segunda-feira, 24 de abril de 2006
PREC - "Põe, Rapa, Empurra, Cai", nº zero
"A liberdade é como uma 'corrente de ar', dizia André Breton, e, para cumprir o seu papel, essa corrente de ar deve começar por varrer todos os miasmas do passado ..." [B. Péret, in PREC, 2005]
Saiu o número zero do "jornal para ler e não para olhar", com a bênção do colectivo do P[õe] R[apa] E[mpurra] C[ai] e textos de Vítor Silva Tavares, João Bernardo, Jorge Silva Melo, Miguel Serras Pereira, João Mesquita, Sanguenail, Eduarda Dionísio, Benjamin Péret, entre muitos. Datado de Novembro de 2005, o PREC depois de ter debutado nas Caldas da Rainha (e bem), Lisboa e Porto, apresenta-se em papel suave, como deve. Como Saint Just, "cada um combate por aquilo que ama: eis aquilo a que se chama falar de boa fé". Para continuar, dizem. Assim se espera.
À venda na livraria Artes & Letras.
Bibliomanias: actualização - Sebos do Rio de Janeiro
"No Rio de Janeiro, destacavam-se a Livraria Kosmos e a Livraria São José, de Carlos Ribeiro, onde a gente permanentemente tinha bons encontros intelectuais e se defrontava com fortes tentações. Como a melhor forma de se livrar de uma tentação é ceder, não é difícil imaginar quantos livros vieram de lá aqui para casa.
Havia livrarias menores, mas de bons livreiros, como a de Tancredo de Barros Paiva, autor do Dicionário de Pseudonymos [1929], até hoje uma referência obrigatória e do qual tenho um exemplar autografado, e a Livraria Santana, na rua do Carmo, onde comprei uma colecção completa da revista O Novo Mundo, publicada em Nova York, na década de 1870, por José Carlos Rodrigues. Havia outros sebos que publicavam, aos domingos, anúncios de página inteira no Jornal do Comércio, que me punham a postos ao telefone logo cedo na segunda-feira ... Muitas vezes o esforço valeu a pena.
Um livreiro importante da rua São José, na primeira metade do século XX, foi J. Leite, conhecedor de bibliofilia como nenhum outro do Rio, que tinha a livraria creio na rua São José nos anos 60 e aos poucos cessou a sua actividade. As livraras da rua São José, aliás, não resistiram à especulação imobiliária. Todas funcionavam em prédios antigos, que forma vendidos a Walter Cunha, também livreiro mas que fez fortuna com os imóveis, não com os livros, embora fosse um livreiro de porte. Ele mantém uma livraria na rua da Assembléia e, segundo a lenda, tem na Tijuca um depósito com cerca de um milhão de livros" [José Mindlin, in Memórias Esparsas de uma Biblioteca, Escritório do Livro, 2004]
Fotos: Cláudio Coimbra e Ernani Duarte que pertencem à Livraria "Mar de Histórias", situada em plena Copacabana. A última é de José Alberto Tomaz Vieira, da Biblio & Arte, especializada em livros e fotos de Portugal.
sábado, 22 de abril de 2006
Parabéns sr. Jorge Nuno Pinto da Costa
O F.c.P. é o novíssimo campeão nacional de futebol. Estes tempos viciosos são, de facto, calamitosos. O edifico inteligente do futebol indígena pariu um extraordinário campeon e com todo o merecidamente, diga-se!
O F.c.P. é bem ministrado de jogadores: contámos para aí 2 ou 3 de reputada validade futebolística. Entre eles o melhor guarda-redes do Mundo e, cientificamente provado, da cidade do Porto: o jovem Vítor Baía. Curvemo-nos ... mas à cautela. Depois está composto dos mais genuínos e distintos árbitros da paróquia lusa. Parabéns sr. António Garrido. Longa vida! Com assombro piedoso, tem o campeon luso, um enternecido treinador que, caindo no regaço dos associados da Ribeira d'Invicta, confessa ... ter estimado os mimos & outras futilidades tripeiras com que foi, confessamente, agraciado. Assim não há equipas multidisciplinares que resistam. Impressionante, este Adriaanse.
