sábado, 28 de fevereiro de 2004
100 Anos do Sport Lisboa & Benfica – Do fundo do coração
[Convocatória] Ficam, desde já, convocados todos os cavalheiros livres dedicados à causa encarnada, lusitanos doutíssimos, damas distintas ou varões loquazes, a participarem nas comemorações dos 100 Anos do SLB. Com emoção, partimos em 1904 ignorantes e saloios, estamos hoje inteligentes, razoáveis e sensatos. Entrámos em todos as terras e subimos todos os degraus. Vil terror não coube em nós. Dissipado o nevoeiro, retomaremos a ventura. Por obra e graça de José Rosa Rodrigues, Daniel Brito e Manuel Goularde, nossos padroeiros e altíssimos protectores. Somos felizes. Mas mesmo assim, é favor trazer os azeviches para dar figas aos maus-olhados. Nós por cá todos bem. Dada à lux por cavaleiros devotos da saudade encarnada. Aqui, mar da Alma.
Baptista Bastos - 70 Anos - Um Homem Livre
[Ao Júlio Gomes. BB, Torreira, Clepsydra, ..., porque ainda há memória]
"É um jogo de cortesãos e liberais, o brídege. Os seus práticos teriam frequentado os salões da gentil conversa se fossem cidadãos de Setecentos. Reunidos, neste grupo numeroso, não perderam os prestígios conferidos pela Casa, pelo Sangue e pela Razão. Os gestos são delicados, afáveis e eficientes - e não esquecem nunca essas graças e essas virtudes mesmo quando as horas já são longas e podem alvitrar hipóteses de negligência, descuidos no trajar, bocejos distraídos. Isto, os homens. Porque as mulheres, com o correr do tempo, manifestam uma exuberância mais viva, tornam-se mais expeditas na acção, a frase fica-lhes solta e muito bem, a maquilhagem principia a despedaçar-se e a fornecer-lhes uma face nova e outra, terrosa e fatigada. Pontas de cigarros em dezenas de cinzeiros, copos vazios, com cinza, e fumo ainda mais denso e intenso, e há em todos um pudor em espreguiçar-se e as têmporas latejam, as dores nos rins atingiram uma fase tão dolorosa que ninguém as sente, é como o suportar resignado de um fardo pesadíssimo, mas o raciocínio tem de ser frio e veloz – e, de repente, a Maio da sala, um jogador boceja alto e estica o dorso na cadeira. Olham-no. Cento e setenta e seis olhos a olhá-lo, e também de repente trinta dos quarenta e quatro pares bocejam em varias tónicas e esticam os dorsos nas cadeiras.
- Silencio - diz um dos membros do júri."
[Baptista Bastos, in As Palavras dos Outros, Eur.- América, 1968]
Catálogo nº 64 da Livraria Bizantina, Fevereiro 2004
A Livraria Bizantina - Rua da Misericórdia, nº 147 (ao cimo da Trindade), Lisboa - lançou o seu catálogo nº 64, com 486 peças a preços excelentes e convidativos. Uma local de frequência obrigatória para bolsas menos abonadas. O amigo Bobone está de parabéns.
Algumas referências: Proscritos. Noticias Circunstanciadas do que passaram os Religiosos da Companhia de Jesus na Revolução de Portugal de 1910, por S. J. L. Gonzaga de Azevedo, Valladolid, 1911 / Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica, de Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, 1937 / Les Instruction Secrètes des Jésuites, por Paul Bernard, Paris, 1907 / Subsídios para a História Económica de Portugal, por Fortunato de Almeida, Porto, 1920 / A Cruz de Villa Viçosa, de Rodrigues Vicente d'Almeida, 1908 / Annaes das Sciencias, das Artes e das Letras. Por huma Sociedade de Portuguezes Residentes em Paris, Paris, 1818, II vol / Diabruras, Santidades e Prophecias, de A. C. Teixeira de Aragão, Lisboa, 1894 / O Encoberto, de Sampaio Bruno, Porto, 1904 / Camilo Desconhecido, por António Cabral, Lisboa, 1918 / Memorias de um Estuante de Direito, de Rafael Salinas Calado (1911-1916), Coimbra, 1961 / Carta Constitucional da Monarchia Portugueza, Coimbra, 1863 / Memoria de António Maria de Fontes Pereira de Mello..., Lisboa, 1887 / Colecção Chronologica dos Assentos das Casas da Supplicação e do Cível, Coimbra, 1817 / Arte e