manifesta no ofício, merece uma visita e deve constar nos roteiros.

5. OPOSIÇÃO. Em ensaio de apuro o sr. Sócrates faz oposição ao governo. É ouvi-lo prometer para os próximos anos, se tivermos paciência infinita, convictos e infindáveis projectos, maquetes e reformas aos paroquiantes, verdadeiramente assunto de bengalada contra o inepto governo que temos. É comovente a sua labuta por exigir medidas sociais, e curiosos planos na saúde, na justiça e educação, contra a insensível governação destes quatro anos de terror financeiro e de cárcere político. O governo que se cuide, pois não há lacaio, comediante, simplexe ou contra-regra que congregue a boa vontade. Aquilo é que é talento!

6. JOSÉ SEBAG

"... as palavras
que usamos
têm a idade que aparentam

atingidas pela velhice ou pelo descrédito
num alvoroço se oferecem ao abismo

despenhadas rolam
e se confundem com a lava
com a espuma tensa do tempo ainda intacto

para de novo nascerem noutra pátria
mais respirável ..."

7. Estamos de volta. Et pour cause

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

LOVE IS POKER



LOVE IS POKER

NOTÍCIAS DO VERANEIO


NOTÍCIAS DO VERANEIO

"alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler
" [Ant. José Forte]

1. PASSEIOS PERIPATÉTICOS: Oliveira Martins (em cima na foto), o respeitável gestor das contas da paróquia – como prova do seu apuro nos buracos orçamentais e demais pastorícias – dá longas caminhadas no areal dos Allgarves. É vê-lo, rompendo a frescura da tarde e em pitoresca expedição, cismando nas erratas a fazer na repartição do pastor Sócrates. O gentio a banhos na Falésia sofre pelo seu infando cativeiro contabilístico. Nos Tomates, a tradição ainda é o que era.

2. INCURSÃO MONÁRQUICA: centenas de indígenas, que abrilhantavam com as suas caprichosas toilettes as festas amadoras no T Clube, perfilharam atónitos a milícia monárquica que tomou de assalto o castelo fortificado do sr. António Costa. O formidável ajuntamento seguiu depois, desembaraçadamente e após festim de circunstância, directamente da Quinta do Lago até ao solar do dr. Cavaco. Os Bons Primos de Faro (e Silves) riram-se do espaventoso préstimo.

3. FIM DA CRISE: comoveu o gentio do Reyno do Allgarve o decreto do fim da crise que o enternecido sr. Sócrates promulgou. Esse talentoso propagandista, repelindo a infausta "economia real" (inexistente para o douto engenheiro) e descrendo do perfil W da crise, fermentou tão copiosas teorias que os impressores do regime, de imediato, celebraram nos periódicos. O delírio (ou drama) foi tão comovente que inspirou o patético João Constâncio ("o filho do outro") para o seu teatrozinho filosófico. O engenho observou, ainda, pelo desagravo deputal do inefável regateiro Galamba (conhecido taberneiro do aparelho), a utilização de plebeísmos filológicos licenciosos ou "linguagem de hábito" para uso de futuro deputado. Eis a política, essa "putain respectueuse". Sartre dixit!

4. COSMOCÓPULA:

"O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta ...
" [Natália Correia]

5. MAGNIFICAT: "Aconteceu-me uma poesia" [F. Pessoa]

Off. aos Excelentíssimos Ledores, com todas as licenças do sra. Lurdes Rodrigues, e ordinário com privilégio Socrático por 4 anos, com Censura da E.R.C.. Vende-se na loja da Kadoc, e na esquina do Liberto’s.

sábado, 8 de agosto de 2009


DE ABALADA

Este viçoso estabelecimento, onde se lavram protestos & se limam louvores variados, parte de novo para as terras do sul do Reyno. Iremos aportar no (sempre) temeroso Allgarve (tás desculpado Ó Manelinho!) – lux mundi da paróquia. Faremos incursões, silenciosas e sacras, a terras do Alentejo, altar da Terra. Continuaremos atentos à impiedosa estação política e literária.

Este estabelecimento não fecha durante as férias indígenas. Em vosso tributo!

Do mesmo modo, o Almanaque Republicano, continuará nos seus trabalhos profanos, na sua romagem à grande Alma Lusitana, em memória e coro festivo do quási-Centenário da República. A ociosidade do cronista não é nossa distracção nem será a nossa ruína. Estará aberto o Almanaque Republicano a V. Excias., sempre com o douto preceito: elegância e apuro da escolha. Uns partem, outros estão de regresso. Eis a "vida como ela é".

Boas Férias


In-Libris – Livros de Agosto 2009

A In-Libris (Porto) apresenta lote de livros antigos de temática variada, com destaque para um curioso conjunto sobre judaísmo.

A consultar o catálogo on line.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009


BLOGS!?? ONDE ESTAVÁMOS NÓS???

A introdução (sempre essa problemática cruciante) dos blogs partidários na blogosfera doméstica entusiasmou tanto a plateia literária (ou pocilga política) que, de imediato, a praça pública, ora de gatas ora em finca-pé, homenageou laboriosamente tais criaturas. As histórias promulgadas no Simplex, de feição humorista-socratista, concorrem com o lento latejar da lida de inéditos da sra. Ferreira Leite, para os lados do Jamais.

Num, o depoimento político ou negócio de recados, capricha a necrologia do regime, a lembrar os vieux temps marcelistas, firmados pelo autorizado carteiro, com o "cabelinho à fosga-se", o sr. João Tiago Silveira. No outro estabelecimento, olhos fitos no trautear cavaquista, o viveiro arruinado da Rua de São Caetano à Lapa faz estampadas postas para conjurar a dita luxúria da escola do dr. Cavaco.

No primeiro, a ciência política é uma simplória gambiarra do governo, enquanto a economia política se lhes afigura uma epidemia glossológica (siga-se para o efeito, mansamente, os trabalhos desse leitor de lombadas financeiras, o jovem Galamba ou as primorosas estatísticas do superlativo Hugo Mendes). Naquele outro, o espectador conclui, invariavelmente, que não só a política precisa de ser modernaça (isto segundo a predicada bondade filosófica do paladino José Gomes André) como a sra. Ferreira Leite, antes & depois do balsedo eleitoral ou pela intensidade vulgaríssima da sua doutrina visionária e que tanto obrou em tempos idos, é essa salvação certa contra os tementes do sr. Sócrates.

