sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
O sr. Presidente do Conselho
"... a primeira vez que vim à Assembleia Nacional, foi por causa do Decreto 40.900 - o único que foi suspenso no antigo regime por pressão da chamada 'rua', no caso os estudantes (...) houve uma luta em 57 muito árdua contra o 40.900, que acabava com a autonomia das associações de estudantes e colocava-as na dependência da Mocidade Portuguesa (...) Nós viemos todos, às centenas, ocupámos as galerias. A 12 de Janeiro de 1957 (...) Sucedeu que, nessa altura - eu era presidente da Associação de Estudantes do Técnico -, íamos falar com o presidente da Assembleia e, ao passar pelos Passos Perdidos, havia uma grande agitação dos deputados do regime, porque havia alguns que queriam propor uma moção de suspensão. E andava o Mário Figueiredo, que era o líder da União Nacional, o líder parlamentar, a gritar completamente desvairado, de grupo a grupo: 'O senhor presidente do Conselho não quer'. E eu, quando passo agora nos Passos Perdidos lembro-me muitas vezes desta imagem (...)
No dia em que for possível, de novo, haver uma cena destas, já não se passará ali, mas dentro dos gabinetes (...)
Interrogo-me se não estamos a recuperar alguns elementos de governamentalização da Assembleia da República (...)
... quando se entende que o deputado não é mais que um autómato ou uma correia de transmissão - não pode ter iniciativas, tem de ser cinzento, não ter ideias próprias, não tem o direito de dizer a sua opinião ..."
[João Cravinho, entrevista ao jornal Público, 26/01/07 - sublinhados, nosssos]