Literariamente (futebolisticamente falando) tem o F.c.P. um rol de devotos intelectuais, dos mais invulgares intelectos nativos, que deslumbram e maravilham nos exemplos de hooliganismo que exalam. Manuel Serrão impressiona. Francisco José Viegas faz inveja. Maria José Rita alenta. Pinto da Costa, esse grande campeon da poesis, está, por seu lado, em toda a parte. E ofusca o poetismo do futebol nacional. Hoje, decerto, nos balneários, leu uma ode elegíaca à Maria Elisa e releu aos incréus a parábola costumeira do apito dourado. Está de parabéns. E nós por ele. Deo Gracias.
O Valor do Livro Antigo em Portugal
Prestes a sair do prelo, direccionada para os amantes dos livros (e com cabedal para isso), está a extraordinária obra, "O Valor do Livro Antigo em Portugal", de autoria de João Figueiredo Pereira e de José Ferreira Vicente.
Nesta publicação, em edição bilingue, curiosa e muito importante, pretende-se apresentar a "valorização do livro antigo de autores portugueses e estrangeiros com publicações de interesse para Portugal. Contém também a mais completa bibliografia dos mesmos autores, alguma vez publicada".
A obra, absolutamente notável, "será publicado em vários volumes, cada um dos quais abordará primeiramente um século". O primeiro volume "trata dos livros e manuscritos de autores nascidos até ao século XVI. Sendo bilingue (português e inglês), destina-se a ser distribuído por todo o mundo". Obra importante para os bibliófilos e especialistas do livro antigo. Consultar on line.
Leilão de Biblioteca - 2ª noite, 27 Abril
Algumas referências da 2ª e última noite: Dedalus, Portrait de l'artiste jeune par lui-même, de James Joyce, Paris, 1924 [1ª ed. francesa] / Portugal Illustrated, do Revd. W. M. Kinsey, 1829 / Historia Politica e Militar em Portugal, por Latino Coelho, II vols / A Barba em Portugal, de J. Leite de Vasconcelos, 1925 / Etnografia Portugueza, Leite Vasconcelos, 1933-88, X vols / Erro Próprio, de António Maria Lisboa, s.d. / Lusitânia. Revista Estudos Portugueses, dir. Carolina Michaellis de Vasconcelos, 1924-27, X numrs / Descripção Histórica e Economia da Villa e Termo de Torres-Vedras, de M. A. Madeira Torres, 1861 / Vários Lotes de Manuscritos (Espólio da Casa dos Condes de Sabugal e Óbidos/ Espólio Tavares Proença / Vila de Serpa / Miguelismo / Rui de Pina: Crónicas de Don Duarte, Afonso V) / Chronica do Muito Alto, e Muito Esclarecido príncipe D. Sebastião ..., por D. Manoel de Menezes, 1730 / Crónica de Palmeirim de Inglaterra ..., de Francisco de Moraes, 1786, III vols / Obras de Alexandre O'Neill (As andorinhas não tem restaurante, 1970 / Persiana para janela de Maluda, 1984, etc.) / Revista Oceanos, nº1 ao nº 49 / Ordenações e Leis do Reino de Portugal publ. 1603, Coimbra, 1774 / Porto Poema da Serra d'Arga, de António Pedro, 1948 / Contos