quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Minha querida I...
A encomenda feita já foi despachada. Vai no correio o "meu querido Canalha", para que saibas que "nenhuma mulher está livre de se apaixonar por um cafajeste de boa linhagem". A história profana diz-nos isso mesmo. Lembra-me sempre aquela frase de Durrell: "não posso apaixonar-me porque pertenço a uma antiga corporação secreta: a dos bobos". Convenhamos que a ideia que não há combates contra o outro (o amor é sempre "um combate" lá dizia Giorgio Cesarano ... lembras-te!?) mas sim "contra si próprio", tem todo o sentido. Tantos cansaços devem valer alguma coisa. Tanta batalha assim ganha, custa a descobrir. Tanto quanto a corporeidade autoriza e a gramática possibilita.
Eis um testemunho do (teu) "Canalha":
"Todo o homem que é homem já teve seu dia de canalha. Pelo menos um belíssimo dia de canalha. A parte de um dia, que seja, uma tarde deliciosamente cafajeste. As pessoas costumam se enganar com facilidade, parecem pedir que isso aconteça, e o canalha não é do tipo que nega fogo. Aliás, não negarás fogo é o mandamento numero um desta boa linhagem de cafajestes.
Adoráveis canalhas, é o que são, sobretudo se apenas por um dia. No momento em que se dedicam à arte de seduzir, sejam quais forem os fins, eles serão irresistíveis. Como definiu Aldir Blanc, os 'canalhas cálidos' são ternos, compreensivos e com apurado senso de justiça. No caso de um cafajeste com altíssimo poder de atracção, a esta afabilidade se associa um amor genuíno pelas mulheres - os bons canalhas realmente gostam de mulheres, no sentido amplo.
São capazes de ouvir uma mulher como quem realmente está do lado dela, sem qualquer preconceito ou censura, prestando absoluta atenção ao que ela diz - só os dois parecem existir e é nela que o bom cafajeste está pensando. Mesmo assaltado de sonhos, ele saberá dissimular, esperando a hora certa para o ataque. Um canalha de boa estirpe jamais será vencido pela presa ..."
[Ruy Castro, Carlos Heitor Cony, Aldir Blanc, Marcelo Madureira, Bráulio Pedroso & Geraldo Carneiro, in Meu Querido Canalha, Objectiva, 2004]
domingo, 8 de janeiro de 2006
Kenneth Patchen [1911 - m. 8 janeiro 1972]
"Dear God, I don't want to go to bed tonight. There should be a lock on what I have to think" [K.P.]
"Let us have madness openly.
0 men Of my generation.
Let us follow
The footsteps of this slaughtered age:
See it trail across Time's dim land
Into the closed house of eternity
With the noise that dying has,
With the face that dead things wear--
nor ever say
We wanted more; we looked to find
An open door, an utter deed of love,
Transforming day's evil darkness;
but We found extended hell and fog Upon the earth,
and within the head
A rotting bog of lean huge graves" [K.P., Let Us Have Madness]
Locais: Kenneth Patchen Home Page / Kenneth Patchen / Kenneth Patchen Wonderings / Patchen: Man of Anger & Light by Henry Miller - A Letter to God by Kenneth Patchen / Sleepers Awake by Kenneth Patchen / Tributes to Kenneth Patchen and Miriam Patchen
Notícias breves do reyno lusitano & outras moléstias
"Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo" [Oswald de Andrade]
Passada a navegação natalícia em luxo ostentoso, de novo arribamos. Ainda cansados do laborioso "trabalho para o bronze" (condição de estarmos vivos) & irrequietos pelo trabalho de cata d'alfarrábios (a nossa desgraça), cedo fomos agraciados (via Fernando Pinto ... ui ... ui) por novas da administração do reyno. Ainda não tínhamos observado território indígena já o eng. Sócrates nos assomava com ar de anjo, avessado que estava por duas muletas curiosas. Na nossa inocência deslumbrada, logo cuidámos que o caso tinha sido fruto da agitação alegrista ou de alguma inspiração estimável do interino senhor Silva. A vivacidade na cantada do "Grândola Vila Morena", pelo piedoso democrata de Boliqueime, não é decerto despiciendo. Poderia ter sido influência de algum encontro de notáveis orçamentistas (olá Medina Carreira!) sobre a neve BESiana do Marquês de Pombal ou, até, efeito duma plangente manif. dos Pina Moras & Mexias, Inc. Poderia! A gerência domesticada tem sempre essas ousadias.
