domingo, 24 de outubro de 2004


[Recuerdos]

"Cat's foot iron claw
Neuro-surgeons scream for more
At paranoia's poison door
Twenty first century schizoid man.

Blood rack barbed wire
Politicians' funeral pyre
Innocents raped with napalm fire
Twenty first century schizoid man.

Death seed blind man's greed
Poets' starving children bleed
Nothing he's got he really needs
Twenty first century schizoid man." [21st Century Schizoid Man]

King Crimson [via "Sociedade das Nações", SIC-Notícias]

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

[O Sono Das Águas]

"Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar"

[João Guimarães Rosa, enviado por Amélia P.]

Librarians Against Bush

"Whenever the people are well-informed, they can be trusted with their own government. Whenever things get so far wrong as to attract their notice, they may be relied on to set them to rights" [Thomas Jefferson]


Coisas Públicas

"Há que tempos que deitamos flor pelo lado de dentro" [Raul Brandão]

O Magnifico Seabra Santos, no seu papel de lente instruído, esqueceu-se, há muito, do que assegurou para espanto de todos: ser "politicamente errado e economicamente irrelevante o aumento das propinas (...) e que este aumento não vai significar mais receitas para as Universidades, mas sim menos orçamento transferido por parte do estado". Este episódio espiritualíssimo faz com que Seabra Santos seja, pela doçura melosa das suas palavras in Senado, pela originalidade da gerência financeira a seu cargo e pelo ladrilhar do seu percurso de carreirista académico, considerado o mais arrogante e bem humorado Reitor que pela Academia passou. Seabra Santos pôs-se à disposição dos acontecimentos, pela sua insensata pesporrência, engasgando-se em prosas posteriores que enfeitou com características exibicionistas e daí partiu à desfilado, juntamente com um curioso número de lentes encrostados na bafienta Universidade, contra a estudantada. As palmas ao Seabra ouvem-se já no bar dos Direitos. E o sentimento de felicidade iluminou, de uma vez, os seus vetustos claustros.

Como é uso nestes casos dos doces desenganos, manda o cerimonial recorrer à chibatada para vingar o esclarecimento público. Afinal, os aplausos ao Seabra eram pretexto para um empolgante debate de linguagem marcial, a pedido de vários e conhecidos lentes, algumas famílias políticas entronizadas na instituição e, evidentemente, por todos aqueles para quem a grilheta da autoridade deve ser estoicamente seguida.

O happening assim conseguido à porta da reunião do Senado, lugar onde os graves representantes da Instituição celebram imponentes prelecções, é de uma surpreendente heroicidade. Quando olhamos, de longe, a azáfama que habita o território do ensino superior, onde os lentes modernos legitimam as suas decisões a partir de um discurso e uma praxis onde a avaliação do desempenho está ausente; onde o acto educativo reside num desassossego esquizóide face à abordagem pedagógica incompetente dos seus docentes, sem qualquer capacidade didáctica ou relacional; onde a matriz cultural dos seus clientes atinge o absurdo, sem qualquer dimensão crítica, memória cultural ou desejo de saber; entende-se porque razão o lente, afastado da iniciação pedagógica e, por vezes, científica, se refugia na robustez "pedagógica" das estratégias das cargas policiais. A mestria assim pretendida tem outro nome. Os tempos não mudam.

[Coimbra]

"Em torno dela (geração), negra e dura como uma muralha, pesando, dano sobre as almas, estava a Universidade. Por toda essa Coimbra, de tão lavados e doces ares (...) se erguia ela, com as suas formas diferentes de comprimir, escurecer as almas: o seu autoritarismo, anulando toda a liberdade e resistência moral; o seu favoritismo, deprimido, acostumando o homem a temer, a disfarçar, a vergar a espinha; o seu literatismo, representado na horrenda sebenta, na exigência do «ipsis verbis», para quem toda a criação intelectual é daninha; o seu foro, tão anacrónico como as velhas alabardas dos verdeais que o mantinham; a sua negra torre, donde partiam, ressucitando o «precetto» da Roma jesuíta do século XVIII (...) os seus lentes crassos e crúzios, os seus ... e os seus ..., o praxismo poeirento dos seus Pais Novos e a rija penedia dos seus Penedos! A Universidade, que em todas as nações é para o estudante uma «Alma Mater», a mãe criadora (...) era para nós uma madrasta amarga, carrancuda e rabugenta de quem todo o espírito digno se desejava libertar, rapidamente, desde que lhe tivesse arrancado pela astúcia, pela engenhoca, pela sujeição à «sebenta», esse grau que o Estado, seu cúmplice, tornava a chave das carreiras " [Eça de Queiroz]

"Eu não avalio, na origem, o vosso acto de revolta. Falta-me a competência (...) a nossa triste Universidade, embora com homens de valor, julgada em globo, na sua organização, na sua estrutura e nas suas tendências, só realmente queimando-a, nos daria luz. Não a queimem, nem a destoquem, reformem-na" [Guerra Junqueiro, in Carta à Assembleia de Estudantes da Academia da U.C., nos acontecimentos académicos de 1907]

segunda-feira, 18 de outubro de 2004


["Se non è vero è ben trovato"]

"Não faças travessuras, faz antes travessias - toma, podes levar a avioneta" [?]

