segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004


Haja Decência!

- As afirmações proferidas na Quadratura do Círculo pelo inenarrável Lobo Xavier, com a aquiescência de Pacheco Pereira, a propósito do episódio Celeste Cardona são inaceitáveis, e mesmo burlescas. Se no caso do presumido Lobo Xavier não é de estranhar, mesmo a coberto de uma reputação de expert em legislação fiscal ou tributária com que ele sem pejo se autoproclama, abundantemente, e que está longe de se provar, o mesmo não se pode dizer do deputado europeu e comentarista Pacheco Pereira. Nestas ocasiões, Pacheco Pereira alegando desconhecimento conceptual, pouco interessado em instruir-se na matéria que interessa ao comum dos cidadãos, o que revela algum menosprezo pelos leitores e ouvintes que o acompanham interessadamente, quase sempre recusa pronunciar-se. E pasme-se, hoje nem sequer fez qualquer leitura política dos tristes acontecimentos ocorridos. Nada se passou, presume-se. Ora, para além de se saber se há ou não crime fiscal teremos de concordar, aliás como disse Marcelo Rebelo de Sousa, passe possíveis estratégicas políticas que o podem mover, no mais óbvio: é incompetência pura. E só havia um caminho a seguir, se vivêssemos num país civilizado, a demissão. Pense, meu caro Pacheco: há mais vida para além dos livros. Eu que o diga.

- As cenas desavergonhadas levadas a cabo numa conferência de imprensa, após o jogo Sporting-FCPorto, por duas personagens ridículas são o sinal dos tempos. José Mourinho e Eduardo Bettencourt não têm lugar onde existem pessoas decentes. São de uma alarvidade inacreditável. O primeiro, desejoso de ir carpir as mágoas de sujeito incompreendido pelos indígenas lusos para terras britânicas, entendeu ser o momento para pressionar a sua saída do FCP. Cabotino como poucos, julga que a civilidade está algures e que nada tem a dizer sobre isso. Engana-se. É preciso ser-se homem para se banhar de civilização. O segundo, revela um humor demasiado negro para uso em palestras. As afirmações ditas em tom grave, para excitação dos fundamentalistas leoninos, desvela o seu carácter e o mau gosto. Não há paciência. Nem decência. Estamos tramados.

Bertrand Russell [1872-1970]

n. em Ravenscroft, Wales, a 2 de Janeiro de 1872

"Wittgenstein me faz sentir que minha existência vale a pena" [Russell]

"Têm existido no mundo, em várias épocas, diferentes filosofias de solitários, umas mais nobres do que outras. Os estóicos e os primitivos cristãos pensavam que o homem podia realizar o supremo bem que a vida humana é capaz por meio da sua própria vontade, sozinho, ou pelo menos sem outra ajuda humana; outros encararam o poder como a finalidade da vida e para outros ainda essa finalidade resumia-se aos prazeres pessoais. Todas estas filosofias são filosofias de solitários na medida em que o bem se supõe ser realizável em cada pessoa separadamente e não apenas numa sociedade maior ou menor de indivíduos. Em minha opinião, tais ideias são falsas, não só consideradas como teoria de moral, mas também como expressão do que há de melhor nos nossos instintos." [Bertrand Russell, in A Conquista da Felicidade]

"Acuso a recepção da sua carta ... Não me admira que tanto o Sr. como o Sr. Lewis hesitem entre chamar-me ateu ou agnóstico, porque eu próprio tenho as minhas dúvidas e ora me considero uma coisa como outra. Penso que sob o ponto de vista estritamente filosófico, na medida em que duvido da existência de objectos materiais e que ponho a hipótese de que o mundo pode ter apenas cinco minutos de existência, me devo considerar um agnóstico; mas sou, na prática um ateu. Não considero a existência de um Deus cristão mais provável que a existência dos deuses do Olimpo ou a de Walhalla. Para dar outro exemplo: ninguém pode provar que entre a Terra e Marte não anda um bule de porcelana a descrever uma órbita elíptica, mas ninguém considera a hipótese suficientemente provável para a encarar a sério. Penso que o Deus dos cristãos é igualmente improvável."
[Bertrand Russell, Carta a ... 18 de Maio de 1958]

domingo, 1 de fevereiro de 2004

Refrões

"Um avião esvoaça
Um lábio traça
sua cor e sua taça

O sexo desgraça -
docemente esgarça

E surge a morte à caça
como um saco
a traça"

[Luiza Neto Jorge, in Os Sítios Sitiados, 1973]


Cuidem-se!