De outro modo, a TV espacial do sr. Fernando Pinto em parceria com a cândida RTP informava que nuestros hermanos eram obrigados a abandonar os mantimentos do tabaco e la siesta. Tememos pela nossa saúde. O cerco mavioso dessa aurora imaculada de salubridade pública instalava-se. Pela janela antevimos, em suave triunfo cavaquista, a figura prodigiosa de Macário Correia. O rosto brilhante de Sir João Carlos Espada. A bandarilha de Albino Almeida. O terror foi total. Nem a destreza perfeita das microfilmagens de documentos do Ministério da Defesa pelo dr. Portas nos restituiu o viço e a inspiração costumeira. O nosso coração estava, decididamente, fraco.
Por infinita misericórdia, pedimos mais um whisky. As funcionárias (ou pombas do céu) do sr. Fernando Pinto toleram bem essas petições e, portanto, o trabalho corporal de esquecimento foi soberbo. Por isso, enquanto na TV o beato Pinto da Costa chorava qualquer coisa sobre um tal de Moretto, adormecemos generosamente. Não vimos, pois, o guarda Abel em saudade guerreira. A eternidade era já só em Lisboa. Eis-nos de chegada. E ao vosso serviço para o passeio público. Inter alia, evidentemente.
sábado, 7 de janeiro de 2006
In Memoriam de António Gancho [1940-m. 31 Dezembro 2005]
"Noite, vem noite sobre mim sobre nós / dá repouso absoluto de tudo / traz peixes e abismos para nos abismarmos / traz o sono traz a morte..."
"... Suponho que de tudo o que escrevi
só o amor
só o amor louco me disse
o que era a poesia
só o amor e os teus lábios
o teu sexo
a tua púbis incandescente
só isso canto e cantei
e cantarei ..." [A.G.]
quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
Os Melhores Blogs Portugueses de 2005
"Olhava-se ao espelho pelo buraco da fechadura" [O'Neill]
É sabido, como aqui e aqui dissemos, que temos esse "fado" continuado de dar brado aos letreiros sentenciosos, presente nesse m(in)istério venturoso da blogosfera lusa, tão tremenda na lisonja nativa e infecta de virtudes belas. Sabemos que a desgraça encantada de avaliar, mesmo que fina e delicada, conduz a amotinamentos deslumbrantes e a porfiados caminhos de esquecimento. Não ignoramos que para alguns "é melhor não tirar os olhos do umbigo". O seu próprio - tão amparado de notabilíssimas iluminações. Tão obediente a palmas e martírios. Tão devoto a ditos galantes e a estados opinativos. Mas reincidimos no inventário do exercício.
Importa pronunciar que a listagem, ali do lado esquerdo, vai alta de luzimento. São todos de merecida estimação e de sorrisos doces. Alguns, tão refulgentes que eram deixaram-nos. Eram autênticos. Prodigiosos. Incómodos. Estão repousando. Mas conserva-se a sua memória. A eles, o nosso murmúrio de reconhecimento. Aos outro, aos ausentes, "que a palidez os não atraiçoem".
1. Abrupto
2. Da Literatura
3. A Montanha Mágica / Cocanha / Educação Sentimental / Triciclo Feliz
4. A Estrada / A Natureza do Mal / Estado Civil
5.Rua da Judiaria / Indústrias Culturais / There's Only Alice
6. Avatares de um Desejo / A Memória Inventada / Bombyx-Mori / Welcome to Elsinore
7. Sound-Vision / Dias com Árvores / Cartas Portuguesas / Forum Comunitário
8. Portugal dos Pequeninos / Grande Loja / Bloguitica / Causa Nossa / Blasfémias / Mar Salgado / Bicho Carpinteiro / Tugir