vermelhos, de Soeiro Pereira Gomes, s.d. / Esteiros, idem, 1941 / Praça de Jorna (des. Álvaro Cunhal), 1976 / A Maçonaria, por Fernando Pessoa, s.d (1ª ed. do celebre opúsculo) / Quaderni Portoguesi, vol 1 a 3 (imp. revista para a historia do Surrealismo português) / Desaparecido, de Carlos Queiroz / Jornal do Caso República (recolha de jornais), nº 1 (29 Maio 1975) ao nº 10 / Diálogo entre um padre e um moribundo, do Marquês de Sade, 1959 (ed. Contraponto de Luiz Pacheco) / Historia da Fundação do Real Convento e Seminário de Varatojo, por Manoel Maria Santíssima, 1779-80, II vols
Algumas referências da 2ª e última noite: Dedalus, Portrait de l'artiste jeune par lui-même, de James Joyce, Paris, 1924 [1ª ed. francesa] / Portugal Illustrated, do Revd. W. M. Kinsey, 1829 / Historia Politica e Militar em Portugal, por Latino Coelho, II vols / A Barba em Portugal, de J. Leite de Vasconcelos, 1925 / Etnografia Portugueza, Leite Vasconcelos, 1933-88, X vols / Erro Próprio, de António Maria Lisboa, s.d. / Lusitânia. Revista Estudos Portugueses, dir. Carolina Michaellis de Vasconcelos, 1924-27, X numrs / Descripção Histórica e Economia da Villa e Termo de Torres-Vedras, de M. A. Madeira Torres, 1861 / Vários Lotes de Manuscritos (Espólio da Casa dos Condes de Sabugal e Óbidos/ Espólio Tavares Proença / Vila de Serpa / Miguelismo / Rui de Pina: Crónicas de Don Duarte, Afonso V) / Chronica do Muito Alto, e Muito Esclarecido príncipe D. Sebastião ..., por D. Manoel de Menezes, 1730 / Crónica de Palmeirim de Inglaterra ..., de Francisco de Moraes, 1786, III vols / Obras de Alexandre O'Neill (As andorinhas não tem restaurante, 1970 / Persiana para janela de Maluda, 1984, etc.) / Revista Oceanos, nº1 ao nº 49 / Ordenações e Leis do Reino de Portugal publ. 1603, Coimbra, 1774 / Porto Poema da Serra d'Arga, de António Pedro, 1948 / Contos vermelhos, de Soeiro Pereira Gomes, s.d. / Esteiros, idem, 1941 / Praça de Jorna (des. Álvaro Cunhal), 1976 / A Maçonaria, por Fernando Pessoa, s.d (1ª ed. do celebre opúsculo) / Quaderni Portoguesi, vol 1 a 3 (imp. revista para a historia do Surrealismo português) / Desaparecido, de Carlos Queiroz / Jornal do Caso República (recolha de jornais), nº 1 (29 Maio 1975) ao nº 10 / Diálogo entre um padre e um moribundo, do Marquês de Sade, 1959 (ed. Contraponto de Luiz Pacheco) / Historia da Fundação do Real Convento e Seminário de Varatojo, por Manoel Maria Santíssima, 1779-80, II vols
sexta-feira, 21 de abril de 2006
Leilão de Biblioteca - Dias 26 e 27 Abril
Organizado pela Livraria Antiquária do Calhariz, sob direcção de José Manuel Rodrigues, realiza-se nos dias 26/27 Abril, pelas 21 horas, na Casa da Imprensa (rua da Horta Seca, 20, Lisboa) um Leilão de uma Distinta e Valiosa Biblioteca de Obras de Grande Interesse Histórico e Literário, dos Séculos XVI ao XX.
