quinta-feira, 19 de novembro de 2009

HOMENAGEM A TARCÍSIO TRINDADE


HOJE – 17 HORAS NA RUA DO ALECRIM, 44 – HOMENAGEM A TARCÍSIO TRINDADE

“A história da Livraria Campos Trindade é a história da minha família e este sítio, sem dúvida diferente e especial, nasce da força e perseverança da pessoa que hoje todos homenageamos, Tarcísio Trindade, o meu pai (…) Conheci e conheço muitos livreiros, mas nenhum como o “senhor Trindade”, com um à-vontade tão grande no domínio do livro antigo português, com perfeita noção dos livros que via, comprava e vendia, tudo isto acompanhado de uma generosidade única, muitas vezes incompreendida, inclusive por mim. O gozo desta profissão, no meu pai, sempre esteve no acto de descobrir os livros e também no que proporcionava aos amigos, clientes e livreiros ou futuros livreiros, iniciando também muita gente no comércio do livro antigo …“

[Bernardo Trindade, in Catálogo 1]

“LIVREIRO ALFARRABISTA de projecção nacional e internacional, Tarcísio Trindade tem lugar de evidência na história da cultura portuguesa. Possui conhecimento profundo da introdução e difusão da tipografia europeia nos séculos XV e XVI e das espécies bibliográficas mais famosas que existem, dentro e fora de Portugal, em bibliotecas públicas e privadas. A sua loja, na Rua do Alecrim, tornou-se, presentemente, a última tertúlia erudita de Lisboa frequentada por intelectuais, artistas e coleccionadores portugueses e estrangeiros. Pode classificar-se uma antecâmara da Academia das Ciências, da Academia da História e até da Academia Nacional de Belas-Artes …”

[António Valdemar, in Catálogo 1]

“Este cuidado com a apresentação da mercadoria é, sem dúvida, hábito familiar
inveterado, de que facilmente se apercebe quem entra na lisboeta Livraria Alfarrabista da Rua do Alecrim, onde Tarcísio Trindade se instalou na década de 70: todos os objectos em exposição, depois de limpos e devolvidos à sua frescura original, são arrumados, como manda a melhor tradição do display comercial, da maneira mais conveniente a um exame dos seus traços fundamentais. Nada de atropelos, nada de misturas ao arrepio da própria natureza das coisas, nada de barafundas: cada objecto integrado no ambiente do interior da loja, como se, mesmo antes de mudar de mãos, estivesse já a viver uma vida autónoma …”

[Artur Anselmo,in Catálogo 1]

Tornei-me naturalmente uma visita frequente da Livraria Campos Trindade, e o passar do tempo haveria de cimentar uma relação de confiança que fez de Tarcísio um dos meus mais queridos amigos (…)Acompanhando-o, como o acompanhei, fui beneficiário da sua vastíssima cultura, e como todos os seus clientes, da sua correcção e seriedade impecáveis (…)Conhecedor profundo do livro e da história da edição, Tarcísio Trindade foi meu permanente e sábio conselheiro …”

[Luís Bigotte Chorão, in Catálogo 1]

HOMENAGEM HOJE – 17 horas na Livraria Campos Trindade, Rua do Alecrim, 44, Lisboa

[ver Catálogo, AQUI]

foto: espólio J.M.M.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009


HOMENAGEM A TARCÍSIO TRINDADE

DIA 19 (Quinta-feira), pelas 17 horas lançamento do 1º CATÁLOGO de livros Antigos e Raridades na Livraria CAMPOS TRINDADE.

A não faltar!

A SUPREMA NÁUSEA


Esse "cadáver político" que dá pelo nome de José Sócrates – curioso sujeito que um dia a História julgará – pode obrar as mutações de carácter pessoal que melhor entender; pode sustentar uma variedade de amigos e protectores, seguros e insaciáveis de interesses e benesses, em defesa da sua imaculada honra; até mesmo se pode aceitar (em sua defesa) que ande cativo da média ou da canalha da rua, e deste modo arremessado como um qualquer dissoluto ou pária; mas não deixa de revelar aos cidadãos, nessa sua insânia de poder e delírio de casta, em tudo o que tacteia, participa e manda, esse espectáculo nauseabundo de participação e decapitação do Estado de Direito e do regime democrático.

Campo minado de interesses conflituantes, a instituição judicial não resistiu aos abusos do poder partidário, à lógica da promiscuidade política. E não soube, no seu articulado normativo-jurídico e no seu edifício processual, desconstruir essa desordem. O pastiche e a esquizofrenia que estes dias têm afluído a público, via caso "Face Oculta", é um arrazoado inédito e pasmoso, um enxovedo discursivo insanável às instituições e aos seus interlocutores, um convite e incentivo à prevaricação da classe política, uma afronta ao Estado de Direito e aos cidadãos.

