[Os Filhos-da-Puta]
"... os filhos-da-puta (...) conhecem-se bem uns aos outros, pelos lugares que ocupam e só podem ser ocupados por eles [Quando não é este o caso, processa-se a conhecida cerimónia de «apresentação», na qual os intervenientes se esforçam por mostrar que sabem ocultar o que não querem mostrar ...]; deste modo é fácil associarem-se para fazer as coisas mencionadas e outras, muitas outras, públicas e particulares. Por vezes, negoceiam particularmente o bem público se isto porém é dito publicamente, ofendem-se porque consideram que se trata de um ingerência particular na sua vida particular. Todo o filho-da-puta é altamente cioso da sua vida particular, porque a vida particular dos filhos-da-puta é quase sempre, de uma ou outra maneira, pública. Todo o filho-da-puta tem sempre um motivo público para os seus actos particulares e um motivo particular para os seus actos públicos ..." [Alberto Pimenta, in Discurso sobre o filho-da-puta, 1977]
sábado, 27 de novembro de 2004
Filho-da-Puta & Outros
Um dos garotos de Paulo Portas, em tom encomiástico, decerto no tédio da sua assessoria, lança-nos o epíteto de filho da puta. A urbanidade e o tom brando do miúdo fez-nos, evidentemente, ficar preocupados. As palavras laudatórias, mesmo que singelas, segredavam às nossas orelhas. De onde conhecíamos o espécimen é que não estava esclarecido. Nunca tomámos o café juntos na Bénard e temos ideia que jamais subimos braço-no-braço o Príncipe Real, a caminho dos antiquários ou em visita ao Pacheco. A verdade é que não o reconhecemos como conviva do Tavares e estamos plenamente convencidos não ter visto ninguém a pavonear-se no Largo do Caldas, como um histrião de feira, recentemente. Sabemos que a vida mundana é monótona e a paisagem estranha. Porém, a única vez que assomámos ao Parque Eduardo VII foi para seguir uma magistral prelecção de Gonçalo Ribeiro Teles, sobre ruas e jardins. Poderia ser que nos tivéssemos cruzado na FNAC do Chiado, mas decerto as futilidades mundanas não ganham espírito de assessoria. Da Pastelaria Versailles nem pensar. O mistério, devemos confessar, era excessivo. Até que voz amiga nos confidenciou, por desgraça nossa, que o memorial laudativo era dirigido aos acólitos do assessor, por ser dia de despacho. Descansámos, finalmente.
quinta-feira, 25 de novembro de 2004
[Confessionário]
- de Pedro Mexia. O eco da dor que cobriu de luto a confissão de Pedro Mexia às manápulas dos miúdos do Portas & Cia é uma desgraça do seu mérito admirável. Ser obediente, em gratidão eterna, uma fadiga com paixão. Ser pouco diligente nos trabalhos apostólicos da extrema-direita é um gemido, uma alforria irreligiosa e ímpia. Ser insultado por estes senhores, um sublime espectáculo. Não há salvação para Pedro Mexia. O homem virtuoso deve fazer jejum para esquecer quanto vale. O homem prudente não busca instruir além do que a educação permite. Não procura indulgências. Nem exercita a virtude do contraditório. O erro de Pedro Mexia é ser crédulo. O que convenhamos é raro nos tempos d'hoje.
- de Santana Lopes a Judite de Sousa. A oratória do nosso primeiro sobre a providência governamental foi curiosa. Na crítica, da crítica crítica com que brindou os indígenas lusos, é necessário confessar que o espírito frívolo de Lopes não é a sua fraqueza. As confissões políticas fazem os homens diferentes. A criatura é uma lamúria pegada. De aflição em aflição, de desgraça em desgraça, a noite venturosa foi depois. Estava ainda Judite de Sousa posta em sossego, os jornalistas ainda aturdidos e o Portas a pregar doutrina a quem se oferece, eis que numa infinita misericórdia o primeiro-ministro, atraiçoado pelas sombras da noite, sepultou o Gomes da Silva dos assuntos Para-lamentar(es). O insólito de tão tocante estratégia admirável só encontra eco na figura desfalecida do Silva do contraditório antes de lhe fugir a luz dos holofotes televisivos. Doravante, o desamparado Silva será o Santana de Santana, o extremado protector daquele que afastou os olhos da relaxação dos homens da coligação. E Morais Sarmento, cruelmente erigido como central de intoxicação, provará talvez o capricho de tomar a rédea de um PPD inadvertidamente só em campanha eleitoral. Exultemos.