Algumas referências da 1º Noite: Álbum de Cintas de Charutos (princ. sec. XX) / A Scena do Odio, de Almada Negreiros, 1915 / Nome de Guerra, de A. Negreiros, s/d (1º ed.) / Historia da Igreja em Portugal, por Fortunato de Almeida, 1967-71 / Cancioneiro do Ribatejo, de Alves Redol, 1950 / Espólio. [Conto a favor dos Bombeiros de Vila Franca de Xira], de Alves Redol, s/d (raro) / Anais da Academia Portuguesa de História, 1940-59, XIV vol / Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavalaria, de Manuel Carlos de Andrade, 1971 / Mercúrio Philosophico Dirigido aos Philosophicos de Portugal, de Francisco António, 1752 / Arquivo de Bibliografia Portuguesa, dir. Lopes de Almeida, 1955-70, 70 numrs / Asas, de J. Carlos Ary dos Santos, 1952 (1º ed. do 1º livro autor) / Aventura. Revista dir. e ed. por Ruy Cinatti, Lisboa, 1942, II numrs / Bibliotheca Lusitana, de Diogo Barbosa Machado, 1954-67, IV vols / O Bibliófilo Aprendiz, por Ruben Borba de Moraes, São Paulo, 1965 (1ª ed.) / Cadernos de Poesia (vários numrs e lotes desta import. publ. lit.) / Caliban, revista literária publicada em Lourenço Marques, dir. de João P. Grabato Dias e Rui Knopli, 1971, III numrs / Obras de M. Cesariny Vasconcelos raras e valiosas (Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito, 1961 / As Mãos na Àgua a Cabeça no Mar, s.d. / Burlescas, Teóricas e Sentimentais, 1972 / Jornal do Gato, 1974 / Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos, Impr. Libanio da Silva, s.d. / etc...) / Cidade Nova. Revista Cultura Coimbra, 1949-61, 33 numrs / Borda D'Alma Narrando Alusivamente ..., de Ruy Cinatti, 1973 / Obras de Natália Correia (A Madona, 1968 / Aconteceu no Bairro, 1946 / Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, s.d. / Grandes Aventuras de um Pequeno Herói, 1946 / O Encoberto, 1969) / Critério. Revista mensal de cultura, Lisboa, 1975-76, VIII numrs / Tratado de Direito Civil, por Luiz da Cunha Gonçalves, 1929-39 / Ainda, de Saul Dias, 1938 / As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Diniz, Ed. luxo, c. ilustr- Roque Gameiro, s.d. / Centenary 1859-1959 de Sir Arthur Conan Doyle, 1959 / Obras de Eça Queiroz (Contos, 1902 /15 vols da Edição do Centenário das Obras Completas, 1946-48) / Jornal de Critica Literária, por Franco Nogueira, 1954 (ensaios de crit. lit.) (raro) / Graal (revistas). Dir. de António Manuel Couto Viana, 1956-57, 13 numrs / Grifo (imp. antologia org. pelo grupo surrealista de Lisboa), 1970 (raro) / Obras raras de Herberto Helder (Apresentação do Rosto, 1968 / Electronicolirica, 1964 / Flash, 1987 / O Corpo o Luxo a Obra, 1978 / Oficio Cantante, 1967 / Photomaton & Vox, 1979 / Vocação Animal, 1971)
[continua]
terça-feira, 18 de abril de 2006
Uma vela dia 19 de Abril: para que a memória não nos atraiçoe
Lembra-nos Nuno Guerreiro como é frágil a memória dos homens. Como a remissão, muito para além das tremendas paixões de cada qual, dificulta a nossa sempre presumida liberdade. A nossa ilustrada cidadania. O nosso manual de sobrevivência é sempre uma curiosa dissimulação, um temerário retiro argumentativo, sem inteligência, decência, nem memória. Somos todos uns eruditos domésticos, entre os nossos pares.
Tudo isto a propósito da convocação (pois, é disso que se trata) para nos associarmos, sem sacrifício de espécie alguma a não ser o que dita a consciência, à evocação desse ignominioso massacre de judeus, que há 500 anos enlutou a nossa memória. O miserável espectáculo de antanho tolhe a mão, não apenas dos antigos fanáticos mas também dos novos "humanistas". A deserção de alguns revela quão longe ainda está a dignidade do homem. Existem objecções muito menos virulentas.
Acender "uma vela simbólica por cada uma das vítima" dos tempos idos de 1506 é afirmar que ainda não estamos "gastos", entre o desvario da vida e o desespero dos homens. Porque a memória "pejada de memória" assim evocada, sendo trágica e chorada até, não nos vai deixar submersos por novos senhores ou novas causas. Que aí estão à bater-nos porta. Mais cedo que tarde.