Mais que os arremedos formais ou processuais, que ninguém de boa fé entende, nem mesmo esses cérebros mirrados dos opinadores, ou melhor, para lá do formalismo processual em todo este caso, a narrativa política depara-se com escrivães obedientes, com sujeitos enturvados na lide partidária, com bobos da corte.

Afinal, que dizer da criadora interpretação material posta a circular pelo sr. PGR sobre a não existência de "indícios probatórios" que podiam levar à instauração de procedimento criminal a José Sócrates? Acaso é da sua exacta incumbência e atribuição? E como considerar a alucinante, tanto como provocatória, declaração do actual ministro da Economia, Vieira da Silva, considerando existir "espionagem política", sem que um processo lhe tombe sobre a sua desmiolada cabeça? Acaso um governante, um simplório ministro, pode ofender publicamente toda a magistratura, e passar impune? E que dizer do recorrente Santos Silva (ou do sr. Lello), agora a vigorizar direito e a malhar nos magistrados? Pode comportar-se tais procedimentos? Pode o sr. Presidente da República e o Supremo Tribunal de Justiça, com todos estes embaraços, não entrarem na querela? Ao que tudo indica, parece que sim. As omissões são ensurdecedoras. E esclarecem e sinalizam o regime a que temos direito. E a sua ruína.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

OS “BASTARDOS” KEYNESIANOS & OS OUTROS


Faz tempo que a tribo dos comentadeiros económicos, sempre barulhenta a puxar pelos galões académicos, não acumula dizeres de circunstância sobre a crise. Ou sobre a crise da crise. A capitosa desdita desses ilustrados sujeitos, agora em serenidade Socrática, não é (apenas) esse macaquear de teorias e de vaticínios maravilhosos (que estudaram mal ou só de amostras), mas o facto de o seu palavroso stock em torno da política económica estar mordente nos desagravos.

A genuflexão à governação feita por todos esses artistas (ou "bastardos" keynesianos) sobre os negócios da fazenda, foi um fenómeno curioso de acompanhar. Entre nós, nesta (dizem) ubérrima paróquia, e em especial durante a campanha eleitoral, os bancos, os Varas & Constâncios, o lendário regulador e os artísticos investidores privados, estavam todos bem (obrigado!), enquanto a ruína do modelo era assunto pouco infeccioso. O sábio Mete-lo lá ia teorizando o seu receituário fútil; os Danieis (Bessas & Amarais) afagavam em benzina as teorias que perjuravam na cátedra, enquanto autenticavam mais uma sebenta macroeconómica; os srs. direcktores dos jornalecos económicos de ocasião iam mobilando a edição com louvores ao sr. Teixeira dos Santos; os moçoilos socráticos, espécie de albergue de obras-pias, lastimavam-se dos pérfidos neo-liberais, enquanto à sorrelfa iam desmontando a sua agência de matrimónio liberal; e até o cónego Carlos Santos, nos seus momentos-Sócrates via Simplex, produziu as melhores falácias académicas do reyno universitário, pelo que foi de imediato acompanhado pelo rapaz Galamba, agora a deputar em S. Bento. Todos úteis "bastardos" do keynesianismo. Todos sábios. Todos a caminho da fortuna política.

Entretanto Paul Krugman no NYT Magazine, a 2 de Setembro deste ano da graça do sr. Sócrates, tratava esses imaginosos e eruditos domésticos (os abandonados de Keynes) à letra. Pela paróquia não se leu, para lá de piquenas minúcias taberneiras, uma qualquer recensão económica, uma reflexão eminente & decente, vinda dos nossos "bastardos" indígenas. E nem mesmo a charanga keynesiana foi aparatosamente derreada por esse génio liberal que é o sr. João Miranda, iracundo blasfemo. O recato em torno de Krugman prometia e era total.

Nós por cá, sem fervor de matilha mas em gargalhada profana, seguimos atentamente o dissidente Krugman. E apresentamos, “How Did Economists Get It So Wrong?”, em língua de Camões. Para "bastardo" estudar. E fazer-se assinante.



[clicar no Fullscreen para ler melhor]

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

SERMÃO DO BOM LADRÃO


Suponho finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este género de vida, porque a mesma sua miséria, ou escusa, ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: juratur enim ut esurientem impleat animam. O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao Inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera (...) Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. - Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. - Ditosa Grécia, que tinha tal pregador!