O esmifrante sociólogo Luciano Espectador prepara-se para cantar nos 100 anos do nascimento de Raymond Aron (2005) algumas triviais banalidades do autor de "As Etapas do Pensamento Sociológico", sugeridas ao que se sabe pelo extraordinário e "conhecido" sociólogo português Eduardo de Freitas, como a fradesca defesa contra o pecado carnal do amor livre, a discussão entremeada sobre as gulodices das drogas e a vigorosa defesa contra a homossexualidade. Tudo bem regado pelo Maio de 68 em França, com os libertinos estudantes parisienses em pano de fundo. Ao que se sabe, não situará na obra de Aron a luta anti-colonialista, em memória do aroniano e casto ministro da defesa de Portugal. Aproveitará, porém, para malhar em Foucault e Derrida, ou mesmo nesse petulante Sartre, autores que, como se sabe, nunca existiram, não têm obra, nem se viram e ouviram nesses fatídicos dias de Maio de 68. A performance, culminará numa teorização assombrosa sobre o horror dos intelectuais europeus contra os EUA, lendo opúsculos de Bush, intervalados com uma oratória sobre a obra "Ópio dos Intelectuais", expurgando, evidentemente, as alusões a Lord Keynes. Por último, confessa Luciano que não pretende falar de Sokal, não irá referir o que pensa Isaiah Berlin de Aron, e jura que o prof. Maltez não se amotinará da cadeira. No final, a Sociedade dos Intelectuais, assim rejuvenescida, irá em romaria fazer a queimada das "Dezoito lições sobre a Sociedade Industrial", para a qual convidou um assombroso anti-sindicalista eborense, porque na verdade "history is again on move". Bom trabalho.
José Marinho [1904-1975]

n. a 1 Fevereiro 1904

"(...) José Marinho foi, como se sabe, discípulo de Leonardo Coimbra e é necessário situar a orientação do seu pensamento ente a filosofia nocturna de Sampaio Bruno e a filosofia diurna do Mestre. O poeta com quem mais proximidade dialogava era Teixeira de Pascoaes, em cuja poesia se conciliam o sentido gnóstico da ausência e do exílio próprio de Sampaio Bruno e o sentido apolíneo e pagão da presença imediata de Deus na sensação, isto é, no mundo das formas sensíveis, com maior ou menor erro tido por natureza (...)"

[António Telmo, in A Teoria do Instante em José Marinho, Revista Leonardo, nº2, 1988]

sábado, 31 de janeiro de 2004


Centenário da REAL REPÚBLICA DO PRÁ-KYS-TÃO


[Coimbra, fundada em 1951]


"Da carunchosa linhagem dos Cabedos"

Viri Doctissimi

O debate mensal na Assembleia da República foi esclarecedor. O prócere dr. Barroso a matraquear promessas para o próximo ciclo eleitoral; o liliputiano Marques Mendes a fazer de ponto nessa vil comédia brejeira; a senhora do défice, Ferreira Leite, ar patriótico de orgulho por não ter perdido os 3 por cento do PEC, respeitavelmente meditabunda, pensando quiçá na próxima espoliação aos funcionário públicos; a rapaziada desmemoriada do PP em pânico e à beira da extrema-unção. Uma estucha, é claro.

Inimputável, diz Louçã sobre a política levada a cabo pela senhora ministra da Justiça. Absolutamente. Só resta saber se a senhora ministra, a quem alguém com piada disse que sabia de fiscalidade, é de facto ministra. Até hoje, temos dúvidas. Daí o assombro.

O berrador Pires de Lima, barão viril da extrema-direita com assento parlamentar, desata em impropérios vários contra o anti-colonialismo de Mário Soares, ao mesmo tempo que a sua bancada ameaça processar o deputado do BE, Francisco Louçã em tribunal por ter considerado ser a ministra (?) Celeste Cardona inimputável politicamente. Curiosamente tudo isto aconteceu no dia em que a TSF apresenta uma sondagem eleitoral (TSF/DN/Marktest). Coincidências?

Em entrevista a Carlos Vaz Marques (Pessoal ... e Transmissível), a escritora Agustina Bessa Luís confessa que "gostaria de fazer milagres". Que Deus seja louvado. É que depois de ter patrocinado a luminária da intelectualidade indígena o dr. Santana Lopes, qualquer milagre é absolutamente desnecessário.

