quinta-feira, 1 de setembro de 2005


Nelson Rodrigues 25 Anos

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria face hedionda" [N.R.]

"O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual" [N.R.]

"Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca" [N.R.]

Durante um mês (28 de Julho a 28 de Agosto), no Conjunto Cultural da Caixa, Teatro Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro, prestou-se homenagem a Nelson Rodrigues "um de seus escritores mais controversos, homem polémico que inovou o jornalismo e a dramaturgia" [in Nelson Rodrigues 25 Anos, ed. de Nelson Rodrigues Filho). Quando Nelson Rodrigues estaria fazendo 93 anos, a obra Rodrigueana e a vida do "tarado, génio, revolucionário" esteve presente através de leitura e dramatização de algumas das suas crónicas (A vida Como Ela É, p.ex.), uma exposição com cartazes de encenação e filmes da sua obra, algumas peças teatrais (Anjo Negro, p.ex.). Para lembrar!

"Hurricane Victims Need Your Help Today"

Locais: Complete Coverage Hurricane Katrina [NYT] / Did New Orleans Catastrophe Have to Happen? / How You Can Help The Victims Of Hurricane Katrina / Hurricane Protection Budget Cuts Exact a Big Price / Katrina's destructive waves / Katrina Exposes Racism / Katrina's Real Name / No One Can Say they Didn't See it Coming / Paging ABC, CBS and NBC / Star-Crossed Times For the Crescent City / The Hurricane President / Thousands feared drowned in New Orleans

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

[Custo e preço de um medíocre]

"Senhores leitores: encarregaram-me de vos dizer que a direcção protectora decidiu proibir que vos fosse mostrado quanto custa e rende um medíocre, porque o inquérito, feito por sujeitos competentes, tinha o grave defeito de mostrar o medíocre a nu, cena eventualmente chocante para a estabilização da bolsa de mercadorias. Em seu lugar, prometemos redescobrir o Brasil, a bem da mediocração"

[Mário Henrique-Leiria, in Aqui, nº 2, Setembro 1976]

A espuma intelectual

"... O bom povo e os revolucionários de ontem deram lugar às vítimas de hoje..." [Helena Matos, in Publico]

A festa da semana, entre os intelectuais, teve a inspiração de uma deliciosa Carta Aberta de Maria João Seixas a esse talento restaurado do jornalismo, de nome Helena Matos. Na brisa do dia seguinte, o protesto à patifaria de MJS escarrapachou-se nas Cartas ao Director - cortesia José Manuel Fernandes & por amor à plebe -, pondo a descoberto essa ferramenta do intelecto (E.P.C. dixit) que assina para a imortalidade da escrita indígena, Inês Pedrosa. Ficámos entendidos.

Graciosamente, o trato espiritual da douta questão fez correr no berço da blogosfera uma série de afectadas gratidões liberais pela cheia de graça Helena, profundos & piedosos desagravos contra a sentença de MJS, acabando em reputadas sentenças em torno da moral cristã, do dever & culto da discrição intelectual, afinal qualidades temperadas nas delicias da tinta instruída da paróquia lusa. A afronta assim desmerecida fez, entre o pânico dos livres-pensadores neoliberais, esperar uma qualquer esculpida réplica pela pena ajuizado da própria Helena Matos. Debalde! O brilho profano da jornalista semanal e historiadora em part-time não se vislumbrou. A prosa e os atropelos à gramática da dita senhora foram mais um descalabro. A vassourada da doce Helena teve a inteligência dum garoto do ciclo preparatório. E o folheto heróico celebrou a inteligibilidade costumeira - nenhuma. Pobre Lucília!

Ingrid Bergman [n. 29 Agosto 1915-1982]

"I was informed that you were the most beautiful woman ever to come to Casablanca. That is a gross understatement." Captain Renault (Claude Rains) to Ilsa Lund (Ingrid Bergman), Casablanca (1942)

Locais: The Official Ingrid Bergman Web Site / Ingrid Bergman / Ingrid Bergman Gallery

quinta-feira, 25 de agosto de 2005


Elogio da vida portuguesa & aviso aos nobres leitores

"Dois copos no balcão. A garrafa / à mão" [E. G. Carneiro]

Senhores, o temor das palavras deslavadas que do charco da Nação ainda nos surpreendem, pisam os nossos pés. Acabados de arribar do doce pecado além-mar ou luz do mundo, a voz dos indígenas asseguram-nos que estamos em pastagem lusa. O taxista que não pastoreia já coisa alguma, diz-nos a oração costumeira: "os povos felizes não têm história". Evidentemente!