Curiosamente, no Simplex, a pragmática celebrada (das origens ao presente) de alguns viciosos catilinários do sr. Sócrates & Maria de Lurdes segue o método exposto pelo subtil Curzio Malaparte (sempre de utilidade didáctica nestes assuntos). Isto é, a coberto dos interesses corporativos mais descarados (que não graciosamente ideológicos), prolifera a técnica de paralisar os adversários, concentrando esforços em objectivos principais e "atacar directa e duramente sem fazer barulho". Assim se explica o rancor analfabeto de João Paulo Pedrosa, crocando exteriorizadas postas reaccionárias contra certa esquerda, que o leva singularmente a nunca observar, manusear ou debater as políticas seguidas pelo seu patrono. Como aluno do sr. Santos Silva (o picaresco malhador), não poderia estar melhor. Não por acaso o rapaz, serôdia e tacanhamente, diz-se militante da ala direita do sr. Sócrates. Como se não o soubéssemos já!

terça-feira, 4 de agosto de 2009


DELFIM GUIMARÃES [N. 4 DE AGOSTO DE 1872]

Delfim de Brito Guimarães [Porto, 1872 – Amadora, 6 de Julho 1933] foi poeta, ensaísta, tradutor, bibliófilo [ver o curioso Catálogo do leilão da sua livraria], editor, republicano e maçon [iniciado em 1907 na Loja "O Futuro", de Lisboa].

Fundou a preciosa editora "Guimarães, Libânio e C.ª" [1899] onde foram editados livros de Cervantes, Tolstoi, Baudelaire, Victor Hugo, Zola, Alexandre Dumas, Goethe, Balzac, Gorki, Nietzsche ou Marx.

Locais: Delfim Guimarães / Guimarães Editores / Amadora [de F. Piteira Santos]

domingo, 2 de agosto de 2009


IN MEMORIAM DE M.S.LOURENÇO (1936-2009)

"O seu corpo, durante o banho, revelou para a posteridade o segredo da sua natureza genética: M. S. Lourenço era uma truta. As suas escamas caíram uma a uma e foram finalmente engolidas pelos esgotos do condado. Jaz no estrume de Dorchester com a esperança de se tornar num cacto" [in Pássaro Paradípsico]

"Quem dirá o numero dos meus dias?
Como será então o som da minha boca?
...
Quando encontrares o lugar do justo
Os campos cobrir-se-ão de trigo ...
" [in Desenvolvimento, Wytham Abbey]

"Ainda ontem, que era dia santo, os homens andaram toda a tarde para trás e para a frente por causa dum motivo bem fútil: extinguir a concupiscência do mundo
...
Ontem sim, que era dia santo. Ontem é que toda a gente sabia da coisa. Esteve lá o Senhor Presidente do município ..." [in Imitação da Cruz, O Desequilibrista]

"Que espécie de palavras é esperança
É da cor da cinza
Sabe a feno antigo depois da chuva
Opaca ao tacto como o muro alto e branco
Cheira a traineiras
À corda húmida depois da pesca
O ritmo oscila na clave
O acento entre sílabas que conspiram átonas ...
" [in Gama, Arte Combinatória]

"... A poética de M. S. Lourenço parte, quanto a mim, deste princípio: a poesia não tem que ser. A poesia é. Assim, não obedece a regras ou escolas, nem, tão pouco, a modas ou conveniências, sejam elas políticas, sociais ou religiosas. A poesia, pela sua essência e pela sua natureza, está permanentemente no estado amoroso de não alinhada, na exclusão do ordenamento, na perfeição de todas as imperfeições, na procura do indizível, na ausência de qualquer procedimento determinado. A poesia é e o poeta é um visionário ..." [Liberto Cruz, in M. S. Lourenço: O Desequilibrista Defenitivo]

LOCAIS: M. S. Lourenço / M.S. Lourenço [página pessoal] Uma Entrevista a M.S. Lourenço [Miguel Tamen] / Recordar M. S. Lourenço [Desidério Murcho] / Lourenço, M. S. [Colóquio Letras]

sábado, 1 de agosto de 2009



SACRIFICE – PORQUE HÁ NOUTES ASSIM

"As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente ..."

Herberto Helder, in A Faca não corta o fogo, 2008

A MINISTRA DE MIGUEL REAL nas LIVRARIAS

Conforme aqui dissemos está já nas livrarias o último livro de Miguel Real, "A Ministra". Faz parte de uma tetralogia de novelas dedicadas à mulher. Esta refere-se "a uma mulher maquiavélica, calculista, feia e má, que reduz a realidade ao cálculo dos seus interesses". Eis alguns extractos:

"Foi meu sonho como assistente universitária escrever um manual de construção e manipulação de números, tabelas e estatísticas, evidenciando ser a sua natureza um meio ao serviço de todos os fins, defensor de todas as teses, mesmo as mais contrárias e contraditórias; se era isto que Estaline praticava com o nome de «engenharia social», são estalinistas todas as instituições ou organizações sociais que trabalham com estatísticas, e fazem bem, é dever das elites não perturbar com hesitações, verdades problemáticas e indecisões a consciência ignorante e estupidificante das populações, mas iluminar-lhes o caminho através de uma certeza certeira, exposta com clareza aos olhos do vulgo, e, de facto, os números - pau para toda a obra, grão para todo o bico - servem para solidificar e cristalizar estas certezas certeiras. Como professora, as minhas aulas são objectivas, manipulo números e índices ensinando os alunos a inclinar as perguntas dos questionários de modo que não seja frustrada a previsão dos resultados, sei que os alunos me presumem fria e racional, é exactamente como me sinto, imune à emoções." [pp-28-29]