[Ecos da Alma]
- Aniversário. Da Causa Nossa. A política revelada, a iluminura coimbrã, o trabalho generoso. O espanto. A escrita como prazer. A política sem chagas. Daqui, dos campos sacrossantos do Mondego, uma especial saudação. Mesmo que bastante fora de tempo. Mas por causa dos tempos. Parabéns!
- 2 Livros 2
Pois bem. Eis "uma demanda de corpos e palavras. Porque «é difícil dizer o que os corpos sentem quando se dão». Sem «instruções de montagem»". Um livro "Talismã". De Carlos Alberto Machado. Campo dos Afectos. De muita saudade.
Dizem:"As Não-Metamorfoses é a última aventura extra-virtual de Alexandre Andrade". Um livro de contos. 10 contos publicados pela Editora Errata. Cá estamos para acompanhar. A blogosfera está linda.
- Aniversário. Da Causa Nossa. A política revelada, a iluminura coimbrã, o trabalho generoso. O espanto. A escrita como prazer. A política sem chagas. Daqui, dos campos sacrossantos do Mondego, uma especial saudação. Mesmo que bastante fora de tempo. Mas por causa dos tempos. Parabéns!
- 2 Livros 2
Pois bem. Eis "uma demanda de corpos e palavras. Porque «é difícil dizer o que os corpos sentem quando se dão». Sem «instruções de montagem»". Um livro "Talismã". De Carlos Alberto Machado. Campo dos Afectos. De muita saudade.
Dizem:"As Não-Metamorfoses é a última aventura extra-virtual de Alexandre Andrade". Um livro de contos. 10 contos publicados pela Editora Errata. Cá estamos para acompanhar. A blogosfera está linda.
LEILÕES
Dois curiosos e importantes Leilões a realizar brevemente.
Primeiro, dias 29, 30 de Novembro e 1 de Dezembro, na Casa da Imprensa (Rua da Hora Seca, nº 20, Lisboa), sob a direcção de José Manuel Rodrigues, da Livraria Antiquária do Calhariz. Trata-se de peças bibliográficas estimadas e segundo reza o Catálogo é constituído por "Obras modernistas (1ª ed.), seleccionadas por um distinto bibliófilo nortenho, seguido de um suplemento de postais, fotografias, filatelia e manuscritos do cartório português da nossa embaixada em S. Petersbourg do século XVIII". Teremos tempo de dar as costumadas referências, mas desde já salientemos a presença de quase todos os poetas e escritores modernos portugueses com abundantes peças [raros: Espólio, de Aves Redol; O Mundo Fechado e O Manto de Agustina B. Luís; O Padre, de Raul Brandão; O Amor de Perdição de Camilo; o Cântico do País Emerso de Natália Correia; Dicionário dos Milagres, de Eça de Queiroz; A Casa dos Moveis Dourados, Sangue Negro e Mas..., de Ferreira de Castro; Pátria, O Melro, de Guerra Junqueiro; A Harpa do Crente, de Alexandre Herculano; Relevos, de David Mourão Ferreira; A Mensagem, de Fernando Pessoa, 1934; Raios da Extinta Luz, de Antero de Quental; Terra do Pecado de José Saramago; A Ventura, O Génio Português, Os Poetas Lusitanos, de Teixeira de Pascoaes; De Marinetti aos Dimensionistas, de Dutra Faria]. Registe-se, ainda, manuscritos, como os Documentos do Arquivo da Família Salema Lobo de Saldanha; Documentos de Henrique da Silva (desembargador da Casa de Suplicação); poemas de Ladislau Patrício, um curioso emprazamento de um morador no Casal das Cabeças a José Correia, morador na Marmeleira (14-11-1786), etc.