9. Voz do Deserto / Ma-Schamba / Bomba Inteligente
10. A Mão Invisível / Causa Liberal
Os Melhores Blogs de Autores Estrangeiros de 2005
1. Alexandre Soares Filho
2. Prosa Caótica / Letteri Café / Neurastenia / Cipango
3. Arts & Letters Daily / Wood S Lot / Romanzieri / Bookslut
4. Inmaculada Decepcion / Post Secret / Wimbledon / Plep
5. Andrew Sullivan / Body and Soul / Instapundit / The Rittenhouse Review
6. Incomimg Signals / Art Nudes
7. The Agonist / Talking Points Memo / The Huffington Post
8. eCuaderno
9. Largehearted Boy / Chromewaves
10.Smart Shade of Blue
quarta-feira, 21 de dezembro de 2005
10 Livros Portugueses de 2005
1. Sol a Sol (Armando Silva Carvalho, Assírio & Alvim)
2. Finita (Maria Gabriela Llansol, Assírio & Alvim, 2ª ed.)
3. Diário Remendado (1971-1975) (Luiz Pacheco, Dom Quixote)
4. Mútuo Consentimento (Helder Moura Pereira, Assírio & Alvim)
5. A Morte de Colombo. Metamorfose e Fim do Ocidente como Mito (Eduardo Lourenço, Gradiva
6. As Intermitências da Morte (José Saramago, Caminho)
7. Livro das Quedas (Casimiro de Brito, Roma Editora)
8. Álvaro Cunhal. Uma Biografia Politica. O Prisioneiro (1949-1960), III vol (José Pacheco Pereira, Temas e Debates)
9. O Pequeno Livro do Grande Terramoto (Rui Tavares, Tinta da China)
10. O Marquês de Pombal e a Cultura Portuguesa (Miguel Real, Quidnovi)
[Corrigenda: um erro injustificável fez-nos colocar o belíssimo livro de Gastão Cruz, Repercussão - que aqui anotámos, ano transacto - na listagem deste ano. Fomos chamados à pedra e bem. O livro pertence à felicidade de 2004. Uma boa colheita, diga-se. Reescrevemos a lista que nos alumiou este ano de graça de 2005. As nossas devidas desculpas]
10 Livros de Autores Estrangeiros de 2005
1. Ilíada (Homero, trad. Frederico Lourenço, Cotovia)
2. Sete Livros Iluminados (William Blake, trad. Manuel Portela, Antígona)
3. Os Pré-Rafaelitas (pref. e trad. Helena Barbas, Assírio & Alvim)
4. Os Cantos (Ezra Pound, Assírio & Alvim)
5. Poemas (Óscar Wilde, Relógio d'Água)
6. Seria uma rima, não seria uma solução: a poesia modernista (org. Abel Barros Baptista & Osvaldo Silvestre, Cotovia)
7. Dom Quixote de La Mancha (Miguel Cervantes, trad. José Bento, Relógio d'Água)
8. Paris Nunca se Acaba (Enrique Vila-Matas, Teorema)
9. Memórias das Minhas Putas Tristes (Gabriel García Márquez, D. Quixote)
10. A Conspiração contra a América (Philip Roth, D. Quixote)
10 Álbums de 2005
1. Illinoise - Sufjan Stevens
2. I Am A Bird Now - Antony And The Johnsons
3. Z - My Morning Jacket
4. Let It Die - Feist
5. Live at Carnegie Hall - Thelonious Monk Quartet with John Coltrane
6. Aerial - Kate Bush
7. Tanglewood Numbers - Silver Jews
8. Cripple Crow - Devendra Banhart
9. Veneer - Jose Gonzalez
10. Formative - Toothfairy
domingo, 18 de dezembro de 2005
Os Melhores Alfarrabistas Portugueses de 2005
"É aos psicanalistas que se deve perguntar por que se colecciona. Só eles sabem descobrir quais os motivos inconfessáveis e escabrosos que levam um burguês pacato e morigerado a praticar actos perfeitamente simples e morais" [Ruben Borba de Moraes]
1. Livraria Artes & Letras - ancorada no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, a livraria de Luís Gomes, é um espaço magnífico, um lugar esplêndido para as inúmeras canseiras do amante do livro. Um local de culto. E de conversação.
2. Livraria Histórica e Ultramarina, Lisboa
3. Luís P. Burnay, Lisboa
4. J. A. Telles da Sylva, Lisboa
5. Livraria Olisipo, Lisboa
6. Livraria Académica, Porto
7. Livraria Miguel Carvalho, Coimbra
8. Livraria Manuel Ferreira, Porto
9. Livraria Chaminé da Mota, Porto
10. Livraria Bizantina, Lisboa
[locais: consultar aqui]
Catálogo da Livraria Artes & Letras
Hoje, apresentamos o último Catálogo (excelente) da Livraria Artes & Letras (Largo Trindade Coelho, nº 3 e 4, Lisboa), pertença de Luís Gomes, estimado livreiro antiquário. As peças bibliográficas (302), de alguma raridade e de muita estimação, criteriosamente escolhidas, são espécies valiosas, reunindo-se obras modernistas há muito esgotadas, que como é sabido abrem o apetite do bibliófilo que se preze.
Podem ser consultadas (ou pedidas) on line.