"Corre para o lado da direcção do vento, foi o conselho que o tio-pai me deu antes de morrer, assim mesmo, mal dito, mas de sentido verdadeiro, eu, pequenina, não percebi, mas fixei a frase na memória infantil e hoje não penso noutra coisa, aliás, desde que entrei na Faculdade e me casei que não penso noutra coisa, por isso fui, sem pudor nem convicção, marxista à seguir a revolução do 25 de Abril de 1974, uns breves meses, logo percebi que a inteligência e a riqueza se encontravam em outro lado, depois, assumi-me à frente dos alunos como social-democrata, e hoje sei-me qualquer coisa vaga como neoliberal, não sei o que serei amanhã, mas, se preciso for (...) afirmar-me-ei defensora de uma ditadura burocrática, administrativa, securitária e electrónica (...)" [p. 36]

"Há sete anos, na manhã da véspera de Natal, entreguei o meu primeiro relatório sobre o ensino secundário e a passagem dos alunos à vida activa ao então Ministério a Educação (…); escrevera no relatório que o estado da educação exigia uma revolução radical, trinta anos depois da revolução popular do 25 de Abril faltava fazer o 25 de Abril na educação, acabar de vez com a reprodução de um ensino de elites para elites e fazer o povo entrar na escola, não o povo em si, que já lá estava, a escola de massas era bem visível, os filhos dos trabalhadores possuíam frequência escolar, mas o espírito vulgar do povo, o espírito comum, banal; os programas e as matérias têm permanecido iluministas (fora a palavra que escrevera), visando fazer de cada aluno um pequeno sábio, matérias curriculares extensíssimas para regalo dos teóricos da educação, todo o ensino se destina à memorização de teorias ou, ao contrário, à aprendizagem de competências vazias, como o «saber fazer» ou o «saber aprender a aprender», inúteis na vida profissional, umas e outras, o ensino académico prevalece e esmaga o ensino técnico e tecnológico, originando uma alta taxa de reprovações, um ensino aristocrático para um povo ignorante dava como resultado o abandono em massa da escola pelos estudantes, é forçoso inverter este estado de coisas; em primeiro lugar, escrevia no relatório, facilitar tudo, simplificar todos os procedimentos, elaborar programas minúsculos com o essencial – só o essencial – das matérias, apresentadas do modo mais ligeiro possível (hesitei em escrever «do modo mais fácil possível»); depois, testes e exames exclusivamente sobre as questões essenciais, previamente marteladas em aulas sobre aulas, até à exaustão e o mais ingente dos alunos as compreender, passando de ano; em terceiro lugar, estabelecer como objectivo a passagem de 99% dos alunos, forçar os professores a eliminarem conceitos abstractos e explicações complexas, resumir, resumir, resumir, seria a nova palavra de ordem pedagógica, com a consequente eliminação de todo o conhecimento supérfluo: história de um conceito, eliminar; nomes de autores de invenções, de teorias, de descobertas, eliminar; questões filosóficas, eliminar; problematização de matérias, eliminar; levantamento de mais do que duas hipóteses de solução para a compreensão de uma questão, eliminar; raciocínios com mais do que três premissas, eliminar; matérias que exigem memorização para além da memória de trabalho, eliminar; em quarto lugar, responsabilizar os professores pelos resultados dos alunos, «como se responsabiliza o mecânico pelo arranjo do nosso carro», assim escrevera, considerando-o um óptimo exemplo; em quinto lugar, introduzir maciçamente o ensino profissional, eliminando deste, totalmente, matérias históricas, filosóficas e estéticas, os alunos deveriam aprender apenas o sumo dos sumos, nada mais, o mínimo que se exige para o início de uma profissão, nada mais; este era o espírito do povo que deveria presidir à nova reforma educativa, que se evidencia, acrescentara, como uma autêntica revolução pedagógica; num «P. 5.» esclarecedor, que registara num memorando confidencial para ser lido apenas pelo Primeiro-Ministro e pelo Ministro da Educação, considerara que esta revolução teria de ser feita contra os técnicos da educação das universidades e os professores das escolas públicas (...)" [pp. 40-42]

sexta-feira, 31 de julho de 2009


LIBERDADE RESPEITOSA

Paulo Querido organizou uma joeirada conferência – le dernier cri de idolatria ao poder – que mostrou arrumados bloggers à volta do sr. primeiro-ministro, radiantes do prodígio e mimados pelo agasalho. Tão inolvidável evento foi curioso de seguir, evidentemente ex-post, dada a natureza do choque tecnológico em curso.

E o que se passou nesse alpendre modernista? Ao que nos dizem, supõe-se que o sr. Sócrates se deixou folhear (docemente) numa sala (cantina da LX Factory), sóbria e à moda antiga, por consagrados génios da política indígena e outras tantas intelectivas eminências da bloguística paroquial. Nesse armazém de sabedoria ou sessão de esclarecimento o mistério para nós era saber o que fariam ali tão pasmados bloggers, como se de expositores de tratassem, fora do mau génio do seu teclado ou affaire tecnológico. Temos para nós (salvo veneráveis excepções) que se aos bloggers lhe tirarem o habitat natural, a costumada convicção ou erudição do blogger deixa de o atormentar e o seu reportório torna-se manso e sombrio. O que se verificou, piedosamente.

Depois, se a cenografia era fechada se bem que envolvente, os detalhes épicos desse inolvidável espectáculo foram esclarecedores. Um curioso grupo de delegados, que desconhecíamos que existissem fora das sedes partidárias ou do governo, apadrinhou a redacção do sr. Sócrates com prosa migada e palavras sem dor. Desses, que entrados na vida pública capricham no serviço, registe-se, pelo assombro do nervosismo e comicidade teatral, o marçano do ministério da educação de Lurdes Rodrigues, o jovem Hugo Santos Mendes (seguir todo o enredo aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Se na sua obra na Sociologia da Educação, onde o rapaz está matriculado, nada consta de excitante, já a inteligência do moço para dar recados ou conselhos ao sr. Presidente do Conselho é total. Curiosamente, Paulo Querido, o mestre-de-cerimónias, pelo que aqui se lê, conhece o intelecto do jovem Hugo tão bem como perfilha a ignorância do sr. Sócrates nos assuntos da governação. Só por tal audácia Paulo Querido pode dizer que a acção de propaganda foi um sucesso. Subscrevemos.