Norman Mailer

n. em New Jersey, a 31 de Janeiro de 1923

"O senhor se define como um conservador de esquerda. O que é isso?
MAILER: Acredito que há coisas extraordinárias neste mundo que estão em vias de extinção e que temos de lutar para que sobrevivam. Por exemplo, a arquitetura antiga, como a de Edimburgo, ameaçada pela enorme feiúra das novas construções. Acredito que as sociedades humanas deveriam se basear numa cooperação que não estivesse centrada no dinheiro, mas na experiência concreta do homem. Meu conservadorismo de esquerda é a denúncia dos aspectos opressores e totalitários das novas tecnologias, é uma tentativa de conservar o que há de bom neste mundo. Não creio na utopia da ciência: "confie em nós e viverá 200 anos com as mesmas condições que tinha aos 50". É totalmente falso. Não podemos fazer nada contra a lei natural da energia.

Seu último livro fala da guerra do Iraque.
MAILER: Opus-me radicalmente a ela porque se disseram coisas inventadas. Não encontraram sequer uma arma de destruição em massa. Saddam é um monstro, mas não tinha vínculos com Bin Laden. Pelo contrário, eram rivais. As pessoas não importam para nossos líderes, o que fazem é matá-las às centenas. Para quê? Nada pode levar a democracia a um povo, esta é uma idéia equivocada. A democracia é um estado de graça que só é alcançada por povos com muitíssima gente conscientizada. As únicas coisas que levamos ao Iraque foram violência e morte.

O senhor conheceu pessoalmente presidentes americanos como John Kennedy e Ronald Reagan. O que pensa de Bush?
MAILER: Por trás da guerra do Iraque está o seu desejo de se apoderar do Oriente Médio e do mundo. É perigoso: segunda sua própria confissão, crê que Deus o livrou do alcoolismo para o levar até a Casa Branca. Isso dá medo.

[Entrevista de Norman Mailer, La Vanguardia]

sexta-feira, 30 de janeiro de 2004



Boris Spassky

n. em Leningrado a 30 de Janeiro de 1937

[Spassky - Nickolaevsky Kharkov, 1963]

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Catálogo nº 18 de Luís Burnay, Janeiro 2004

O livreiro-antiquário Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa) lançou a sua lista nº 18 (nova série) do mês de Janeiro com 552 obras, a preços muito acessíveis. Depois de um excelente leilão, Burnay aí está com o seu novíssimo catalogo.

Algumas referências: Almanach histórico e illustrado de Villa Viçosa para o anno de 1910, Évora, 1909 (c/ um listagem dos administradores da vila) / Almanach Liberal para 1876, 1º anno da sua publicação, Coimbra, 1875 (raro) / O Archivo da Torre do Tombo ..., por António Baião, 1905 / Leal Conselheiro, o qual fez Dom Duarte …, por Don Duarte Rei de Portugal, Pariz, 1854 (c/ introd. do Visconde de Santarém) / Da Vida e Morte dos Bichos (subsidio para o estudo da fauna de Angola e noas de caça), de Teodósio Cabral, Abel Pratas & Henrique Galvão, Lisboa, 5 vols / Arqueologia Árabe em Portugal, de Correia de Campos, Lisboa, 1965 / Taxas dos Ofícios Mecânicos da Cidade de Coimbra no ano de 1623, de J. M. Teixeira de Carvalho, Imp. Univ., 1923 / Dictionnaire des Operas (Dictionnaire Lyrique) ..., de Félix Clemént & Pierre Larousse, Paris / Manual Politico do Cidadão Portuguez (2ª ed.), por Trindade Coelho, 1908 / Soror Marianna a Freira Portugueza (2ª ed.), de Luciano Cordeiro, Lisboa, 1891 / Cultura da Granza, ou Ruiva dos Tintureiros ..., Lisboa, 1803 (opúsculo raro de botânica) / Descrição abreviada do Concelho de Cabeceiras de Basto principalmente da freguezia de S. Miguel de Refoyos sua capital por um Cabeceirense, Lisboa, 1874 (rara monografia) / D. Afonso Henriques e a Fundação da Nacionalidade Portuguesa, por Tomaz da Fonseca, Coimbra, 1949 / A Arte em Portugal, de José Augusto França (Séculos XIX e XX) / Manual do Navegante: regras e preceitos da lide do mar por Guilherme Ivens Ferraz, (da Biblioteca de Instrução Profissional de Bordalo Pinheiro) / Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, por António Manuel Gonçalves, Lisboa, 1960 / A Ermida Românica de Santa Catarina de Monsaraz, 1969 (junto c/ O Fesco dos Paços da Audiência de Monsaraz, 1966), Évora / O Nuno Gonçalves da Phaidon: erros, omissões e plágios, de Adriano Gusmão, 1956 (polémico) / Les Poesies d'Horace, avec la traduction du R.P. Sanadon de la Compagnie de Jesus, 1756, 2 vols / História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa ..., Lisboa, CML, 1950-1972, 2 vols / Theatro Cómico Portuguez, ou Collecção das Operas Portuguezas, que se representarão nas Casas dos Theatros Públicos do Bairro Alto ... por +++, 1787-1792, 4 vols (raro) / Inventario Artístico de Portugal (Distrito de Aveiro), por A. Nogueira Gonçalves, 1991 / O Templo das Siglas: a Igreja da Ermida do Paiva, por Aarão de Lacerda, 1919 (raro) / O Senhor dos Passos da Graça, de Gomes Leal, 1904 (polémica) / Marchas, Danças e Canções próprias para Grupos Vocais ou Instrumentos Populares (Lopes Graça, versos de Armindo Rodrigues, Carlos de Oliveira, Edmundo Bettencourt, JJ Cochofel, Joaquim Namorado, José Gomes Ferreira, José Ferreira Monte, Mário Dionísio),Seara Nova, 1946 / A Arte dos Jugos e Cangas do Douro Litoral, por Armando de Matos, Porto, 1942 (des. de Gouveia Portuense) / O Supremo Conselho do Grau 33 e o Grande Oriente Lusitano Unido, Lisboa, GOLU, 1914 / Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Constructors Portuguezes ou a serviço de Portugal, coord. de Sousa Viterbo, 1899-1922, 4 vols / O Culto do Chá, de Wenceslau de Moraes, Typ. do Kobe Herald, 1905 (peça de colecção)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

