segunda-feira, 25 de outubro de 2004



Excitações

"Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem" [Fernando Pessoa]

- o embaraço do raciocínio de Souto Moura em Badajoz, logo seguido do seu assombroso contraditório e duas páginas d'O Expresso, fez estremecer o grémio dos colunistas lusos. A arte discursiva do PGR excitou os melhores protectores da humanidade, vaticinando-se mesmo, atrevidamente, a sua demissão. Ora a remoção do virtuoso Souto Moura da esfera pública será sempre de um heroísmo inquietante, porque tal demanda é tão arriscada como dar um suspiro por Jorge Sampaio, implorar a contenção verbal de Lopes & Cia ou ouvir a voz de Pires de Lima Filho & Pai. Com felicidade o desvario acabará um dia. Só não sabemos é se temos tempo para ver o naufrágio que se seguirá, quando soubermos da história toda.

- esta semana brotou de conturbados corações liberais e de alguns virtuosos democratas clamores e infâmias contra o jovem estudante universitário de Coimbra, preso em dia de trabalho ao Senado. A perversidade do estudante cuidar de revolucionar a Academia ao volante de um Porsche (ai! a saudade do 356 Gmund), degustando Barca Velha 66 (estranhamente não houve colheita em 69) e controlando a cinza de um Cohiba Esplêndidos, fez tomar conhecimento da vida miserável de alguns lentes e do próprio Seabra Santos, obrigados que são a frequentar o Bar das Letras e as casas de pasto da Rua da Louça ou Sapateiros. Tamanha injustiça burguesa, punindo os mal-aventurados talentos educativos da UC é sinal de degenerescência na respeitável Universidade. O que aliás vem confirmar o formidável resfolgar da prosa do lumpen João Pereira Coutinho in O Expresso (link indisponível). Academia ergue-te! É tempo.

domingo, 24 de outubro de 2004

[Há Silêncios ...]

"Há silêncios nos montes e há vida:
Velas no mar e cavalos
Adormecidos nos vales ...
E há ilusões consentidas:
Vento que sopra nos caules
Antes de serem ceifados,
E o começo do mundo
Em cada instante de calma.
Mas eu procuro horizontes
Cerrados pela Promessa.
Mas eu procuro outras fontes,
Melhores? - Di-lo tu, alma!"

[Ruy Cinatti]

[O Político]

"Quando um homem qualquer não tem que fazer, e receia por um resto de pudor passar por vadio, mete-se em político.

Ser político, em Portugal, significa falar no orçamento e não o ler; na Carta Constitucional, e não saber onde ela se vende; no poder executivo, e confundi-lo com todos os outros poderes, menos com o próprio poder executivo.

Para se ser político, precisa-se: primeiro, audácia; segundo, ignorância; terceiro, ociosidade. Com estes três predicados, a leitura de alguma folha periódica, e o conhecimento pessoal de dois ou três homens que já foram ministros, está feito o político.

O político é geralmente um homem enfastiado e fastidioso, a quem correm mal os negócios públicos e pior ainda os domésticos (...)

O político interessa-se por tudo quanto é novidade, porque a novidade traz de ordinário consigo a confusão, e a confusão dá azo a deixa-lo por em prática as suas teorias sociais (...)

O político tem com o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a cabeça. Notícia sem fundamento, ou boato sem verosimilhança, nasce exclusivamente do político. É ele que justifica mais do que ninguém a frase popular fazer de um argueiro um cavaleiro ..."

[Luís Augusto Palmeirim, in Galeria de Figuras Portuguesas, 1879]

[Recuerdos]

"Cat's foot iron claw
Neuro-surgeons scream for more
At paranoia's poison door
Twenty first century schizoid man.

Blood rack barbed wire
Politicians' funeral pyre
Innocents raped with napalm fire
Twenty first century schizoid man.

Death seed blind man's greed
Poets' starving children bleed
Nothing he's got he really needs
Twenty first century schizoid man." [21st Century Schizoid Man]

King Crimson [via "Sociedade das Nações", SIC-Notícias]

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

[O Sono Das Águas]

"Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar"

[João Guimarães Rosa, enviado por Amélia P.]