Em minúcia, o que se viu foi uma peça de fancaria governamental, um arraial saloio de meninas e meninos bem comportados a interpelar o admirável leader. Todos em "liberdade respeitosa". Todos dispostos à excitante ventura de fazer uma pergunta ao sr. presidente do conselho. Mas que se tratasse de uma, soi-disant, blog conferência é puro arroto semântico. Que nos desculpem.

quarta-feira, 29 de julho de 2009


ECOS PARA O BLOGUISTA INSTRUÍDO

Da Ópera Bufa: comprai e dai a ler aos V. rebentos o novo guia do admirável leader, abreviado & escrito num serão da blogosfera, com diálogos entre o sábio aio e seus discípulos, composto em latim twittado e traduzido por Paulo Querido, mestre-de-cerimónias. Á venda nas filiais do Largo do Rato.

Do Discurso Inaugural: vai sair brevemente a novíssima epístola aos "Novos" bloguistas sobre a vida doméstica da paróquia nos próximos anos, posta a correr pela gloriosa patriarca laranja, Ferreira Leite, com sátiras, epigramas e anedotas eleitorais. Experimentado em laboratório. Verdadeiro tesouro contra a relaxação da moral económica e financeira da charneca lusitana. Pedidos à Rua de São Caetano à Lapa, nº 9.

De Lisboa: diatribes contra a timonice acerca da história geral das dívidas da vereação, novena ou exercício devoto desses dias originalíssimos, colegialmente coligidos pelo seráfico Lopes da D. Ferreira Leite e o comendador Costa, da colectividade "Amigos Socráticos". Com todo o género de materiais de desengano de erros comuns sobre bicas, fontes, praças públicas, S. Bento e outros lugares do termo. Brinde aos leitores do bloco central com o utilíssimo ecos da alma do escriba virtual Bettencourt Resendes. Tip. Diário de Noticias.

Do Troféu: curioso reportório dos tempos esquerdistas do sr. Vale de Almeida ou aventuranças de um homem de qualidade na pré-modernidade, recolhidas em todos os blogs da praça por um independente do mundo e da fortuna, com avisos e reflexões sobre o que deve obrar um gay para satisfação pessoal e conversa futura casamenteira. Passeios e digressões, com ou em estampas, nas vielas modernistas do sr. Sócrates. Dedicado à saudosa memória da classe operária.

Do Volteio: corre por aí, que o SIMPLEX, que se tornou um blog reputadamente honrado e esforçadamente socrático, acaba de publicar o primeiro fascículo do 25 de Abril de 1974. Aceita fotos de Valter Lemos ou na alternativa de José Miguel Júdice. Utilíssimo para postar a pregadores desenganados.

Do Passo de Escola: Irene Pimentel, mui atenta ao movimento "utopia1917, subscreve sem reservas a necessária avaliação de desempenho para os professores e investigadores do ensino universitário, da qual é hóspede. Para o efeito alugou o bar da Universidade Nova de Lisboa, para os chás dançantes.

Do Almocreve: colecção de miscelâneas, narrativas & folhetos para uso do vulgo contra o profundo sono do esquecimento, publicada com todas as licenças necessárias, a Occidente de Coimbra. Secção especial contra o antídoto celestial do sr. Sócrates e a profissão de fé de D. Ferreira Leite. Á venda nas boas livrarias e casas de passe.

DE ABALADA

"Já não há malhadas nem cantigas, não há desfolhadas nem beijos às raparigas"

De regresso ao Centro que a lida chama por nós. Deixámos terras encantadas, intimidades aconchegadas, conversas à tardinha. Os aromas vieram connosco. E os melhores ares que o tempo tece. Os campos e os sabores deixam soidade. Como a ternura dessa gente séria. Da serra bravia (como é dito no "Alentejo não tem sombra") não há qualquer monotonia, mesmo que a “solidão e o silêncio” só raramente se quebre. Por isso o cansaço não existe.

A pedido de várias "famílias" (via mail), pela paciência fugidia de não conseguirem ouvir (ali em baixo) o G.A.C., aqui V. postamos o cante desses homens de trabalho duro e mão suave. Que se o sonho morreu, a vida dos homens é eterna.

quarta-feira, 22 de julho de 2009


ALENTEJO - SEMANA GASTRONÓMICA DO GASPACHO E DA TOMATADA

De 25 a 31 de Julho, de Almodôvar a Nisa e de Grândola a Elvas - V. Excia terá ocasião de se servir de pézinhos de tomatada, gaspacho pobre ou rico, gaspacho com jaquinzinhos fritos, gaspacho em cama de bacalhau fumado, sopa de tomate com ovos escalfados, galinha de campo de tomatada, migas de tomate com carapaus fritos, marinada de sardinhas fritas com migas de tomate, bochechas de porco de tomatada, cação frito com migas de tomate ou tamboril de tomatada e, evidentemente, terá oportunidade do prémio da doçaria conventual ... que o doce nunca amargou!

Ah! e seja competente e bravo no beber. À Vossa Saúde!

Locais: lista a consultar, AQUI.

HÁ DIAS ... ASSIM!

"Esta gente parece ter alma
porque a música está a tocar
" [J.G.Ferreira]

Estamos entre a solidão da planície, histórias de ganhões, o cante sempre entoado e a protecção das belas letras. Estamos extravagantes! Recolhemos de madrugada por montados de sobro e veredas de estevas. A noute, a calma inspirada, a caça rude e as moças boas, matam-nos de desejo. De modos que a largada daqui é um desperdício de festa.

Esta vida estirada e longe da ralé que corre nos jornais - e pelo que parece o infausto cavaquismo está de volta, enquanto os amigos do sr. Sócrates rebolam em corrupio de prebendas – arrastam-nos de felicidade. Graças a S. Pedro – santo dos pastores -, umas malgas de sopas, comeres de gente e conduto farto, nos braços de aurora vamos lá seguindo. O nosso rafeiro está de atalaia. Não há engano: depois de um ensopado de carneiro e um requeijão a condizer estamos a coberto.