O segundo Leilão, "Arte, Modernistas, Monografias Regionais, História, ex Colónias e Literatura", no Hotel Roma, dias 6, 7 e 8 de Dezembro, organizado pelo livreiro Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa). Daremos referências proximamente.
segunda-feira, 22 de novembro de 2004
[Assombrações]
- para os lados do Estádio do Glorioso. O rendilhado dos jogadores de Vila do Conde, numa folia nunca vista desde os tempos em que o mester de rendilhar cabia à rapaziada do couto d'Alvalade e só em épocas festivas, não respeitaram a dignidade da equipa tricotada por Filipe Vieira & Veiga, Lda. O tratamento rude e operário que a rapaziada do Rio Ave moveu ao Benfica foi um heroísmo furioso e no fim nem tivemos a graça de ter um Fernandez a dobrar os joelhos à arbitragem, nem sequer a referência a qualquer uppercut de algum jogador dos vermelhos ao ímpio. Até aqui falhámos. Fomos grosseiros. Uma tragédia.
- da maioria governamental pelo atrevimento sem pejo de Vítor Constâncio, made in relatório do Banco de Portugal. Ao que parece, clamando via estatísticas santificadas, o distinto empregado do B.C.E., testemunha imprecações e pragas mil sobre a economia indígena, e já se vê cogita, ferido de PEC, nas afirmações do letrado económico Santana Lopes e do seu orçamento cheio de graça. Como reconhecimento e obediência, os sábios dos jornalistas aparecem a interpretar tal devoção piedosa. Hoje, decerto, o prodigioso Rosado de Carvalho será arrebatador nas páginas d'O Público, tal como sábado no Expresso o seu colega Nicolau a distribuir produtos económicos milagrosos. O sermão destes espíritos inquietos, anunciado pela validade de 3 meses de governação de Lopes & Portas, é um fenómeno admirável. Por paixão vergonhosa esquecem procedimentos macroeconómicos e teorias orçamentais, que o ímpeto de Ferreira Leite manteve em paixão assolapada, que estão na base da actual caótica situação económica e orçamental lusa e que, agora, o oratório Santanista mais atiçou. Mendigar factos que, de momento, não explicam o caos económico em que se vive, enquanto o expediente anterior é olvidado, é uma tentativa de persuasão pífia que salpica de lama quem os profere. A vassourada deve ser melhor trabalhada.
- no palácio de Belém. É de supor que o dr. Sampaio, no heroísmo de combate à gripe que o assolou, viu um anjo presidencial a entrar por Belém adentro. É o que acontece a quem, e nós nos recriminamos por isso, passa o dia e noite inclinado sobre a TV e a rádio, numa virtude civilizacional e democrática nunca vista. Abalado nas suas meditações pela prédica da AACS, no silêncio do casarão constitucional que é a sua morada, a senhor Presidente da República lê, com devoção, a saudosa Constituição. No tumulto destes dias de arremesso Santanista & Portista, o dr. Sampaio, farto de tanto choro e lágrimas vertidas, propõe o veto político à Central de Informação do governo, pois não se vislumbra nenhum nihil obstat constitucionalmente falando. Estivemos quase a mudar de opinião a respeito do trabalho do senhor Presidente. Mas cedo nos lembrámos do zelo e promoção com que nos brindou com este governo. E corremos a desligar a TV. Sem misericórdia.
[via Winbledon]
[à direita, a foto do magnífico deputado de Indiana que pretende mudar o nome à famosa "Interstate 69". Note-se o poder alucinogéneo que a palavra provoca no faccis do congressista e entenda-se como o genital preexiste ao prazer da fala. Confessamos que estamos desassossegados por podermos renunciar a um "69" institucional. Quantas convulsões orgásticas ao longo da "Interstate 69" aconteceram? Não sabemos. Mas o excedente de sexualidade, encontrado por John Hostettler - assim se chama o deputado lascivo - é uma histeria em matéria verbal. Infeliz sina ter "um Estaline na língua".]
[à direita, a foto do magnífico deputado de Indiana que pretende mudar o nome à famosa "Interstate 69". Note-se o poder alucinogéneo que a palavra provoca no faccis do congressista e entenda-se como o genital preexiste ao prazer da fala. Confessamos que estamos desassossegados por podermos renunciar a um "69" institucional. Quantas convulsões orgásticas ao longo da "Interstate 69" aconteceram? Não sabemos. Mas o excedente de sexualidade, encontrado por John Hostettler - assim se chama o deputado lascivo - é uma histeria em matéria verbal. Infeliz sina ter "um Estaline na língua".]