Arqueologia, de Vergílio Ferreira, Lisboa, 1920 / Vasco Fernandes. Mestre do Retábulo da Sé de Lamego, por Vergílio Ferreira, Coimbra, 1924 / Correspondência Epistolar entre José Cardoso Vieira de Castro e Camilo Castelo Branco, 1968, II vol / Os Povos e os Reis. Opúsculo Offerecido aos Portuguezes, de Faustino José da Madre de Deos, Lisboa, 1825 / Descrição Minuciosa do Monumento de Mafra. Com uma Noticia de Cintra, ..., por Joaquim da Conceição Gomes, Lisboa, 1876 / Barros de Coimbra, por Afonso Duarte, Lvmen, 1925 / Os Desenhos Animistas de uma Criança de 7 Anos, de Afonso Duarte, Coimbra, 1933 / Compendio dos Escritos e Doutrina do Venerável João Gerson, por António Pereira de Figueiredo, Lisboa, 1769 / Lista de Alguns Catálogos e Bibliothecas Publicas e Particulares, de Livreiros e Alfarrabistas, de Martinho da Fonseca, 1913 / Perfil de Camillo Catello Branco, pelo Padre Senna Freitas, Porto, 1888 / In Memoriam do Professor Dom António Xavier Pereira Coutinho, pelo Conde de São-Paio, 1941 / Livros de Linhagens, Edições Biblion, V vols, 1937 / O Monumento de Mafra. Guia Ilustrado, 1906 / José Estêvão. Esboço Histórico, por Jacinto A. Freitas Oliveira, Lisboa, 1863 / Processos e Julgamento de José Cardoso Vieira de Castro, Lisboa, 1870 / Compendio das Minas. Dedicado ao Sereníssimo Senhor D. João Príncipe do Brazil, por José António da Rosa, Lisboa, 1794 / Jornais e Revistas do Distrito de Coimbra, por A. Carneiro da Silva, 1947
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004
Nick Cave ou futebol, eis a questão
Não se faz. Ficámos em terra, alapados no sofá, ainda mais a aturar um casalinho que joga damas (com livro ao lado), enquanto lá em baixo o Nick Cave cumpria. O desagravo será feito no dia 3 na Figueira com a Ursula Rucker, após a suprema aparição dos Limp Bizkit, podem crer. Não mais ver jogos do Manchester eis o sortilégio a conter. Hoje, à la noche, os vermelhos da Luz, ó enamorados, concedem concerto, é bom não esquecer. Ah! Carece dizer que o FCP esteve muito bem. Parabéns ao antigo treinador do Benfica, assim como aos seus ex-funcionários - Deco, Maniche e Jankauskas. Quem aprende nunca esquece. Se bem que hoje, era mais Nick Cave. Mas bendita prosa televisiva.
Do amor: Bem dizia a Maria Velho da Costa: "do amor não se pode dizer tudo, e se se tenta isso com a polivalência da glote sai fracativo". Compreendi-te! Está fora de questão. Ainda tentámos reflexão Camusiana: "fora do amor, a mulher é maçadora. Não sabe. É preciso viver com uma e calar-se. Ou dormir com todas e actuar. O mais importante é outra coisa". Nick Cave? Ursula Rucker? Os dribles de Simãozinho? A garrafa de Vale de Meão? Um jogo de bridge? Estamos confundidos. Acudam!
Não se faz. Ficámos em terra, alapados no sofá, ainda mais a aturar um casalinho que joga damas (com livro ao lado), enquanto lá em baixo o Nick Cave cumpria. O desagravo será feito no dia 3 na Figueira com a Ursula Rucker, após a suprema aparição dos Limp Bizkit, podem crer. Não mais ver jogos do Manchester eis o sortilégio a conter. Hoje, à la noche, os vermelhos da Luz, ó enamorados, concedem concerto, é bom não esquecer. Ah! Carece dizer que o FCP esteve muito bem. Parabéns ao antigo treinador do Benfica, assim como aos seus ex-funcionários - Deco, Maniche e Jankauskas. Quem aprende nunca esquece. Se bem que hoje, era mais Nick Cave. Mas bendita prosa televisiva.
Do amor: Bem dizia a Maria Velho da Costa: "do amor não se pode dizer tudo, e se se tenta isso com a polivalência da glote sai fracativo". Compreendi-te! Está fora de questão. Ainda tentámos reflexão Camusiana: "fora do amor, a mulher é maçadora. Não sabe. É preciso viver com uma e calar-se. Ou dormir com todas e actuar. O mais importante é outra coisa". Nick Cave? Ursula Rucker? Os dribles de Simãozinho? A garrafa de Vale de Meão? Um jogo de bridge? Estamos confundidos. Acudam!
