segunda-feira, 25 de outubro de 2004
Excitações
"Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem" [Fernando Pessoa]
- o embaraço do raciocínio de Souto Moura em Badajoz, logo seguido do seu assombroso contraditório e duas páginas d'O Expresso, fez estremecer o grémio dos colunistas lusos. A arte discursiva do PGR excitou os melhores protectores da humanidade, vaticinando-se mesmo, atrevidamente, a sua demissão. Ora a remoção do virtuoso Souto Moura da esfera pública será sempre de um heroísmo inquietante, porque tal demanda é tão arriscada como dar um suspiro por Jorge Sampaio, implorar a contenção verbal de Lopes & Cia ou ouvir a voz de Pires de Lima Filho & Pai. Com felicidade o desvario acabará um dia. Só não sabemos é se temos tempo para ver o naufrágio que se seguirá, quando soubermos da história toda.
- esta semana brotou de conturbados corações liberais e de alguns virtuosos democratas clamores e infâmias contra o jovem estudante universitário de Coimbra, preso em dia de trabalho ao Senado. A perversidade do estudante cuidar de revolucionar a Academia ao volante de um Porsche (ai! a saudade do 356 Gmund), degustando Barca Velha 66 (estranhamente não houve colheita em 69) e controlando a cinza de um Cohiba Esplêndidos, fez tomar conhecimento da vida miserável de alguns lentes e do próprio Seabra Santos, obrigados que são a frequentar o Bar das Letras e as casas de pasto da Rua da Louça ou Sapateiros. Tamanha injustiça burguesa, punindo os mal-aventurados talentos educativos da UC é sinal de degenerescência na respeitável Universidade. O que aliás vem confirmar o formidável resfolgar da prosa do lumpen João Pereira Coutinho in O Expresso (link indisponível). Academia ergue-te! É tempo.