domingo, 8 de janeiro de 2006


Notícias breves do reyno lusitano & outras moléstias

"Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo" [Oswald de Andrade]

Passada a navegação natalícia em luxo ostentoso, de novo arribamos. Ainda cansados do laborioso "trabalho para o bronze" (condição de estarmos vivos) & irrequietos pelo trabalho de cata d'alfarrábios (a nossa desgraça), cedo fomos agraciados (via Fernando Pinto ... ui ... ui) por novas da administração do reyno. Ainda não tínhamos observado território indígena já o eng. Sócrates nos assomava com ar de anjo, avessado que estava por duas muletas curiosas. Na nossa inocência deslumbrada, logo cuidámos que o caso tinha sido fruto da agitação alegrista ou de alguma inspiração estimável do interino senhor Silva. A vivacidade na cantada do "Grândola Vila Morena", pelo piedoso democrata de Boliqueime, não é decerto despiciendo. Poderia ter sido influência de algum encontro de notáveis orçamentistas (olá Medina Carreira!) sobre a neve BESiana do Marquês de Pombal ou, até, efeito duma plangente manif. dos Pina Moras & Mexias, Inc. Poderia! A gerência domesticada tem sempre essas ousadias.

De outro modo, a TV espacial do sr. Fernando Pinto em parceria com a cândida RTP informava que nuestros hermanos eram obrigados a abandonar os mantimentos do tabaco e la siesta. Tememos pela nossa saúde. O cerco mavioso dessa aurora imaculada de salubridade pública instalava-se. Pela janela antevimos, em suave triunfo cavaquista, a figura prodigiosa de Macário Correia. O rosto brilhante de Sir João Carlos Espada. A bandarilha de Albino Almeida. O terror foi total. Nem a destreza perfeita das microfilmagens de documentos do Ministério da Defesa pelo dr. Portas nos restituiu o viço e a inspiração costumeira. O nosso coração estava, decididamente, fraco.

Por infinita misericórdia, pedimos mais um whisky. As funcionárias (ou pombas do céu) do sr. Fernando Pinto toleram bem essas petições e, portanto, o trabalho corporal de esquecimento foi soberbo. Por isso, enquanto na TV o beato Pinto da Costa chorava qualquer coisa sobre um tal de Moretto, adormecemos generosamente. Não vimos, pois, o guarda Abel em saudade guerreira. A eternidade era já só em Lisboa. Eis-nos de chegada. E ao vosso serviço para o passeio público. Inter alia, evidentemente.