PREGADORES INSTRUÍDOS



"O homem verdadeiramente sábio è aquele que não despreza coisa alguma"

De novo a questão da vida e da morte. Nunca daí saímos. Fecha-se a alma, clamam alguns. Fugir da morte, desembaraçar-nos dela, praticam outros. "Redescobrir a mágica estranheza, a singularidade das coisas evidentes" [Álvaro Siza] é o que é preciso.
 
Os sermões morais em torno da san(t)idade comportamental da populaça, proferidos por alguns intelectuais (intelectual=aquele que se desdobra, Camus dixit), sobre as manifestações de espanto e pesar na morte de um jogador de futebol são extraordinárias. Tais pregadores instruídos, do alto do seu catecismo chic, patenteiam uma nova liturgia de vida, receituário a imitar pela plebe inculta, que faria sorrir se nao estivesse encoberta pela costumeira alusão aos malefícios dos media, que curiosamente tão sabiamente utilizam e manipulam. O expediente constante ao flagelo dos media, vindo de quem vem, permite assim, com elegância, afastar qualquer debate ou controvérsia sobre esse estranho mundo dos intelectuais pregadores.
 
Porque, afinal, o que está em jogo é a eterna controvérsia sobre a vida e os seus interstícios, mal ou bem interiorizada ou vivida, e não uma qualquer "pornografia" mediática que todos nós estaríamos devotamente consumindo. Portanto, "saudade da vida", paixão ou espanto, prazer ou desprazer, saber e consciência, sentido que seja da vida ou da morte, permanece além de uma qualquer experiência conversável. Compreende-se que assim seja. Mas não nos comove. Na verdade, "para se achar que a vida pode ser bela e fácil, é necessário não a ter conhecido" [Camus]
Pornografia

Este é um governo de expedientes, manhas e truques, doença mental sempre em hora de telejornal. Aqui a vida é redonda. A arte é ser conformista. Celeste Cardona na TV anuncia: "Para que haja um crime fiscal é preciso que haja a apropriaçao de um património. É preciso que haja a intenção fraudulenta". Aconteceu-me fiscalidade diz um governamental. Evidentemente, diz a mioleira de Lobo Xavier. Quem age são os exportadores. Exportam. O Fisco não larga o Iva. Liberdade pornográfica, pois então. Quem diria! O Alberto João veio a Lisboa regularizar com Durão. Quanto o aluguer? Aberração: "o caminho em linha recta vai do querer ao ter, pelo poder" [António Pedro] Distraidamente os milhões para a investigação caiem. É raro florirem rosas em Janeiro, sorri Durão. O Tribunal de Contas está muito Alfredo e pouco Sousa. Preferimos o choque pornográfico, dizem. José Manuel de Mello muito seco pede Hispânia por favor. Ludgero Marques privatizações. A minha avó Leopoldina "apanhava comboios com um anzol". Sem preço.