Librarians Against Bush

"Whenever the people are well-informed, they can be trusted with their own government. Whenever things get so far wrong as to attract their notice, they may be relied on to set them to rights" [Thomas Jefferson]


Coisas Públicas

"Há que tempos que deitamos flor pelo lado de dentro" [Raul Brandão]

O Magnifico Seabra Santos, no seu papel de lente instruído, esqueceu-se, há muito, do que assegurou para espanto de todos: ser "politicamente errado e economicamente irrelevante o aumento das propinas (...) e que este aumento não vai significar mais receitas para as Universidades, mas sim menos orçamento transferido por parte do estado". Este episódio espiritualíssimo faz com que Seabra Santos seja, pela doçura melosa das suas palavras in Senado, pela originalidade da gerência financeira a seu cargo e pelo ladrilhar do seu percurso de carreirista académico, considerado o mais arrogante e bem humorado Reitor que pela Academia passou. Seabra Santos pôs-se à disposição dos acontecimentos, pela sua insensata pesporrência, engasgando-se em prosas posteriores que enfeitou com características exibicionistas e daí partiu à desfilado, juntamente com um curioso número de lentes encrostados na bafienta Universidade, contra a estudantada. As palmas ao Seabra ouvem-se já no bar dos Direitos. E o sentimento de felicidade iluminou, de uma vez, os seus vetustos claustros.

Como é uso nestes casos dos doces desenganos, manda o cerimonial recorrer à chibatada para vingar o esclarecimento público. Afinal, os aplausos ao Seabra eram pretexto para um empolgante debate de linguagem marcial, a pedido de vários e conhecidos lentes, algumas famílias políticas entronizadas na instituição e, evidentemente, por todos aqueles para quem a grilheta da autoridade deve ser estoicamente seguida.

O happening assim conseguido à porta da reunião do Senado, lugar onde os graves representantes da Instituição celebram imponentes prelecções, é de uma surpreendente heroicidade. Quando olhamos, de longe, a azáfama que habita o território do ensino superior, onde os lentes modernos legitimam as suas decisões a partir de um discurso e uma praxis onde a avaliação do desempenho está ausente; onde o acto educativo reside num desassossego esquizóide face à abordagem pedagógica incompetente dos seus docentes, sem qualquer capacidade didáctica ou relacional; onde a matriz cultural dos seus clientes atinge o absurdo, sem qualquer dimensão crítica, memória cultural ou desejo de saber; entende-se porque razão o lente, afastado da iniciação pedagógica e, por vezes, científica, se refugia na robustez "pedagógica" das estratégias das cargas policiais. A mestria assim pretendida tem outro nome. Os tempos não mudam.

[Coimbra]

"Em torno dela (geração), negra e dura como uma muralha, pesando, dano sobre as almas, estava a Universidade. Por toda essa Coimbra, de tão lavados e doces ares (...) se erguia ela, com as suas formas diferentes de comprimir, escurecer as almas: o seu autoritarismo, anulando toda a liberdade e resistência moral; o seu favoritismo, deprimido, acostumando o homem a temer, a disfarçar, a vergar a espinha; o seu literatismo, representado na horrenda sebenta, na exigência do «ipsis verbis», para quem toda a criação intelectual é daninha; o seu foro, tão anacrónico como as velhas alabardas dos verdeais que o mantinham; a sua negra torre, donde partiam, ressucitando o «precetto» da Roma jesuíta do século XVIII (...) os seus lentes crassos e crúzios, os seus ... e os seus ..., o praxismo poeirento dos seus Pais Novos e a rija penedia dos seus Penedos! A Universidade, que em todas as nações é para o estudante uma «Alma Mater», a mãe criadora (...) era para nós uma madrasta amarga, carrancuda e rabugenta de quem todo o espírito digno se desejava libertar, rapidamente, desde que lhe tivesse arrancado pela astúcia, pela engenhoca, pela sujeição à «sebenta», esse grau que o Estado, seu cúmplice, tornava a chave das carreiras " [Eça de Queiroz]

"Eu não avalio, na origem, o vosso acto de revolta. Falta-me a competência (...) a nossa triste Universidade, embora com homens de valor, julgada em globo, na sua organização, na sua estrutura e nas suas tendências, só realmente queimando-a, nos daria luz. Não a queimem, nem a destoquem, reformem-na" [Guerra Junqueiro, in Carta à Assembleia de Estudantes da Academia da U.C., nos acontecimentos académicos de 1907]

segunda-feira, 18 de outubro de 2004


["Se non è vero è ben trovato"]

"Não faças travessuras, faz antes travessias - toma, podes levar a avioneta" [?]