Hoje - Leilão da Biblioteca dos Marqueses da Praia e Monforte, Amazónia Lisboa Hotel, pelas 21 horas
Começa esta noite o Leilão da Biblioteca dos Marqueses da Praia e Monforte, levada à praça por Pedro Azevedo (1ª noite, 323 peças)
Algumas referências: Álbum Michaelense, de Joaquim Cândido Abranches, 1869 / vários lotes sobre os Açores (Álbuns de fotografias do sec. XIX, folhetos diversos, muitas e diversas obras publicadas em Ponta Delgada, Apontamentos da historia contemporânea: ilha de S. Miguel, etc.) / La Inffanta Coronada por El Rey Don Pedro, Dona Ines de Castro, de João Soares de Alarcão, 1606 (raro) / Álbum Açoriano, sob plano de António Baptista, Lisboa, 1903-1909, 77 fasc. / Verdadera informaçam das terras do Preste Joam, pelo Pe. Francisco Álvares, 1540 / Mês Dessins (Os Meus Desenhos), pela Rainha D. Amélia, Paris, 1927-28, II vols / Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria, por Manuel Carlos de Andrade, Lisboa, 1790 / Annaes das sciencias, das artes, e das letras por huma sociedade de portuguezes residentes em Paris, de Julho 1818 a Abril 1822, XVI tomos / Chronica do muito alto, e muito esclarecido príncipe D. Sebastiao ..., composta por D. Manoel de Menezes (aliás pelo Pe José Pereira Baião), 1730 (primeira parte. Da 2ª parte só foram impressas 169 pag. que são raríssimas) / Vocabulário portuguez e latino, aulico, anatómico, architectonico, ..., pelo Pe. Rafael Bluteau, 1712-1728, X vols / Brasil-Portugal, periódico com a col. de Ramalho Ortigão, Eça, Wenceslau de Morais, Feliciano de Castilho, Antero, etc., Lisboa, 1899-1902, 72 nums / Oeuvres Completes de Buffon, Paris, 1845, XX vols / Bvllas dos Sanctos Padres Pio Qvinto e Gregório XIII, 1579 (raro) / Flore medicale, de François Pierre Chaumeton, 1814-1818, VI vols / Collecçam dos documentos e memorias da Academia Real da Historia Portuguesa, ordenadas pelo Conde de Villamayor, 1721-1736, XIII vols / Collecção dos costumes servis da cidade de Lisboa, por MID, Lisboa, 1806 / O Portugal Vinícola, de Cincinnato da Costa, Lisboa, 1900 / Memoria sobre a Cultura das Oliveiras em Portugal, por João António Dalla-Bella, Coimbra, 1786 / Diário das Cortes Geraes e Extraordinárias da Nação Portugueza, Lisboa, 1821-1822, 7 vols / Bibliotheca maçónica, ou instrucção completa do franc-maçon por um Cav. Rosa Cruz [autoria de Miguel António Dias], 1834, IV vols / Diffiniçoens, & Estatutos dos Cavalleiros, e Freyres da Ordem de Nosso senhor Jesu Christo, ..., Lisboa, 1717, 3ª ed. / Tarité sur la Cavalarie, de Drummond de Melfort, Paris, 1776 / Encyclopedie ou dictionnaire raisonné dês sciences, des arts e dês metiers, ... mis en ordre & publié par M. Diderot ... par M. D'Alembert ..., Paris, 1751, 35 vols / Portugal Convenzida com la razon para ser Venzida com las Catholicas potentíssimas armas de Don Philippe Iv ..., Milan, 1648 (restauração, raro)
sexta-feira, 19 de novembro de 2004
João Guimarães Rosa [m. 17 de Novembro de 1967]
"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens." [G.R.]
Locais: João Guimarães Rosa / Guimarães Rosa (1908-1967) / Guimarães Rosa / João Guimarães Rosa (Biografia) / Grande Sertão: Veredas / João Guimarães Rosa: sua HORA e sua VEZ /
Ministros dos Assobios ou o decoro alegre dos governantes
Ai de ti, eleitor atento e cortês, que observas a animação política caseira. Ai de ti, que no meio de tantas pantominices da luta política, onde a detracção e a insulto militam ombro-a-ombro, onde o grémio de S. Bento deslumbra pelos disparates, sempre muito elogiosos pelos da trupe, ainda assim ficas submergido - ó estóico cidadão - pelos assobios desregrados e as reprimendas obscenas de algumas personagens laboriosas da governação, que exaltas e admiras na tua modéstia. Os soluços desses génios da má-língua são repugnantes. O suplício que essas criaturas representam à sanidade mental dos portugueses é indigno de qualquer clemência.