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004
Alegre Jericada
"A burguesia meditou muito sobre o espaço / e sobre o tempo e sobre a luz / e tanto / que destruiu a imagem de si mesma / E faz anamorfoses: hoje"
[VGM, in Recitativos, 1977]
O fervor sentencioso de Vasco Graça Moura - hoje do DN - é um novíssimo bálsamo contra a crise da governação, uma aparatosa tempestade, prenhe de negrumes e desalentos, contra "o que a esquerda queria" ou "guincha", evidentemente, numa "volúpia da demagogia insensata". Presume VGM, que a "esquerda" espuma contra a Mercearia Ferreira Leite porque no invés de degustar Louis Roederer, Krug ou Dom Pérignon, encomenda com bondade Quinta da Rigodeira, Luís Pato, ou cede às emoções da Murganheira e até, pasme-se, Quinta do Soalheiro. Daí a aversão do poeta-laranja contra os pérfidos caminhos da "esquerda". Bem, pelo menos sabe-se que a "esquerda" segue a máxima da Marquesa de Pompadour: "le champagne est le seul vin qui lasse la femme belle après boire". O que não está mal, diga-se.
Há, reconheça-se, no génio de VGM o espírito de um admirável economista e, sabe-se, não há economista que não se orgulhe em ser um admirável poeta. O vate, onde nunca a rima falta, é sobretudo um estudioso. Murmura economia, persegue as finanças públicas, trabalha em política orçamental, recorre à análise da conjuntura, discute economia internacional. Admirável, pois, o masoquismo político do nosso bardo na análise das "náuseas e diarreia" que afronta a oposição à Mercearia Leite. E, por isso, apresta-se a dar à pena tercetos sobre as curvas IS/LM, redondilhas sobre o multiplicador dos gastos públicos, sonetos sobre o teorema de Haavelmo, alexandrinos a Rybczinski, até mesmo uma xácara sobre o Teorema de Heckscher-Ohlin-Samuelson. Palmas! A reprimenda de VGM sobre o défice é justa, o publico é que não compreendeu as ledas musas da alegre jericada. Resta-nos, sempre, as protérvias de Patinha Antão. Cria discípulos desembaraçados, prontos a levar com as "cacheiradas" costumeiras. São, de facto, todos poetas e esperam acabar os dias. Que Deus lhes faça a vontade.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004
"Bom dia, Paulo Quintela
Todas as manhãs o Sol nasce
desfolhando no calendário dos dias o futuro.
Inútil seria seu eterno retorno
se em cada aurora não houvesse um homem
que a outro saudasse em voz fraterna
e pondo a mão sobre o seu ombro lhe dissesse:
Bom dia, camarada,
bom dia!"
[Joaquim Namorado, Vértice, nº 382-383, Nov-Dez., 1975]
Na foto: Miguel Torga, António de Sousa, Afonso Duarte, Paulo Quintela e Vitorino Nemésio, in Vidas Lusófonas
Ordem Acerca dos Cabellos
"D. Miguel da Annunciação, cónego regular da Congregação de Santa Cruz, por mercê de Deus e ..., Bispo de Coimbra, etc ...
Como temos sabido que no nosso seminário se tem introduzido alguma relaxação na composição affectada dos cabellos, sendo o seminário uma casa ecclesiatica, que não tem outro fim, mais que educar os que hão-de ser ministros do altar, aos quaes pelos sagrados cânones, e por muitos Concílios é prohibida toda a composição affectada no cabello; somos obrigados a extirpar este abuso e relaxação, que consigo trará outros maiores, se se não talhar ao princípio (...)
Por isso mandamos que daqui em diante todos os seculares, que ao presente vivem no seminário, e para o futuro forem admittidos, de qualquer condição ou estado que sejam, não usem de alguma composição affectada no cabello, já trazendo-o virado todo para traz, e fazendo-lhe o que vulgarmente chamam –Bordefronte - ou - Cabriolé -; mas que ande todo egual e cahido naturalmente, como a natureza o creou, nem também da parte de traz seja tão comprido, que corra pelas costas abaixo, nem tão curto, que deixe totalmente o cabeção descoberto, nem com anneis artificiosamente formados (...)
