segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
Hoje ... estivemos assim!
"Não tive nunca nada a ver com as
guitarras dos estudantes: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das
pessoas de regresso a suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d'asas
amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente
um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente"
[Fernando Assis Pacheco, in Louvor do Bairro dos Olivais]
sábado, 27 de janeiro de 2007
Entrevista profana ao ... Miniscente
Mestre Luís Carmelo, na sua bondade de resgate opinativo sobre alguns aspectos conceptuais da blogosfera (coisa de mystério a neófitos), solicitou a este estabelecimento, que cuida de cativos instruídos & imprime letras carinhosas, a devassa de um inquérito. O desejo do Mestre, cumpre-se. É, pois, com ventura sorridente, que aqui partilhamos, à nossa ilustrada clientela, tão elevada missão. Graças! Luís Carmelo.
E, com a devida vénia ao editor, e para espargir os nossos paroquianos, deixamos um pequeno testemunho sobre tão delicado assunto [... a blogosfera]:
«A blogosfera é um dos poucos divertimentos intelectuais, que nos resta, contra o tédio. Palavra com 10 letras, de muita circulação em cafés, alcovas partidárias e oficinas de jornais, é a "máquina desejante" [chez Guattari] pós-moderna que mais aparenta viver. Não sabemos se é da crise de paradigma que nasce o ofício ou se, pelo contrário, é pela blogalização que se vai domesticar a crise. O certo é que esta epidemia do bloganço ainda está pouco vigiada, regulamentada ou admoestada, segundo rezam autorizados comentadores lusos. Assim, mui incivilizada contra o enfado, a blogosfera indígena é daquelas que mais aprontam "o grande espectáculo do desastre, o incêndio, a decomposição" [Tzara] da fazenda pública. Daí que os psiquiatras andem falidos, pois a blogofilia é "ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].
Alguns exegetas (nós, evidentemente) falam da blogosfera como uma sociedade invisível, à maneira de Daniel Innerarity, em que se assume uma nova relação entre espaço e sociedade, com movimentos e produção social própria, de "dimensão silenciosa" e fora do controlo do poder do Estado. Esta movediça desterritorialização, de transgressão global e em rede, marca uma nova discursividade, inscreve a vertigem da dissidência, sendo portanto a transformação mais radical dos nossos dias. E é sinal, pois, de uma "outra globalização": o investimento do desejo. Basta, por isso»
[ler todo o Inquérito, aqui mesmo]
Mestre Luís Carmelo, na sua bondade de resgate opinativo sobre alguns aspectos conceptuais da blogosfera (coisa de mystério a neófitos), solicitou a este estabelecimento, que cuida de cativos instruídos & imprime letras carinhosas, a devassa de um inquérito. O desejo do Mestre, cumpre-se. É, pois, com ventura sorridente, que aqui partilhamos, à nossa ilustrada clientela, tão elevada missão. Graças! Luís Carmelo.
E, com a devida vénia ao editor, e para espargir os nossos paroquianos, deixamos um pequeno testemunho sobre tão delicado assunto [... a blogosfera]:
«A blogosfera é um dos poucos divertimentos intelectuais, que nos resta, contra o tédio. Palavra com 10 letras, de muita circulação em cafés, alcovas partidárias e oficinas de jornais, é a "máquina desejante" [chez Guattari] pós-moderna que mais aparenta viver. Não sabemos se é da crise de paradigma que nasce o ofício ou se, pelo contrário, é pela blogalização que se vai domesticar a crise. O certo é que esta epidemia do bloganço ainda está pouco vigiada, regulamentada ou admoestada, segundo rezam autorizados comentadores lusos. Assim, mui incivilizada contra o enfado, a blogosfera indígena é daquelas que mais aprontam "o grande espectáculo do desastre, o incêndio, a decomposição" [Tzara] da fazenda pública. Daí que os psiquiatras andem falidos, pois a blogofilia é "ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].