Sentimos, entretanto, a respiração do dr. Sampaio quando bradava contra o mundo infecto dos incendiários e ... padecemos. Sampaio tinha o corpo crivado de anos de relaxação governamental e felicidade urbano-depressiva. Todos desconheciam esse glorioso desembaraço. Mesmo os jornalistas. Sem mais, essa língua do céu que é o DN, declara a candidatura presidencial do excitante prof. Silva. Sem lastimar a nossa sorte, que as desgraças são tantas & sem repouso, sentimos de imediato a venerada atenção das donas-de-casa lusas, o arrebatamento republicano da sopeiral Helena Matos, o convite chez Espada Club para um tea-party liberal, a energia da escrita de Pulido Valente filho e as avés-marias de meia-dúzia de intelectuais ditos de gauche, todos esperando o Godot de Boliqueime. Entretanto, Figueira da Foz ardia e Coimbra expirava de dor. No resto do país o choro e o luto eram totais. Home sweet home.

Antes de abrir a alma ao casual rebuliço do leito, antes mesmo de tocarmos o silêncio no descanso das palavras, soubemos do encerramento do Arqueólogo, do Aviz, Azul Cobalto, Fora do Mundo e Joaquinzinhos. O mundo está, de facto, perigoso.

domingo, 7 de agosto de 2005


... além mar

Informamos os estimados amigos, que em boa hora caminham para o lava pés costumeiro e em inocente saudade juvenil, que os descansos deste mês de Agosto, para nós, têm o encanto de além-mar. É verdade: o Rio de Janeiro continua lindo! Diremos que a lide diária é prometedora. Estamos mais instruídos. Os sebos fazem-nos uma dor imensa, é certo, mas obedecemos à voz da perseverança. Peca-se por aqui, de felicidade. O resto não dá para dizer.

Desta forma, para que não vos canseis de horrores sócraticos & mendistas, daqui vos damos um sopro de viração & devoção ardente, ali do lado esquerdo da pedra. Nada mais que o tumulto de José Mário Branco em "Cantiga de Alevantar". Que é o que mais precisamos. Aceitai-o no vosso coração. E a continuação de boas férias, sol & banhos. Disse.

Curtas ou como amontoar cascalho

"Há penúria de escriturários. Tudo corre para o jornalismo" [Karl Krauss]

- à sombra da adega, que a noite era devota para animar o gentio de Vilarelho, a rapaziada da Periférica fez uma ousada entrevista a Helena Matos, conhecida militante liberal e escriba privativa d'O Público. A ventura desta arrojada paixão pelas sentenças sopeirais da dita senhora lá foi germinando, presume-se entre algum desporto líquido presenteado pelo verde puríssimo e o debate sobre as ilustrações da Atlântico, ocupando algumas páginas hilariantes da revista dos moçoilos. O calão político vulgaríssimo da grande educadora liberal foi de uma puerilidade feminina espantosa. A erudição não foi bem trabalhada. A trovadora liberal orna a ignorância com vistosa colheita de mesa-de-café. Compreende-se, pois, que o clamor picaresco da estimosa senhora eduque a boa gente liberal. Após alusões de circunstância e outras regateiradas, os entrevistadores e a insigne senhora partiram de enxada às costas para novas pregações. Virtude admirável! Quem os viu assegurou que os seus lábios eram avaros. Tal como os dias.

- a saraivada de "livros para férias" que o prof. de Oxford, João Carlos Espada, da mansidão da rotina da silly season descreve, no Expresso, para uso e abuso de veraneio, são mimosas leituras para corpos delicados e espíritos abatidos. O colunista do "Mar Aberto", averso a leituras ao longo do annus horribilis de práticas gastronómicas, assinala copiosas obras, a saber: o conhecido Martin Wolf, tormento do magistério de José Manuel Fernandes; o lembrado "What América Can Learn from School Choice in Other Countries", onde se celebram virtudes aos pobres e à classe operária em geral; as controvérsias de Scalia, para constitucionalistas prudentes e seus confessores; a narrativa social-cristã de D. António dos Reis Rodrigues sobre o lugar da Família, da propriedade privada e do Estado (versão soft de Engels); um tal "Milagre Português", croniquetas de desmando panfletário do César das Neves e 1 (um) romance recrutado ao inefável arq. António José Saraiva. Ficámos acabrunhados. Nem um policial de algibeira, uma poesia inspirada, ou romances e novelas graciosas, nos foram impacientemente sugeridos. O clima poético ou romanceado da livraria avulsa do colunista não atinge a altura intelectual chez Espada. O coração livresco do desabusado professor é um desastre. Confirma-se, assim, o dizer: "as obras fazem os homens diferentes". Boas leituras.