Boa noute!

sábado, 18 de julho de 2009



HUNTER S. THOMPSON


HUNTER S. THOMPSON [n.18 Julho 1937-2005]

"Winston Churchill said "The first casualty of War is always Truth." Churchill also said "In wartime, the Truth is so precious that it should always be surrounded by a bodyguard of Lies."

"Quando as coisas ficam estranhas, o estranho vira profissional."

"... The eye of the journalist would be functioning as a camera. The writing would be selective and necessarily interpretative but once the image was written, the words would be final; in the same way that a Cartier-Bresson photograph is always (he says) the full-frame negative. No alterations in the darkroom, no cutting or cropping, no spotting... No editing ."

Locais: Hunter S. Thompson Biography / Hunter S. Thompson / The Great Thompson Hunt (Books) / Hunter S. Thompson [Salon] / Hunter S. Thompson Dies at 67 [WP] / Security by Hunter S. Thompson (1955) / Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson [NYT]

sexta-feira, 17 de julho de 2009


IN MEMORIAM HERMÍNIO PALMA INÁCIO - AQUI

O Almanaque Republicano publicou (por enquanto) 2 (dois) posts para um In Memoriam a Hermínio da Palma InácioAQUI e AQUI.

Num tempo de frescas tintas revisionistas da história, em que nem o sarcasmo satisfaz os desejos dos mais jubilosos, faz bem - ao pesquisar, ler, escrever e encontrar tanta vida nessas vidas - acreditar num tempo outro dos Homens e na importância outrora da Palavra. Neste tempo abusado de "arrotos comoventes" à governação (qualquer uma), nesta "feira cabisbaixa" que é a paróquia, a "viver sem projecto" ou alma nacional, é bom mergulhar – sem veneração, mas com narrativas abraçadas contra esse "respeitinho" a modos de ser preciso (O’Neil, sempre!) – na nossa história contemporânea recente.

Quando num só dia se ouve uma sra., que é Ministra da Educação de um país dito civilizado, pregar o ódio contra os educadores, pincelando enormidades educacionais incompreensíveis – pelo menos, para quem estuda há dezenas e dezenas de anos esses assuntos – e cegamente desvairadas na sua pequenez intelectual; quando é dado assistir ao provinciano e reaccionário Alberto João, sempre desbragado quanto saudosista do rapé autoritário, expelindo as suas sandwiches ou circulares aos indígenas; e quando numa madrugada, para acabar a praga, se assiste na TV – "Directo ao Assunto", RTPN - a uma série de disparates, acompanhados de um imprevisto espumar de raiva por um rapazinho - masquée com monóculo de "esquerda" - contra homens dignos, contra trabalhadores da educação, contra sindicalistas e a instrução pública, percebe-se porque razão Salazar governou o que governou e este país é o que é.

Não é uma simples sonoridade pós-moderna, uma sandice ideológica ou mera fúria geracional, como alguns exprimem em imprudência: é a exibição de uma descarada falta de estudo, de esforço intelectual e de trabalho profano, à mistura com uma irritabilidade e vaidade paranóica. Tudo bem regado – que o arraial promete sempre prebendas –, entre muita ignorância e falsificação histórica, de afadigadas loas à governação.

Contra isso, faz bem à alma acompanhar homens assim.

quinta-feira, 16 de julho de 2009


A ARTE DE CONVERSAR E A INSTRUÇÃO À MOCIDADE

Pelo que é dado ver/ouvir, a sábia governança anda a precisar de plano de acompanhamento. Pelo que acabámos de assistir, parece que o plano de recuperação do sr. Miguel Vale de Almeida - distinto lente do ISCTE em expertise de pecados ideológicos -, na sua memorável acareação entre a "deriva neo-liberal" e o "centrão" ou movida social-democrata, não desconstruiu paternalmente as competências e a quietação intelectual dessa gente. Em rigor, o sr. Vale de Almeida caiu no regaço dessa sopa caseira, algures entre o PSD e o grupo do sr. Sócrates, mas o seu exercício de civilidade excitou pouco o gentio para o seu novo projecto "fracturante". Adivinham-se novos e fantásticos sebenteiros (o ISCTE é um alfobre deles) para a recuperação da revolução conservadora.

A angústia do acto de falar daqueles três senhores, no vídeo acima, não é só a perversão libidinosa da língua – a remeter para a fala como objecto fálico de rara incestuosidade política – mas, o trompe-l’oeil a que se assiste na educação (e no resto da fazenda), deixa vestígios de uma curiosa embalagem dos muros do asilo (saudades de ler Gentis) que é a paróquia do sr. Sócrates & Cia.

O sr. Vale de Almeida, com a arquitecta Helena pela arreata, julga que tais atropelos domésticos estão definitivamente esquecidos e que o descalabro social e económico do país nunca existiu. O sr. Vale de Almeida, com a arquitecta Helena agora caída no boudoir do sr. Costa, julga que a humilhação destes anos de cárcere do sr. Sócrates - e que denomina, com muita graça, "projecto de modernização" - merece um voto sequer. O sr. Vale de Almeida, com a arquitecta Helena bisonha politicamente, julga que atrás do biombo reacionário do país só se esconde o sr. Santana Lopes ou a "velha" sra. Ferreira Leite. O sr. Vale de Almeida, recalcado da sua experiência corporal e política, está inteligentemente enganado. Estão muitos e entre eles espreita o grupo do sr. Sócrates.

O mundo da modernidade interior do sr. Vale só a ele e aos amigos (egoisticamente) lhes interessam. Por enquanto o gozo de cidadania ainda é o nosso. O vampirismo ideológico de outros não nos diz nada. Era o que faltava!

terça-feira, 14 de julho de 2009

LIVRARIA MANUEL SANTOS - CATÁLOGO TEMÁTICO


LIVRARIA MANUEL SANTOS - CATÁLOGO TEMÁTICO

Apresenta a Livraria Manuel Santos (Vila Nova de Gaia - Rua Prof. Urbano de Moura. C. C. Vilagaia - Lj. 18) um curioso Catálogo Temático de obras sobre maçonaria, teosofia, ocultismo, todas elas saídas do prelo da muito estimada Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira.