Por obra e graça do Santo de Perpétuo Socorro Pinto da Costa, ultríssimo protector do bem-estar plácido e silencioso do culto das Antas, a noute d'ontem na Catedral da Luz foi tão exímia como virtuosa. Como reza a tradição, e não é mister emendar o recreio dos amantes do futebol, seguindo a máxima, "arbor bona bonos frutos facit, et mala malos", o sublime Jorge Nuno Pinto da Costa franqueou, risonho e florido, a magnifica vitória do FCP contra a moirama dos avermelhados.

Só um incrédulo indígena, decerto toldado pela poesis do futebol, acreditava que os acontecimentos extra-campo-de-futebol não eram (não foram) mais que uma inofensiva pressão ou que os patrulhamentos azuis e brancos nunca existiram.

É verdade que a notícia do reaparecimento do patriarca das Antas, qual abelha-mestra, a dar conferências impiedosas aos seus jogadores e esgrimindo o pingalim ao seu filósofo-treinador, ninguém pôde congeminar. Em rigor, o escarcéu da semana em torno da toldada segurança para o jogo nunca encontrou o faccis harmonioso do ministro das Antas. E é exacto que o travesso secretário Hermínio Loureiro nunca saiu, pesarosamente, de Oliveira de Azeméis. Nem o Olegário Benquerença frequenta a Praia da Vieira ou S. Pedro de Moel, porque nunca sai a passeio, nem frequenta pubs. Está absolutamente provado que, com uma seriedade digna de inveja, o senhor Filipe Vieira, inolvidável professor de hermenêutica de rateiro, é de uma inteligência graciosa e inspirada. E que o engenhoso e lascivo José Veiga nunca existiu.

Porém, passe a candura dos desportistas lusos, confessamos que Pinto da Costa é ao mesmo tempo uma figura célebre e um célebre Santo de virtudes piedosas extra-jogo. O seu patrocínio é um alento a todos nós. E a Alberto João, que Deus o tenha na sua refulgente glória.

A prece foi deferida, portanto. Fica no entanto esse memorando de ver a admirável interpretação da equipa azul e branca, com o talento suave de Diego, na primeira metade do jogo; o milagre da resposta dos incomodados jogadores do SLB no segundo período; a inocência e o talento da equipa de arbitragem na custódia de penaltys e na entusiasta devoção à não marcação de golos às três tabelas; e a venerável e nobre defesa de Pinto da Costa da excelsa dama loira que na bancada distribuía, gestualmente, exemplares das Caldas em profusão surpreendente à plebe da Luz. Graças Senhor!

[S. João Baptista]

"... S. João Baptista forma com Santo António e S. Pedro a trindade dos santos de maior afeição popular. D. João I ordenou que todos os municípios o festejassem. A multiplicidade de crendices que envolveu este Santo, entrelaçaram-se no que de melhor se encontra na poesia pagã e ingénua das almas do campo. É o santo popular por excelência; a ele confiam as moças os segredos do coração, queimam-lhe alcachofras agourentas, e deitam sortes em bochechos de água que dilue nomes que se esperam. As orvalhadas tem, pela noite, ligações íntimas com os banhos sagrados. As fogueiras que os namorados saltam, no meio da roda das raparigas que dançam, têm todo o carácter do culto do fogo no solstício de verão. Este hábito, num meio superior, deu as fogueiras de Coimbra, sem lume, com cantares e danças num tablado. E não só a simetria em relação ao Natal se faz numa forma apagada de adoração do fogo (fachos e fogueiras de S. João, e cepo do Natal) mas também se nota o hábito ainda vivo de formação de capelinhas com figuras de barro (...)