Alguns exegetas (nós, evidentemente) falam da blogosfera como uma sociedade invisível, à maneira de Daniel Innerarity, em que se assume uma nova relação entre espaço e sociedade, com movimentos e produção social própria, de "dimensão silenciosa" e fora do controlo do poder do Estado. Esta movediça desterritorialização, de transgressão global e em rede, marca uma nova discursividade, inscreve a vertigem da dissidência, sendo portanto a transformação mais radical dos nossos dias. E é sinal, pois, de uma "outra globalização": o investimento do desejo. Basta, por isso»
[ler todo o Inquérito, aqui mesmo]
Fotografia: um raminho de Ministros
"Eis, enfim, a definição da imagem, de toda a imagem: a imagem é isso de que estou excluído" [Barthes]
Entre a confidência, o detalhe & a distribuição anatómica dos corpos (e rostos) na imagem do raminho de ministros (ali ao lado), há um código "natural", uma "cena" reunida de puro convite à conversão do leitor. Acolá, os olhares ministeriais interrogam-se e perturba-nos a impudência observada. Os sorrisos enigmáticos, muito bem improvisados, não deixam de ser tumultos moralizadores a qualquer rebelião indígena. A uma harmonia assim, o nosso remorso é uma simples minúcia. Sob os auspícios do Expresso, tão piedosa felicidade fotogénica é uma conspiração. Uma vingança.
Barthes fala-nos da fotografia como "um elipse da linguagem e uma condensação de todo um inefável social", isto é, a fotografia constituiria uma "arma anti-intelectual, com tendência a escamotear a política em benefício de uma 'maneira de ser', de um estatuto sócio-moral". Nada de mais exacto. A máscara ociosa de Manuel Pinho é uma pura deserção ao gélido rigor da fé económica, sendo um castigo a todos nós; a pose divertida de Lurdes Rodrigues revela uma transgressão inolvidável, uma falha na senhorial crispação com que todos os dias nos visita; Pires de Lima apresenta a fortuna da posição ousada e, confesse-se, uns lábios prometedores, logo utile dulci. O espelho deformador da imagem do raminho de ministros aí está, radiante de fulgor. A pátria agradece. Desolados e privados de fé jubilosa, vamos também de folia. A noite promete!
"Eis, enfim, a definição da imagem, de toda a imagem: a imagem é isso de que estou excluído" [Barthes]
Entre a confidência, o detalhe & a distribuição anatómica dos corpos (e rostos) na imagem do raminho de ministros (ali ao lado), há um código "natural", uma "cena" reunida de puro convite à conversão do leitor. Acolá, os olhares ministeriais interrogam-se e perturba-nos a impudência observada. Os sorrisos enigmáticos, muito bem improvisados, não deixam de ser tumultos moralizadores a qualquer rebelião indígena. A uma harmonia assim, o nosso remorso é uma simples minúcia. Sob os auspícios do Expresso, tão piedosa felicidade fotogénica é uma conspiração. Uma vingança.
Barthes fala-nos da fotografia como "um elipse da linguagem e uma condensação de todo um inefável social", isto é, a fotografia constituiria uma "arma anti-intelectual, com tendência a escamotear a política em benefício de uma 'maneira de ser', de um estatuto sócio-moral". Nada de mais exacto. A máscara ociosa de Manuel Pinho é uma pura deserção ao gélido rigor da fé económica, sendo um castigo a todos nós; a pose divertida de Lurdes Rodrigues revela uma transgressão inolvidável, uma falha na senhorial crispação com que todos os dias nos visita; Pires de Lima apresenta a fortuna da posição ousada e, confesse-se, uns lábios prometedores, logo utile dulci. O espelho deformador da imagem do raminho de ministros aí está, radiante de fulgor. A pátria agradece. Desolados e privados de fé jubilosa, vamos também de folia. A noite promete!