Algumas referências (obras portuguesas, em 1ª ed.): Cartas Físico-Mathematicas de Thedozio a Eugénio, ..., de Dorotheo de Almeida [aliás Pe. Teodoro de Almeida], 1784-1799, III vols / Recreação Filosófica ou Dialogo sobre a Filosofia Natural, ..., ididem, 1786- 1800, X vols / Adolescente. Poemas de Eugénio de Andrade, Ed. Autor, 1942 / History of the Azores ..., por Thomas Ashe, Londres, 1813 / Ortografia da Lingva Portvgvesa per Ioam Franco Barretto, Lisboa, 1671 / O Meu Amor Pequenino, de António Botto, 1934 / Portugal e os Estrangeiros, por Manuel Bernardes Branco, 1879-1895, V vols / Diccionario de geographia universal por uma sociedade de homens de sciencia ..., por Tito Augusto de Carvalho, Ed. David Corazzi, 1878-1887, IV vols / Seroens de S. Miguel de Seide, por Camilo Castelo Branco, 1886, X tomos / Tributo Portuguez à memoria do libertador, por António Feliciano de Castilho, 1836 / A Peregrina do Mundo Novo, de Ferreira de Castro, 1926 / Cuidados Literários do Prelado de Beja, por D. Frei Manuel do Cenáculo, 1791 / Um Auto para Jerusalém, de M. Cesariny Vasconcelos, 1964 / Jornal do Gato, ibidem, 1974 / Milagre: Costumes de agora; Almas do Purgatório; Santidade; Politicas; Fraternidade; Espectáculo; Igualdade (Fola fotocopiada com poemas), por Rui Cinatti, Ed. do autor, 1976 / Poesia de arte e realismo poético, de Natália Correia, 1958 / Antologia da Poesia Erótica e Satírica, dir Natália Correia e il de Cruzeiro Seixas, 1966 / O Vinho e a Lira, ibidem, 1966 / A Madona, ibidem, 1968 / As maçãs de Orestes, ibidem, 1970 / Exílio. Revista Mensal de Arte, lettras e sciências, (nº único) Abril de 1916 / O Mundo dos Outros, Historias e vagabundagens, de José Gomes Ferreira, 1950 / Onde tudo foi morrendo, por Vergílio Ferrreira, 1944 / Aparição, ibidem, 1959 / Cartas espirituais. A mulher e a Igreja, por Tomás da Fonseca, 1922 / Fátima(cartas ao Cardeal Cerejeira), ibidem, 1955 / Na Cova dos leões, ibidem, 1958 / Parnaso lusitano ou poesias selectas ..., por Almeida Garrett, 1826-1834, VI vols / Poemas de Camões, ibidem, Paris, 1825 / Da Educação, ibidem, Londres, 1829 / Viagens da Minha Terra, ibidem, 1846, II vols / Movimento Perpetuo, por António Gedeão, 1956 / Refúgio Perdido, de Soeiro Pereira Gomes, 1950 / Engrenagem, ibidem, 1951 / Xente d'a aldeã, por Alfredo Guisado, 1921 / Nova. Magazine de poesia e desenho, Ed. Herberto Hélder, 1975-76, II vols / Mangas verdes com sal, por Rui Knopfli, 1069 / A Ilha de Próspero, ibidem, 1972 / O Mnedigo e as sua História, por Albino Lapa, 1953 / O Espectro de Juvenal, de Gomes Leal, nº1 a nº5, 1872-73, V nums / A Canalha, ibidem (+ 4 opúsculos), ibidem / Fim do Mundo, ibidem, 1900 / O Anti-Cristo, ibidem, 1907 / Um Homem de Barbas, de Manuel de Lima, 1944 / Malaquias ou a História ..., ibidem, 1953 / A Pata do Pássaro ..., ibidem, 1972 / A Verticalidade e a Chave, de António Maria Lisboa, 1956 / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jerry; seguido de senhor cágado e o menino, ibidem, 1958 / Apontamentos, de Irene Lisboa, 1943 / O Oriente, de José Agostinho de Macedo, 1814, II vols / Biblioteca Lusitana, por Diogo Barbosa Machado, 1965, IV vols / Poemas do tempo Incerto, por Adolfo Casais Monteiro, 1934 / Litoral, de João Cabral do Nascimento, 1934 / Cancioneiro, ibidem, 1943 / Confidências, ibidem, 1945 / Mito alegoria-símbolo. Monólogo autodidacta na oficina de pintura, por José de Almada Negreiros, 1948 / A Chave diz. Faltam duas tábuas e meia de pintura no todo da obra de Nuno Gonçalves ..., ibidem, 1950 / O Paço de Milhafre, de Vitorino Nemésio, 1924 / La Voyelle Promise, ibidem, 1935 / A Casa fechada. Novelas, ibidem, 1936 / O Bicho Harmonioso, ibidem, 1938 / Nem toda a noite a vida, ibidem, 1952 / O segredo do Ouro Preto e outros caminhos, ibidem, 1954 / Corsário das Ilhas. Jornal de Vitorino Nemésio, ibidem, 1956 / O retrato do semeador, ibidem, 1958 / Limite de Idade, ibidem, 1971 / Jornal do Observador ibidem, 1974 / Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, 1953 / Textos Locais, por Luiz Pacheco, 1967 / Diário, por António Pedro, Cabo Verde, 1929 / Canções e outros poemas, ibidem, 1936 / Clepsydra, de Camilo Pessanha, 1920 / O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires, 1958 / Jogos de Azar, ibidem, 1963 / Dinossauro