Na madrugada de S. João saem as mouras encantadas a pascer o seu rebanho, a contar as mágoas de tristes emparedadas, ou a pentear no fresco das orvalhadas com pentes de ouro os cabelos de raios de sol (...) Nessa noite, pelo campo, tudo é sagrado. Nos ranchos que cantem e implorem a protecção do Santo para que as case, o orvalho é milagroso. O manjerico, o cravo, o trevo, a alcachofra, gozam de virtudes únicas (...)

[S. João Baptista, da Sé Velha de Coimbra / S. João Baptista da capela do seu nome em Portunhos (Coimbra) / S. João Baptista, do castelo da Lousã / S. João Baptista, do Espinhal (concelho de Penela, Coimbra) / S. João Baptista, cidade da Figueira da Foz / S. João Baptista, da Serra da Moita (Mouronho, Tábua, distrito de Coimbra) / S. João Baptista, da ermida da Senhora da Piedade (Lousã) / S. João Baptista, Igreja de S. João (Açores) / S. João Baptista, ilha do Pico ...]

[Luís Chaves, in Registos de Santos, 1925]

domingo, 17 de outubro de 2004


Feira do Livro de Frankfurt - Novidades

No Mil Folhas, Isabel Coutinho, diz-nos o que está a dar no mercado mundial de livros, a partir de Frankfurt, e quais as peças que iremos ler em português, proximamente.

Anotações: Além de um conjunto de obras à volta do inesgotável tema do "Código Da Vinci", teremos ainda:

Leonardo Da Vinci, The Fights of The Mind, de Charles Nicholls / The Romanov Prophecy, por Steve Bery / A Irmandade do Santo Sudário (ed. Gótica), de Júlia Navarro / Biographie de La Faim (ed. ASA), de Amélie Nothomb / Alatriste e, ainda, El Húsar (idem), por A. Pérez-Reverte / Biografias de James Joyce, de M. Yourcenar (idem) / La Mulatresse Solitude, por André Scharz-Bart (Cavalo de Ferro) / O Sonho dos Heróis, de Adolfo Bioy Casares (idem) / Saturday, de Ian McEwan (Gradiva) / Renée Pelágie, Marquise de Sade, de Gérard Badou (Teorema) / The Pregnant Widow, de Martin Amis (idem) / The Plot Against América e, ainda, The Dying Animal, ambos de Philip Roth (Dom Quixote) / Pigtopia, de Kitty Fitzgerald (idem) / Memória de Mis Putas Tristes, de Gabriel Garcia Marques (idem) / Storia della Belezza, coord. por Umberto Eco (Difel) / La Misteriosa Fiamma della Regina Loana, de Umberto Eco (idem) / A Poesia do Modernismo [Brasil] 1922-1928, org. Abel Barros Baptista e Osvaldo Silvestre (Cotovia) / D. Quixote, trad. José Bento (Relógio d?Água) / Poesia Completa de Kavafis (idem) / O Livro das Imagens, de R. Maria Rilke (idem) / Poemas de Pasolini (Assírio & Alvim) / Watt e Textes pour Rien, de Beckett (idem) / Prufrock e Outras Observações, de T.S. Eliot (idem) / Cantos de Erza Pound (idem)




Leilão de Vinhos - 21 de Outubro

A realizar em Sintra no Palácio Valenças, na Rua Visconde de Monserrate (junto ao Museu do Brinquedo), dia 21 de Outubro, pelas 21 horas, pelo P. Correio Velho.

sábado, 16 de outubro de 2004


Da Desordem

[O Pinto-Espertismo] - Jorge Nuno Pinto da Costa, o Alberto João das Antas, não tem por hábito fazer erratas. Supõe-se que nunca as fez. Igual a si mesmo, com a serenidade e lealdade que os indígenas da sacristia do FCP exigem, mais uma vez, consegue alimentar um facto político-desportivo. Não é original nesta eterna paródia. Sempre que o seu clube joga contra o SLB vá de excomungar os vermelhos, vassoirar uma possível coesão na equipa adversária, anunciar estardalhaços à força, cavalgar o poder político que trata sempre por tu. O objectivo final é cerrar fileiras na escalavrada equipa que dirige. Não é necessário dizer o que quer que seja. Basta estar. E, evidentemente, ter do outro lado um aturdido Luís Filipe Vieira, três ou quatro jornalistas acofiados, um espavorido quanto irresponsável secretário de estado, um claudicante ministro. A bazófia assim arremetida tem sempre frutos, pensa. Até que um dia, a evocação guerreira que em pânico sustenta sofra uma merecida resposta. Esperamos por tal data.