O episódio do idiotismo, provinciano e tacanho, presente nas afirmações de Morais Sarmento sobre as conclusões da Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) no caso Marcelo, imortaliza o ridículo do ministro. Mostra a bazófia e a agonia de quem, só muito tarde, intentou alcançar o espírito da democracia. O sorriso de gozo do devoto santanista Rui Gomes da Silva na sua conversão ao contraditório governamental e em resposta à AACS, é um testemunho e uma afronta insultuosa, aliás dentro da tradição a que nos habituou as suas baldadas experiências públicas. A impetuosidade boçal do Ministro José Luís Arnaut contra a figura impoluta de Miguel Cadilhe a (des)propósito da API é uma miserável assuada que não ficará, decerto, sem resposta. Os afadistados ministros que se cuidem. O gozo ministerial dura o que tiver que durar. Mas tem sempre um fim. E quase sempre grotesco.
[Conselheiros]
"Questão é de há-de ter o príncipe muitos conselheiros se um só. (...) Outra questão é se devem ser os conselheiros letrados, se idiotas [leia-se: simples curiosos, amadores], isto é de capa e espada. Uns dizem que os letrados, com o muito que sabem, duvidam em tudo e nada resolvem, e os idiotas, com a experiência sem especulações, dão logo no que convém. Outros têm para si que as letras dão luz a tudo e que a ignorância está sujeita a erros. E eu digo que não seja tudo letrados, nem tudo idiotas (...)
(...) Outra questão se segue a esta (...) se é melhor para a República ser o príncipe bom e os conselheiros maus ou serem os conselheiros bons e o príncipe mau. Se o príncipe se governar por seus conselheiros, diz Elio Lamprídio, que pouco vai em que o príncipe seja mau, se os conselheiros forem bons, porque depressa se faz bom um mau, com o exemplo de muitos bons, que muitos maus bons com o exemplo e conselho de um bom.
(...) O conselheiro há-se ser prudente e secreto, sábio e velho, amigo e sem vícios, não cabeçudo, nem temerário, nem furioso. Quatro inimigas tem a prudência: primeira, precipitação; segunda, paixão; terceira, obstinação; quarta, vaidade. A primeira arrisca, a segunda cega, a terceira fecha a porta à razão, a quarta tudo tisna. Três inimigos tem o segredo: Baco, Vénus e o interesse. O primeiro o descobre, o segundo o rende, o terceiro o arrasta. E perdido o segredo do governo, perde-se a República. (...)
[in Arte de Furtar, atribuída ao Padre António Vieira ou a João Pinto Ribeiro ou Tomé Vieira da Veiga ou António de Sousa de Macedo ou António da Silva e Sousa, ou Padre Manuel da Costa, Amesterdão, 1652 ou Lisboa, 1743 (aliás 1937, Livraria Peninsular Editora)]
"Questão é de há-de ter o príncipe muitos conselheiros se um só. (...) Outra questão é se devem ser os conselheiros letrados, se idiotas [leia-se: simples curiosos, amadores], isto é de capa e espada. Uns dizem que os letrados, com o muito que sabem, duvidam em tudo e nada resolvem, e os idiotas, com a experiência sem especulações, dão logo no que convém. Outros têm para si que as letras dão luz a tudo e que a ignorância está sujeita a erros. E eu digo que não seja tudo letrados, nem tudo idiotas (...)
(...) Outra questão se segue a esta (...) se é melhor para a República ser o príncipe bom e os conselheiros maus ou serem os conselheiros bons e o príncipe mau. Se o príncipe se governar por seus conselheiros, diz Elio Lamprídio, que pouco vai em que o príncipe seja mau, se os conselheiros forem bons, porque depressa se faz bom um mau, com o exemplo de muitos bons, que muitos maus bons com o exemplo e conselho de um bom.
(...) O conselheiro há-se ser prudente e secreto, sábio e velho, amigo e sem vícios, não cabeçudo, nem temerário, nem furioso. Quatro inimigas tem a prudência: primeira, precipitação; segunda, paixão; terceira, obstinação; quarta, vaidade. A primeira arrisca, a segunda cega, a terceira fecha a porta à razão, a quarta tudo tisna. Três inimigos tem o segredo: Baco, Vénus e o interesse. O primeiro o descobre, o segundo o rende, o terceiro o arrasta. E perdido o segredo do governo, perde-se a República. (...)