Dada no nosso Paço Episcopal aos 20 de Dezembro de 1763 – D. Miguel, Bispo Conde"
[in O Conimbricense, nº 2269 de 24/04/1869]
domingo, 22 de fevereiro de 2004
Manuel Laranjeira [1877-1912]
m. em Espinho, a 22 de Fevereiro de 1912
"...Só há uma espécie de desgraçados que merecem compaixão: são as criaturas pusilânimes em face do sofrimento. E é por isso que eu, como você, embora num outro sentido, também digo que o destino me favoreceu, porque eu pudera ter nascido com a alma cobarde como a de tantos que eu vejo rolar tragicamente na lama da vida. Creia, caro amigo, que os verdadeiros desgraçados são os que não tem heroísmo de o ser alegremente. E não conclua por aquela hiperbólica sentença do pessimismo que acha que o melhor é não ter nascido. Não, amigo, não: não ter nascido nem é melhor nem é pior. Nãoter nascido, se não é desgraça, também não é felicidade é ... ou o que ela não é. Para dizer que o melhor é não ter nascido, é preciso nascer primeiro e reconhecer que viver é pior. «O pior é ter nascido» não passa duma figua retórica em que se condena a vida. Quem tal proclamar, logicamente – suicida-se. E no problema da vida o suicídio é a ultima das soluções ..." [Carta a Amadeu Sousa Cardoso, In Cartas, 1943]
"Aquela doce e mystica suicida
que me visita pela noite morta,
vim agora encontrá-la à minha porta
esperando por mim, toda tranzida...
Prendeu-me nos seus braços desvairados,
longamente, em silêncio, como louca..
E ainda sinto o consolo d’essa boca,
beijando-me nos olhos desolados...
Depois pôs-se a dizer-me em voz baixinha:
- "Bem vês, meu pobre amor, ela não tinha
um coração como eu...
Alma de sacrifício - nunca a viste
igual à minha!... e a minha não te deu
felicidade alguma... se isso existe..."
[Manuel Laranjeira, Palavras d'um Phantasma, in Commigo, 1923]
O Circo e o País Rasca
"A evidência necessita de invólucro para não morrer na estrada" [Mário Cesariny]
Depois de fechar a contabilidade da Mercearia "Portugal" com um défice de 2,8% do PIB, Durão Barroso adverte que as "contas do Estado estão em ordem". Pode ser. Mas, perante a curiosa declaração do senhor primeiro-ministro, recebida em apoteose pelos compadres da governação e seus bacorinhos, e pondo de lado a futilidade da afirmação, pois era isso que se aguardava desde as espalhafatosas inovações de Ferreira Leite ao cardápio da contabilidade pública, cumpre referir para não nos esquivarmos à fadiga, ao folguedo do judicioso Tavares Moreira e à arreata do impagável José Manuel Fernandes , o seguinte:
tal como o FMI, a Comissão Europeia, Miguel Cadilhe et all, dizemos que o PEC sacrifica o "crescimento futuro à estabilidade presente" e que o desenvolvimento económico não se compadece com manobras contabilísticas "vadias", nem a crise económica é ultrapassada sem investimentos produtivos, ou sequer as reformas estruturais ocorrem por qualquer mágica panfletária. E, sobre isso, está tudo por fazer, mesmo que a revelação barrosista seja uma espécie de pescadinha de rabo-na-boca. De outro modo, o reino da maravilha e mistério desta governação não assegura que se possa confiar, minimamente, nos resultados abonados. Primeiro, o défice nominal passa os 5% do PIB e mesmo que por artes mirabolantes se garanta que o défice estrutural tenha diminuído, convêm saber como foi calculado. Até porque se sabe, que o endividamento das Câmaras e Regiões Autónomas se aproximou dos 0,3% do produto e que o saldo da Saúde e Segurança Social, para além da derrapagem de 350 milhões de euros, se desconhece inteiramente. Tal triunfo escorcha-se a si próprio. Estamos num país rasca. Nada de espantos. A rápida intervenção do Banco de Portugal nesta enorme bagunça que são as contas públicas em Portugal é absolutamente necessária. Ninguém de bom senso e com urbanidade, pode confiar em tamanha gente, mesmo que o extasiado Barroso o assegure e o Luís Delgado aplauda. Os dias já não são o que eram. Podem crer.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004
Vitorino Nemésio [1901-1978]
m. em Lisboa, a 20 de Fevereiro de 1978
Quando eu morrer, a terra aberta
Me beba de um trago
E esqueça.
