Entrevista profana ao ... Miniscente
Mestre Luís Carmelo, na sua bondade de resgate opinativo sobre alguns aspectos conceptuais da blogosfera (coisa de mystério a neófitos), solicitou a este estabelecimento, que cuida de cativos instruídos & imprime letras carinhosas, a devassa de um inquérito. O desejo do Mestre, cumpre-se. É, pois, com ventura sorridente, que aqui partilhamos, à nossa ilustrada clientela, tão elevada missão. Graças! Luís Carmelo.
E, com a devida vénia ao editor, e para espargir os nossos paroquianos, deixamos um pequeno testemunho sobre tão delicado assunto [... a blogosfera]:
«A blogosfera é um dos poucos divertimentos intelectuais, que nos resta, contra o tédio. Palavra com 10 letras, de muita circulação em cafés, alcovas partidárias e oficinas de jornais, é a "máquina desejante" [chez Guattari] pós-moderna que mais aparenta viver. Não sabemos se é da crise de paradigma que nasce o ofício ou se, pelo contrário, é pela blogalização que se vai domesticar a crise. O certo é que esta epidemia do bloganço ainda está pouco vigiada, regulamentada ou admoestada, segundo rezam autorizados comentadores lusos. Assim, mui incivilizada contra o enfado, a blogosfera indígena é daquelas que mais aprontam "o grande espectáculo do desastre, o incêndio, a decomposição" [Tzara] da fazenda pública. Daí que os psiquiatras andem falidos, pois a blogofilia é "ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].
Alguns exegetas (nós, evidentemente) falam da blogosfera como uma sociedade invisível, à maneira de Daniel Innerarity, em que se assume uma nova relação entre espaço e sociedade, com movimentos e produção social própria, de "dimensão silenciosa" e fora do controlo do poder do Estado. Esta movediça desterritorialização, de transgressão global e em rede, marca uma nova discursividade, inscreve a vertigem da dissidência, sendo portanto a transformação mais radical dos nossos dias. E é sinal, pois, de uma "outra globalização": o investimento do desejo. Basta, por isso»
[ler todo o Inquérito, aqui mesmo]