Padre António Vieira - Sermão do Bom Ladrão, 1655 [ler texto todo AQUI]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

BERLIM


“Nada está morto excepto o que ainda está por vir
Ao lado do passado luminoso incolor é o porvir” [Apollinaire]

"Pois sabíamos até bem demais
O próprio ódio da imundície
Faz a fronte ficar severa.
A própria raiva contra a injustiça
Faz a voz ficar áspera. Ai de nós, nós que
Queríamos lançar as bases da bondade
Não podemos nós mesmos ser bondosos" [Brecht – "À Posteridade"]

"Me sento à beira da estrada
O motorista troca uma roda.
Não gosto do lugar de onde venho.
Não gosto do lugar para onde vou.
Por que fico olhando com impaciência
Como ele troca a roda?" [Brecht – "Trocando a Roda"]

"Agora o medo abandonou a maior parte dos homens
e o infinito já não tem nenhuma palavra afectuosa,
uma palavra aterradora para lhes dizer.
Vazios bocejantes crescem junto a vazios bocejantes" [Arp]

"uma história só perdura nas cinzas
e persistência é apenas extinção" [Montale]

in "A Verdade da Poesia", de Michael Hamburger

domingo, 8 de novembro de 2009

LEILÃO DA COLECÇÃO CAPUCHO - BIBLIOTECA (Parte III)


Continuação do invulgar Leilão do riquíssimo espólio (Colecção e Biblioteca de António Capucho) que foi pertença de António Emídio Ferreira de Mesquita da Silva (1918-2009), pai do Presidente da C.M. de Cascais, António d’Orey Capucho, conforme AQUI referimos antes.

Amanhã (dia 9) e a continuar no dia seguinte (dia 10), pelas 15 horas, no Palácio do Correio Velho (Calçada do Combro, 38 A, 1º, Lisboa), decorrerá o LEILÃO da escolhida e riquíssima BIBLIOTECA CAPUCHO (III parte). A não perder.

consultar o Catálogo AQUI.

sábado, 7 de novembro de 2009

CATÁLOGO-HOMENAGEM A TARCÍSIO TRINDADE


O estimado livreiro-antiquário Tarcísio Trindade (ou Tarcísio Vazão de Campos e Trindade), de que AQUI já fizemos referência, vai ser homenageado com um soberbo Catálogo a sair na próxima semana.

Tarcísio Trindade, e o seu humilíssimo trabalho em prol do livro e da bibliofilia, é o testemunho e estima de uma vida inspirada, venturosa, respeitada. Os seus amigos e os amadores de livros não faltarão à chamada. Em testemunho de gratidão e reconhecimento.

A CHOLDRA


Tresanda a laracha esta governação. O Sócrates, os Santos Silvas, o inefável Valter Lemos, os Perestellos, o camarada Vasco (Franco), os Lellos, um tal Amado, o clone Silva Pereira, o fogoso "revolucionário" Alberto Martins, a rapariga de Boston (Isabel Alçada), o inolvidável Lacão, estão de volta. Todos muito ajeitadinhos, muito bem esmaltados, quiçá boémios. Gente limpa e pitoresca são outra coisa. Mas este vaudeville – levado ao palco em S. Bento – nem parece um governo, mas lembra simplesmente um vero Xanax. O dr. Cavaco prescreveu a coisa e a gentinha, bem comportada, corre no imprevisto para o divã. Somos bons paroquianos!

Está, assim, uma autêntica choldra a paróquia. Os arremedos da folia parlamentar, "sem fundilhos nem calças", são raros e íntimos. Os jornaleiros (salvé Ó Bettencourt Resendes) estão ferventes e ensimesmados na retórica política. Um Vara (Armando para os amigos) passa inseguro entre o espectáculo, primoroso na sua fatiota made in BCP. Alguns (poucos) jornalistas (ainda os há) catrapiscam a perdida ética republicana. Sócrates, o comediante Silva Pereira e os dormideiros do BCP garantem o seu valor, dão referências a esse bom e excelso portuga. O país, entretanto, caiu exaurido, entre o riso pelo infortúnio do gentio d’Alvalade e o suspiro triunfal do grande & glorioso SLB. Somos todos gente tímida. Admirável!

Requiescant in pace

A VIDA O QUE É


"A vida o que é, é uma considerável maçada. Não a tomemos, nem a ela própria: não vale a pena. Não é desgraça, não é angústia: é maçada. Maçada e sensaboria"

"... Por cá vai tudo na mesma, agravado com mil episódios mais da patifaria indígena ..."