Por obra e graça do Santo de Perpétuo Socorro Pinto da Costa, ultríssimo protector do bem-estar plácido e silencioso do culto das Antas, a noute d'ontem na Catedral da Luz foi tão exímia como virtuosa. Como reza a tradição, e não é mister emendar o recreio dos amantes do futebol, seguindo a máxima, "arbor bona bonos frutos facit, et mala malos", o sublime Jorge Nuno Pinto da Costa franqueou, risonho e florido, a magnifica vitória do FCP contra a moirama dos avermelhados.

Só um incrédulo indígena, decerto toldado pela poesis do futebol, acreditava que os acontecimentos extra-campo-de-futebol não eram (não foram) mais que uma inofensiva pressão ou que os patrulhamentos azuis e brancos nunca existiram.

É verdade que a notícia do reaparecimento do patriarca das Antas, qual abelha-mestra, a dar conferências impiedosas aos seus jogadores e esgrimindo o pingalim ao seu filósofo-treinador, ninguém pôde congeminar. Em rigor, o escarcéu da semana em torno da toldada segurança para o jogo nunca encontrou o faccis harmonioso do ministro das Antas. E é exacto que o travesso secretário Hermínio Loureiro nunca saiu, pesarosamente, de Oliveira de Azeméis. Nem o Olegário Benquerença frequenta a Praia da Vieira ou S. Pedro de Moel, porque nunca sai a passeio, nem frequenta pubs. Está absolutamente provado que, com uma seriedade digna de inveja, o senhor Filipe Vieira, inolvidável professor de hermenêutica de rateiro, é de uma inteligência graciosa e inspirada. E que o engenhoso e lascivo José Veiga nunca existiu.

Porém, passe a candura dos desportistas lusos, confessamos que Pinto da Costa é ao mesmo tempo uma figura célebre e um célebre Santo de virtudes piedosas extra-jogo. O seu patrocínio é um alento a todos nós. E a Alberto João, que Deus o tenha na sua refulgente glória.

A prece foi deferida, portanto. Fica no entanto esse memorando de ver a admirável interpretação da equipa azul e branca, com o talento suave de Diego, na primeira metade do jogo; o milagre da resposta dos incomodados jogadores do SLB no segundo período; a inocência e o talento da equipa de arbitragem na custódia de penaltys e na entusiasta devoção à não marcação de golos às três tabelas; e a venerável e nobre defesa de Pinto da Costa da excelsa dama loira que na bancada distribuía, gestualmente, exemplares das Caldas em profusão surpreendente à plebe da Luz. Graças Senhor!

[S. João Baptista]

"... S. João Baptista forma com Santo António e S. Pedro a trindade dos santos de maior afeição popular. D. João I ordenou que todos os municípios o festejassem. A multiplicidade de crendices que envolveu este Santo, entrelaçaram-se no que de melhor se encontra na poesia pagã e ingénua das almas do campo. É o santo popular por excelência; a ele confiam as moças os segredos do coração, queimam-lhe alcachofras agourentas, e deitam sortes em bochechos de água que dilue nomes que se esperam. As orvalhadas tem, pela noite, ligações íntimas com os banhos sagrados. As fogueiras que os namorados saltam, no meio da roda das raparigas que dançam, têm todo o carácter do culto do fogo no solstício de verão. Este hábito, num meio superior, deu as fogueiras de Coimbra, sem lume, com cantares e danças num tablado. E não só a simetria em relação ao Natal se faz numa forma apagada de adoração do fogo (fachos e fogueiras de S. João, e cepo do Natal) mas também se nota o hábito ainda vivo de formação de capelinhas com figuras de barro (...)

Na madrugada de S. João saem as mouras encantadas a pascer o seu rebanho, a contar as mágoas de tristes emparedadas, ou a pentear no fresco das orvalhadas com pentes de ouro os cabelos de raios de sol (...) Nessa noite, pelo campo, tudo é sagrado. Nos ranchos que cantem e implorem a protecção do Santo para que as case, o orvalho é milagroso. O manjerico, o cravo, o trevo, a alcachofra, gozam de virtudes únicas (...)