[De outro modo, o infame acontecimento assinala, pelo menos para alguns, o começo da decadência do reino de Portugal. A ideia presente, em alguns historiadores, que a razão primeira que originou a posterior expulsão dos judeus (com novas cenas aterradoras, como relata Pinheiro Chagas, na História de Portugal) se deveu à paixão doentia de D. Manuel por D. Isabel (filha dos Reis Católicos, noiva do "malogrado" príncipe D. Afonso), dado ter cedido ao pedido da princesa como consentimento para o casamento, é curioso mas não pode explicar tudo. Mesmo entre a corrente dita tradicionalista ou esotérica (vide António Telmo) persiste a questão. Mas isso é outro assunto, que fica para um dia qualquer, mas que convém, talvez, recordar]
Justificativo contra o aborrecimento ou ditos sobre a ausência
"Depois destas noites frias o sol acalenta.
Faz fumegar alguns ângulos ..." [Fiame H. P. Brandão]
Estes trabalhos passados que nos confiaram, enfim, cegaram-nos. A liberdade em pecado, ou desejo de bem servir, tem virtudes antigas que nem a caridade do Cardeal Stafford faz tremular. Estamos, decididamente, embriagados de prazer. Olhem, Vossas Mercês, como a água, terna de cuidado, rega o areal. Os festejos, do alvorecer da aurora ao pôr-do-sol descoberto, são purificadores. Semear primaveras não é caminhada poética. Nem repouso estimado. Mas pode ser o jardim da terra, quando a água acode assim ... a modos que cavalgar uma égua. Evidentemente, só para sabedores encartados.
Posto isto, interrompido o veraneio caprichoso da vida boa e que os nobres deputados indígenas há muito promoveram, chegou a vez de socorrer outras missões. Com o desespero de não termos acompanhado (em pormenor & pormaior) os serviços pátrios do inefável Alberto Costa, nem o beneficio escolástico perseverante do prof. Marcelo; forçados, por motivos ínvios, a não acompanhar o alto trajecto futebolístico da equipa do apito dourado (salve, Pinto da Costa!) e não prescrevendo a generosidade do Glorioso no seu abraço continuado à lagartagem d'Alvalade; eis que estamos de volta à paróquia lusitana. E continuamos "senhores do nosso domínio". Bem entendido!
Assim, para não prejudicar, de todo, o efeito visual do cliché acima revelado, para que a noute seja singular & a nossa estremecida ufania musical não desespere e nos não estorva de vez, para cavaleiros ilustrados & conquistadores fulminados, eis, em jeito mui respeitável, a nossa exaltação profana
Stephen Merritt - What a Fucking Lovely DayCastpost
segunda-feira, 10 de abril de 2006
Fundação Calouste Gulbenkian - Hoje, 17,30 m
"Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poema e notícias
E pensávamos que sempre voltarias
Enquanto amigos teus aqui te esperassem ..." [S.M.B.]
"Correspondência" entre Sophia Mello Breyner e Jorge de Sena, é apresentada hoje, pelas 17,30 m, na Fundação Gulbenkian, com publicação da nova editora "Guerra e Paz". Um livro purificador, convidativo, único.
Viver é preciso!
"o que me salva a vida, é que cada dia faço pior" [Picasso]
A turba doméstica, sempre mais corpo que espírito e falha de ideias novas, tem em Correia de Campos a sua mais sólida e virtuosa revelação. Este espantoso devoto da pureza da vida & mandatário para o apuramento da raça indígena, anunciou há dias, em espírito de filantropia para afastar o tédio governamental, a viril proposta de "proibir o fumo nos recintos públicos fechados". E para todo o sempre.
