n. em Estocolmo, a 22 de Janeiro de 1849
"Sinto-me melhor porque li Strindberg. E não o li por ler, antes porque desejava aninhar-me contra o seu peito. Agarra em mim com o braço esquerdo, como se eu fosse uma criança, e ali fico feito homem sentado numa estátua. Dez vezes senti o perigo de cair mas à décima primeira instalei-me solidamente. À minha frente segurança e uma vasta perspectiva ... Enorme Strindberg, essa raiva, essas paginas conquistadas a murro ..." [F. Kafka, in August Strindberg, Inferno, Edições &etc, 1978]
"... Só completamente só, janto no quarto e como tão pouco que o empregado solícito fica penalizado. Há uma semana que não dou palavra e, por falta de exercício, o som da minha voz começa a sumir-se. Não tenho tostão. Preciso de cigarros e selos. Num esforço supremo concentro a minha vontade. Quero fazer ouro pela via seca e pelo fogo. Dinheiro há-de arranjar-se, as muflas, os cadinhos, as brasas, o fole, as pinças (...)
O inferno? Fui educado no mais profundo desprezo pelo inferno. Ensinaram-me que não passava de fantasia a rejeitar para a lista dos preconceitos. A verdade, porém, é que não posso negar a novidade que agora encontro na interpretação das penas ditas eternas. Já nos encontramos no inferno. A terra é o inferno, prisão construída por uma inteligência superior, de forma tal que não podemos dar um passo sem ferir a felicidade alheia e os outros não podem ser felizes sem nos fazer sofrer..." [August Strindberg, ibidem]
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