Aos deuses minha oferta
É levar o que trago:
Eu, dos pés à cabeça.
Assim, com ervas altas
Acabam os que começam.
Que Deus nos perdoe as faltas!
Dizem: "A terra que nos come":
Eu digo: "A que nos bebe" - e basta.
Somos só água que se some:
Choveu - e fomos
Na vida gasta.
[VN, in Eu, Comovido a Oeste]
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004
"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. …"
"Aniversário", Álvaro de Campos
"A boca
que primeiro levou
aos meus lábios a cor da aurora
ainda
em belos pensamentos desconto o aroma
Ó pueril boca, amada boca,
Que dizias o que ousavas e tão doce
Eras a beijar"
[A Boca, Umberto Saba]
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. …"
"Aniversário", Álvaro de Campos
"A boca
que primeiro levou
aos meus lábios a cor da aurora
ainda
em belos pensamentos desconto o aroma
Ó pueril boca, amada boca,
Que dizias o que ousavas e tão doce
Eras a beijar"
[A Boca, Umberto Saba]
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004
De que serve?
De que serve ouvir-te e não fechar-me
em arvores de silêncio?
De que serve o canto quando está
um cerrado punho na garganta?
De que serve o grito quando acaba
por fatigar as letras que não há
nesta ausente escrita que é esperar-te?
[João Rui de Sousa, in Revista Relâmpago, nº 13, 2003]
De que serve ouvir-te e não fechar-me
em arvores de silêncio?
De que serve o canto quando está
um cerrado punho na garganta?
De que serve o grito quando acaba
por fatigar as letras que não há
nesta ausente escrita que é esperar-te?
[João Rui de Sousa, in Revista Relâmpago, nº 13, 2003]
Anotações
Do Catalogo de Manuscritos reunidos pelo poeta Alberto de Serpa, sob elaboração de Manuel Ferreira, e levado à praça nos dias 18-25 de Novembro de 1988, retira-se o seguinte:
[Raul Leal] Os Dissidentes da Águia. Orfeu perante o saudosismo de Teixeira de Pascoaes (s/d) / Entrevista ("Para mim há Oito [escritores e poetas portugueses] que são os Maiores de Portugal. Cito o nome de sete e o Futuro que determine o oitavo. São eles: Luiz de Camões, Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Antero de Quental, Teixeira de Pascoes, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro") / [Fragmentos] "25 folhas de diversos formatos, com fragmentos de trabalhos diversos, entre os quais um intitulado «A Monadologia discriminatória de Fernando Pessoa», de que existem quatro folhas de ambos os lados" / Messe Noire, Fev.-Avril 1926 ("«Poeme Sacré» ... em que apenas foi publicado um pequeno excerto na revista «Presença»") / Nono Psalmo do Livro Martyr de L'Occulte ("texto em francês manuscrito ... datado de «Octobre 1928»") / Psaumes ["Uma das mais importantes obras poéticas de Raul Leal escritas em língua francesa e inédita na sua maior parte ...") / O Quinto Império e a Última Reincarnação de Henoch ("São duas laudas manuscritas na sua totalidade, com plano da obra indicada ...")
[Mário Saa] A Zebra. Problema zoológico e filosófico por Mário Saa, s/d ("Curioso manuscrito em prosa ...")
[Fernando Pessoa] Livro de Legendas ("Folha manuscrita em papel quadriculado, apresentando na primeira linha o título acima transcrito. Seguem-se os nomes dos capítulos ou partes que deveriam constar de uma obra de que não encontramos rasto nos trabalhos em prosa e verso publicados de Fernando Pessoa: I. Homeridae (?); II. Os Cinco Reis; III Trez Deuses; IV Tavola Redonda ...") / Affonso de Albuquerque. 10-7-1934 ("Poesia dactilografada, com emendas manuscritas, cremos que inédita, porquanto não consta da Obra Poética de Fernando Pessoa, dado a lume em 1983, pela Aguilar, do Rio de Janeiro ...")