"Como não há-de ser assim quando o ripanço é o ideal superior das nossas classes dirigentes? ... tudo é papas! Temos a consistência das alforrecas ... Em Outubro, quando foi a ultima crise, instaram comigo para entrar no governo e arranjei um dia um ministério possível. Sabes qual foi a resposta? Que era forte de mais. Preferiu-se como sempre a pastelaria merdosa em que nos havemos de afogar e morrer … se fosse possível extrair ainda da fibra portuguesa alguma vibração de energia digna. Não é ..."

"... Depois da orgia ..., vieram os cinco anos de desvairamento ... dar cabo do resto da reputação que havia no pessoal político. Agora, pede-se vida nova, mas quem há credor de confiança pública? Ninguém. È o caso do ditado: depois de burro morto cevada no rabo ..."

"O país não compreende o alcance da aventura em que o lançaram e a imbecilidade, explorada pela astúcia, só se convencerá perante factos. É necessário que a desgraça doa para terem razão os que a quiserem prevenir ...

"Crê o meu amigo que eu seja algum desses sublimes parvos que tem vindo ao mundo, intolerantes idealistas, que julgam serem os homens e o mundo barro, e eles o oleiro?”

"... vou-me atrelando ao carro do estado para vencer o tédio, por um lado, e também porque nas pequeninas sociedades apodrecidas, como a nossa, a política é tudo e para a gente não ser esmagado é preciso puxar o carro: de outro modo passam-lhe por cima as rodas ..."

"... Os mortos, e os livros que são o sepulcro onde vivem, constituem, salvas excepções únicas, a melhor sociedade para a gente ..."

in Correspondência de J. P. Oliveira Martins, Parceria A.M.Pereira, 1926

III ANIVERSÁRIO DO ALMANAQUE REPUBLICANO


O Almanaque Republicano cumpre hoje o seu terceiro aniversário.

Ao longo destes três anos publicaram-se 878 mensagens.
O contador que utilizamos desde o início, apesar de ser menos benévolo nas suas contagens assinala até ao momento 73 560 visitas, que se traduz em 108 665 páginas visistadas. Em média por dia visitam este nosso espaço 104 visitas diárias.

Ao longo deste último ano, o Almanaque Republicano passou a integrar as redes sociais como o Twitter e, mais recentemente o Facebook, onde a rede de amigos tem crescido continuamente e esperemos que continue a alargar-se.

Quanto ao trabalho realizado, podem consultar-se na barra lateral as 644 etiquetas diferentes que foram utilizadas até agora. Sendo que as 10 entradas mais utilizadas são:

1º - biografia, 110;
2º - bibliografia, 60;
3º - Coimbra, 52;
4º - livros, 51;
5º - colóquios, 43/periódicos, 43;
6º - efemérides, 39;
7º - regicídio, 35;
8º - questão académica, 32;
9º - maçonaria, 27;
10 - imprensa republicana, 24;

Curiosamente, e se calhar não por acaso, se analisarmos a questão das etiquetas revelam-se os interesses dos autores deste nosso espaço.

Não podemos também deixar de referir algumas achegas, contributos e estímulos que nos vão chegando pelas mais variadas formas. Nesta altura, não podemos esquecer cinco personalidades que já nos contactaram e que nos forneceram algumas pistas, facultaram dados ou simplesmente nos apoiaram neste nosso percurso na permanente demanda de novos elementos sobre a implantação da República: António Ventura; Ernesto Castro Leal; Fernando Catroga; Luís Bigotte Chorão e Manuel Sá Marques.

Chamamos também a atenção dos nosso estimados ledores para a plêiade de blogues que nos acompanham nestas lides (por exemplo: Bernardino Machado ; Republica100anos ou os Caminhos da Memória) e que podiam ser em maior número se houvesse maior número de pessoas empenhadas ..." [ler tudo AQUI]

via Almanaque Republicano

IN MEMORIAM DE ANTÓNIO SÉRGIO (RADIALISTA)


"... agora que a "ROCK FINAL" está feita, contemos um pouco da sua história. Tudo. começou com o desejo expresso por um grupo de amigos e ouvintes da emissão do Rolls Rock, na FM Estéreo da Rádio Comercial, em obterem os textos que eram difundidos no programa. Mais ainda esses ouvintes e muitos de nós, sonhávamos com a hipótese de um periódico que fosse de informação musical alternativa, à pobreza infelizmente habitual das nossas publicações nacionais (...)

"ROCK FINAL" e portanto uma dedicatória marginal ao programa "Rolls Rock" e aos seus ouvintes ..."