Temendo o charivari da canalha, acrescentou Correia de Campos qualquer coisa assombrosa, sobre a necessidade da "defesa dos trabalhadores" (um mimo ministerial, assaz enternecedor) contra a relaxação moral dos fumadores & outros lascivos cidadãos. Com a infabilidade costumeira e os conspícuos zeladores da saúde à ilharga, o prior de Sócrates para a vida eterna, além da reprimenda dada aos vassalos, avançou com o plano espirituoso de abrir excepções, neste seu vigoroso exercício contra os pecadilhos do tabaco, dizendo que em áreas com mais de 100 m2 "poderá haver áreas de fumadores desde que separadas fisicamente das restantes". Excelente o humor da personagem.
O ministro instruído do bem, deliberadamente esquece que não lhe compete controlar a vida pessoal do gentio, já que para isso existem os Costa (António & Alberto). E, se em inteligência graciosa & inebriante anda saudoso dos bons tempos do cantado "mercado" mui liberal, só tem de reconhecer que o empresário privado terá todo o direito a escolher se pretende que o seu estabelecimento seja frequentado por fumadores ou por não-fumadores. E os consumidores farão o resto. Mande, pois, com toda a ambição na esfera pública do Estado e deixe a ruína para os íntimos. Para que a sua presumida legislação tenha algum sentido pedagógico.
terça-feira, 4 de abril de 2006
Da Blogosfera & afins
Are 'Illegal' Immigrants Illegal? (Don Boudreaux, Café Hayek) / Baghdad by Night (JJ Sutherland, NPR) / France faces the future (Bill Emmott, Economist) / Ireland promised civil partnerships / Most Blogged (N.Y.T.) / Net: A Political Free-for-All / O sistema está podre (Nelson Breve, Carta Maior) / ¿Quién es el maldito Zizek? (Luis Roca Jusmet) / The War Crimes Confession of Condi Rice (Chris Floyd)
Catálogo de Abril da In-Libris
Acaba de sair o Catalogo do mês de Abril da In-Libris (Porto). A consultar.
segunda-feira, 3 de abril de 2006
Parabéns à Bomba Inteligente!
"porque o teu aniversário é muito mais que vinho
é um copo já cheio da colheita do meu linho
vou beber ..." [Dórdio Guimarães]
Somos habitués, aqui onde a casa dorme. Em mansidão. Por isso, corre-nos o teclado no fulgor dos dedos. Que as mãos não se enganam. E navega-se no incêndio destes céus agora perdidos, ao encontro do rumor de espaços sonhados, nunca esquecidos. Dias tranquilos, perfumados & antigos. Um lugar simples porque transparente.
Nós não trocamos a fúria dos tempos, lume incerto ou amargor clandestino, por toda essa bondade da vida, generosidade do olhar, esse descanso de corpo. Por isso, nestes 3 (três) anos da Bomba Inteligente, de muito merecimento, se envia um ror de felicitações. Parabéns!
No Dia do Falecimento de Agostinho da Silva [m. a 3 Abril 1994]
"Não sei já, Caterina, se és chinesa
ou se Índia te tomou e és indiana
ou de ébano te vejo se africana
ou se és eternamente portuguesa
e sendo portuguesa a todas tens
porque em ti, Caterina, eu amo o mundo
e para assim te amar nele me fundo,
sabendo que o meu bem é não ter bens,
que a minha maior posse é não ter nada
e com tudo eu estar já sem saber
se morto vivo ou vivo de morrer"
[Agostinho da Silva, De Camões a Natércia, in jornal Quinto Império, nº6, 1991]
quarta-feira, 29 de março de 2006
Hip Hip Hurra! E. P. C.
De 1944 até hoje, após longo espernear em desmandos de "sexo vertical" & outras "aulas de substituição" bem mais civilizadas, o nosso E.P.C. - alma falante e "enfant terrible" do corpus pensante indígena - está cada dia mais e mais divino. A presuntiva lenda, mesmo inebriante que seja entre os seus mais preclaros amigos, dessa "bolinha semiótica" rolando ao longo dos corredores universitários da Faculdade de Letras em demanda da concupiscência estética & cultural, entre o olhar ridente do eterno feminino e o pranto comovente da rapaziada, ainda hoje nos intimida e esmaga.