[S. João Baptista, da Sé Velha de Coimbra / S. João Baptista da capela do seu nome em Portunhos (Coimbra) / S. João Baptista, do castelo da Lousã / S. João Baptista, do Espinhal (concelho de Penela, Coimbra) / S. João Baptista, cidade da Figueira da Foz / S. João Baptista, da Serra da Moita (Mouronho, Tábua, distrito de Coimbra) / S. João Baptista, da ermida da Senhora da Piedade (Lousã) / S. João Baptista, Igreja de S. João (Açores) / S. João Baptista, ilha do Pico ...]

[Luís Chaves, in Registos de Santos, 1925]

domingo, 17 de outubro de 2004


Feira do Livro de Frankfurt - Novidades

No Mil Folhas, Isabel Coutinho, diz-nos o que está a dar no mercado mundial de livros, a partir de Frankfurt, e quais as peças que iremos ler em português, proximamente.

Anotações: Além de um conjunto de obras à volta do inesgotável tema do "Código Da Vinci", teremos ainda:

Leonardo Da Vinci, The Fights of The Mind, de Charles Nicholls / The Romanov Prophecy, por Steve Bery / A Irmandade do Santo Sudário (ed. Gótica), de Júlia Navarro / Biographie de La Faim (ed. ASA), de Amélie Nothomb / Alatriste e, ainda, El Húsar (idem), por A. Pérez-Reverte / Biografias de James Joyce, de M. Yourcenar (idem) / La Mulatresse Solitude, por André Scharz-Bart (Cavalo de Ferro) / O Sonho dos Heróis, de Adolfo Bioy Casares (idem) / Saturday, de Ian McEwan (Gradiva) / Renée Pelágie, Marquise de Sade, de Gérard Badou (Teorema) / The Pregnant Widow, de Martin Amis (idem) / The Plot Against América e, ainda, The Dying Animal, ambos de Philip Roth (Dom Quixote) / Pigtopia, de Kitty Fitzgerald (idem) / Memória de Mis Putas Tristes, de Gabriel Garcia Marques (idem) / Storia della Belezza, coord. por Umberto Eco (Difel) / La Misteriosa Fiamma della Regina Loana, de Umberto Eco (idem) / A Poesia do Modernismo [Brasil] 1922-1928, org. Abel Barros Baptista e Osvaldo Silvestre (Cotovia) / D. Quixote, trad. José Bento (Relógio d?Água) / Poesia Completa de Kavafis (idem) / O Livro das Imagens, de R. Maria Rilke (idem) / Poemas de Pasolini (Assírio & Alvim) / Watt e Textes pour Rien, de Beckett (idem) / Prufrock e Outras Observações, de T.S. Eliot (idem) / Cantos de Erza Pound (idem)




Leilão de Vinhos - 21 de Outubro

A realizar em Sintra no Palácio Valenças, na Rua Visconde de Monserrate (junto ao Museu do Brinquedo), dia 21 de Outubro, pelas 21 horas, pelo P. Correio Velho.

sábado, 16 de outubro de 2004


Da Desordem

[O Pinto-Espertismo] - Jorge Nuno Pinto da Costa, o Alberto João das Antas, não tem por hábito fazer erratas. Supõe-se que nunca as fez. Igual a si mesmo, com a serenidade e lealdade que os indígenas da sacristia do FCP exigem, mais uma vez, consegue alimentar um facto político-desportivo. Não é original nesta eterna paródia. Sempre que o seu clube joga contra o SLB vá de excomungar os vermelhos, vassoirar uma possível coesão na equipa adversária, anunciar estardalhaços à força, cavalgar o poder político que trata sempre por tu. O objectivo final é cerrar fileiras na escalavrada equipa que dirige. Não é necessário dizer o que quer que seja. Basta estar. E, evidentemente, ter do outro lado um aturdido Luís Filipe Vieira, três ou quatro jornalistas acofiados, um espavorido quanto irresponsável secretário de estado, um claudicante ministro. A bazófia assim arremetida tem sempre frutos, pensa. Até que um dia, a evocação guerreira que em pânico sustenta sofra uma merecida resposta. Esperamos por tal data.

[Baralhar e voltar a dar] - À maneira doutoral, a pastoral do Orçamento de Estado patenteada urbi et orbi por Bagão Félix foi uma cacofonia fiscal e macroeconómica soporífera, de uma banalidade imprudente e sem qualquer concerto possível. É certo que não vem mal ao mundo desarticular a barafunda herdada de Ferreira Leite, desencapotando uma via para o crescimento via consumo interno, mas improvisar aumentos de salários, mesmo que sejam abaixo da inflação esperada, e promover desincentivos à poupança ao mesmo tempo, diminuir garantias dos contribuintes não combatendo, de facto, a fraude fiscal, a par de uma descabida esperança de crescimento económico com a grandeza enunciada, resulta numa orçamento espirituoso, uma fantasia baseada num baralhar e dar de novo, para ficar tudo como estava. Até mesmo o suposto défice orçamental abaixo dos três por cento do PIB. O que convenhamos é bastante curioso.