Momento ... para o povo
Dizia o bom do Trindade Coelho [ABC do Povo, 1901] que: "o que convinha era tirar ao antigo Abc, aliás tão velho como Portugal e nelle tão profundamente arraigado, que diremos ter raízes na própria terra, era tirar ao antigo Abc, digo, a sua rudez barbara primitiva, - e aperfeiçoando-o e civilizando-o quanto possivel, convertê-lo, de abstruso que era, em coisa simples, e de barbaro que era, em coisa moderna".
Portando para maníacos da Tlebs ou intolerantes da mudança, lançamos sobre os vossos olhos escolares, uma página do Abc do Povo, de mestre T. Coelho e desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro. Edição da velha Aillaud, sitiada, antes, perto da Fnac de-todos-os-santos, com data do ano da graça de 1901. Disse.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
O sr. Presidente do Conselho
"... a primeira vez que vim à Assembleia Nacional, foi por causa do Decreto 40.900 - o único que foi suspenso no antigo regime por pressão da chamada 'rua', no caso os estudantes (...) houve uma luta em 57 muito árdua contra o 40.900, que acabava com a autonomia das associações de estudantes e colocava-as na dependência da Mocidade Portuguesa (...) Nós viemos todos, às centenas, ocupámos as galerias. A 12 de Janeiro de 1957 (...) Sucedeu que, nessa altura - eu era presidente da Associação de Estudantes do Técnico -, íamos falar com o presidente da Assembleia e, ao passar pelos Passos Perdidos, havia uma grande agitação dos deputados do regime, porque havia alguns que queriam propor uma moção de suspensão. E andava o Mário Figueiredo, que era o líder da União Nacional, o líder parlamentar, a gritar completamente desvairado, de grupo a grupo: 'O senhor presidente do Conselho não quer'. E eu, quando passo agora nos Passos Perdidos lembro-me muitas vezes desta imagem (...)
No dia em que for possível, de novo, haver uma cena destas, já não se passará ali, mas dentro dos gabinetes (...)
Interrogo-me se não estamos a recuperar alguns elementos de governamentalização da Assembleia da República (...)
... quando se entende que o deputado não é mais que um autómato ou uma correia de transmissão - não pode ter iniciativas, tem de ser cinzento, não ter ideias próprias, não tem o direito de dizer a sua opinião ..."
[João Cravinho, entrevista ao jornal Público, 26/01/07 - sublinhados, nosssos]
Mais do mesmo na CML
O desmanchar de feira na Câmara Municipal de Lisboa - imortalizada entre os inefáveis adeptos do sr. professor Carmona (o técnico ex officio) e a galeria da putativa oposição (muito loco dolenti) - é um admiravel espectáculo. Os sintomas são os do costume. O tratamento, mais do mesmo. Não há, portanto, enxerto que lhes valha.
O caso, ainda assim, não deixa de ser curioso pela clientela que amotina. Os bons espíritos, que nestas ocasiões argumentam, expõem-se, inconsoláveis. Nada os demove. Os amigos do sr. professor Carmona - um génio, com doutoramento e tudo, dizem - abraçam o virtuoso presidente, à falta de memória cívica. Os ausentes da oposição disfarçam e assobiam abnegadamente para o lado. O dr. Sá Fernandes tem a cabeça a prémio, se ainda a tiver sobre os ombros. O dr. Santana arregimenta as tropas, com meia dúzia de girls à ilharga. Manuel Maria Carrilho, em superstição filosófica, já tinha saído com o seu próprio pé. O dr. Marques Mendes conta os dias para o final do seu talentoso apostolado. O eng. Sócrates, depois de correr com o missionário anti-corruptela Cravinho, quer é que o deixem em paz e não quer falar de eleições, coisa nenhuma (ao que parece o gentio anda a cismar demais e de bolsos vazios, o que não augura nada de bom). E, enfim, nós próprios andamos muito afadigados. Mas nada de maior. Descansem as nossas leitoras.