Não sabemos dizer quantas noites fantasiámos (com alguma vaidade, diga-se) na vil esperança do peso do corpo do génio, embriagado entre a litania de mestre Barthes e a récita esbraseada de Lacan, ceder no meio do cortejo oceânico feminino que agitadamente se formava, abandonando a tutela desse "continente negro" (está Freud a passar por aqui) aos nossos gratos corações. Tudo para que num golpe de asa, grave e manhoso (e decerto implacável!), desvanecêssemos num ombro feminino, culto e avisado. A fraqueza humana é admirável, mesmo em sonhos. Mas debalde! A inteligência doméstica de mestre E.P.C., qual "abelha industriosa", em esforço eréctil explicativo fazia-se ouvir: "Esta é a mulher, com suas ancas equilibradas na ciência do excesso". A vertigem da citação de Herberto Hélder era fatídica. E foi, desde sempre, assim. Eduardo Prado Coelho tinha (e tem) um dom meticulosamente providencial.
Faz hoje anos. Parabéns e muitas felicidades.
Apito tecnológico
Stephen Bennett é inglês. Amiudadas vezes, a léguas de distância daqui, apita mal para desespero dos submissos patrícios. O Manchester que o diga. E o Liverpool. E muitos mais. A sua folha de trabalho é abundante de efeitos colaterais. Pior que o sujeito a apitar um jogo de futebol somente o José Manuel Fernandes a defender a incursão no Iraque ou antever o regresso de Dias da Cunha a Alvalade. Apenas a benevolência da UEFA, essa multinacional da moralidade desportiva, o carrega de galanteios. E, presumidamente, o senhor Pinto da Costa. A ordem dos factores é arbitrária.
Ora acontece que por ser inglês, o senhor Stephen Bennett é um gentleman. Como tal, por instrução superior (quiçá do inquieto Blair), resolveu participar no programa de festas do eng. Sócrates: a batalha do "choque tecnológico". Era ver o juiz inglês, em orgulho socrático, correndo no relvado da Catedral da Luz com um extraordinário auricular, da última geração. A Luz tremeu de espanto. O nosso primeiro-ministro, no camarote presidencial, transbordava de felicidade tecnológica. Não vimos o dr. Pedro Silva Pereira errando por ali, mas é possível que sim. Tudo ardente de actualidade. Tudo em virtude tecnológica.
Foi, portanto, notável o choque dos espectadores quando aos 72 m (reza a Bola) a mão dum tal Motta do Barça afagou docilmente a bola, sem que a tecnologia definitivamente funcionasse ao ouvido do juiz de campo. Neste particular, a tecnologia inglesa feneceu. O penalty por marcar contradiz, decisivamente, a nossa convicção pela modernidade. O jogo de beneficência a favor do Ronaldinho & seus excêntricos companheiros de circo é o testemunho do milagre catalão. Mas ainda temos tempo do impossível. Esperem para ver.
Aniversário d'A Montanha Mágica
"Mas pensai que esta noite a montanha enlouqueceu
E se um louco se oferecesse como vosso guia
Seria mais prudente não crer na fantasia ..." [T. Mann]
Fez 3 (três) prodigiosos anos A Montanha Mágica. Ar puríssimo, luxo agasalhado, coração abraçado. O préstimo nocturno que se publica daquela montanha é continuamente sumptuoso. Um contar & cantar virtuoso. Uma antiquíssimo prática. Um remanso d'escrita. Obrigado! Muitos parabéns.
segunda-feira, 27 de março de 2006
A ledoras caprichosas ou elogio do carteiro
"Nestas notícias, que dou
Fofas expressões não digo,
Só vícios contando vou" [J. D. R. C.]