"Bem-aventurado o coleccionador! Bem-aventurado o homem privado!" [Walter Benjamin] [aqui]

"O bibliófilo está sempre garimpando. Basicamente é o «viciado» por obras raras ou edições de arte ... Interessa-nos a capa, a encadernação, as ilustrações, a dedicatória, o autógrafo, as anotações no meio do livro ..." [José Salles Neto, Presidente da Confraria dos Bibliófilos]

"A arte de «bookinar», expressão do poeta Carlos Drummond de Andrade, está cada vez mais difícil" [professor Marcondes] [in A paixão na prateleira]

"Apesar dos anos de garimpagem, [José] Mindlin não se define como um colecionador, mas, antes de tudo, um leitor inveterado. «Estou sempre com um livro na mão», conta. «Sou um leitor que passou a bibliófilo.» A leitura foi a origem de sua vasta coleção, com os livros sendo adquiridos um a um. Mas como Mindlin interessa-se pelos mais variados assuntos - ficção, poesia, teatro, biografia, ensaio, relato de viagem, para ficar em alguns -, a biblioteca cresceu «indisciplinadamente», como ele gosta de frisar (...) Aos poucos, vai surgindo o interesse pelas primeiras edições, as encadernações, as tipologias, ou seja, a atração do livro como objeto. Chega-se então à busca de raridades. Nesse ponto, o leitor já está irremediavel mente perdido. Foi o que aconteceu comigo. Dei-me conta de que era uma doença incurável, mas, ao contrário das outras, só me fazia bem. Por isso, nunca me preocupei." [ler mais aqui]

"... não somos nós que temos a biblioteca, ela é que nos tem" [Guita]

Chamas do nosso desvario

nós temos chegado ao fim de tudo. o fado deste país é andarmos a ser, desde sempre, administrados por criaturas banais. o discurso confiado na classe política é a perda na nossa dignidade. deputados ou ministros, jornalistas e cidadãos, todos nós estamos resignados. chorados. pagamos o tributo desde o óasis cavaquista, que nos desviou da lide agrícola em troca dos enfeites citadinos e da maravilha da sociedade de consumo. passámos prestáveis pela cobiçada aventurança guterrista que nos fez prostrar de joelhos no défice e no compadrio dos boys. encantamentos tivemos na apalavrada época barrosista, afinal protector de uns poucos para perseguição, sacrifício e desgraça de muitos mais. e que nos condenou para todo o sempre a sermos as ovelhas negras da União. sorrimos na desgraça do santanismo & da sua garotada, que o desastre era já ali. voltámos a ser fervorosos da saudade decente de querermos um governo digno, proveitoso, moralmente são. sem qualquer esperança tudo nos arde. incautos deparámos com novas humilhações. a nossa virtude é não termos virtude alguma. sermos rascas. delicadamente grosseiros. a censura não passa, nunca, por aqui. está sempre noutro lado. estamos, decisivamente, embaraçados. assombrados de miséria.

sábado, 30 de julho de 2005


Patroa e amiga:

todo mundo dize que vosmecê presta a tensão a fala que ressoa dos lados de cá, assim a modos que sustança espanto & danação. a senhora patroa conhece de mim, não a quero desencaminhar, mas conversa já conversada a atrasado me deu saudade e um soluço dificultoso como romance-velho e a modos estou por cá muito descriado no vai e vem desta vida. eu não queria querer contar, que a dotôra "que é da cidade tem diproma e posição", mas tem um particular remexendo na lembrança é que sôr Virgulino mais a jagunçada braba morre em terras de Angico aventurando balas amor carinho riso e nem a senvergonha da noticia na miudez das normas da blogosfera o fraseado de seu Lampião sai. carece de prevenir. arrespeite mê pai o cabra português contava que sôr Virgulino "olhava, sem pousar os olhos" os cabras periquitavam assobiando e Maria Bonita era rio de braveza. descarecia. sabe todo o mundo espera que o sertão vem até que o dia deu mas o sertão é dentro da gente lá canta Guimarães Rosa.

pelo dito e visto vosmecê me lembra a honra dessa gente por isso encaminho a missiva

deus a tenha

almocreve

PS: com sua licença dada e reprazer dos ledores lhe mando um desenho de sêo Lampião mais Maria Bonita e solto ali de lado a sentimento meu uma moda dançadinha que cá sou pé de salão a musica recantada de seu Luiz Gonzaga o vira e mexe que "a vida é ingrata no macio de si". agradecido.

Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) [1897-m. 28 Julho 1938]

"Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem ruínas
Foi o rei do cangaço no sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor...
" [Zé Ramalho]

Locais: Lampião / Lampião: O Rei do Cangaço / Biografia de Lampião / Biografia de Virgulino / Conheça a história de Lampião, o "Rei do Cangaço" / Maria Bonita / A verdadeira história de Lampião / Lampião 65 anos sem o rei do Cangaço / História do Cangaço / Justiça para Lampião / Cangaço no teatro / A Volta de Virgulino pra consertar o Sertão (Literatura de Cordel) / A Chegada de Lampião ao céu (Literatura de Cordel)
Por uma vez ...

«pode o Governo s.f.f. colocar em linha os estudos sobre o aeroporto da OTA para que na sociedade portuguesa se valorize mais a 'busca de soluções' em detrimento da 'especulação'?» [JPP]

... ou o choque tecnológico não permite traduzir, ainda, os sinais dos tempos e a necessária transparência do debate sobre o investimento e gestão dos bens públicos? Ou deve continuar a permitir-se, ainda, que anúncios tão abundantes e robustos, estudados por tamanho cabedal de ideias, restem no bolor dos gabinetes sem servir a causa pública e à mercê de cruzadas pessoais e partidárias? Afinal, o sacrifício imposto (despudoramente) aos cidadãos contribuintes, ao longo destes malfadados anos de prosápia anti-défice, não merece respeito e atenção? Será que não vos assusta a vossa indolência governativa e a vossa miséria democrática? Será!?

Dias frenéticos de molha pés

A imprudência destes dias sem blogar nocturno resultou numa reviva de lembranças & delícias saudosas, desconhecidas. E, como diria E.P.C., "um dia não acaba em um dia". Louvado seja, pois, o talento da preguiça e a credibilidade dos restaurantes. Diremos que as águas estavam de uma canseira suave em demasia para homem esclarecido. Não inspiravam assunto. Nem vontade de desprender horizontes. Como o areal andava sem alvoroço e os mercadores de jornais nem vê-los - toma lá Ó arq. Saraiva! -, ficámos entre os letrados d'A Bola & a instrução do Record, acompanhando gratuitamente o vexame governamental pronunciado pela memorável assistência de veraneantes. A oratória fortalecida do bridge nocturno foi a nossa piedosa salvação. Estamos de volta, do meio da água, retemperando forças para novas vigias além-mar e a respeito do mundo temos súbitos enfados. Nada mais.

Agradecemos o rol de missivas, que nos fizeram corar de assombro e alvoroçada alegria, prometendo responder a todos sem distinção. Vale!

sexta-feira, 29 de julho de 2005


Alexis de Tocqueville [n. 29 Julho 1805-1859]

"A liberdade política dá, de quando em quando, a certo número de cidadãos, sublimes prazeres. - A igualdade oferece diariamente uma multidão de pequenos gozos a cada homem. Os encantos da igualdade sentem-se a todo o instante, acham-se ao alcance de todos; os mais nobres corações não lhe são insensíveis e as mais vulgares almas nela encontram suas delícias. A paixão originada pela igualdade deve, pois, ser simultaneamente enérgica e geral"

"Nos tempos de igualdade, os homens não têm fé alguma uns nos outros, por causa de sua semelhança: esta própria semelhança, porém, dá-lhes uma confiança quase ilimitada no juízo do público, pois não lhes parece verosímil que, possuindo todos luzes semelhantes, não se encontre a verdade com a maioria ... Por conseguinte, o público possui, entre os povos democráticos, um poder singular, cuja ideia as nações aristocráticas não podiam sequer conceber. Mão insinua, mas impõe as suas crenças, fazendo-as penetrar nas almas, por uma espécie de imensa pressão do espírito de todos sobre a inteligência de cada um?"