Ficha Técnica: Textos de António Sérgio, Joaquim Manuel Lopes, Nuno Diniz, Ana Cristina, José António Santos

Colaboração: Ricardo Camacho e Zé Paulo

Artes finais de Ana Cristina e Joaquim Manuel Lopes.
Compilado em Dezembro e Janeiro (81/82)

Os textos incluídos forma transmitidos de Fevereiro a Dezembro de 81, no “Rolls Rock” – Rádio Comercial FM estéreo, de 2ª a 6ª das 20 às 21 e Sáb. das 22 às 24 h.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

MANOLETINAS DE SALÃO - ALEXANDRE O'NEILL

"No fundo, não passamos de uns vaidosos, cheios de tiques e tremeliques, e não aguentamos passar à hora da verdade, mantendo donaire e galhardia. Quando sentimos o verdadeiro medo, o verdadeiro medo e o seu vento, abandonamos a postura, largamos o capote e corremos a buscar refúgio e um copo de água ao primeiro burladero que se nos antolhe nesta corrida da vidinha. Sempre foi, é e será assim. É bom? É mau? É. Vem tudo isto ao jeito de conversa fiada, mas nem por isso menos alinhavada, que o que eu quero é lembrar-vos que o medo desdobra um vento muito mais alevantado que ele. O medo. Considerai o que é o medo, aquele que faz das nossas mais indizíveis entranhas rodilha, que põe a mãe a fugir do filho e o pai da avó. Considerai as voltas e contravoltas em que ele nos mete no seu gosto de se burlar da gente, antes de nos vitimar. Considerai tudo isso e o mais o que houver a considerar. E perguntai: o que é na realidade o medo, essa avantesma que enrola e aperta os seus dedos em torno da nossa garganta? Nada que se possa sopesar. É o imaginado antes do vivido, é o sonhado antes do acontecido. O medo, depois de nos pôr a fugir, paralisa-nos. É essa a vitória do medo: criar paraplégicos trementes. E de paraplégicos trementes é feita boa parte de nós. Nos transportes públicos, nas repartições, que vemos nós todos os dias? Paraplégicos trementes a entreabençoarem-se por entre resmas de papel selado, os seus burladeros. Manoletinas de salão, fazemos na perfeição. Quando passamos para a arena, pernas p'ra que vos queremos? Será melhor não sermos tão enfáticos, tão opiniosos. Todos temos medo? Claro. Até o infligimos. Agora há uns que sabem que o medo desdobra um vento bastante mais alevantado que ele. Vamos deixar de ter medo?" [clicar na foto]
 
Alexandre O'Neill, in "Manoletinas de salão" - Escrita por medida, J.L., 5 de Março de 1985 [sublinhados, nossos]

OS INCUMBENTES DO SR. SÓCRATES

Hoje, a tropa tarefeira do sr. Sócrates vai ao boticário do dr. Cavaco assinar a presunção ministerial. 15-ministros-15, cartão de serviçal no bolso e uma afectuosa ambição pessoal, todos de pulsos políticos algemados mas sob fiança dos Marcelinos indígenas, irão cerimoniosamente alegrar a vitrine da antiga "Real Barraca", ali na Ajuda. O público, desde o correligionário falhado a outros exquisitos sujeitos (que nunca faltam na ocasião), abrilhanta a putativa festa. Os emproados incumbentes vão ao expediente. E, com apetite noticioso, o país viscoso das Tv’s, jornais & blogs, com eles.

Acontece que tais incumbentes estão no papel de gestores das presuntivas cambalhotas estratégicas do grupo de interesses do sr. Sócrates: não farão a "política que pensam", mas "que são". Os notáveis assinantes são meros décor. O que antes diziam sobre o "meneio correcto" da coisa pública será para esquecer. Não haverá arroubamentos. Jamé! Os episódios que iremos assistir, decerto bem urdidos e postos a correr por jornaleiros estridentes, são para inebriar a galeria de nativos. Estes, sonolentos à crise económica e derrancados à iminente bancarrota, irão saudar em delírio (mesmo que frouxo) a curiosa genuflexão do (manso) governo aos interesses e ao fomento do país real e correrão com a "nauseabunda" oposição. Sócrates regressará depois, em ombros e sobre o seu enxertado governo, para anos de felicidade e esplendor. O chamariz está já lançado. Assim o dizem.