Deste modo, o fait divers da CML, que a politica oblige e os indígenas observam (à falta de melhor), é uma usual repetição, nemine discrepante. Ninguém ignora que nossa paróquia é um cantinho onde toda a gente se conhece, onde andamos alegremente ocupados uns com os outros. Não espanta, pois, que a senhora Gabriela Seara surja a pagar as moléstias de outros. A coisa era há muito comentada e esperada. O talento dessa gente para tentar desviar atenções e converter a manada politica (coisa que o eng. Cravinho entendeu por demais e Sócrates, vaidosamente, galhofou) não é só pouco cavalheiresca, mas insultuosa. O bloco central continua, assim, no melhor dos martírios. Quase nada o salva. O que virá em seguida, confirmará. Um dia ... qualquer!
Dá-me água benta pois!
"Pois eu sofro também o abominável fado
de me tornar em fera e uivar como as cadelas!...
Toda a noite ando a uivar às trémulas estrelas
em torno ao meu solar e as pé do meu castelo!
Sim! o luar consola, é transcendental e belo,
mas que quero o repouso e as noites de remanso,
pois fatiga-me uivar e toda a noite canso
de andar errante à lua - essa triforme fria!
Dá-me água benta pois!"
[Gomes Leal, in O Anti-Cristo]
quarta-feira, 24 de janeiro de 2007
A. H. de Oliveira Marques (1933-2007)
A. H. de Oliveira Marques morreu ontem, dia 23 de Janeiro, em Lisboa. O professor Oliveira Marques doutorou-se em História pela FLUL, tendo sido aí professor. Considerado "especialista em história da Idade Média" (com abundante produção teórica), trabalhava nos últimos anos no âmbito da história contemporânea, com relevo para os trabalhos sobre a I República e o Estado Novo, a par dos trabalhos historiográficos (e de divulgação) da Maçonaria em Portugal. Aliás, o professor Oliveira Marques, era um dos seus membros ilustres, tendo sido grão-mestre adjunto do GOL entre 1984 e 1986 e seu Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33, entre 1991 e 1994.
[via Almanaque Republicano]
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
À minha querida MEG
"Sê para mim materna, ó noite tranquila /.../ E sê frescor e alivio, ó noite, sobre a minha fronte ..." [F.P.]
A noite ou aparição feminina do mundo chegou-nos hoje repassada de tristeza. Mão avisada, diz-nos que a MEG, Maria Elisa Guimarães, tinha partido para a eternidade, para o repouso da noite da grande romagem. Decerto filosofando nessa jornada, construindo sonhos e poesias, caminhando para a luz sabendo que "no céu, saber é olhar,/ na Terra, saber é recordar". A MEG era de uma generosidade luminosa. O jardim ameno do seu blog era um grande e agradecido sorriso. Escrevia no Sub Rosa como "forma de resistência", como "desejo de sobrevivência". Com tranquilidade e muita esperança. Docemente. Quem ama a vida, assim, desperta decerto na eternidade. A nossa sentida homenagem.
daqui, de Portugal, que a Maria Elisa Guimarães tanta amava, um derradeiro Vale! de despedida.
Boa noite, MEG. Um beijo.
domingo, 21 de janeiro de 2007
Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)
"Senti o mito, a miragem e o símbolo.
Até que assentei definitivamente as pálpebras
sobre o globo e me atribuí também o sono
como um dos indícios da consciência" [Fiama]
"Passo por um destroço. Perto do fim? O fim de quê? Por onde vai o Livro? Retomo o paradoxo, paralelo do de tão longo amor, tão curta vida. Vida que, perante outra dimensão, é, por definição, curta: Livro que, perante a dimensão do heterogéneo é, por definição, breve (...) Onde posso eu, Leitor, fechar-te, Breve Livro?"