[in Arte de Furtar, atribuída ao Padre António Vieira ou a João Pinto Ribeiro ou Tomé Vieira da Veiga ou António de Sousa de Macedo ou António da Silva e Sousa, ou Padre Manuel da Costa, Amesterdão, 1652 ou Lisboa, 1743 (aliás 1937, Livraria Peninsular Editora)]
quarta-feira, 17 de novembro de 2004
Fundação da Sociedade Teosófica [17 de Novembro de 1875]
"La fundación de la Sociedad Teosófica en 1875, en NuevaYork, y su rápida ramificación a diversos lugares del mundo dio un gran impulso a las cuestiones relativas al espiritualismo y al ocultismo. La extravagante personalidad de H.P. Blavatsky y el carisma de algunos sucesores como Annie Beasant, C.W. Leadbeater y Krishnamurti contribuyó al auge de los principios teosóficos. La teosofía definió el ocultismo como un conjunto de enseñanzas que en edades remotas se mantuvieron secretas en limitados círculos de pensadores avanzados y discípulos iniciados." [ler aqui]
Locais: Theosophical Society in América / El Propósito de los Objetivos de la Sociedad / Links Teosóficos Internacionais / The Theosophy of William Blake / Lançamento de obra-chave da teosofia
[Um governo a ver navios]
O Congresso de Barcelos foi o funeral do antigo PSD. Hoje, o partido é um cadáver. Vencido pela fadiga, pela putativa adulação ao "santo" Lopes e à sua glória, endiabrado por gente sem escrúpulos, o espírito do "velho" partido social-democrata foi exterminado na ponta da língua de Moraes Sarmento, no rinchar de António Preto, na respinga de Henrique Chaves, perante o alto "astral" de Santana Lopes. Donde saiu toda essa gente deixa qualquer um incrédulo.
A persistência desses cavalheiros à frente do destino do país e a mediocridade a que se chegou vence de fadiga qualquer um. A pretensão exibicionista dos comensais do PP em Barcelos, a cantilena irónica de flirt com o PS dada pelo inenarrável Coissoró e o desatino do tripulante de fragatas Portas às perguntas da comunicação social, abala a inteligência venerando do indígena luso.
Entretanto, o eleitor teve a grata visão de observar o ritmo e o movimento marítimo das reformas governamentais em terreno líquido, nova estância de veraneio do Conselho de Ministros. Impressionado com tudo isto, o doutor Sampaio encontra-se acamado, o soba Luís Delgado reconhece que Santana domina os dossiers, em especial a autópsia "integral" da economia, enquanto o seu patrício Bettencourt Resendes confirma a "ausência do inimigo" em terreno laranja, o que deixa antever uma emocionante caminhada de Lopes & Portas, ouvindo-se já as cítaras e flautas que com vigor artístico Gomes da Silva e Pires de Lima Filho tocam. Encantador.
segunda-feira, 15 de novembro de 2004
[No dia de nascimento de J. G. Ballard]
"A eliminação da dimensão moral das nossas vidas abre o caminho à lógica dos psicopatas. É isso que eu temo. Estamos a mover-nos rumo a uma guerra entre um gigantesco sistema psicopatológico contra outro gigantesco sistema psicopatológico. É assim que eu vejo o futuro. Uma espécie de luta darwiniana entre dois gigantes psicopatas rivais. O dos atacantes do 11 de Setembro contra o do complexo político-militar americano (...)
Não temos interesse em nenhuma zona para além da nossa esquina do mundo. Estamos armadilhados na nossa história social. Olhe, eu nem sou capaz de lhe dizer o nome do primeiro-ministro português! E sou supostamente um homem culto. Vimos, na televisão, imagens de pessoas a morrerem à fome no Sudão. Que fazemos? Nada. As nossas atitudes são completamente provincianas. As nossas vidas são controladas. Se sou dentista, ou professor, não vou desistir da minha carreira para ir para África. Somos prisioneiros, embora não o saibamos." [J.G. Ballard, in Público]
Locais: jgballard.com / J. G. Ballard / JG Ballard: First & Variant Editions / JG Ballard / "Numa Sociedade Saudável, a Loucura É a Única Liberdade Possível"
[Programa do Partido Popular Democrático]
"Liberdade, igualdade e solidariedade são os grandes ideias do socialismo e realizam-se em democracia. Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem socialismo autêntico sem democracia.