excelentíssimo, ibidem, 1972 / Pomar XVI Desenhos, 1948 / Os Maias, de Eça de Queiroz, 1888, II vols / Diccionario de milagres, ibidem, 1900 / Contos, ibidem, 1902 / Prosas Barbaras, ibidem, 1904 / A dignidade das letras e as literaturas officiaes, de Anthero de Quental, 1865 / Constantino guardador de vacas e de sonhos, por Alves Redol, 1962 / Literatura livresca e literatura viva. Manifesto literário, de José Régio, 1940 (?) / Cadernos do meio-dia, dir António Ramos Rosa, Faro, 1958-1960, V fasc / Luz central, de Ernesto Sampaio, 1958 / Para uma Cultura Fascinante, ibidem, 1959 / Asas (Poesia), de José Carlos Ary dos Santos, 1952 / Tempo da lenda das amendoeiras, ibidem, 1964 / Insofrimento in sofrimento, ibidem, 1969 / Andanças do demónio, por Jorge de Sena, 1960 / A Justificação jurídica da restauração e a teoria da origem popular do poder politico, de Mário Soares, 1954 / Mornas cantigas crioulas, por Eugénio Tavares, 1932
Catálogos
"E mandarei fazer um almanaque/Na pele encadernada do teu seio" [G.S.L]
O bibliófilo, ou amante de livros, é um comprometido ledor e observador de catálogos impressos, que criteriosamente folheia com gosto amantíssimo, arrastando os olhos judiciosamente pelo trabalho bibliográfico acabado, como se de uma pintura delicada se tratasse. O dom requintado que possui pela obra literária, a memória apurada que dispõe, a curiosidade bibliográfica, o gosto pela erudição, marcam meticulosamente o amante do livro. Existem (poucas) obras que fixam e descrevem tais manifestações [pode ter uma ideia disso mesmo, "vasculhando" aqui]. A leitura de catálogos é um excelente e precioso auxiliar para todos - simples curiosos do livro, estudiosos e investigadores, bibliófilos ou alfarrabistas. Por isso há catálogos - e alguns têm sido referenciados, aqui mesmo e ali - que honram quem os faz. Que revelam uma virtude encantatória. Uma paixão que transmite conhecimento e bom gosto. Estima e apreço.
"E mandarei fazer um almanaque/Na pele encadernada do teu seio" [G.S.L]
O bibliófilo, ou amante de livros, é um comprometido ledor e observador de catálogos impressos, que criteriosamente folheia com gosto amantíssimo, arrastando os olhos judiciosamente pelo trabalho bibliográfico acabado, como se de uma pintura delicada se tratasse. O dom requintado que possui pela obra literária, a memória apurada que dispõe, a curiosidade bibliográfica, o gosto pela erudição, marcam meticulosamente o amante do livro. Existem (poucas) obras que fixam e descrevem tais manifestações [pode ter uma ideia disso mesmo, "vasculhando" aqui]. A leitura de catálogos é um excelente e precioso auxiliar para todos - simples curiosos do livro, estudiosos e investigadores, bibliófilos ou alfarrabistas. Por isso há catálogos - e alguns têm sido referenciados, aqui mesmo e ali - que honram quem os faz. Que revelam uma virtude encantatória. Uma paixão que transmite conhecimento e bom gosto. Estima e apreço.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
Presidenciais: canções d'embalar
"Gosto de quem responde/antes de perguntar" [Alexandre O'Neill]
Alegre & Louçã - o candidato Alegre vem bem agasalhado na bandeira pátria, o nó da gravata em Cruz de Cristo (nada com os de Bélem) vai correndo televisivamente, desenvolve as ideias & a camisa com padrões camonianos afectuosos, fornece uma dicção poética entremeada de ardor partidário ("aquele poder tão duro" de Camões) & líricas anti-partidárias, vivamente numa assonância inaudita diz que ninguém é dono da poesis perdão da consciência (uauu!), cultiva o tom epistolar fora da caridade do economicus ("este pode colher as maçãs de ouro" lá dizia o vate Camões), proporciona o extraordinária silêncio por 20 segundos no programa (momentus alegrus) na devoção meditabundo para a demissão de Souto Moura (cesse do E.P.C. o canto ilustre ... disse), afasta-se convulsivamente de candidaturas de pro-tes-to, propõe impedir que o infausto Jardim atine em qualquer eleição (eia! patriota). Esteve eloquente, deu cavaco e foi poético. As palavras & os dotes artísticos utilizados são, já se vê, de José Jorge Letria. E o fato de ninguém-é-dono-da-consciência foi comercializado & inovado, entre sorrisos e lágrimas, por Inês Pedrosa. O sorriso era de Helena Roseta. Enfim, temos o "país do cibinho mastigado / devagarinho" (O'Neill).