O libertino devoto, presente & futuro, que imprudentemente envia admiráveis miudezas, em crespo português, para esta paróquia almocravada, não terá a protestação deste V. escrevente. Estamos em tortuosas viagens. Cheios de alegria e gozo. Em repouso literário, político & futebolístico. Em negócios financeiros. Em teimosia de "saias". Não respondemos, pois, a graças & vícios publicitários. Não "opamos" quem quer. Somos exclusivistas. Mas, por natural liberalidade, sorrimos às nossas pacientes & graciosas ledoras. Somos estremes na ocultação da luz. Vamos acertar no Euromilhões.
A modos que para fugir ao usurário de Bélem & ao "comboio do deficit" do eng. Sócrates (glória futura dos liberais domésticos), acabadas as graças natalícias & antes da Pascoela, eis que se anda "opando" por aí. Arrumamos bibliotecas, estorvamos mercenários dos livros, vamos de atravancar livrarias. Cobiçamos, equilibradamente, o mulherio. E espreita-se o novo-mundo. Embarcámos e desembarcámos. Docemente. Com o Infante D. Henrique como glória & a "caverna" de Belém no esquecimento. Vejam Vossas Mercês como o Rio está lindo!
Por isso, nem a última descoberta "sexy" do sr. Pires de Lima Filho nos esmorece, um pouco que seja, nem o subtil liliputiano Mendes nos apaixona a gramática. E, francamente, de modo algum o "contingente liberal" alapado chez dr. Cavaco, mesmo com a respeitável predicatória do inefável J. C. Espada ou o espírito de pastorícia de José Manuel Fernandes, nos tira do sério. O "raminho de cabeças pensantes", assim fermentando à do dr. Cavaco, não sugere qualquer desfenestramento semiótico. O mesmo não se diga do viçoso apito do sr. Olegário Benquerença. Ora, pois!
Assim, para a procissão prodigiosa & divertida que nos barrica o folgado mail, para senhoras magnificentes & cavaleiros d'alcova e para os indígenas instruídos da blogosfera, eis em jeito de soidade
Tom Ze - Sonho colorido de um pintorCastpost
"Sonhei que pintei minhas noites de amarelo
lindas estrelas no meu céu eu coloquei
o feio que era feio ficou belo
até o vento do meu mundo eu perfumei" [letra, aqui]
Bom dia & bons influxos!
quinta-feira, 16 de março de 2006
Boa Noite ... Camilo! [n. 16 Março 1825]
"A opinião pública (...) é uma esfinge com cabeça de burro" [C.C.B.]
"Dizia um filósofo humanitário a certo povo infeliz: 'Sede melhores, e vós sereis mais felizes'. E o povo respondeu ao filósofo humanitário: 'Fazei-nos mais felizes, e nós seremos melhores" [C.C.B., in A Verdade, 1856]
"Que me importa a mim o futuro? Caído por este desfiladeiro da vida , com os olhos fitos lá em baixo na terá negra do túmulo, - que tenho eu contigo, futuro? (...)
Eu sou do passado: ficou-me lá o espírito; amo o tempo que foi: vivi então mil séculos num instante - amarguei-os, mas que importa?" [C.C.B., in O Nacional, 1948]
"É inegável que somos europeus, e até podemos avançar que se fala de nós lá fora como um povo civilizado (...) Caminhamos airosamente na via láctea do progresso, porque as estradas cá em baixo o mais que podem é pôr-nos em contacto com o progresso dos antípodas por meio dos abismos insondáveis que o macadame aperfeiçoou (...)
Temos tudo quanto podem ambicionar os netos daqueles que civilizaram mundos novos. Só nos falta - diga-se a verdade sem presunção - falta-nos uma pequena coisa, que faça os homens bons: falta-nos a virtude e a moral; falta-nos o respeito à lei, e a lei que deva respeitar-se; falta-nos esse quasi nada que faz dum povo de traficantes e de corruptos uma sociedade de irmãos e amigos" [C.C.B., in O Portuense, 1853]
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