domingo, 24 de outubro de 2004
[O Político]
"Quando um homem qualquer não tem que fazer, e receia por um resto de pudor passar por vadio, mete-se em político.
Ser político, em Portugal, significa falar no orçamento e não o ler; na Carta Constitucional, e não saber onde ela se vende; no poder executivo, e confundi-lo com todos os outros poderes, menos com o próprio poder executivo.
Para se ser político, precisa-se: primeiro, audácia; segundo, ignorância; terceiro, ociosidade. Com estes três predicados, a leitura de alguma folha periódica, e o conhecimento pessoal de dois ou três homens que já foram ministros, está feito o político.
O político é geralmente um homem enfastiado e fastidioso, a quem correm mal os negócios públicos e pior ainda os domésticos (...)
O político interessa-se por tudo quanto é novidade, porque a novidade traz de ordinário consigo a confusão, e a confusão dá azo a deixa-lo por em prática as suas teorias sociais (...)
O político tem com o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a cabeça. Notícia sem fundamento, ou boato sem verosimilhança, nasce exclusivamente do político. É ele que justifica mais do que ninguém a frase popular fazer de um argueiro um cavaleiro ..."
[Luís Augusto Palmeirim, in Galeria de Figuras Portuguesas, 1879]