Mas é possível que a insolência da "habilidosa" estratégica não resulte. Primeiro, a económica é o que é. Não arreda por convenientes ou piedosas "mentiras". A demanda dessa mistificação exige uma macia e pressurosa acalmia económica e financeira, mas que estes anos todos de indecorosa governação impede. Não podem mascarar a balbúrdia que aí vem. Segundo, a pitoresca assunção que os incumbentes do sr. Sócrates são vigorosos artistas e autorizados peritos, mesmo que com pele de lacaios, é um exercício intelectivo esforçado e demasiado ufano. Os verdadeiros técnicos não se bordam dessa maneira. Aquilo é apenas um atoleiro de assanhados burocratas, inconvertíveis a qualquer realidade. Terceiro, para que a trapaça resulte, mesmo ajudada com a toleima dos apoiantes do sr. Portas, seria preciso que a oposição se pusesse a jeito e a caminho do abismo. Ora não nos parece que esse apocalipse, essa lesa-política de desespero, venha a ter lugar e siga o programa de festas do grupo de interesses do sr. Sócrates. E assim terá de ser.

Carpe diem.

sábado, 24 de outubro de 2009


LEILÃO DA BIBLIOTECA DE PAULO MONTEIRO LEVY

Leilão da Biblioteca de Paulo Monteiro Levy - Dias 26 a 29 de Outubro 2009, pela Leiloeira Renascimento (Rua Agostinho Lourenço - ao Areeiro -, 20 C, Lisboa).

Regista-se um conjunto estimado de livros sobre: Constitucionalismo e Historia de Portugal, uma Pombalina, Escravatura, livros de Numismática, uma invulgar e rara Maçonica, lote curioso de Imprensa periódica do Século XIX/XX, livros sobre a Inquisição, Judaísmo, Jesuítas, Historia da Medicina, Literatura e Banda Desenhada.

Paulo Monteiro Levy, foi um distinto médico e operador, com consultório em Lisboa. Homem de pensamento livre e grande cultura, formou esta sua biblioteca com base em temas que abrangem as mais diversas áreas do conhecimento (...)

Nas suas andanças por este mundo das livrarias e leilões, e graças ao seu gosto pelo diálogo, granjeou muitas e duradouras amizades entre livreiros e coleccionadores. Pessoalmente mantive um longo e fraterno relacionamento com o Dr. Paulo Levy, foram mais de três décadas. Para alem dos livros convivemos em tertúlias e alguns outros areópagos ao longo de todos estes anos. Tenho a certeza que apesar da diferença de idades ele me considerava um seu irmão mais novo, tal como eu o considerei e considero um irmão mais velho (...)
" [José Vicente, in Catálogo da Biblioteca]

Da Biblioteca de Paulo Monteiro Levy salienta-se uma invulgar Maçonica, a todos os títulos notável e muito rara. O Dr. Monteiro Levy, médico e livre-pensador, foi um distinto obreiro de uma conhecida Loja de Lisboa, tendo atingido mesmo altos postos. A sua Maçonica percorre algumas das obras bibliográficas de referência à temática maçonica, portuguesa ou universal, sendo que é muito raro aparecer no mercado um lote tão copioso de espécies desta área tão restrita. [publ. tb. in Almanaque Republicano]

ver a BIBLIOGRAFIA MAÇONICA presente na Biblioteca Monteiro Levy, in Almanaque Republicano

ver todo o Catálogo, AQUI.

domingo, 18 de outubro de 2009



Qu'es mi vida, preguntais

[canção de Johannes Cornago, versão de Johannes Ockeghem (1420-1496)]

MORADAS FILOSOFAIS - A ARTE REAL

Dias 24 e 25 de Outubro - Colóquio Internacional "MORADAS FILOSOFAIS. Princípios e Métodos da Arte Real", sob patrocínio da Fundação Cultursintra.

Aos "amantes incondicionais da Arte, que dedicam as suas vidas ao estudo e divulgação das mais notáveis mansões e jardins europeus, regidos por Hermes", se dedica este Ciclo em torno da Filosofia Hermética, Simbolismo e Mansões Filosofais.

Do Programa do Ciclo registe-se o seguinte:

Dia 24 (Sábado): uma visita guiada à Quinta da Regaleira; a inauguração do "Laboratório Alquímico" no seu Palácio; e várias sessões, entre elas: uma que será proferida por António de Macedo ("Mansões Herméticas e Geometria Sagrada - do Tabernáculo no deserto ao 'Número' da Ordem de Cristo", uma outra por dirigida por Manuel Gandra ("Emblemática das Mansões Filosofais I") e a que Ferdinando Rizzardo nos falará sobre "La Case dell'Achimista a Valdenogher".