Livros & Arrumações

["Registos de Santos. Catálogo, com um estudo preambular e notas, da colecção de «registos» de Aníbal Fernandes Tomás, hoje no Museu Etnológico Português", separata d'O Archeologo Português, por Luís Chaves, 1925]

"... As partes essenciais das romarias são duas: arraial na véspera, e o dia das festas de igreja, com procissão e cumprimento de votos (...) A presença dos romeiros foi marcado pela posse do registo do Santo festejado, como antes o era pelas insígnias, e então, e hoje ainda, pelas medalhas também. A par e como derivados dos registos encontram-se as verónicas e as medidas

[verónicas são gravuras como as dos registos, guardadas dentro de caixilhos de madeira ou de papelão, com ou sem vidro; as de papelão são muito enfeitadas com lantejoulas e fios prateados, e suspendem-se ao peito; as de caixilho de madeira ou de papelão, com ou sem vidro são maiores e formam pequeninos oratórios. Medidas são fitas franjadas, com o nome ou iniciais do Santo festejado, escrito a letras negras ou douradas; ao centro tem um registo minúsculo, do Santo. Talvez primitivamente, para justificar a designação, representassem estas fitas alguma medida da imagem do Santo respectivo, ou fosse uma medida uniforme para fitas (medida-padrão]"

Locais: Colecções Patrimoniais | Iconografia: Registos de Santos / Inventário da Colecção de Registos de Santos

Catálogo da Livraria Bizantina

Eis o catálogo 67 da Livraria Bizantina, de Carlos Bobone, ali na Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa. Preços imbatíveis, como sempre.

Algumas referências: A Liberdade da Egreja em Portugal, de Francisco d'Azeredo Teixeira, 1880 / Almanach Gotha (vários expls) / Alma Nacional. Revista Republicana, dir. António José de Almeida, 1910 / O Infante de Sagres, por Fortunato de Almeida, 1894 / A Linguagem dos Pescadores da Ericeira, de Joana Lopes Alves, 1965 / Frei João Sobrinho e as Doutrinas Económicas da Idade Média, de Moses Bensabat Amzalak, 1945 / Memoria dos Feitos Macaenses contra os Piratas da China ..., por José Ignacio Andrade, 1835 / Origens da Imprensa em Portugal, de Artur Anselmo, 1981 / Historia dos Cristãos Novos Portugueses, por J. Lúcio de Azevedo, 1975 / A Infância da Academia (1788-1794), de António Baião, 1934 / Contra os Juízos dos Astrólogos, de Fr. António Beja, 1943 / Manual Parlamentar para uso dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, por José Marcelino de Almeida Bessa, 1901 / Cartas de El-Rei D. Manuel II, por António Cabral, 1933 / O Campeão Portuguez em Lisboa ou o Amigo do Povo e do Rei Constitucional, vol II, 1822 / António de Gouveia e o Aristotelismo da Renascença, de Joaquim de Carvalho, 1916 / Monarchicos e Republicanos, por Homem Christo, 1928 / Timor de Lés a Lés, pelo Cap. Armando Pinto Correia, 1944 / Vida Errada. O Romance de Coimbra, por Fernando Correia, 1933 / Azulejos, de Vergílio Correia, 1956 / Exortação à Mocidade, de Carlos Malheiro Dias, 1925 / Correntes de Sentimento Religioso em Portugal, por José Sebastião da Silva Dias, 1960, II vols / Das Ordens Religiosas em Portugal, por Pedro Diniz, 1853 / A Superstição Socialista, pelo Barão Raphael Garofalo, 1904 / Introdução Bibliográfica à História do Direito Português, por António Manuel Hespanha, 1974, III vols / Itinerários de El-Rei D. Sebastião, notas de Joaquim Veríssimo Serrão, 1962-63, II vols / A Besta Esfolada, de José Agostinho de Macedo (nº 2 ao nº 26) / Memórias e Trabalhos da Minha Vida, por Nortan de Mattos, IV vols / O Cidadão Lusitano ..., por Innocencio António de Miranda, 1874 / D. Cristóbal Colom ou Symam Palha. Na Historia e na cabala, por Pestana júnior, 1928 / A Nacionalidade Portuguesa de Cristovam Colombo, de Patrocínio Ribeiro, 1927

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

[Búfalo Bill]

"Búfalo Bill stá
defunto
o que andava
num cavalo
de prata como a água corrente
e matava umdoistrêsquatrocinco gajos assim sem mais Deus meu
era um belo homem
e o que eu quero saber é
se gostas do teu rapaz de olhos azuis
Dona Morte"

[ee Cummings, in Búfalo Bill Stá, trad. Jorge de Sena]

e. e. Cummings [n. 14 Outubro 1894-1962]

"I care not greatly
Should the world remember me
In some tomorrow.