Cavaco & Jerónimo - o candidato Cavaco puxou da cassete económica, alta e sagrada, que trazia no bolso de dentro da jaqueta, perdeu-se entre os tumultos dos longos e saudosos anos da sua acção governativa (oh! desditoso), não descobriu o ponto fixo da mira televisiva que fosse além da devoção Socrática (estamos servidos), não sustentou o desvario e as golpadas do arranjo do deficit da Mercearia Ferreira Leite (salvé Dona Manuela!), cegou na luz da abertura das fronteiras aos imigrantes, ameaçou com a tropa em caso de falta de autoridade do Estado (Ui! Ui! senhor dr.), gemeu de emoção e resignação ao descrever cenas conjugais, bateu por três vezes na boca quando pronunciou ... pros-ti-tu-i-ção. Esteve alegre, distinto e imortal. A cassete utilizada foi-lhe fornecida pelo seu compadre Ramalho Eanes. A gravação, evidentemente, foi de João Carlos Espada e Dias Loureiro. O dolby esteve a cargo de Katia Guerreiro & Pedro Lomba. Enfim, "todos os lugares deviam ser santos no Natal" (O'Neill).
Absolutamente grátis: pode ser o "leve dois e pague um", pois estamos em assunto natalício, que vós depois, lúcidos e prudentes, respigareis ao tempo o exemplar para a vossa desgraça. Mas não se trata disso. Cada coisa no seu lugar. Porque estamos com saudades da partida, que o tempo é invernoso por aqui. Porque meu caro cidadão, "você anda tão triste" nestas eleições, neste mundo, aqui deixámos em vosso louvor, para almas respeitáveis e eleitores impiedosos
Tom Zé - Senhor CidadãoPowered by Castpost
Boa noute.
Catálogo 52 da Livraria Moreira da Costa
Acaba de sair o Catálogo do mês de Dezembro da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto). Pode ser consultado on line.
Algumas referências: Portugal no Mundo, de Luís de Albuquerque, Alfa, 1993, III vols / Theoria da Administração da Fazenda, por Antonio Joze Pedrozo de Almeida, 1834 / O poeta António Fogaça (Estudo Biográfico-Crítico), Braga. 1949 / António Rodrigues Sampaio. Homenagem prestada à sua memória pela Imprensa do Porto, 1882 / À Beira do Centenário de Camilo, de Carlos Babo, s.d. / Elucidário do Viajante do Porto, de Francisco Ferreira Barbosa, Coimbra, 1864 / Discursos e Conferências de Ruy Barbosa, Porto, 1933 / Estudos Dispersos, por Moniz Barreto, Lisboa, 1963 / Um Jornal na Revolução (O Mundo de 5 de Outubro de 1910), de Jacinto Batista, 1966 / Traités de Législation Civile et Pénale, de Jérémie Bentham, 1802, III vols / Por Estradas e Atalhos, de Bettencourt-Rodrigues, 1931 / A Arcádia Lusitana, de Teófilo Braga, 1899 / Poetas e Prosadores (À margem dos Livros), por Júlio Brandão, s.d / Memórias de Eduardo Brazão, 1925 / História de um Fogo-Morto, de José Caldas, 1903 / Camillo Homenageado. O Escritor da Graça e da Belleza, Famalicão, 1920 / A Liberdade de Imprensa, por Bento Carqueja, Porto, 1893 / Lições de Philosophia Chimica, pelo Doutor Joaquim Augusto Simões de Carvalho, Coimbra, 1850 / Conversar, de Augusto de Castro, 1919 / Quatro Andamentos, de João José Cochofel, Coimbra, 1966 / Galeria de Varões Illustres de Portugal, por J. M. Latino Coelho, Lisboa, 1882, II vols / Constituição Politica da Monarchia Portugueza, Lisboa, 1822 / Documentos para a Historia da Universidade de Coimbra (1750-1772), 1969-61, II vols / Herculano na Allemanha. Elogio Histórico de Alexandre Herculano por Johann-Joséf-Ignaz Von Doellinger, 28 de Março de 1878 / [Revista] Estudos Políticos e Sociais, I.S.C.S., 1963-1966, XIV vols / Imprensa Nacional de Lisboa, por Ramiro Farinha, 1969 / Leis e Rituaes do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil (2ª ed.), 1877 / Theologia Moral em Quadros ..., pelo Abbade Martin, 1877-78, II vols / Origem Infecta da Relaxação da Moral dos denominados Jesuitas: Manifesto dolo, com que a deduziram da Ethica, e da Metafysica de Aristóteles, Lisboa, 1771 / Revista da Marinha. dir. Maurício de Oliveira, Ed. ParceRia A.M.P., Ano I, Nº1 (1937) a Ano X, nº285 (1946), XVIII vols / Revista Universal Lisbonense. Jornal dos Interesses Physicos, Moares, e Litterarios por uma Sociedade Estudiosa, Lisboa, Imprensa Nacional, tomo I (1841-1842) e tomo II (1842-1843), II vols. / O Regímen da Divida Portugueza, discurso por Hintze Ribeiro, 1898
domingo, 11 de dezembro de 2005
Maurice Leblanc [n. 11 Dezembro 1864-1941]
"Pourquoi, dit-il encore, aurais-je une apparence définie? Pourquoi ne pas éviter ce danger d'une personnalité toujours identique. Mes actes me désignent suffisamment."
Et il précise, avec une pointe d'orgueil: "Tant mieux si l'on ne peut jamais dire en toute certitude: Voici Arsène Lupin. L'essentiel est qu'on dise sans crainte d'erreur: Arsène Lupin a fait cela."
[from Arsène Lupin, 1907]
Locais: Maurice Leblanc (1864-1941) / Maison de Maurice Leblanc / Le personnage d'Arsène Lupin dans Les aventures d'Arsène Lupin de Maurice Leblanc / Maurice Leblanc FR3 / Arsène Lupin gentleman cambrioleur / La vérité sur Arsène Lupin / Arsène Lupin, as origens
Debate Presidencial: o princípio da "coisa"
"O monstro aculturado já se deixa montar, / mas ainda não moro naquele seu olhar" [Alexandre O'Neill]
Depois da "alegre cavaqueira" generosamente derramada diante dos nossos olhos, pelo sopro cheio de graça, dos dois candidatos presidenciais que estrearam o debate da "coisa", eis um bom momento civilizador vivido, ontem, entre Cavaco & Louçã. Diga-se que na antevéspera - confronto Soares & Jerónimo -, já fomos agraciados com o prazer de respirar opiniões discordantes. A União Nacional não estava a passar por ali. A missão do orador presidenciável é uma travessia que depende de cada qual. E as margens da sua condição não são, unicamente, motivo de caridade dos entrevistadores, mesmo se a viseira erguida por alguns funcionários do dr. Balsemão seja viciosa no seu tratamento jornalístico. Ele há "coisas" onde a voz do "dono" impõe renúncias intermitentes. Embargos deliciosamente indesculpáveis. Adiante.
Entre a obediência intelectual consumada pelo amante da "pátria" - o poeta Alegre - com aquele que "falava com voz do nó da gravata" - de nome Cavaco Silva - e o estimulante (porque sério) e atrevido (porque não servil) embate Cavaco & Louçã, há toda uma diferença. Naquele, o tom macilento de quem não tem nada a dizer e a interpelar. Neste, a seriedade e a correcção da análise política, económica e social, num exercício honesto de quem algo a pronunciar e a debater. Todos - candidatos e jornalistas - estão de parabéns. Daqui para a frente, nada será como dantes, embora muitos suspirem uma outra "coisa". Basta ler os testemunhos dos colunistas da União Nacional e de como ficaram extraordinariamente a descobertos. Há dores tão agradecidas que assombram. A urbanidade intelectual é sempre muito traiçoeira.
É público que o mito da argúcia económica de Cavaco, se existia ainda, acabou ontem mesmo. Louçã fez desmoronar esse pequeno mundo que é, absolutamente, esotérico para os indígenas e até alguns adoráveis Cavaquistas. As palavras singelas do cândido ex-primeiro ministro explicam tudo sobre esse período: "Em relação ao passado fui julgado pelo povo português" - diz-nos. Nada mais acertado.