Dia 25 (Domingo): a 2ª parte da "Emblemática das Mansões Filosofais" (Manuel Gandra); uma nova intervenção de Ferdinando Rizzardo ("Ermetismo a Venezia e Libreria Marciana") e a exposição por João Cruz Alves sobre "Lima de Freitas e a Topologia do Imaginal". No fim haverá um jantar-convívio na Quinta da Regaleira.

consultar e acompanhar o evento, via Fundação Cultursintra.

sábado, 17 de outubro de 2009


NOTÍCIAS DA FRENTE

"É preciso folhear os maus livros, esquadrinhar os bons" [Jules Renard]

O sábio Feliciano de Castilho dizia: "Naquelas velharias andávamos tão embevecidos (...) que para nós não havia passeio, nem visita, nem função, que nos pagasse o gosto que desfrutávamos naquele nosso ler à ventura, sem piloto nem bússola”. Como Castilho, nós por cá (é sabido) temos essa canseira de serem os trabalhos do mês idênticos de todos os outros. Ámen!

- no próximo mês de Novembro, precisamente no dia 26, ou de S. Pedro Alexandrino (S. Conrado, que nos desculpe), ele mesmo um herege de juízo encomiástico, haverá lugar na caprichosa Biblioteca Nacional de Lisboa uma merecida Exposição, Homenagem e Invocação pública ao grande Luiz Pacheco. A entrada do sublime editor & escriba na casa-mãe da cultura – momento em que conspícuos escritorzecos, literatos & prósperos comentadores indígenas, por fastio de vida, irão cair em curiosa salmoira provinciana – será ornamentada com uma memorável pachecada, uma brochura copiosa e opulenta, um In Memoriam de talento de bien faire. Eis o grande "conversador", o facundo libertino, a idolátrica e o seu esplendor, presentes nesse dia bem-aventurado de Novembro. Até lá, o que "interessa é acordar vivo".

- livros & outros documentos em papel estão à Venda na caprichosa Livraria Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), acabado que está a elaboração do seu 43º Boletim Bibliográfico, referente ao mês de Outubro. Decorado com 642 peças magníficas, que percorrem algumas das melhores peças bibliográficas lusas, o seu Boletim é essencial ao amador de livros e valioso para assinalados bibliófilos. Consultar o Boletim, AQUI.

- o nosso amigo Carlos Bobone da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº147, Lisboa), autorizado livreiro e interessante monárquico, lançou sobre a canalha da Província o seu Catálogo 77º. O dr. Bobone, em cumprimento do dever municipalista, e por ser livreiro mor do reyno de Lisboa, deveria constituir serviço distinto aos amadores de livros da vetusta Província. Isto porque, quando o real correio por cá preside (quando preside!), e enquanto o cliente percorre o cardápio, já as peças postas em Catálogo foram vendidas pelas vozes autorizadas e céleres de cidadãos de Lisboa. Portanto, o dr. Bobone junta uma vasta livraria que lança em papel, remete-o para os seus paroquianos, mas o bom cidadão de Lisboa esgota-lhe a livralhada, mesmo antes do cobiçado Catalogo cair nas nossas mãos. Deste modo, para que não fiquemos em estado de orfandade, evitando assim que montemos um qualquer sublime Jardim ou Barraca à sua porta, seria mister enviar para a Província, dias antes, o rol dos lotes para venda. Por discrição ao Príncipe e amor-dos-homens!

- para arrematação, está à Venda uma estimada colecção de livros postos em Catálogo (mês de Outubro) pelo Livreiro-Antiquário José Vicente, da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa). O conjunto percorre temas tão distintos como Administração Pública, Arte, Colonial, Descobrimentos, História, Literatura, Memorialismo, Monografias, e outras instrutivas áreas. Consultar o Catálogo, AQUI.

- é já nos próximos dias 26 a 29 de Outubro, que a Leiloeira Renascimento irá colocar à praça pública o invulgar e valioso Leilão da Biblioteca do Dr. Paulo Monteiro Levy, conforme assinalamos. Este opulento Leilão apresenta uma invulgar Maçónica, com mais de 300 peças (muito) raras e de difícil circulação. Do seu inventário, com 1959 lotes, chama-se especial atenção para as temáticas muito estimadas sobre Inquisição, Judaísmo, Jesuítas, uma curiosa Pombalina, Constitucionalismo, rara Imprensa Periódica do sec. XIX/XX, rica Banda Desenhada, Numismática. Voltaremos a este Leilão, dado as importantes peças bibliográficas que faziam parte da Livraria de Paulo Monteiro Levy, médico, livre-pensador e conhecido (e importante) maçon. O Catálogo, elaborado por José Vicente, está já online e pode (deve) ser consultado pela sua especial importância.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009


MÃOZINHAS!