Refira-se as invulgares peças de João Antunes [ver nota bio-biográfica nossa AQUI e AQUI], que dirigiu para a editora a prestigiada "Colecção Teosófica e Esotérica"; obras de Annie Besant, de C. W. Leadbeater e o curioso (e raro) "Budhismo Esoterico", de A. P. Sinnett.

Consultar o Catálogo online.

CATÁLOGO de JULHO – Livraria Olisipo

Acaba de sair o Catálogo de Julho da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa), de José Vicente.

Referências: Actas. Congresso Internacional de História dos Descobrimentos, Lisboa. 1961, VIII vols / Toponímia Histórica da Guarda, por Virgílio Afonso, ed. CMG, 1984 / Subsídios para a História da Sociedade Rural no Concelho de Oleiros. Dissertação lic. Ciências Históricas e Filosóficas de Olga Antunes Alves,1951 / Promptuario analytico dos Carros Nobres da Casa Real Portuguesa e das Carruagens de Gala, por M. J.M.Pereira Botto, 1909, tomo I (único publ.) / Cancioneiro da Biblioteca Nacional (Antigo Colocci-Brancuti), Lisboa, VIII vols / Roteiro do Arquivo Municipal de Coimbra, por José Branquinho de Carvalho (sep. Arq. Coimbrão, com pref. F. Pinto Loureiro), 1947 / O Pelourinho. Critica da nossa história política desde 1817 a 1904, pró António Claro, Vol I (1817-1850) / Lendas da Índia, de Gaspar Correia, 1975, IV vols / A Democracia Nacional, por Paiva Couceiro, Coimbra, 1917 / Outras Terras Outras Gentes (Viagens em África), de Henrique Galvão, II vols / Grandes e Humildes na Epopeia Portuguesa do Oriente, pelo Visconde de Lagoa, 1942-43, II vols / A Entrevista. Sem Santo nem senha, por Joaquim Leitão (entrevistas célebres), 1913-14, XX numrs / Famílias de Portugal, por Jacinto Leitão Manso de Lima, Lisboa, 1925, XXVI vols / Livros Portugueses. 1489-1600. Da Bibliotheca de Sua majestade Fidelíssima. Descrito por S. M. El-Rei D. Manuel II, 1929-35, III vols / Obras dos Príncipes de Avis. Livro da Montaria. Leal Conselheiro. Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela. O Livro da Virtuosa Benfeitoria. Livro dos Ofícios (intr. e revisão de M. Lopes de Almeida. Porto), 1981 / São Paulo, de Teixeira de Pascoaes, Porto, 1934 / Memória sobre a História e Administração do Município de Setúbal, de Alberto Pimentel, 1992, (2ªed.) / Ponte sobre o Tejo entre o Beato e o Montijo. Programa de Concurso. Caderno de encargos e estudo geológico. Lisboa. Ministério das Obras Públicas e Comunicações. 1934 / PORTUGALIAE MONUMENTA HISTORICA ... [import e valiosa. Publ. por Alexandre Herculano, João Pedro da Costa Basto, Sousa Monteiro, Braamcamp Freire, Pedro de Azevedo e António Baião] / Historia dos Estabelecimentos Scientificos ..., por José Silvestre Ribeiro, 1871-93, XVIII tomos / Quadro Elementar das Relações Politicas e Diplomáticas de Portugal ..., pelo Visconde de Santarém, 1840-62, XIX vols / Trabalhos da Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa, 1934-43, VII vols.

Consultar o Catálogo online.

segunda-feira, 13 de julho de 2009


Homossexuais - Perseguidos no Estado Novo

A revista Pública [do jornal Público] apresentou neste Domingo (12/07), três curiosos artigos de São José Almeida sobre a questão/situação homossexual durante o Estado Novo:

"O Estado Novo dizia que não havia homossexuais, mas perseguia-os", texto com diversos testemunhos, referências pessoais e com utilidade bibliográfica dispersa

[refira-se: revista Lilás (sucessora da revista Organa); "O Estado Novo e os Seus Vadios" (Susana Pereira Bastos, D. Quixote, 1997); "Quotidianos Femininos 1900-1933" (tese de mestrado de Paulo Guinote); "Do Acto à Identidade: Orientação Sexual e Estruturação Social" (Octávio Gameiro, 1998).

NOTA: mesmo não se tratando de nenhum ensaio ou desconhecendo se existe uma verdadeira bibliografia geral homossexual por cá – o que sendo inexistente, revela o peso dessa "semitolerância envergonhada e claustrofóbica" herdada de todos esses anos - seria possível citar/incluir, ainda, "Fractura. A condição homossexual na literatura portuguesa contemporânea" (Eduardo Pitta, 2003), "A Homossexualidade Masculina" (António José Ferreira Afonso, 1995), "A Homossexualidade Feminina" (Teresa Castro d’Aire, 1996) ou os diversos trabalhos publicados de António Fernandes Cascais (como, por ex., "Dos estudos gays e lésbicos à teoria Queer", in Fenda, 2004), no próprio artigo]

mas [texto] algo confuso, aliás como bem nota Ademar Santos. Aliás, bem curioso é o facto que, sempre que se fala sobre a problemática da homossexualidade na paróquia, nos seus vários discursos ou na discriminação/repressão de personagens, surge de imediato o recurso a factos/situações ocorridos com militantes do PCP (repressão policial e sua marginalização partidária), num tolerante e aparente branqueamento da condição e produção homossexual em Portugal noutros registos ideológicos ao longo do tempo;

um segundo artigo, "Amor numa Cadeia da PIDE" [refª. à dirigente do PC Fernanda de Paiva Tomás]; e por último, "Guerra Colonial. Sim, havia maior liberdade sexual, mas um oficial matou-se na parada" [sobre as práticas homossexuais entre os militares na guerra colonial].

Adenda: ler os textos, AQUI (via Caminhos da Memória)

domingo, 12 de julho de 2009


VIVA RAOUL HAUSMANN!

"O que é Dada?
Uma arte? uma filosofia? uma política?
Um seguro contra fogo?
Ou: religião estatal?
Dada é energia verdadeira?
Ou é coisa nenhuma, i.e., tudo?
" [Raoul Hausmann, 1919]

Raoul Hausmann [n. 12 Julho de 1886-1 de Fevereiro 1971]

D'OUTRO TEMPO - ACTUALIZAÇÃO

Adelino Pires apresenta, para ardentes e luminosos bibliófilos, novas peças de muita estimação.