[Fiama H. P. Brandão, in Colóquio Letras, nº 51, Setembro de 1979]
In Memoriam Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)
"... vinda de algures, com notícias de alguém,
indo para além, para outros ouvidos, num país" [Fiama]
Deixam-nos cedo, os nossos maiores poetas. Foi assim com Sophia, finda levada que foi Fiama. A eterna demanda da alma dos poetas é o "breve livro que está ali, no todo ou em parte, coeso ou dilacerado por outros poemas" (Fiama). Com a voz ouvida na terra, sonhado o cante nosso que "o poema encobre", partem, de vez, para o outro lado do "mar", enxugadas que foram as lágrimas. E foram muitas. A caravela, "ao sabor do sopro que impele o mar" (Fiama), sobe alta ao encontro da infinidade, passagem ou guia do céu. Fiama tinha uma energia espiritual, ou interior inocente, prenúncio de uma "linguagem poética" que vai (para citar Eduardo Pitta) "até à beira do abismo". Por isso o drama da demanda espiritual, dos seus últimos anos. Por fim, o porto de luz no passado dia 19 de Janeiro. Até sempre, Fiama!
"Ficas a ler comprazida diante das rosas
silhueta que vislumbrei, compus e reanimei.
Tinhas o perfil marcado cruamente pela luz
as mãos claras no colo, os cabelos despojados
do brilho das cabeleiras soltas, mas juvenis
e sacudidas no inicio da tarde com alegria ..."
[Fiama, in Imago Mea]
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
Almanaque Republicano - Actualização
Caríssimas senhoras e cavalheiros sublimes, o Almanaque Republicano, para memória remontada & beneficio da pátria, anuncia que foram invocados desde a nossa última missiva
os Votos de um Bom Ano de 2007, com foto de Joshua Benoliel do alfarrabista Dias, sito da Feira da Ladra, em 1907; as Efemérides de Janeiro, parte I; a Imprensa Periódica Portuguesa: notas bibliográficas III (continuação); uma reprodução do postal do "Grandioso Palácio onde estão installados os Grandes Armazéns do Chiado", s.d.; as Efemérides de Janeiro, parte II (conclusão); a biografia do republicano Leão Oliveira (1846-1898); biografia do jornalista republicano António Narciso Rebelo da Silva Alves Correia (1860-1900); postal com a Rainha D. Amélia [1865-1951] e o Rei D. Carlos I [1863-1908]; uma extensa e curiosa (bio)bibliografia de Manuel Emídio Garcia (1838-1904), notável professor catedrático de direito de Coimbra; foto das Comemorações do primeiro aniversário da República, com o carro da Maçonaria no cortejo; um post sobre a Maçonaria e Manuel Emídio Garcia (notas); novo post sobre a Maçonaria e Manuel Emídio Garcia, com a transcrição de documento epistolar e foto do maçon Miguel António Dias; um brevíssimo apontamento de Miguel António Dias; uma extensa e rica (bio)bibliografia do marcante jornalista António França Borges (1871-1915); o assinalar da data de nascimento de António Maria Machado Santos (1875-1921), com a curiosa foto de carbonários da Alta Venda (António Maria da Silva, Luz de Almeida e Machado Santos); um conjunto de textos escolhidos sobre António Maria Machado Santos; a reprodução da capa do jornal O Mundo de 5 de Outubro de 1910; o assinalar de um dos momentos marcantes da nossa história, o Ultimato Inglês, com o texto que o embaixador inglês entregou ao governo; uma gravura que regista a Revolta Republicana do Porto; uma breve biografia, ainda, de António Maria Machado Santos, seguida de bibliografia; reprodução de foto do Banquete em Honra de Luz de Almeida (13/2/1911), oferecido pela Loja Montanha, onde era Venerável; o assinalar da data de nascimento de Joshua Benoliel; um trabalho bio-bibliográfico sobre o jornalista Policarpo Xavier de Paiva; o convite para o Colóquio: A Revolução de Fevereiro de 1927 contra a ditadura: oitenta anos depois, a realizar em Coimbra dia 2 de Fevereiro; uma bio-bibliografia do importante e notável maçon Manuel Borges Grainha; foto do Congresso Pedagógico de 1912, na Sociedade de Geografia de Lisboa; uma Adenda ao post sobre Manuel Borges Grainha.
A ler e consultar o Almanaque Republicano. Sempre ao V. dispor!
Saúde e fraternidade.