There is a journey
And who is for the long road
Loves not to linger.

For him the night calls,
Out of the dawn and sunset
Who has made poems." [ee cummings, Hokku]

Locais: E.E. Cummings (1894-1962) / e.e. Cummings / E. E. Cummings / The Life of e. e. Cummings / An Unofficial E. E. Cummings Starting Point / Edward Estlin Cummings (All Poems)

quarta-feira, 13 de outubro de 2004



Salvé Manuel Bandeira [m. 13 Outubro 1968]

"Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crónicas
Ficou cronista de província;
Arquitecto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional:" [MB, Auto-retrato]

Locais: Manuel Bandeira / Biografia / Poesia / Arquivo Manuel Bandeira / "Vou-me embora prá Pasárgada" em Real Áudio

terça-feira, 12 de outubro de 2004


Ouça Você Mesmo

Tínhamos, artisticamente, o velho slogan "faça você mesmo", mas a fugacidade da pós-modernidade ensinada à rapaziada da «central de informação» do PSD deu, com uma graça de felicidade divina, num "ouça você mesmo". Ontem, perante o grande público (como diria o amigo Castelo-Branco), o primeiro-ministro de Portugal deu três seguidas, quer dizer ... três comunicações ao país seguidas, um momento de bonomia política visto e ouvido por todos os indígenas lusos, nas 3 (três) TV's e em momentos diferentes. Tal noviciado protocolo, digno de figurar nas sebentas de sociologia política, permite doravante que os eleitores assumam um "ouça você mesmo", consoante os compromissos de cada um. Depois da jantarada ou no intervalo do digestivo para uns, entre o tinir da lavagem da louça ou depois da tosquia de uma ovelha na Quinta dos Famosos para outros, durante um jogo de bridge (como nós) ou, mesmo, por mero desvario a caminho do leito, para entediar o severo Morfeu.

Sobre a audição da coisa, pois gostamos. Não é todos os dias da semana que se ouve contradizer ou maldizer o casto Bagão Félix. E mesmo que o desconchavo do nosso primeiro seja seguido em triplicado (noblesse oblige, como diria o Castelo) por um protesto qualquer ministerial, antes isso que assistir à tragédia de um elefante debatendo-se com o Alberto João, curvar a fronte para uma leitura cacarejante de Luís Delgado ou, até, comungar na picaresca aventura do "faz um blog", momento único de rara voluptuosidade literária, deste ajardinado rapaz de nome Carlos Rodrigues. A maldade não está connosco.

[Aleister Crowley]

Locais: Aleister Crowley / Aleister Crowley (1875-1947) / A Crowley Timeline / The Confessions of Aleister Crowley / The Hermetic Order of the Golden Dawn / Crowley, Aleister, 1875-1947 Collection, 1889-1989 (bulk 1901-1953) / Aleister Crowley Foundation / Hino a Pã (Fernando Pessoa) / Uma breve e concisa história de Aleister Crowley e da O.T.O.

Aleister Crowley [n. 12 Outubro 1875-1947]

"Aleister Crowley , conhecido no mundo anglo-saxónico, europeu e mesmo mundial, por ser «O Pior Homem de Inglaterra», como veio descrito em vários jornais da época, é ele também o Meste Supremo da Obediência Secreta «Golden Dawn» (Aurora Dourada) com conotações para-maçonicas, possível agente duplo da passada guerra mundial, Monge Tibetano e, ao mesmo tempo, alpinista (subiu os Himalaias), conhecedor das religiões pré-colombianas no México, aventureiro, escritor, poeta e pintor, fundador das comunidades pseudo-religiosas onde imperava o amor-livre e assinando, sem pejo mas com possível orgulho, todas as cartas e a sua obra como A BESTA 666 (...)

... o Mago inglês com 54 anos, o Poeta português [trata-se de Fernando Pessoa] com 42 anos (...) irão encontrar-se, sabe-se lá por que desígnios astrológicos, como dois cometas no Universo Astral, na prosaica e pacata cidade de Lisboa, no ano da graça de 1930, no equinócio de Setembro.

Embora o encontro tivesse sido perfeitamente amigável e estabilizado (...) não deixou de provocar um acontecimento extraordinário: o suicídio recambolesco de Aleister Crowley, com o seu ressurgimento «esotérico», dias depois, em Berlim ..."

[Miguel Roza, in Encontro "Magick" Fernando Pessoa e Aleister Crowley, Hugin, 2001]

Catálogo da Livraria D. Pedro V

Acaba de sair o Catálogo 7, Outubro 2004, a carga de Carla Teixeira, da Livraria D. Pedro V, situada na Rua D. Pedro V, 16, Lisboa.