"... Perdoe-me um silêncio que foi efeito do imenso trabalho que não vejo diminuir... Calcule que acabei uma tese de doutoramento sobre "Unamuno e Portugal".... Ainda bem que o meu convite para o "Pessanha" o tentou... Qual responsabilidade qual nada! E é V. desconhecido, despois do Oxford Book revised by You?..." [in Carta manuscrita de Jorge de Sena "dirigida a Bernardo Vidigal, 2 pag., assinada e datada (Assis,6/6/960). Com envelope selado". – ver AQUI]

"... Bom e justo seria destruir a afirmação gratuita daquele velho republicano, a quem Deus tenha perdoado, de que os poetas portugueses querem... a União Ibérica. Eu, o mais pequeno de todos, firmemente posso clamar que nenhum deles, - creio! - deseja a mais leve sombra sobre a independência pátria... Portugal é um Verso heróico e livre..." [carta manuscrita de António Corrêa d' Oliveira "de conteúdo patriótico, dirigida a G.M. (do Jornal A VOZ), 2 pag., assinada e datada (Quinta de Belinho, Espozende, 26 Fevereiro 1930)".]

Ainda: Carta manuscrita de Agustina Bessa-Luis, Pedro Homem de Mello; obras de Mário Dionísio, Vitorino Nemésio, Gervásio Lima e Manuel da Fonseca.

Consultar AQUI.

sexta-feira, 10 de julho de 2009


MÁSCARAS DA UTOPIA: HISTÓRIA DO TEATRO UNIVERSITÁRIO EM PORTUGAL 1938-74

Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo apresentam HOJE (pelas 18,30 horas) no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian o livro "Máscaras da Utopia: História do Teatro Universitário em Portugal 1938-1974", de José Oliveira Barata.

"... três décadas de actividade dos grupos de teatro académico, abrangendo o período de 1938 a 1974. Ao aprofundar os percursos de grupos como o TEUC(Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra), o TUP(Teatro Universitário do Porto), o CITAC (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), o Grupo Cénico da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa ou o Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa, entre outros, o livro reenvia inevitavelmente para a vida cultural e política da época, em pleno Estado Novo, marcada por fortes restrições à expressão criativa e liberdade associativa ...

Ao longo de quase 400 páginas, reúne informação relevante sobre a vida destes grupos universitários, historiando o seu percurso e identificando, de um modo muito completo, os principais intervenientes. Ao mesmo tempo, procura responder a várias questões como, por exemplo, quem defendeu ou procurou impedir o projecto do Teatro Universitário, de que modo se articulavam os projectos dos vários grupos de teatro universitário com a oposição política do país ou que importância teve o teatro protagonizado por estudantes universitários no diálogo com o teatro profissional e com o teatro amador ..." [ler mais AQUI]

Máscaras da Utopia: História do Teatro Universitário em Portugal 1938-1974 - de José Oliveira Barata, FCG, 2009

JOÃO GONÇALVES, SEM TÉDIO

"os homens se despedem, /.../ lançando ao mar os barcos de outra vida" [Jorge de Sena]

O Portugal dos Pequeninos, qual "espreitador do mundo novo", subiu numa tarde calmosa de Julho às terras da Figueira. Não cuidou sequer nas sábias palavras de Ramalho Ortigão, quando este confessa ao entrar na vila, "terror mesclado de tédio", em tempos de banhos. Não! João Gonçalves, em exercício espiritual, não tem desses abismos de alma. O mar, a foz do Mondego, a qualidade do manjar na Celeste Russa (que me perdoe a minha amiga Rosa Amélia pelo bordado culinário) e, principalmente, o pronunciamento nos dias do Festival de Cinema (saudade eterna), restabelecem-no na sua bem-aventurança. Até porque "hoje não tem importância que os versos estejam errados ou não" (Jorge de Sena, claro).

O Portugal dos Pequeninos, assim temperado, deu livre comunicação aos seus alevantados pensamentos, no encontro com os leitores. Foi cáustico na rebelião, casto nos arrochos, elegante nas informalidades. As admiráveis tiradas ou perturbações das ordens do regime, foram judiciosas. Pouco irritadiças! Quase ternas. João Gonçalves veio à Figueira, alumiou sentimentos, falou com sinceridade sobre a paróquia, pediu mentes esclarecidas e livres. Sem salvadores! Em troca ficou de continuar a dar-nos o prazer da sua letra, o luxo da sua ironia. E assim se espera que cumpra!

quinta-feira, 9 de julho de 2009


IN-LIBRIS - LIVROS DE JULHO 2009

A In-Libris (Porto) apresenta um lote de livros antigos e estimados de temática variada (monografias, poesia, literatura, história, política, etnografia, filosofia, ensaio, teatro, etc.).

Referências: Antologia do Humor Português, Ed. Ribeiro de Melo, 1969 / As Puppilas do Senhor Reitor (c/ilustrações de Roque Gameiro), de Júlio Diniz, s.d. / Manual do Jardineiro-Amador, de Joaquim Casimiro Barbosa, 1892-3, III vols / Teoremas de Filosofia (revista), Porto, 2000-2005 / Cadernos Despertar (único vol. Publicado), Amadora, 1982 / [raro] Catálogo da Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, Porto, s.d. / [curioso] Álbum do Gerez, Tip. da Casa Editora Alcino Aranha & Cª., s.d. / Manual do Typographo, de Joaquim dos Anjos, 1900 / Monografias do Caldas do Gerez, Barcelos, Igreja de S. Pedro de Rates, Vimioso, Igreja Matriz de Valongo, Guimarães (Roteiro) / Obras de (sobre) Afonso Duarte, Agostinho da Silva, Almada Negreiros, Agustina Bessa-Luís, Al Berto, Amadeu de Souza Cardoso, António Francisco Barata, Camões, Cunha Leal, Eça de Queiroz, Egas Moniz, Fernando de Abranches-Ferrão, Jacinto Prado Coelho, Jorge de Sena, Luís Pedro (Acrónios), Matias Aires, Miguel Torga, Natália Correia, Vergílio Ferreira.

