terça-feira, 12 de outubro de 2004


Ouça Você Mesmo

Tínhamos, artisticamente, o velho slogan "faça você mesmo", mas a fugacidade da pós-modernidade ensinada à rapaziada da «central de informação» do PSD deu, com uma graça de felicidade divina, num "ouça você mesmo". Ontem, perante o grande público (como diria o amigo Castelo-Branco), o primeiro-ministro de Portugal deu três seguidas, quer dizer ... três comunicações ao país seguidas, um momento de bonomia política visto e ouvido por todos os indígenas lusos, nas 3 (três) TV's e em momentos diferentes. Tal noviciado protocolo, digno de figurar nas sebentas de sociologia política, permite doravante que os eleitores assumam um "ouça você mesmo", consoante os compromissos de cada um. Depois da jantarada ou no intervalo do digestivo para uns, entre o tinir da lavagem da louça ou depois da tosquia de uma ovelha na Quinta dos Famosos para outros, durante um jogo de bridge (como nós) ou, mesmo, por mero desvario a caminho do leito, para entediar o severo Morfeu.

Sobre a audição da coisa, pois gostamos. Não é todos os dias da semana que se ouve contradizer ou maldizer o casto Bagão Félix. E mesmo que o desconchavo do nosso primeiro seja seguido em triplicado (noblesse oblige, como diria o Castelo) por um protesto qualquer ministerial, antes isso que assistir à tragédia de um elefante debatendo-se com o Alberto João, curvar a fronte para uma leitura cacarejante de Luís Delgado ou, até, comungar na picaresca aventura do "faz um blog", momento único de rara voluptuosidade literária, deste ajardinado rapaz de nome Carlos Rodrigues. A maldade não está connosco.