Ainda assim, o candidato persiste em querer vislumbrar "sucesso" na sua governação ou, até, assumindo essa ideia admirável do Cavaquismo ter pretendido ser, afinal, o projecto de uma nova "Califórnia da Europa". Tal insidia, pouco oficiosa, é apenas um delírio intratável. Presume-se que o descabelado Medina Carreira se engasgou com a papelada e os números. E que as orelhas liberais e neo-liberais, dos festivos apoiantes do candidato, arderam de vergonha, quando se ouviu o fantástico dr. Cavaco defender "os direitos adquiridos" dos trabalhadores da Administração Pública. Espera-se, ainda, que a vaidade e o estilo de Nogueira Leite não sucumba perante o novo oráculo da economia lusa. Seria um horror para muitos e um divertimento para todos.
Sobre o debate da "coisa": Louçã embaraçou, por várias vezes, o benemérito e estupefacto candidato da União Nacional. Fez aparecer o "momento mais divertido" da noite, quando se argumentou sobre a Lei da Nacionalidade e a invasão "bárbara" irrompeu, tout court, da boca do professor. Arrancou, a ferros, algumas desgarradas opiniões ao dr. Cavaco. Este, criteriosamente colado às políticas do governo, titubeou aqui e ali. Esteve, no entanto, bem melhor quando falou na Reforma da Segurança Social e nas medidas tomadas. Coisa que, aliás, muitos não entenderam. Em resumo: Louçã domou "o monstro". E, nestas condições, a existir alguém vitorioso, esse alguém terá de ser o dr. Francisco Louçã. Muito embora se saiba quais as suas hipóteses presidenciais. Mas isso é uma outra história. Um outro debate. Disse.
Fomos de romaria à Catedral & aviámos uns "bifes" ingleses
"Que aquelas altas vozes que lá soam ..." [Camões]
Afogueados pelo cansaço de todos os caminhos não serem rectos, estamos de regresso. Da antiquíssima Catedral da Luz & ainda em tempo festivo. Justo foi desembainhar a espada do engenho e comemorar essa notável noite em que o Glorioso educou os indígenas do Manchester. E celebrar em depravação total.
Antes, uma romaria, lucidamente vermelha, invadiu Lisboa, quarta-feira passada. Todos os caminhos davam à Catedral, para ver os "bifes" do senhor Blair. A A1 entupiu de magnificência. Vimos passar famílias completas. Ataviadas de filhos, comida & bebida. Um verdadeiro hino colectivo. A pátria ressuscitava, finalmente. A nação, também.
Aos 5 minutos, por deslize óptico, os rapazes alourados marcaram. Sem saberem como, deve ter confessado Sir Alex Ferguson ao Queirós. Depois, os nossos artistas abriram o jogo e a sangria feita aos Neville, O'Shea, Giggs and Rooney foi memorável. E a reviravolta apareceu. Sir Ferguson ficou lívido e silencioso. Logo ele que tanto prega. Conseguiu-se, entretanto, a façanha de arrastar o ilustre Ronaldo para fora das quatro linhas, para ter tempo de visitar o horto d'Alvalade. Pelo gestual simbólico utilizado pelo rapaz do Manchester, durante a sua saída, deve ter gostado da ideia. Há coisas que nunca esquecem. A nós também não.
terça-feira, 6 de dezembro de 2005
Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas
Cingida de luz, bordada de poesis musical, a beleza e o esplendor de Aerial. A divina Kate Bush - 12 anos depois de "The Red Shoes" - está de volta. O seu último álbum (duplo), em especial o II CD, é sublime. Os meus pássaros sussurram que sim. Compreendo-os. Não há qualquer mistério para eles. Canções do vento, o sol & o mar, têm sempre efeito de prevenção. Com doçura, fazemos as pazes com o mundo. Com a inocência em afecto maternal. Mystico. A alma vai prenhe de civilidade. Não é qualquer Cavaco que nos fulmina estes dias, assim-tão-perfeitos em repouso descuidoso. Kate Bush é o nosso abrigo espiritual. A nossa audição divina. O nosso endereço de cada noute. A nossa fantasia espiritual. Há senhoras ... assim! Intemporais. Ouvi!
Assim, para ouvidores sem custódia presidencial & para as governanças em fim-de-ano, que as vésperas são todos os momentos de alma, a coberto do luar ou do fascínio da noite, a inexcedível & admirável Kate Bush, ali [music in box - A Nau dos Loucos] do lado esquerdo da pedra & sem o patrocínio das forças de desbloqueio
Kate Bush - Sunset [in CD2]
"Who knows who wrote that song of Summer
That blackbirds sing at dusk
This is a song of colour
Where sands sing in crimson, red and rust
Then climb into bed and turn to dust
...
Oh sing of summer and a sunset
And sing for us, so that we may remember
The day writes the words right across the sky
They all go all the way up to the top of the night" [letra, aqui]
... e que a noite germine em cada um de vós. Bons sonhos!
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