Estes ideias são a herança de uma complexa tradição cultural historicamente alimentada pelos contributos do humanismo, do cristianismo e da filosofia ocidental, das lutas das classes trabalhadoras, da análise das formas de contradição e opressão da sociedade capitalista ..." [p.13-14]
"A Administração Pública terá (...) de conformar-se estreitamente com as características e as necessidades do Povo Português e de construir-se a partir dele, recrutando os seus agentes segundo o princípio democrático do mérito, sem distinção de classes, sexo, credo religioso ou ideologia política. O recrutamento de funcionários por critérios de confiança política significaria o regresso a um regime ditatorial - quaisquer que fossem as novas fórmulas de favoritismo político - e a possibilidade prática do funcionário exercer plenamente a sua cidadania política" [p. 43]
"... a política de informação, com a objectividade e a verdade possíveis, não pode nem deve ser dirigida, ao serviço de um grupo, de um programa, de um objectivo pré-imposto. Esse dirigismo corresponde, nas suas mais negativas características, a regimes anti-democráticos ou autocráticos e a formas de autêntica violência contra a integridade moral dos cidadãos" [p. 48]
"A gratuitidade de todo o ensino deverá ser assegurada, criando-se um sistemas nacional de subsídios não reembolsáveis e de bolsas-empréstimos. Formas de atribuição de salários aos estudantes das camadas mais pobres deverão ser estudadas, em ordem a garantir uma compensação do salário que aufeririam se trabalhassem?" [p. 76]
"O Serviço Nacional de Saúde será financiado na sua totalidade pelo Orçamento de Estado, em rubrica própria e com dotações prioritárias, e englobará todas as unidades de saúde estatais e para-estatais, podendo enquadrar estabelecimentos privados, mediante formulas de colaboração a definir por contrato quando o interesse sanitário das populações o justificar" [p. 80]
"A Segurança Social deverá constituir um serviço estadual, reservando-se aos sindicatos um papel bem definido na sua programação e fiscalização. Os relatórios e contas deverão ser publicados regular e oportunamente, discutidos pelos órgãos de representação política e julgados pelo Tribunal de Conta" [p. 85]
[Programa do Partido Popular Democrático, aprovado no 1º Congresso Nacional, Lisboa, 23 e 24 de Novembro de 1974]
sábado, 13 de novembro de 2004
[It's also fine]
"It's also fine to die in our beds
on a clean pillow
and among our friends.
It's fine to die, once,
our hands crossed on our chests
empty and pale
with no scratches, no chains, no banners,
and no petitions.
It's fine to have an undustful death,
no holes in our shirts,
and no evidence in our ribs.
It's fine to die
with a white pillow, not the pavement, under our cheeks,
our hands resting in those of our loved ones
surrounded by desperate doctors and nurses,
with nothing left but a graceful farewell,
paying no attention to history,
leaving this world as it is,
hoping that, someday, someone else
will change it." [Mourid Barghouti]
"It's also fine to die in our beds
on a clean pillow
and among our friends.
It's fine to die, once,
our hands crossed on our chests
empty and pale
with no scratches, no chains, no banners,
and no petitions.
It's fine to have an undustful death,
no holes in our shirts,
and no evidence in our ribs.
It's fine to die
with a white pillow, not the pavement, under our cheeks,
our hands resting in those of our loved ones
surrounded by desperate doctors and nurses,
with nothing left but a graceful farewell,
paying no attention to history,
leaving this world as it is,
hoping that, someday, someone else
will change it." [Mourid Barghouti]
Arafat
Há pessoas que não têm emenda. Seres desprovidos de espanto. Falta-lhes o tempo, o espaço, a alma. A adulação e a hipocrisia estão-lhe no sangue. São valorosos ou melodramáticos quando retratam os seus favoritos, submissamente. No esplendor da sua própria miséria política, rodeados de prelados, obedecendo aos vigias espirituais, fazem de acusadores públicos e privados. A sua cegueira ideológica é um singular espectáculo de horror. São o que dizem: "quando estou à beira no passeio, sou eu o caçador". A aprendizagem da vida resulta-lhes sempre numa ignorância, mas assumem ser proprietários de ideias, homens com cio. Esquecem que a hora da nossa morte são todos os dias. Na Muqata, nome pelo qual alguns adoçam críticas brejeiras aos seus próprios fantasmas de escribas acocorados; em Ramallah onde as manifestações de pesar deixam de ser um jogo da vida, para passar a mostrar uma qualquer indecência civilizacional; no Iraque, onde os cadáveres nossos de todos os dias nos transmitem, a seus olhos, a glória do aniquilamento piedoso dos seus habitantes. Tanto azedume na vida. Tanto assombro pelos mortos. Tanto vazio enorme no coração.