Algumas referências: Arquivo Histórico de Góis (Antigo Goês), nº 1 ao nº 12, 1956 / À Sombra do Convento, por Guilherme José Ferreira de Assunção, 1958 (monografia do Convento de Mafra) / Cadernos Coloniais, Editora Cosmos, Lisboa, 70 nums / D. Luiz de Portugal Neto do prior do Crato (quadro Histórico) 1601-1660, de Camilo Castelo Branco, 1883 / Camillo Castello Branco. Typos e Episódios da sua Galeria, de Sérgio de Castro, III vols, 1914 / Jornal de Domingo, dir. de Manuel Pinheiro Chagas, Ano I, nº 1 (20 Fev. 1881) a Ano II (18 Fev. 1883), 104 nums / Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, selecção, pref. e notas de Natália Correia, Rio de Janeiro, s/ d (contraf. destinada ao Brasil, sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas) / Essência, de Saul Dias, Porto, 1973 / Estância de Lourêdo da Serra (Varanda da Saúde), Paredes-Douro, 1934 (?) / Espingarda Perfeyta, & Regras para a sua operaçam ..., pelos Dous Irmãos César Fiosconi & Jordam Guserio, Lisboa Occidental, 1718 (ed. facsimilada feita pela Livraria Sam Carlos, 1972) / Da Vida e Morte dos Bichos. Subsídios para o Estudo a Fauna de Angola e Notas de Caça, por Henrique Galvão e Pratas Teodósio, 1944, V vols / Tractatus de Beneficiis Amplisimvs Et Doctissimvs ..., por Nicolao Garcia, 1643 (1ª ed. italina do clássico do Direito Espanhol, raro) / Grifo. Antologia de Inéditos (c/ A. Barahona Fernandes, António José Forte, Ernesto Sampaio, Pedro Oom, Ricardo-Dácio, etc), 1970 (import. para a história do surrealismo português) / Homem-Pessoa. O Bispo de Beja, Ed. Contramargem & Etc, 1980, 2ª ed. (sátira ao Bispo de Beja, D. Sebastião de Vasconcelos, sob pseud., que em 1910 foi apreendida, e do mesmo modo foi censurado e o livro apreendido depois de Abril de 1974) / Almanach Perpetuum celestium Motuum (Radix 1473). Tabue Astronomicae Raby Abraham Zacuti .... (ed. facsimilada da ed. de Leiria de 1446, existente na Biblioteca de Évora)

segunda-feira, 11 de outubro de 2004


Theodor W. Adorno [n. 11 Setembro 1903 - 1969]

"... há uma frase de Goethe, referindo-se a um artista de quem era amigo, em que diz que «ele se educou para a originalidade». Creio que o mesmo vale para o problema do indivíduo.

Eu não diria que é possível conservar a individualidade das pessoas. Ela não é algo dado. Mas talvez a individualidade se forme precisamente no processo da experiência que Goethe ou Hegel designaram como «alienação», na experiência do não-eu no outro.

A situação é paradoxal. Uma educação sem indivíduos é opressiva, repressiva. Mas quando procuramos cultivar indivíduos da mesma maneira que cultivamos plantas que regamos com água, então isto tem algo de quimérico e de ideológico. A única possibilidade que existe é tornar tudo isso consciente na educação; por exemplo, para voltar mais uma vez à adaptação, colocar no lugar da mera adaptação uma concessão transparente a si mesma onde isto é inevitável, e em qualquer hipótese confrontar a consciência desleixada. Eu diria que hoje o indivíduo só sobrevive enquanto núcleo impulsionador da resistência."

[Adorno, in Educação para quê? - ler aqui]

Locais: Theodor W. Adorno / A Dialéctica do Esclarecimento e outros textos de Theodor W. Adorno / Theodor Adorno e a poesia em tempos sombrios

[Sedução]

"Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti
até que a dor alegre recomece."

[Maria Gabriela LLansol, enviado por Amélia P.]