"Basta
O público está fatigado
Mas não serei eu quem favorecerá esse desejo
Porque se o publico adormece
Não há feijão este ano
" [Breton]

ANOTAÇÕES


"This is Moleskinerie, a blog dedicated to the proposition that not all notebooks are created equal. (...) Moleskine is not my obsession, it’s an attitude. I use other journals also. This site is not here to pontificate. It just is." / an Eudæmonist › ciceronian / [Via Whiskey Bar] Davos Discovers the Blogs

"Hoje a sociologia entrou na ordem natural das coisas. Há sociólogos mais à esquerda, outros mais à direita, e provavelmente a média dos sociólogos situa-se mais à esquerda do que a média dos nossos economistas. Mas não deixa de ser sociologicamente significativo que entre os anúncios da secção "Relax" de uma grande quotidiano português apareça esta sugestiva proposta: "Inesquecível socióloga, 26 anos, exótica, elegante, corpo perfeito, convive distinto cavalheiro." A semiótica poderia deter-se nas conotações deste "distinto cavalheiro". Mas uma visão mais sociológica não poderá deixar de considerar como particularmente interessante esta "inesquecível socióloga". Será inesquecível enquanto socióloga? Será inesquecível apesar de ser socióloga? De qualquer forma, ser socióloga é manifestamente uma mais-valia e imaginamos como uma relação erótica poderá ser completada por uma animada conversa sobre a polémica entre Luhmann e Habermas, as críticas de Jeffrey Alexander a Bourdieu, o sentido da sociedade de risco de Beck ou a terceira via de Giddens." [Eduardo Prado Coelho, in Publico]

terça-feira, 27 de janeiro de 2004

WOLFGAMG AMADEUS MOZART [1756-1791]



n. em Salzburgo, a 27 de Janeiro de 1756

"Salve sagradas criaturas que se impõem através da noite!
Agradecimentos a vós, Osiris e Isis, sejam apresentados!
A força venceu, e como recompensa
Apresenta a eterna coroa à beleza e à sabedoria".

[Flauta Magica]


CATÁLOGO Nº 3 DA LIVRARIA D. PEDRO V


A Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa) lança o seu Catálogo 3 (nova série) com 286 peças raras umas, esgotadas todas, a preços interessantes. Julgo que ainda está à frente da D. Pedro V a Catarina, que aqui apresenta um cuidadoso conjunto de obras de estimação a ter em conta.

Algumas referências: Cartas de Amor de Sóror Mariana ao Cavaleiro de Chamilly, de Sóror Maria Alcoforado, Livr. J. Rodrigues, 1925 (ilustrações de Alberto de Souza, e prefácio de Gustavo Matos Sequeira) / Alquimias, por Al Berto, Sines, 2001 / Recolhimento do Arcanjo S. Miguel (Alguns Apontamentos para a Historia de Guimarães) As Beatas de Chapéu, 1923 / Portuguese Hebrew Grammars anda Grammarians, de Moses Bensabat Amzalak, 1928 / Chorographia Estatística do Districto de Coimbra, por Agostinho Rodrigues d'Andrade, Coimbra, 1896 / Judeus em Montemor-o-Novo, de António Alberto Banha de Andrade, 1977 / Contra a Obscuridade, de Eugénio de Andrade, 1992 / Os Poemas de Luís Buñuel, de J. F. Aranda (trad. de Mário Cesariny Vasconcelos), Arcádia, 1974 / Inventario de Lisboa, por Norberto de Araújo & Durval Pires Lima, 12 vols, 1944-56 / Homenagem a Camilo no seu Centenário, por António Baião (refere a suposta ascendência israelita de Camilo), 1925 / Cadernos de Literatura (nº 1 ao nº 25), Coimbra, 25 vols, 1978-86 / Biografias Figueirenses, por José de Sousa Cardoso, F. Foz, 1947 / Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, por José dos Santos Carvalho, Lx, 1965 / Pequenos Mundos Novas Civilizações, de Ferreira de Castro, 1938 / Á Volta do Mundo, de Ferreira de Castro, 1938 / Os Transportes Populares em Portugal. Carros e Barcos, por Luís Chaves, 1958 / Inscrições na Quinta do Viso, por José Coelho, 1928 / Cristo como os Pintores, Escultores e Poetas Portugueses o Viram, Sentiram e Entenderam, Estúdios Cor (texto de José Régio), 1952 / Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo, por José Gomes Ferreira (publicada anteriormente sob o pseudónimo O Avô do Cachimbo, no jornal de Lisboa), 1963 / Ronda de Africa, por Henrique Galvão, 2 vols, 1942 / A Caça no Império Português, de Henrique Galvão et all, 2 vols, 1943-45 / Primeira Parte da Historia dos Religiosos da Companhia de Jesus, pelo Padre Sebastião Gonçalves, 3 vols, 1957-62 / Commigo, de Manuel Laranjeira, 1923 / Livro do Centanário de Eça de Queiroz, 1945 / Leitos e Camilhas Portuguesas (junto com Cadeiras Portuguesas), por J. F. Nascimento & Augusto Cardoso Pinto (reed.), 1998 / Olleboma Culinária, Lisboa, Empresa Diário de Noticias, 1928 (imp. livro de cozinha portuguesa) / Para uma Cultura Fascinante, de Ernesto Sampaio, 1959 / Os Primitivos Portugueses, de Reynaldo dos Santos (3ª ed.), 1958 / Loiça Brasonada, por José de Campos Souza, 1962 / Marcas de Contastes de Ourives Portugueses, de Manuel G. Vidal & Fernando Moitinho de Almeida, 2 vols, 1974

segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

FLORES PARA MIKI FEHÉR



Sabemos da bondade da vida. Quantas vezes se julga que não a sabemos merecer. No entanto o lugar que ocupamos "é o único temível porque nos prende". Hoje os deuses esqueceram-se de Miklós Fehér. Ou foram os homens? A tristeza embala-nos os olhos, enquanto o que a TV mostra, nos mata aos poucochinhos. Um sorriso nos lábios, o coração a ceder, inclinação e morte. É demasiadamente perturbante para ser verdade. Magoa-nos. Torna-nos inúteis. É noite e hoje aqui não está ninguém. Até sempre Miki.

domingo, 25 de janeiro de 2004

VIRGINIA WOOLF [1882-1941]



n. em Londres, a 25 de Janeiro de 1882

"Discutamos, pois, com a maior brevidade possível, o tipo de educação necessário. Dado que a história e a biografia - as únicas provas ao dispôr de estranhos - provam, aparentemente, que a antiga educação das antigas faculdades não provocam particular respeito pela liberdade, nem particular ódio pela guerra, é evidente que deverá reconstruir a sua faculdade em moldes diversos. Está ainda no começo e é pobre; deixe-a, por conseguinte, tirar vantagem dessas qualidades e tomar como base a pobreza e a juventude. Deve, portanto, ser obviamente uma faculdade experimental, uma faculdade temerária. Deixe que se construa com estruturas próprias. Não deve ser construída em pedra talhada e com vitrais, mas em qualquer material barato e de combustão fácil que não crie nem perpetue tradições. Não faça capelas. Não instaure museus e bibliotecas, com livros de encadernações luxuosas e edições metidas em vitrinas. Vale para que todos os quadros e livros sejam novos e estejam sempre a mudar. Deixe que cada geração a decore com as suas próprias mãos e processos baratos. O trabalho dos vivos não é dispendioso; oferecem-no muitas vezes, apenas a troco de deixarem que o produza. (...)

Os professores deveriam ser escolhidos entre os «bon vivants» e os bons pensadores". [Virginia Woolf , in Os Três Guinéus, Veja, 1978]

Locais: Virginia Woolf / Virginia Woolf (1882-1941) / Virginia Woolf (biografia) / Virginia Woolf forum, links / Virginia Woolf's Texts / The International Virginia Woolf Society / Virginia Woolf's Psychiatric History / Virginia Woolf Her Life and Works / Virginia Woolf and Modernism / Virginia Woolf (Um Tecto Todo Seu) / Virginia Woolf: a androginia como desconstrução / Virginia Woolf Seminar [1-9 Junho 2004]

sábado, 24 de janeiro de 2004

BAIRRO LIVRE - JACQUES PRÉVERT





















[Bairro Livre]

Puz o boné na gaiola
saí com o pássaro na cabeça
E então
já não se faz continência
perguntou o comandante
Não
já não se faz continência
respondeu o pássaro
Ah bem
desculpe julguei que se fazia
disse o comandante
Não há de quê toda a gente pode enganar-se
Disse o pássaro

[Jacques Prévert, Bairro Livre, trad. Jorge de Sena]

SOLIDARIEDADE COM A FUNÇÃO PÚBLICA



"O Homem é um secular malvado, que, por perversão ou estupidez, construiu uma civilização de canibais, cem vezes mais malvada do que ele" [Gomes Leal]

A requintada hipocrisia com que alguns mencionam a Função Pública, ontem em greve por melhores condições de vida e qualidade de trabalho face a uma administração e gestão ruinosa, inoperante e incompetente que anos a fio a classe politica amamentou, pelos ditos assombrosos proferidos, na maior das soberbas e com entoações do mais profundo desprezo pela dignidade de quem trabalha, desvela bem os sinais dos tempos.