Arafat morreu. Deixou um sonho que parece impossível. Culpa sua, também. Mas o epitáfio que grava na história dos homens é um cântico à resistência que habita em cada cidadão que se pretende livre. Mesmo que a sua biografia o contradiga. Mesmo que apóstolos sejam outros. Um ser lendário que acaba. Daí o respeito que o crepúsculo da tarde nos trouxe. E que não vai morrer.
2 Olhares: Yasser Arafat (1929-2004) O Princípio de uma Nova Era / (1929-2004)
Leilão da Biblioteca dos Marqueses da Praia e Monforte: dias 22, 23 e 24 de Novembro, Amazónia Lisboa Hotel, pelas 21 horas
O valor da Livraria que vai à praça pela qualificada mão de Pedro Azevedo é notável. Conforme o Catálogo trata-se de uma extraordinária Livraria, com obras de apreciável importância, exemplares únicos, eruditos ou curiosos, pertencentes a uma casa de nobres tradições, que outrora se fixou na Ilha de S. Miguel. Os vários lotes da Açoriana presentes no Catálogo são disso exemplo. Chama-se a atenção, ainda, de raríssimos originais quinhentistas, como A Verdadera informaçam das terras do Preste Joam; Bvllas dos Sanctos Padres Pio Qvinto e Gregório XIII; o comentário ao Novo Testamento de S. Gregório de Berthold Rembolt; La Geografia di Clavdio Tolomeo Alessandrino; Libri Quatuor de Antiqvitatibvs Lvsitaniae de André Resende; Regimentos do Avditorio Ecclesiastico do Arcebispado d'Evora. São raros, também, a Collecçam dos documentos e memorias da Academia Real da Historia Portuguesa (1721), a Collecção dos costumes servis da cidade de Lisboa (1806), Traité sur la cavalarie (1776), o Index testarvm conchyliorum qvae adservantvr in mvseo Nicolai Gvaltieri (1742), a Iconographie des orchidées (de Jules Linden, 1890), o considerado primeiro livro português condenatório da escravatura "Ethiope resgatado empenhado, sustentado, corrigido, instruído, e libertado ..." (1758), do Pe. Manuel Ribeiro Rocha. Além de muitos livros clássicos portugueses e estrangeiros, vários periódicos (O Padre Amaro ou a sovela politica, histórica e literária; o Toureiro; o Velho Liberal; Annaes das sciencias, das artes e das letras; O Artilheiro; O Campeão Português ou o Amigo do Povo; O Espectador Portuguez; O Espectro; Gazeta de Madrid, etc.), salientemos um importante conjunto de obras de José Agostinho de Macedo, conjunto invulgar de peças e manuscritos maçónicas de importância para a história Açoriana e, principalmente, um valioso conjunto de manuscritos e autógrafos.
[a continuar]
quinta-feira, 11 de novembro de 2004
Hans Magnus Enzensberger [n. 11 Novembro de 1929]
"Don't read odes, my boy, read the timetables:
they are more exact. Unroll the seacharts
before it's too late. Be on your guard, don't sing.
The day will come when they'll hammer lists
on the door again and mark with special signs
all who say no. Learn to go unrecognized,
learn more than I ever did: to change
your domicile, passport, face. Become
adept at petty treacheries and the everyday
dirty get-out. Encyclicals
are good to light the fire with,
manifestos: to wrap the butter in and salt
for those who cannot defend themselves. Rage
and patience are needed
to blow into the lungs of power
the lethal dust
finely ground by those who have learned a lot
and are exact, like you." [For a Sixth Form Reader]
Locais: Hans Magnus Enzensberger (Alemania, 1929) / Hans Magnus Enzensberger (sul sito della Fondazione Bassetti) /H. M. Enzensberger in conversation with Michael March / An Open Letter to Fidel Castro / On Leaving América / 'What We Think of America' / Four poems
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