"[é] na comuna que reside a força dos povos livres. As instituições comunais são para a liberdade o mesmo que as escolas primárias para a ciência; colocam-na ao alcance do povo, permitem-lhe saborear o seu uso tranquilo, habituam-no a servir-se dela. Sem instituições comunais, pode uma nação escolher um governo livre, mas não possui o espírito da liberdade. Paixões efémeras, interesses momentâneos, o acaso das circunstâncias podem dar-lhe as formas exteriores da independência; mas o despotismo, recalcado no interior do corpo social, cedo ou tarde reaparecerá na superfície"

[Alexis de Tocqueville]

Catálogo 50 da Livraria Moreira da Costa

A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) deu à estampa o seu Catálogo, número 50, de livros raros, esgotados ou curiosos. Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Álbum dos Vencidos, de Alberto Pereira de Almeida, s.d. / Portugal Económico (tomo I e único publ.), por Anselmo de Andrade, 1918 / Mea Villa de Gaya (Guia illustrado do Concelho de Gaya), de António Arroyo et al, 1909 / O Último Cartuxo. Da Scala Caeli de Évora, por António Francisco Barata, 1891 / Les Deus Prostitutions, de F. Carlier (contem uma parte que trata da homossexualidade masculina "considerada um estudo pioneiro"), 1887 / Uma Página da Universidade. Precedida de uma carta ao author por Levy Maria Jordão, de José Cardoso Vieira de Castro, 1858 / Colecção Portucale, Edições Inapa, 2001, XI vols / Vida Debaixo da Terra. Tragedia histórica de um preso politico de Caxias, por Fernão Corte-Real, 1912 / A Democracia Nacional, de Henrique de Paiva Couceiro, 1917 / A Guerra de Africa em 1895 (Memorias), de António Ennes, Lisboa, 1898 / A Restauração de Portugal. Alma Portugueza, 1902-1903, III vols /O Balio de Leça, de Arnaldo ama, 1872 / História de Portugal (dir. de Damião Peres), 1928-81, IX vols / Analyse da Carta Constitucional da Monarchia Portugueza, por Fr. João Baptista de Jesus, 1863 / Discurso Juridico, Historico e Critico Sobre os Direitos Dominicaes ?, de Manuel de Almeida e Sousa de Lobão, Lisboa, 1819 / Manifesto dos Direitos de Sua Magestade Fidelíssima, a Senhora Dona Maria Segunda e Exposição da Questão Portugueza, Londres, 1829 / Socialismo Libertário ou Anarchismo. Historia e doutrina, de Silva Mendes, 1896 / Novo methoso para Aprender a Grammatica Latina, de Manoel Monteiro, 1746 / Guia do Viajante nos Caminhos de Ferro ao Norte do Douro ..., por Júlio César d'Abreu Nunes, Porto, 1879 / Guia do Viajante na Cidade do Porto e seus Arrabaldes, de Alberto Pimentel, Porto, 1877 / Código Pharmaceutico Lusitano ou Tratado de Pharmaconomia ..., de Agostinho Albano da Silveira Pinto, 1836 / Revolta Militar no Porto em 31 de Janeiro de 1891. Os Conselhos de Guerra e as Respectivas Sentenças, Porto, 1891

quinta-feira, 21 de julho de 2005


Habilitações necessárias para Ministro

[em louvor & pasmo de Teixeira dos Santos]

Saídos do banho em delícia de veraneio & honrando o corpo a expensas de prazeres muito carnais, para leitores instruídos, porém devedores do santo trabalho, daqui, desta espuma que o exílio evoca, lançamos ao respeitável público o rol de "habilitações necessárias para ministro", obviamente dedicado ao novel Ministro da Fazenda. E à paixão do défice, que tem enterrado os nossos melhores filhos. Sem um único queixume mas com sofrimento & tragédia pública. O carinho com que acompanhamos, em banho de lágrimas diga-se, a solução do magno problema da fazenda faz-nos andar com "as mãos na água" e a "cabeça no mar". Entenda-se!

Mas é bom regressar a Eça de Queiroz. Assim, neste hora solene, quasi post-sócratica, dali, da pedra esquerda consolativa, agitamos, para reanimar as gerações vindouras, o ilustre Eça de Queiroz em "Habilitações necessárias para ministro". Sob leitura de Jacinto Ramos. Boa tarde!