Dum lado os acólitos do neo-liberalismo balofo e de sacristia, para quem toda a perfeição reside na gestão privada, enquanto lá vão piscando os olhos aos amigos, entretidos a espoliar o Bem Público, fugindo aos impostos, praticando a corrupção moderna, com a eficácia e a produtividade conhecida. Outros, os ressaibiados que por fastio, acomodação servil e falta de qualificações técnico-profissionais foram atirados para a selva do mercado de trabalho, tão de agrado dos novos liberais, dobrados que lhes foram a espinha vertical, desatam em impropérios vários, quase sempre bem maledicentes e espumosos de servilismo e arrogância. Por fim aqueles que em papeletas avençadas, os opinativos serventuários dos seus donos bem amados, clamam com o dedo no ar contra a alimentação do monstro, bem sustentado que foi pelo cavaquismo nos tempos áureos do oásis e depois continuado em alegro folgazar pelos que lhe seguiram, burilam teorias orçamentais que fariam corar o Botas de Santa Comba.

A desorientação é evidente e total. Aliás é vê-los a dissertar sobre o vencimento dos assessores ministeriais (hi! Marques Mendes) e outros cérebros partidários, o pagamento da antiquíssima dívida da República ao poupado Jardim madeirense, o aumento e descontrolo das dívidas das autarquias locais a bem dos colegas de carteira, a qualidade técnica e profissional dos gestores públicos, ou das políticas de saúde e educação, para se entender de que se fala quando se fala de modo obstinado e boçal sobre as revindicações dos trabalhadores da Função Pública. Estamos disso crentes. [foto: Henri Cartier-Bresson, Bolsa de Londres, 1955

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

O JUDEU NO POLÍPTICO DE SÃO VICENTE


A Rua da Judiaria faz alusão aos Painéis do Museu das Janelas Verdes ou Políptico de São Vicente, identificando o homem gordo com um livro aberto, no Painel dito da Relíquia, como um judeu, e logo o famoso Isaac Abravanel.

Pode ser que sim, mas a longa controvérsia em torno dos "mistérios dos painéis" desde a publicação do ensaio inicial de Joaquim de Vasconcelos em 1895 não permite, com toda a segurança, afirmá-lo.

Aliás tudo à volta do políptico de S. Vicente é absolutamente extraordinário. E a paixão que o debate suscita, com alguma violência diga-se e tragédia mesmo (exemplo disso foi o suicídio de Henrique Loureiro), sugere que se seja prudente nalgumas das "certezas" proferidas. Quer no que toca a execução dos Painéis para a Sé de Lisboa, às diferentes interpretações e significados esgrimidos (Tese Vicentina, Fernandina, esotérica, etc), quer ao reconhecimento das diferentes figuras aí representadas, o que conduz a dizer que se está ainda longe da sua inteira compreensão. Paradoxalmente, ou talvez não, os historiadores remetem-se a um prudente silêncio interpretativo.

De facto, a questão não é pacífica e requer um cabedal de conhecimentos, desde o domínio da cultura da época e a leituras e saberes iconográficos, mitológicos, cabalísticos mesmo, que não estão ao alcance de qualquer um. Como exemplo da dificuldade existente, refira-se a arrumação primitiva das tábuas, o patrocinador do trabalho, ao debate sobre o menino do gorro (Painel do Infante), à suposta confusão entre o Infante D. Henrique (que ainda hoje é representado nos livros de historia como aquele homem do chapéu grande, que se vê no Painel do Infante) pela figura de D. Duarte, etc.

Como exemplo da controvérsia, diga-se que ao suposto judeu que a tese oficializada defendia há ainda poucos anos, o Dr. Belard da Fonseca há muito a resolveu a partir da leitura do texto que o homem gordo mostra, e de pesquisas feitas, e que diz tratar-se do borgonhês Olivier de la Marche. O texto decifrado pode ser lido na obra Os Mistérios dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, de Belard da Fonseca, que depois o traduziu. A cruz referida na Rua das Judiaria seria a Cruz de Santo André, e a cor da loba e do barrete usado, verde escura, era a libré dos "pannetiers" da casa de Bergonha. Inútil explicar quem era Olivier de La Marche. Apenas se pretende referir que não é fácil ter certezas nesta questão. Ficaria assim posta de parte tratar-se da figura de Abravanel, alquimista, sábio, bibliófilo e conselheiro de D. Afonso V, astrólogo ["A Era Messiânica manifestar-se-á quando Saturno e Júpiter estiverem conjuntos no signo Peixes (particularmente influente no que respeita a Israel por ser signo água ...)", in Dicionário do Milénio Lusíada, de Manuel Gandra, referindo-se a Isaac Abravanel]. Curiosamente D. Afonso V era um interessado por alquimia, tendo ao que alguns dizem escrito um livro (julgo que só circula policopiado), denominado "Tratado Alquímico". Para uma consulta bibliográfica sobre a questão dos Painéis, aqui se deixa algumas referências:

Obras a consultar: Joaquim de Vasconcelos, Tábuas da Pintura Portuguesa do Século XV, in Comercio do Porto, 27/28 Junho de 1895 / José de Figueiredo, O Pintor Nuno Gonçalves, Lisboa, 1910 / Alfredo Leal, Os Painéis do Infante e a Obra do Sr. José de Figueiredo, Lisboa, 1917 / José Saraiva, Os Painéis do Infante Santo, Leiria, 1925 / Affonso Dornelas, Os Painéis do Mosteiro de S. Vicente, Elementos para a sua Identificação, II vols, 1931 / Albino Lapa, História dos Painéis de Nuno Gonçalves, 1935 / Artur da Motta Alves, Os Painéis de S. Vicente num Códice da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Lisboa, 1936 / Georges Kaftal, Essai Iconographique sur Les Paneaux Atribués à Nuno Gonçalves, in Boletim dos Museus Nacionais, vol II, fas. 6, 1942 / Garcez Teixeira, O Significado dos Painéis de S. Vicente, Museu, vol. IV, 1945 / João Couto, Nuno Gonçalves, O Políptico de S. Vicente, Col. Museu, 1954 / Reynaldo dos Santos, Nuno Gonçalves, London, 1955 / Adriano de Gusmão, O Nuno Gonçalves da Phaidon – Erros, Omissões e Plágios, Eur. Amer., 1956 / Adriano de Gusmão, Nuno Gonçalves, Colecção saber, 1957 / António Belard da Fonseca, O Judeu, o seu Livro e a Crítica, 1958 / Vitorino Magalhães Godinho, in Revista de História, nº 37, São Paulo, 1959 / Armando Vieira Santos, Os Painéis de São Vicente de Fora, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis as Personagens e a Armaria, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis, IV vols, 1959-1967 / António Belard da Fonseca, Dom Henrique? Dom Duarte? Dom Pedro?, Lisboa, 1960 / António Manuel Gonçalves, Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, Museu, 1960 / Jorge de Sena, Os Painéis ditos de 'Nuno Gonçalves', in Revista Ocidente, nº 305/306, 1963 / José dos Santos Carvalho, Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, 1965 / Charles Sterling, Les panneaux de Saint Vicent e leurs Enigmes, in Revue d’Art, nº 159, 1968 / Jaime Cortesão, "A Historia dos Painéis de S. Vicente", in Historia dos Descobrimentos Portugueses, Circulo de Leitores, 1979 / José Luís Conceição Silva, Os Painéis do Museu das Janelas Verdes, Guimarães, 1981 / Jorge Segurado, Painéis de S. Vicente e Infante Santo, Ed. Noticias, 1984 / Paula Freitas & M. Jesus Gonçalves, Painéis de S. Vicente de Fora uma questão inútil?, 1987 / Dagoberto L. Mark, O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os Documentos, Caminho, 1988 / Theresa Schedel de Castello Branco, Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério, 1994

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

AUGUST STRINDBERG [1849-1912]



n. em Estocolmo, a 22 de Janeiro de 1849

"Sinto-me melhor porque li Strindberg. E não o li por ler, antes porque desejava aninhar-me contra o seu peito. Agarra em mim com o braço esquerdo, como se eu fosse uma criança, e ali fico feito homem sentado numa estátua. Dez vezes senti o perigo de cair mas à décima primeira instalei-me solidamente. À minha frente segurança e uma vasta perspectiva ... Enorme Strindberg, essa raiva, essas paginas conquistadas a murro ..." [F. Kafka, in August Strindberg, Inferno, Edições &etc, 1978]

"... Só completamente só, janto no quarto e como tão pouco que o empregado solícito fica penalizado. Há uma semana que não dou palavra e, por falta de exercício, o som da minha voz começa a sumir-se. Não tenho tostão. Preciso de cigarros e selos. Num esforço supremo concentro a minha vontade. Quero fazer ouro pela via seca e pelo fogo. Dinheiro há-de arranjar-se, as muflas, os cadinhos, as brasas, o fole, as pinças (...)

O inferno? Fui educado no mais profundo desprezo pelo inferno. Ensinaram-me que não passava de fantasia a rejeitar para a lista dos preconceitos. A verdade, porém, é que não posso negar a novidade que agora encontro na interpretação das penas ditas eternas. Já nos encontramos no inferno. A terra é o inferno, prisão construída por uma inteligência superior, de forma tal que não podemos dar um passo sem ferir a felicidade alheia e os outros não podem ser felizes sem nos fazer sofrer..." [August Strindberg, ibidem]

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