É a velha história das "mãozinhas". Ou melhor, ter ou não ter. No bridge, curioso jogo perfeito, o sábio jogador, inebriado pelo carteio, busca as "mãozinhas" miraculosas. A estatística é para tais artistas, assunto sagrado e memorável. O que lhes interessa é, afinal, o prémio do jogo – honestíssimo e reparador. Mas o jogador não deve ser impetuoso. Audaz, talvez. Iluminado, decerto. Nunca fogoso nas vozes ou carteio. As "mãozinhas" são quase sempre cumpridoras.

Ora acontece que estes nossos dias-ligados-a-dias têm sido obscuros e inconsistentes. Estranhos! E não se fala aqui desse palavreado que é vertido nas caçoulas perfumadas dos jornais ou do que por aí é vibrantemente (re)dito, aliás muito bem joeirado pela turba dos Marcelinos, sobre a etérea governação do próximo governo do sr. engenheiro. É que entre o idiotismo do grupo do sr. Sócrates e o folhetinismo sobre a D. Manuela, a nossa educação política carece de sentimento e de decoro.

Tal como no carteio do bridge se trabalha para fazer as "passagens" de mão, também o sr. Sócrates se encontra viciado desse espírito assombroso. Festejar as "mãozinhas", não delapidar o pecúlio do grupo de interesses, fazer as passagens certas (à esquerda ou à direita) será o espectáculo vulgar com que o sr. Sócrates se banqueteará. Os Marcelinos não irão faltar nessa saloiice de ameaçar com a trova de novas eleições e a vinhaça (já velha) de maioria absoluta. Porém não basta tal carteio deslumbrado. É que, e antes do mais, é preciso ter jogo para jogar e ir a jogo. No bridge, como na palestra política, o bluff é puro disparate.

Toda esta nossa récita, meio descarrilada e pouco agaloada, serve para informar os ledores deste estabelecimento que nos honraram com sublimes emails a propósito de não termos vindo diariamente a despacho, que estamos na mais asfixiante reclusão. Acontece (cá está!) que estamos sem todas as "mãozinhas". A nossa impetuosidade de candidato a motard garganteou uma caricatural queda, no que resultou um desprevenido mês de braço ao peito. Já se vê o incomodo disto tudo: um mês sem bridge, sem boticadas e de muito mau humor. Por enquanto "estou a embeber-me dos óleos santos da paciência", como diria Camilo (o nosso médico e consultor de alma). Mas estamos por aqui, aqui e ali. E, apenas para os neófitos, acolá.

Boa noute!

sábado, 10 de outubro de 2009


Tomás da Fonseca (1877-1968) via ANTÍGONA

- Na Cova dos Leões – Fátima. Cartas ao Cardeal Cerejeira [c/ pref. Reis Torgal]

"Este livro é porventura um dos mais emblemáticos textos «subversivos» impressos em Portugal durante o salazarismo. Foi escrito por um republicano racionalista e livre-pensador abjurado pela Igreja Católica e pelo regime autoritário e «catolaico» do Estado Novo. Depois, a democracia nascida da revolução de 25 de Abril de 1974 acabou também por o ostracizar. Estas serão, de resto, razões suficientes para que alguns títulos da sua prolífica obra logrem ser redescobertos e reeditados pela Antígona numa altura em que se aproxima o centenário da proclamação da Primeira República em Portugal (1910-2010)"

- O Santo Condestável. Alegações do Cardeal Diabo [c/ pref. João Macdonald]

"Este texto reproduz uma conferência de Tomás da Fonseca, proferida na Universidade Livre de Coimbra, em 1932. Decorridos setenta e sete anos sobre a publicação de O Santo Condestável – Alegações do Cardeal Diabo, a orquestra reorganizou-se para a celebração da canonização de Nuno Álvares Pereira, que a Igreja e os seus cúmplices levaram a cabo neste ano de 2009. Seria, portanto, indelicadeza da Antígona não se associar aos festejos desta nova forma de consubstanciação; por isso, considerámos oportuna a reedição deste livro.
José Tomás da Fonseca nasceu no dia 10 de Março de 1877. Foi um homem de impressionante produção literária, tendo publicado ao longo da vida cerca de quarenta títulos. Colocou-se permanentemente na linha da frente do arriscado confronto político.
"

Publicação pela Antígona - Editores Refractários.

[idem no Almanaque Republicano]