Biblioteca Nacional - Dia 11 de Outubro às 17.30 - Entrada Livre

"Palestra do Prof. Carlos Reis e mostra ao público dos manuscritos queirosianos de «A Correspondência de Fradique Mendes»"

domingo, 10 de outubro de 2004


In Memoriam de Jacques Derrida [1930-2004]

Locais: Mort du philosophe Jacques Derrida / Jacques Derrida est mort / Le philosophe Jacques Derrida est mort / Décès du philosophe Jacques Derrida / Derrida, aux amis morts / Derrida On Line / "I Have to Wander All Alone" (words on the death of Gilles Deleuze) / Interviews with Jacques Derrida / Le Pardon (Citations incontournables) / Livres de Jacques Derrida

O panfletário moderno

Miguel Horta e Costa tresanda aristocracia debaixo do seu formidável nariz inglês. Tem cursos vários, um admirável Jaguar, muitas secretárias de serviço, é um financeiro arrojado, incansável, intuitivo, canta glórias em louvor da PT, pavoneia-se no Conselho de Administração da Lusomundo Media, anda de barco, distribui bonomia por amigos e conhecidos, não faz análises políticas, não se ruboriza com o estado na nação, não é ingénuo, muito menos murmura crenças sobre a imprensa, a liberdade de expressão ou as novidades literárias do reino. Não faz folhetos de cordel, não pretexta comentários, nem estimula polémicas, não faz versos, e por isso tem parcos leitores, para além daqueles que o ouvem para as bandas do Fórum Picoas. Oferece aos indígenas lusos um ror de títulos de jornais e revistas, a cargo da Empresa Global Publicações, S.A, e basta de afazeres.

O prodigioso Miguel Horta e Costa é um visionário. E como tal, irresistível a obras perfeitas, necessita de trabalhadores laboriosos, caprichosas carpideiras do poder, desprovidos de angústias, inchados de espiritualidade liberal, para validar a sua imodesta intelectualidade. Nasce assim para a Lusomundo Media, o polemista virulento, gorgolejando insultos e ameaças, o inebriante caixeiro mediático Luís Delgado, agora na pele de Presidente Executivo. Não está só na sua espaventosa récita aos indígenas, trazendo consigo o ex-trovador do DN, de nome Bettencourt Resendes, para dar sorte à imaginação. A ideia de por o panfletário Delgado a dar remoques nos jornais e TV's, em fúria alucinante, não parece adequado ao seu novo pelouro, dado até as possíveis acareações ou o pedido do contraditório que cada intervenção escrita ou falada do Presidente Executivo da Lusomundo Media suscita. Terá o cavalheiresco Horta e Costa pensado na questão? Os accionistas? Ou o incendiário Delgado não conhece os regulamentos?

[Não há já segredos]

"... Não há já segredos.
Os que governam acham-se informados de tudo quanto pensam os governados. Não têm mais que ler, e resguardar-se. Acabou para os governos a surpresa, a emboscada, a perseguição encoberta.

Esses perigos já não existem realmente senão para os governados, que têm ainda contra si, posto que mantidos e pagos por eles próprios, os únicos poderes ocultos que subsistem no regime das sociedades modernas: os recônditos planos de guerra entre governo e governo, a diplomacia, a polícia secreta, a intriga de corte para corte, a espionagem sobre cidadãos suspeitos, a violação das cartas, a visita domiciliária, a busca de papéis de cada um, etc.

Se nós particulares, tivéssemos de garantir-nos contra os governos com a mesma segurança com que os governos se acham garantidos contra nós, a primeira obrigação que lhes imporíamos seria de terem um jornal e de imprimirem nele em cada manhã absolutamente tudo quanto pensassem de nós, para bem e para o mal, mas principalmente para o mal, porque o importante, porque o essencial é, sobretudo, isso: avisarem-nos do que nos prejudica (...)

E sempre que o chefe do Estado ou os seus ministros pudessem ser acusados de não nos descomporem suficientemente, de nos não injuriarem na medida de todo o seu desejo, chamá-los aos tribunais como impostores e como sediciosas, e obrigá-los a dizer tudo, aplicando-lhe para esse fim a tortura, exactamente como eles nos faziam a nós no tempo em que, em vez de escrevermos nos jornais, nós nos calávamos com o jogo ..."

[Ramalho Ortigão, in As Farpas IX]

sexta-feira, 8 de outubro de 2004


Héctor Yánover [1929 - m. a 8 Outubro 2003]

"Profunda mujerzuela ¿quién te verá?
¿Quién te verá la boca besadora,
la frente bien pensante, quién te verá?
¿Quién te verá deidad como te veo:
ofreciente dadora, núbil promesa,
racimo de la sed que ya poseo?
" [H.Y.]