[Baralhar e voltar a dar] - À maneira doutoral, a pastoral do Orçamento de Estado patenteada urbi et orbi por Bagão Félix foi uma cacofonia fiscal e macroeconómica soporífera, de uma banalidade imprudente e sem qualquer concerto possível. É certo que não vem mal ao mundo desarticular a barafunda herdada de Ferreira Leite, desencapotando uma via para o crescimento via consumo interno, mas improvisar aumentos de salários, mesmo que sejam abaixo da inflação esperada, e promover desincentivos à poupança ao mesmo tempo, diminuir garantias dos contribuintes não combatendo, de facto, a fraude fiscal, a par de uma descabida esperança de crescimento económico com a grandeza enunciada, resulta numa orçamento espirituoso, uma fantasia baseada num baralhar e dar de novo, para ficar tudo como estava. Até mesmo o suposto défice orçamental abaixo dos três por cento do PIB. O que convenhamos é bastante curioso.

Livros & Arrumações

["Registos de Santos. Catálogo, com um estudo preambular e notas, da colecção de «registos» de Aníbal Fernandes Tomás, hoje no Museu Etnológico Português", separata d'O Archeologo Português, por Luís Chaves, 1925]

"... As partes essenciais das romarias são duas: arraial na véspera, e o dia das festas de igreja, com procissão e cumprimento de votos (...) A presença dos romeiros foi marcado pela posse do registo do Santo festejado, como antes o era pelas insígnias, e então, e hoje ainda, pelas medalhas também. A par e como derivados dos registos encontram-se as verónicas e as medidas

[verónicas são gravuras como as dos registos, guardadas dentro de caixilhos de madeira ou de papelão, com ou sem vidro; as de papelão são muito enfeitadas com lantejoulas e fios prateados, e suspendem-se ao peito; as de caixilho de madeira ou de papelão, com ou sem vidro são maiores e formam pequeninos oratórios. Medidas são fitas franjadas, com o nome ou iniciais do Santo festejado, escrito a letras negras ou douradas; ao centro tem um registo minúsculo, do Santo. Talvez primitivamente, para justificar a designação, representassem estas fitas alguma medida da imagem do Santo respectivo, ou fosse uma medida uniforme para fitas (medida-padrão]"

Locais: Colecções Patrimoniais | Iconografia: Registos de Santos / Inventário da Colecção de Registos de Santos

Catálogo da Livraria Bizantina

Eis o catálogo 67 da Livraria Bizantina, de Carlos Bobone, ali na Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa. Preços imbatíveis, como sempre.

Algumas referências: A Liberdade da Egreja em Portugal, de Francisco d'Azeredo Teixeira, 1880 / Almanach Gotha (vários expls) / Alma Nacional. Revista Republicana, dir. António José de Almeida, 1910 / O Infante de Sagres, por Fortunato de Almeida, 1894 / A Linguagem dos Pescadores da Ericeira, de Joana Lopes Alves, 1965 / Frei João Sobrinho e as Doutrinas Económicas da Idade Média, de Moses Bensabat Amzalak, 1945 / Memoria dos Feitos Macaenses contra os Piratas da China ..., por José Ignacio Andrade, 1835 / Origens da Imprensa em Portugal, de Artur Anselmo, 1981 / Historia dos Cristãos Novos Portugueses, por J. Lúcio de Azevedo, 1975 / A Infância da Academia (1788-1794), de António Baião, 1934 / Contra os Juízos dos Astrólogos, de Fr. António Beja, 1943 / Manual Parlamentar para uso dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, por José Marcelino de Almeida Bessa, 1901 / Cartas de El-Rei D. Manuel II, por António Cabral, 1933 / O Campeão Portuguez em Lisboa ou o Amigo do Povo e do Rei Constitucional, vol II, 1822 / António de Gouveia e o Aristotelismo da Renascença, de Joaquim de Carvalho, 1916 / Monarchicos e Republicanos, por Homem Christo, 1928 / Timor de Lés a Lés, pelo Cap. Armando Pinto Correia, 1944 / Vida Errada. O Romance de Coimbra, por Fernando Correia, 1933 / Azulejos, de Vergílio Correia, 1956 / Exortação à Mocidade, de Carlos Malheiro Dias, 1925 / Correntes de Sentimento Religioso em Portugal, por José Sebastião da Silva Dias, 1960, II vols / Das Ordens Religiosas em Portugal, por Pedro Diniz, 1853 / A Superstição Socialista, pelo Barão Raphael Garofalo, 1904 / Introdução Bibliográfica à História do Direito Português, por António Manuel Hespanha, 1974, III vols / Itinerários de El-Rei D. Sebastião, notas de Joaquim Veríssimo Serrão, 1962-63, II vols / A Besta Esfolada, de José Agostinho de Macedo (nº 2 ao nº 26) / Memórias e Trabalhos da Minha Vida, por Nortan de Mattos, IV vols / O Cidadão Lusitano ..., por Innocencio António de Miranda, 1874 / D. Cristóbal Colom ou Symam Palha. Na Historia e na cabala, por Pestana júnior, 1928 / A Nacionalidade Portuguesa de Cristovam Colombo, de Patrocínio Ribeiro, 1927