Novo Blog - O Cão de Parar
"um cão perdigueiro de dous narizes, o melhor da matilha" [Camilo]
«Sendo presente que existe um conjunto estimado de documentos escritos sobre o cão de parar, de altíssima memória, ou trabalhos autorizados sobre o elogio do cão - "de aves, de falcão, de busca, de mostra, de parar" - e outros, bem valiosos, que a poeira dos arquivos condena ao esquecimento; sabendo que há um grémio de ilustres e respeitados amantes das "antigas artes de cetraria, altanaria ou montaria" e do perdigueiro português, em particular; não se desconhecendo que o debate, entre diligentes espíritos lusitanos, levanta inspiradas perplexidades, generosas polémicas e amenas narrativas, quase sempre de quantiosa erudição; vêm estes apontamentos dar testemunho da vivacidade sobre o estudo e a grandeza do debate sobre o "cão de parar", louvando e prestando homenagem fraternal ao Mestre A. C., cuja familiaridade e sensibilidade a esta narrativa nos assombra e encanta. A ele, pois, este espaço de conversação e de elogio do cão»
[ler Aqui]
Leilão de Livros - 22 e 23 Janeiro 2007
A leiloeira Leiria & Nascimento apresenta, para leilão, um conjunto de livros importantes e raros, conforme é dado ler no Catálogo (disponível on line) elaborado por Clara Ferreira Marques e o mestre José F. Vicente.
Dizem:" Neste catálogo, constituído, por livros de várias proveniências, encontrará as mais variadas temáticas, das quais destacamos o magnifico conjunto de livros sobre Africa e expansão portuguesa, obras de Arte, Literatura, Historia, Equitação, Tauromaquia, etc ...".
Referem um conjunto apreciável de raridades, como o incunábulo Historiarum Adversos Paganos [ca. 1482], de Paulo Orósio; a Crónica dos Frades Menores, de Marcos Lisboa, 1582; o Commentarii Collegii Conimbricensis Societatis Iesv (1593); De Societatis Iesv Origini Libelvs, de Diogo Paiva de Andrade (1566); Marial, Discvrsos Morales en las Fiestas de la Reina del Cielo, do Pe. Luís de Azevedo (1602); a Nova Escola para Aprender a Ler e Escrever, de Manuel de Andrade de Figueiredo (1722); as Constituições do Arcebispado de Évora (1753); etc.
O Leilão realiza-se nos próximos dias 22 e 23 de Janeiro - Rua de Santo António à Estrela, 31 B, pelas 21 horas. A não perder. Catálogo on line.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
Tertúlias no Casino
A Figueira da Foz tem destas coisas. Terra simples e de gente boa, isolada da civilização (que há muito a esqueceu), onde pouco ocorre e nada nasce, volve por vezes à vida. Os senhores locais, à falta de missão elevada e estima própria, animam-se sempre com os obséquios aos notáveis. Por vezes, os seus indígenas, são mesmo grotescos - como o desengano do dr. Santana Lopes, agora, revela. Noutras ocasiões são tão respeitáveis, entusiastas e festivos, que a todos comove. Que a todos enobrece.
Foi esse o caso, ontem (dia 16), na inauguração das Tertúlias no Casino, com a participação do dr. Mário Soares. Com o salão nobre do Casino da Figueira pleno de tertúlios, de virtudes ilustradas e estima ardente, a reunião celebrou o gosto pelo debate (ainda possível no país), caprichou no brilho e esplendor com que sabe receber, festejou o convidado. Merecidamente!
É certo que Mário Soares cedo assumiu que não argumentaria sobre questões de política interna. O que não deixa de ser curioso face ao estado calamitoso do país. Compreende-se. Mas bastou o que disse sobre Blair, Bush e a UE, para se entender o que lhe alumia o espírito. Ao dr. Soares, como se sabe, tudo se perdoa. Porém, há ocasiões onde a palavra, mesmo que de prata seja, não resulta em silêncio de oiro. A generosidade não vai a tanto. Nem o país.
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
"As elites em Portugal ..."
