segunda-feira, 10 de abril de 2006
Viver é preciso!
"o que me salva a vida, é que cada dia faço pior" [Picasso]
A turba doméstica, sempre mais corpo que espírito e falha de ideias novas, tem em Correia de Campos a sua mais sólida e virtuosa revelação. Este espantoso devoto da pureza da vida & mandatário para o apuramento da raça indígena, anunciou há dias, em espírito de filantropia para afastar o tédio governamental, a viril proposta de "proibir o fumo nos recintos públicos fechados". E para todo o sempre.
Temendo o charivari da canalha, acrescentou Correia de Campos qualquer coisa assombrosa, sobre a necessidade da "defesa dos trabalhadores" (um mimo ministerial, assaz enternecedor) contra a relaxação moral dos fumadores & outros lascivos cidadãos. Com a infabilidade costumeira e os conspícuos zeladores da saúde à ilharga, o prior de Sócrates para a vida eterna, além da reprimenda dada aos vassalos, avançou com o plano espirituoso de abrir excepções, neste seu vigoroso exercício contra os pecadilhos do tabaco, dizendo que em áreas com mais de 100 m2 "poderá haver áreas de fumadores desde que separadas fisicamente das restantes". Excelente o humor da personagem.
O ministro instruído do bem, deliberadamente esquece que não lhe compete controlar a vida pessoal do gentio, já que para isso existem os Costa (António & Alberto). E, se em inteligência graciosa & inebriante anda saudoso dos bons tempos do cantado "mercado" mui liberal, só tem de reconhecer que o empresário privado terá todo o direito a escolher se pretende que o seu estabelecimento seja frequentado por fumadores ou por não-fumadores. E os consumidores farão o resto. Mande, pois, com toda a ambição na esfera pública do Estado e deixe a ruína para os íntimos. Para que a sua presumida legislação tenha algum sentido pedagógico.