Crise na Fazenda do Eng. Sócrates

"Os economistas são respeitáveis professores da ciência sombria" [Carlyle]

Este País não tem remendo possível. Ora se consome em palavrosos conflitos - bramindo sublevado ruídos sobre a validade da pátria - ora se abate em copiosas lágrimas por um repudiado ministro caído em desgraça, novo mártir que os opinativos colunistas erguerão em dor pungente. O cinismo disto tudo é um desaforo nada aceitável. Enquanto a soldadesca liberal regurgita de fúria face à desgraça pública da saída do ministro, animados que foram pela profunda reflexão de Campos & Cunha sobre a tormenta dos investimentos, dada à estampa no jornal do companheiro JMF, os incansáveis socialistas acham tudo absolutamente normal. Isto é, se o evangelho liberal, como sempre, navega à vista na confusão da sua revolução conservadora, os procuradores da maioria governamental são marionettes nada exigentes. A coerência é total.

O espantoso disto tudo é a quantidade de fantásticos professores-economistas que ao longo dos anos são deliciosamente maltratados. Ao trocar a prelecção da sebenta no cadeiral universitário pela efabulação do sofá ministeriável os senhores professores mostram não só o que aprenderam sob pavilhão estrangeiro mas também arriscam revelar o que na cátedra ensinam à mente conspícuo do estudante. É bom de ver que as formosas teorias económicas e financeiras tricotadas habilmente pelos lentes resultam invariavelmente, quando a prescrição exige e o BCE aplaude, numa enorme trapalhada de opiniões, que aliás a história do pensamento económico bem cedo anotou. Está na lembrança o opinioso protestatório em torno do milagroso superavit em tempos idos de Junho de 1913, sob a alçada de Afonso Costa, e a comoção havida entre os "economistas" domésticos. Não há, pois, gratidão ou respeito algum pela inteligentzia. Que a lamentação, em breve, de Teixeira dos Santos seja piedosa, é o que se deseja. A bem do magistério.
"Manifestação de apoio e não só"

"A multidão invadira a praça, rodeando a estátua que lá em cima apontava algo glorioso. Espezinhando canteiros, inundando ruas adjacentes, vociferante. A manifestação.
Palavras de ordem. Guinchos. Várias crianças à procura do pai.
Era o apoio. Incondicional, ininterrupto, ao Primeiro Ministro.
Ali, na praça enorme e paciente.
O Primeiro Ministro olhou por uma das janelas, no terceiro andar antiquíssimo do Paço Ministerial. Sorriu levemente. Apalpou a cara, passou uma das mãos pela lapela do casaco, numa carícia inconsciente. Acenou com a cabeça, discreto, um pouco irónico, ao ministério perfilado no fundo da Sala de Actos.
Dirigiu-se à varanda alta, sobre a praça apopléctica.
Abriu a janela num gesto paternal e deu um passo em frente.
Ouviu-se um som murcho e abafado, uma espécie de paff, lá em baixo, no empedrado decorativo que circundava o Paço.
Alguém tirara a varanda. Toda.
Isto não se faz, é muito feio."

[Mário Henrique-Leiria, in Aqui, nº 2, Setembro de 1976]

Hart Crane [n. 21 Julho 1899-1932]

"Muitas vezes das ondas, do largo desta escarpa
os dados de ossos dos afogados que ele vira mandam-lhe
embaixadas. Os números quando os notava
caíam na praia e se volviam obscuros.
...
E então no circuito calmo de uma vasta curva,
encantado o chicotear e conformada a malícia,
gelados olhos havia que levantavam altares;
e silentes respostas se esgueiravam de astro a astro.

Bússolas, quadrantes, sextantes já não forçam
mais marés. Alta nos azuis declives
a monodia ao marinheiro não despertará.
Esta sombra fabulosa só o mar a guarda"

[Hart Crane, "No Túmulo de Melville", trad. de Jorge de Sena]

Locais: Hart Crane (1899-1932) / Harold Hart Crane / Hart Crane (1899-1932) / À Ponte de Brooklyn [poema de H. Crane] / Contemplação do Urbano (Ensaio sobre a poesia de Hart Crane) / Brooklyn Bridge: facto ou símbolo? / As Vozes Submersas: Nome, Prece e Canção em The Bridge, de Hart Crane / O poeta Hart Crane suicida-se no mar [poema de Vinícius de Moraes]