«... quando se estuda a cultura portuguesa e a história de Portugal e depois se ouve os políticos actuais, vê-se que eles não estão senão a repetir um conjunto de circunstâncias que vêm sendo repetidas desde a decadência do império, em D. João III. É quando o império se transforma em empório comercial (...) Desde então, com excepção de 50 anos do ouro do Brasil, Portugal estará continuadamente com uma divida externa acumulada; de quando em vez, por 'virtudes milagrosas', diz Eduardo Lourenço, a mão de Deus faz com que normalizemos as contas do Estado para rapidamente voltarmos ao mesmo. Fazemos sempre a mesmo coisa desde esse tempo. Agora, por exemplo, o Governo orgulha-se de ter feito um contrato com o MIT. D. João III mandou 50 estudantes justamente para Paris e Bordéus e trouxe os mais altos intelectuais destas duas cidades para Portugal para fazerem a reforma da universidade. Dez, 15 anos depois, a maior parte ou estava presa pela Inquisição ou tinha regressado. Fernando Gil, o maior filósofo da segunda metade do século XX em Portugal, morreu em Paris; o professor Damásio está nos EUA, Eduardo Lourenço continua a viver em França, mesmo depois de reformado (...)
... nostalgia de uma normalização de Portugal, na qual as elites assumam definitivamente que Portugal não tem que ser uma Irlanda, uma Finlândia, uma América, uma Alemanha. Assumir que Portugal se encontra num meio termo entre países, esses sim de facto atrasados e países de facto adiantados. Nós não precisamos de estar no pelotão da frente, ao contrário do mito de Sócrates e Cavaco continuam a alimentar. A que propósito? (...) Quando o professor Cavaco se for embora, estaremos exactamente na mesma posição do tempo de D. João III: nem os mais avançados, nem os mais atrasados (...)
O grande problema de Portugal é a modernização nunca passar das elites para baixo. Corte gorda, povo magro (...) A elite hoje tem vergonha do povo e, à força, quer transformar o povo de burro em cavalo a correr para estar no pelotão da frente. Mas cortando nas maternidades, nas escolas»
[Miguel Real, entrevista a Adelino Gomes, Mil Folhas, 12/01/2007 - sublinhados nossos. Foto: os "Vencidos da Vida", ibidem]
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
"O que se há-de fazer!?"
Um cidadão, residente no concelho de Odemira, foi "colhido por um automóvel" quando seguia - na sua vida - de bicicleta. O seu nome, António José Oliveira. Eram 7.30 da manhã, tinha 57 anos e muitos de trabalho e, sem sorte nenhuma, estava no local errado e na hora errada. Era, do mesmo modo, um cidadão obscuro. Não tinha cunhas, não era conhecido dos jornais, não era doutor nem escrevia em blogs e consta que nunca foi ao Plateau, ou ao Lux. Nada o poderia salvar, portanto. E assim foi. Há momentos, fatais, na nossa vida. Inimagináveis.
O nosso cidadão, foi levado para o SAP de Odemira, que não "dispõe", esclarece, de meios assistenciais, para tamanha gravidade. Passavam 3 horas, entretanto, desde o incidente
[Correia de Campos, algures andava em trabalhos ministeriais, com agarrado séquito emplumado. O trabalho governamental é uma canseira afamada. Uma escravidão solene.]
Ao António José Oliveira, cidadão residente no concelho de Odemira, foi-lhe concedido uma "viatura de emergência e reanimação do INEM", vinda de Beja. Mais 1 hora na espera. Outra, ainda, para "estabilizar a vítima". O padecente era, evidentemente, o próprio cidadão e a putativa "estabilização" - 5 horas passadas - era para "evacuar o ferido por helicóptero", para o Santa Maria. Em Lisboa, capital do império.
Não chegou em vida, o nosso cidadão, ao Hospital de todos os enfermos. 7 horas se passaram. Azar, como se percebe, existir uma única viatura "com apoio médico" em todo o distrito. Infelicidade chamar-se António ... José Oliveira. Infortúnio habitar no distrito de Beja. Viver em Portugal. Ser cidadão europeu.