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

[Búfalo Bill]

"Búfalo Bill stá
defunto
o que andava
num cavalo
de prata como a água corrente
e matava umdoistrêsquatrocinco gajos assim sem mais Deus meu
era um belo homem
e o que eu quero saber é
se gostas do teu rapaz de olhos azuis
Dona Morte"

[ee Cummings, in Búfalo Bill Stá, trad. Jorge de Sena]

e. e. Cummings [n. 14 Outubro 1894-1962]

"I care not greatly
Should the world remember me
In some tomorrow.

There is a journey
And who is for the long road
Loves not to linger.

For him the night calls,
Out of the dawn and sunset
Who has made poems." [ee cummings, Hokku]

Locais: E.E. Cummings (1894-1962) / e.e. Cummings / E. E. Cummings / The Life of e. e. Cummings / An Unofficial E. E. Cummings Starting Point / Edward Estlin Cummings (All Poems)

quarta-feira, 13 de outubro de 2004



Salvé Manuel Bandeira [m. 13 Outubro 1968]

"Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crónicas
Ficou cronista de província;
Arquitecto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional:" [MB, Auto-retrato]

Locais: Manuel Bandeira / Biografia / Poesia / Arquivo Manuel Bandeira / "Vou-me embora prá Pasárgada" em Real Áudio

terça-feira, 12 de outubro de 2004


Ouça Você Mesmo

Tínhamos, artisticamente, o velho slogan "faça você mesmo", mas a fugacidade da pós-modernidade ensinada à rapaziada da «central de informação» do PSD deu, com uma graça de felicidade divina, num "ouça você mesmo". Ontem, perante o grande público (como diria o amigo Castelo-Branco), o primeiro-ministro de Portugal deu três seguidas, quer dizer ... três comunicações ao país seguidas, um momento de bonomia política visto e ouvido por todos os indígenas lusos, nas 3 (três) TV's e em momentos diferentes. Tal noviciado protocolo, digno de figurar nas sebentas de sociologia política, permite doravante que os eleitores assumam um "ouça você mesmo", consoante os compromissos de cada um. Depois da jantarada ou no intervalo do digestivo para uns, entre o tinir da lavagem da louça ou depois da tosquia de uma ovelha na Quinta dos Famosos para outros, durante um jogo de bridge (como nós) ou, mesmo, por mero desvario a caminho do leito, para entediar o severo Morfeu.

Sobre a audição da coisa, pois gostamos. Não é todos os dias da semana que se ouve contradizer ou maldizer o casto Bagão Félix. E mesmo que o desconchavo do nosso primeiro seja seguido em triplicado (noblesse oblige, como diria o Castelo) por um protesto qualquer ministerial, antes isso que assistir à tragédia de um elefante debatendo-se com o Alberto João, curvar a fronte para uma leitura cacarejante de Luís Delgado ou, até, comungar na picaresca aventura do "faz um blog", momento único de rara voluptuosidade literária, deste ajardinado rapaz de nome Carlos Rodrigues. A maldade não está connosco.