"Nacido en Córdoba (centro del país), Yánover escribió varios libros de poesía, entre ellos "Hacia principios del hombre", "Las iniciales del amor", "Arras para otra boda" y "Sigo andando", y una novela, "Las estaciones de Antonio", pero fue sobre todo conocido por su actividad como librero y por sus programas televisivos sobre libros. En "Memorias de un librero" contó sus experiencias desde que allá por los años 50 trabajaba de noche en una librería como vigilante hasta que en 1971 montó su propio negocio, la prestigiosa librería "Norte", que aun existe y donde hasta hace poco atendía personalmente y orientaba sobre libros" [EFE]

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quinta-feira, 7 de outubro de 2004


[Marcelo ou Nós]

"Em política como na guerra, o momento perdido não volta mais" [N. Bonaparte]

O país está em ataque de nervos. A arena política foi invadida de um imprevisto sobressalto de mau gosto, de uma implacável fantasia em defesa da "liberdade de expressão" - palavrão por ora, sabiamente, utilizado com requintes extremosos -, e palpitando de dor cai numa amargura sem fim, ensaiando laboriosos cenários à moda do sempre presente prof. Rebelo de Sousa. No entanto a decoração desta crise politica é uma comédia séria demais para ser um simples desagravo do governo nomeado pelo dr. Sampaio, ou da «central de informação» do PSD, contra Marcelo ou, mesmo, uma caprichosa e trabalhosa tarefa em defesa da censura, com a cumplicidade dos nossos empresários liberais.

Os brados convulsos dos fiéis da missa dominical do prof. Marcelo são compreensíveis, bem como as lágrimas, os lamentos e a mágoa pela sorte do comentador. Na verdade, o sinal azougado, arquitectado no seio do PSD, dado pelo exaltado Gomes da Silva é de uma maldade sem limites, a ponto de nos esquecermos do porfiado serviço público de Marques Mendes à frente da RTP, que até desprezamos a delícia dos sempre maquiavélicos "factos políticos" Marcelistas, in illo tempore. No entanto, a teatralidade a que se assiste não permite disfarçar a não-tomada de posição de deputados e militantes do PSD (só alguns tiveram carácter para tal) em todo este jogo floral democrático, e pelo seu silêncio entende-se que pactuam e desfraldam a bandeira Santanista.

Noutro registo: ninguém tem dúvidas que se tratou de uma maquinada pressão sobre o prof. Marcelo e sobre a TVI, o que permite creditar a qualidade desta gente que governa, aliás como se sabia de antemão. Passe as furtivas intenções pessoais e políticas futuras de Rebelo de Sousa, só o próprio pode deslindar todo este desplante. E tem o dever de o fazer, rapidamente, por respeito pela verdade e por quem o vê e ouve religiosamente. É crucial entender se o arrazoado governamental é meramente estulto politicamente ou se, no invés, configura qualquer facto político por detrás, no sentido de pressionar o dr. Sampaio a assumir uma posição mais firme e atinente às suas funções presidenciais. Admitindo que o último cenário é plausível, o espírito do dr. Sampaio estará toldada pela dúvida do que fazer. Culpa sua, evidentemente, dado estar refém do governo que, contra a opinião pública, nomeou. Nesta hipótese de ser prisioneiro do "seu" governo, temendo a vitimização que Lopes & Portas habilmente construiriam, o dr. Sampaio tem de ser firme e, principalmente, célere a tomar decisões. Mesmo supondo que o cenário de eleições antecipadas é de "agrado" da maioria, convém que por efeitos tácticos o faça e rapidamente. Para que a sorrateira provocação, assim entendida, apanhe alguma bazófia ainda em andamento, dado os estragos que este caso comportou, quer no país, quer nalguns incautos simpatizantes laranjas. Isto é, há que pensar: ou Marcelo ou nós.

[Evocar Clausewitz]

[incerteza acerca dos factos] - "... a grande incerteza acerca de todos os dados constitui uma dificuldade particular da guerra, pois toda a acção se realiza, por assim dizer, numa espécie de crepúsculo que, por vezes, confere às coisas um aspecto nebuloso ou lunar, uma dimensão exagerada, um cariz grotesco.

A falta de visibilidade que esta fraca iluminação traz consigo tem de ser compensada pelo talento da adivinhação, ou tem de se deixar abandonar à sorte. Na ausência duma sabedoria objectiva, é necessário aqui, ainda, confiar no talento e até mesmo na benevolência do acaso"

[a astúcia] - "A astúcia supõe uma intenção dissimulada e opõe-se por consequência à atitude recta, simples, ou seja directa, do mesmo modo que uma palavra do espírito se opõe à demonstração directa. Portanto ela não tem nada em comum com os meios de persuasão, do interesse e da força, mas assemelha-se em muitos aspectos à impostura, a qual também oculta a sua intenção"

[Ataque e defesa] - "... Qual o objectivo da defesa? Conservar. É mais fácil conservar do que adquirir; de onde se segue imediatamente que, supondo que os meios são iguais dos dois lados, a defesa é mais fácil do que o ataque. Mas de onde provém esta maior facilidade da conservação e da protecção? Do facto de que todo o tempo que se escoa inutilizado se torna proveito do defensor. Este colhe onde não semeou. Toda a remissão do ataque, em consequência de visões erradas, de receio ou de insolência, é favorável ao defensor"

[Carl Von Clausewitz, in Da Guerra, P & R, 1976]