Entretanto, em fugidia observação à TVI, Correia de Campos, o perturbado político, diz não ter "disponibilidade na agenda para fazer comentários" ao sucedido. O trabalho, afinado, da destruição do SNS assim o exige e (sabe-se) a agenda política nunca acaba. Depois, rezam as croniquetas, ficou curioso para saber se "alguma coisa de errado funcionou". Perfeito de humor, este ministro.
Do mesmo modo, convidado a pronunciar-se sobre o infeliz facto e o apoio assistencial dado, um irmão do nosso cidadão disse à TVI: "O que se há-de fazer!??". E, na verdade, está tudo dito. Que podemos fazer com este ministro, este Ministério, este País? Pode-se saber? Ou já não há salvação?
domingo, 14 de janeiro de 2007
Em trabalhos profanos
"Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela [afeição
e ficar lá sempre, sempre criança e sempre [contente" [F. P.]
Nesta semana, de antiguidades sacras e trabalhos ternos, fomos peregrinos. Não houve cadeira imperfeita ou passadio exausto. Tudo atendemos, em supremo consolo. Fomos bem alumiados. Não desaparecemos, não nos resignámos, nem sequer dormimos. Fomos, somente, viciosos. Confiamos em zelo antiquíssimo. Aproveitámos o tempo. E rejuvenescemos, apenas.
Nesta semana, entrámos em festivos folhetos & enternecidos recortes de jornais. Não houve verso solto que não esmolássemos. Nem capa que não abríssemos. A receita foi generosa, por demais.
Esta semana, não cuidámos de salvar o país, como o ponderoso dr. Cavaco sustenta, o professo eng. Sócrates reclama & alguns bloggers amamentam. Não mendigámos novas & velhas teorias salvíficas, nem aderimos a jogos de cativeiros. Evitámos, mesmo, os olhares dos sapientíssimos escribas periódicos. E, quase, resistimos à blogosfera. Que, convenhamos, está uma merda. Fomos quase perfeitos. Hoje regressámos. Com soidade e sentimentos mui pelejados. Não carece, pois, de agradecimentos, ó gente! Agradecido.
Boas noutes!
domingo, 7 de janeiro de 2007
Gaspar Simões: 20 anos passados sobre a sua morte [1903-1987]
[via evocação de mestre Gaspar Simões, em post do dia 6 de Janeiro por João Gonçalves]
"A posição do crítico é difícil e a sua missão ingrata. Demais, num país como o nosso, pouco dado à disciplina intelectual e avesso a toda a espécie de critica, de tal modo se arreigou nos autores a ideia de que o critico é um inimigo que nenhum critico o pode ser lealmente sem que sobre ele pese a má-vontade e o ressentimento dos que escrevem ..."
[Gaspar Simões, in João Gaspar Simões 1903-2003 . Evocação de uma Presença, Catálogo bibliográfico da Biblioteca, Museu e Arquivos da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Maio 2003, p. 33]
"Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade"
[Gaspar Simões, carta (09/06/1936) a Adolfo Casais Monteiro, idem, ibidem]
[via evocação de mestre Gaspar Simões, em post do dia 6 de Janeiro por João Gonçalves]
"A posição do crítico é difícil e a sua missão ingrata. Demais, num país como o nosso, pouco dado à disciplina intelectual e avesso a toda a espécie de critica, de tal modo se arreigou nos autores a ideia de que o critico é um inimigo que nenhum critico o pode ser lealmente sem que sobre ele pese a má-vontade e o ressentimento dos que escrevem ..."
[Gaspar Simões, in João Gaspar Simões 1903-2003 . Evocação de uma Presença, Catálogo bibliográfico da Biblioteca, Museu e Arquivos da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Maio 2003, p. 33]
"Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade"
[Gaspar Simões, carta (09/06/1936) a Adolfo Casais Monteiro, idem, ibidem]
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