A consultar on line.

NÃO PERCAS A ROSA

"Inapetente para a meticulosidade pachorrenta dos registos sistemáticos — por índole poética perfilho as sísteses das vivências acumuladas —, foi-me então estranhável iniciar este diário nas horas entusiásticas em que deflagraram os acontecimentos que lhe foram dando forma (...)"

Natália CorreiaNÃO PERCAS A ROSA. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 — 20 de Dezembro de 1975), Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1978

in CATÁLOGO da Livraria In-Libris.

[postado tb. no Almanaque Republicano]

ANTÍGONA – 30 ANOS DE ABASTANÇA

"A editora Antígona nasceu com uma ideia de subversão no seu interior e não necessitou de fazer mais nada. A coerência não é pensada; é vivida momento a momento, como consequência duma atitude, antes. A Antígona é assim porque é ela, porque sou eu – como diria Étienne de La Boétie ...

Não existe uma literatura à margem. O que existe são experiências de vida marginais, que se reflectem naturalmente na escrita ...

Não sei o que vai acontecer ao livro no futuro; terá muito a ver com a evolução das sociedades. Na Antígona, o salto não será para trás, porque penso que nada substituirá o livro enquanto objecto. O prazer de ler no sofá ou em cima de uma árvore, de o leitor se deter em certas passagens, de sublinhar esta ou aquela frase, não me parece substituível. Naturalmente, não nego o progresso, mas não alinho em modas ou necessidades de consumo. Decididamente, não serei um aliado do capitalismo…

Não há, em Portugal, uma tradição subversiva ..."

[Luís Oliveira]

"Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder, e muito menos se atribuem números aos militantes." [Carlos da Fonseca]

Locais: Frenesi / Manuel Portela: «Antígona: 30 Anos» / Luís Oliveira, sobre os 30 anos da Antígona (I) / Luís Oliveira, sobre os 30 anos da Antígona (II) / Antígona: 30 Anos / Livraria Letra Livre

quarta-feira, 8 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009


EXAMES PAROQUIAIS

"Tivemos provas mais justas, mais adequadas e sem truques" [Maria Lurdes Rodrigues] - "As pautas estão desastrosas, em especial a Português" - "Lá se foi a praia" - "Menos investimento, menos trabalho e menos estudo” do lado dos alunos" [Maria Ludes Rodrigues]- "Os professores estão chateados com o ministério e nós é que sofremos. Os que sabiam analisar poesia e Pessoa não passam e os que põem as cruzinhas no sítio certo têm bons resultados". - "Desde o ano passado que mudou qualquer coisa nos exames de Português" [in Público] - "Não procurei o facilitismo do programa Novas Oportunidades. Trabalhei e estudei ao mesmo tempo durante três anos e passei várias noites sem dormir. Estou essencialmente chateado por as coisas estarem tão subjectivas e mal feitas". - Em conferência de imprensa, o secretário de Estado Valter Lemos alargou o leque de responsáveis, juntando a Sociedade Portuguesa de Matemática e "partidos e pessoas com responsabilidades políticas". "É um desincentivo ao estudo e ao trabalho", sublinhou. [in Público] - "Quando me esforço e não aprendo a incompetência só pode ser do professor, por exclusão de partes", "Há muitos maus alunos com excelentes resultados". - "Se alguém anunciou facilidades foi o ministério com a prova [de Matemática] do ano anterior, que foi escandalosamente fácil. O que prejudica os alunos é a variação do grau de dificuldade e dos critérios de ano para ano. Isso fez baixar o tempo que dedicam à preparação para a prova". [Nuno Crato] - "Um Viva às Estatísticas" - "O director do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), responsável pela realização das provas, sublinhou a elevada correlação que existe entre o desempenho dos alunos na escola, ao longo do ano lectivo, e no momento dos exames. Os bons alunos na avaliação contínua são os que se saem melhor nas provas nacionais, o que "prova" que estes testes são "justos" e adequados aos programas leccionados, concluiu" [Expresso]

LE COQ PORTUGUÊS

"Galo bom nunca foi gordo" [Popular]

O artista M. Sousa Tavares, rapaz que fareja nas moitas da literatura chã, é um modelo de virtude caseira, um desassombrado na exposição sentimental, uma lenda viva da nossa paróquia. Espanta, pois, o conteúdo do seu último pastiche, agora escriturado na forma de entrevista. O Tavares, ainda a fazer a digestão dos "votozinhos" suspirados por D. Lurdes Rodrigues, manifesta um ror de divagações inebriantes no seu depoimento, capaz de equipar a altíssima missão do sr. Sócrates.

A fazer fé no artista Tavares, que é sempre "telefonado" em sinal de reconhecimento do seu opinioso protestatório e por ora elevado à imortalidade da "rua" (ou comércio intelectual), o sr. Sócrates (com quem almoça e – diz – conversa) perdeu a cabeça, qual "jogador de casino" e "não sabe o que é que há-de fazer, se há-de jogar o dobro ou desistir". Excelente descoberta! A historiografia há-de lembrar, para todo o sempre, o arrojo do argumento e a eloquência da discursata do sr. Tavares.

Mesmo sem exercitar qualquer opinião ou calamidade paroquial, a confissão do escriba do "Equador" é brutal e esmaga. Jamé tal respeitável análise ocorreu na produção versada do sr. Bettencourt Resendes, nem viu luz na sempre intuitiva sentença do sr. Luís Delgado. Muito menos abriu a inteligência ou o delito verbal do ministro Augusto Santos Silva. A visão do artista Tavares pode estar temperada de razão, qual Confúcio indígena, mas o panfleto esotérico registado só nos lembra – comprovando – que a epidemia de "artistas" que obram sem sujar a capa do regime não tem sossego. O folhetinista M. Sousa Tavares é, fora as mazelas da sua escrita de maçada, acima de tudo um verdadeiro coq português: sempre a cantar, anafado de aleluias originais, a sua vaidade sapientíssima. Mas como se sabe, "galo bom nunca foi gordo"!