sábado, 24 de janeiro de 2004

SOLIDARIEDADE COM A FUNÇÃO PÚBLICA



"O Homem é um secular malvado, que, por perversão ou estupidez, construiu uma civilização de canibais, cem vezes mais malvada do que ele" [Gomes Leal]

A requintada hipocrisia com que alguns mencionam a Função Pública, ontem em greve por melhores condições de vida e qualidade de trabalho face a uma administração e gestão ruinosa, inoperante e incompetente que anos a fio a classe politica amamentou, pelos ditos assombrosos proferidos, na maior das soberbas e com entoações do mais profundo desprezo pela dignidade de quem trabalha, desvela bem os sinais dos tempos.

Dum lado os acólitos do neo-liberalismo balofo e de sacristia, para quem toda a perfeição reside na gestão privada, enquanto lá vão piscando os olhos aos amigos, entretidos a espoliar o Bem Público, fugindo aos impostos, praticando a corrupção moderna, com a eficácia e a produtividade conhecida. Outros, os ressaibiados que por fastio, acomodação servil e falta de qualificações técnico-profissionais foram atirados para a selva do mercado de trabalho, tão de agrado dos novos liberais, dobrados que lhes foram a espinha vertical, desatam em impropérios vários, quase sempre bem maledicentes e espumosos de servilismo e arrogância. Por fim aqueles que em papeletas avençadas, os opinativos serventuários dos seus donos bem amados, clamam com o dedo no ar contra a alimentação do monstro, bem sustentado que foi pelo cavaquismo nos tempos áureos do oásis e depois continuado em alegro folgazar pelos que lhe seguiram, burilam teorias orçamentais que fariam corar o Botas de Santa Comba.

A desorientação é evidente e total. Aliás é vê-los a dissertar sobre o vencimento dos assessores ministeriais (hi! Marques Mendes) e outros cérebros partidários, o pagamento da antiquíssima dívida da República ao poupado Jardim madeirense, o aumento e descontrolo das dívidas das autarquias locais a bem dos colegas de carteira, a qualidade técnica e profissional dos gestores públicos, ou das políticas de saúde e educação, para se entender de que se fala quando se fala de modo obstinado e boçal sobre as revindicações dos trabalhadores da Função Pública. Estamos disso crentes. [foto: Henri Cartier-Bresson, Bolsa de Londres, 1955