Do Catalogo de Manuscritos reunidos pelo poeta Alberto de Serpa, sob elaboração de Manuel Ferreira, e levado à praça nos dias 18-25 de Novembro de 1988, retira-se o seguinte:
[Raul Leal] Os Dissidentes da Águia. Orfeu perante o saudosismo de Teixeira de Pascoaes (s/d) / Entrevista ("Para mim há Oito [escritores e poetas portugueses] que são os Maiores de Portugal. Cito o nome de sete e o Futuro que determine o oitavo. São eles: Luiz de Camões, Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Antero de Quental, Teixeira de Pascoes, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro") / [Fragmentos] "25 folhas de diversos formatos, com fragmentos de trabalhos diversos, entre os quais um intitulado «A Monadologia discriminatória de Fernando Pessoa», de que existem quatro folhas de ambos os lados" / Messe Noire, Fev.-Avril 1926 ("«Poeme Sacré» ... em que apenas foi publicado um pequeno excerto na revista «Presença»") / Nono Psalmo do Livro Martyr de L'Occulte ("texto em francês manuscrito ... datado de «Octobre 1928»") / Psaumes ["Uma das mais importantes obras poéticas de Raul Leal escritas em língua francesa e inédita na sua maior parte ...") / O Quinto Império e a Última Reincarnação de Henoch ("São duas laudas manuscritas na sua totalidade, com plano da obra indicada ...")
[Mário Saa] A Zebra. Problema zoológico e filosófico por Mário Saa, s/d ("Curioso manuscrito em prosa ...")
[Fernando Pessoa] Livro de Legendas ("Folha manuscrita em papel quadriculado, apresentando na primeira linha o título acima transcrito. Seguem-se os nomes dos capítulos ou partes que deveriam constar de uma obra de que não encontramos rasto nos trabalhos em prosa e verso publicados de Fernando Pessoa: I. Homeridae (?); II. Os Cinco Reis; III Trez Deuses; IV Tavola Redonda ...") / Affonso de Albuquerque. 10-7-1934 ("Poesia dactilografada, com emendas manuscritas, cremos que inédita, porquanto não consta da Obra Poética de Fernando Pessoa, dado a lume em 1983, pela Aguilar, do Rio de Janeiro ...")
terça-feira, 17 de fevereiro de 2004
Pornocine
"Ah, deixem-se de abraços e de beijos
de grandes planos de frentes e traseiros!
Não se lambam sob a luz cruenta
dos projectores.
Poupem-nos a essas cópulas
tecnicolores.
Na posição de "o missionário", denegrida,
ainda se move muita gente, muita vida.
Se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana!
... "
[Alexandre O'Neill, in Revista Relâmpago, nº 13, 2003 (aliás in A Luta, 1/7/1976)]
"Ah, deixem-se de abraços e de beijos
de grandes planos de frentes e traseiros!
Não se lambam sob a luz cruenta
dos projectores.
Poupem-nos a essas cópulas
tecnicolores.
Na posição de "o missionário", denegrida,
ainda se move muita gente, muita vida.
Se a Carole não gosta, gosta a Ana!
E viva o sexual fim-de-semana!
... "
[Alexandre O'Neill, in Revista Relâmpago, nº 13, 2003 (aliás in A Luta, 1/7/1976)]
Catálogo nº 44 da Livraria Moreira da Costa, Fevereiro 2004
A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto) publica o seu 44 catálogo, de responsabilidade de Ângelo Carneiro e pode ser consultado on line. Boas compras.
Algumas referências: Descrição Geral e Histórica das Moedas cunhadas em nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, de A. C. Teixeira de Aragão, III vols, 1966 / As Communidades de Goa. História das Instituições Antigas por António Emílio d'Almeida Azevedo, 1890 / Ensaio sobre a extensão dos limites da beneficiencia a respeito, assim dos homens, como dos mesmos animaes, pelo Conde Leopoldo Berchtold, 1792 (curioso) / Influence de l’habitude sur la faculte de penser ..., por P. Maine Biran, 1803 (dissertação espiritualista) / A Campanha. O Golpe de Estado. Diálogo dos Pastores. Auto da Família, de Fiame Hasse Pais Brandão, Portugália, 1965 / Da Vida e da Morte dos Bichos, por Teotónio Cabral, Abel Pratas e Henrique Galvão, s/d, V vols (estimada) / ARS CRITICA. In qua ad Studia Linguarum Latinae, Graecae, et Hebricae. Via munitur; Veterumque emendandorum, Spuriorum Scriptorum a Genuinis dignoscendorum, & judicanti de eorum libris ratio traditur. Accedunt un calce quatuor Indices locupletissimi, de Joannis Clerici, 1778, III vols / Esta Historia é para os Anjos, por Jaime Cortesão, Edição da Renascença Portuguesa, Porto, 1912 / História da Arte, por Elie Faure, trad. de Vitorino Nemésio, V vols / Verdades Cruas, por Gomes Leal, Typographia do Commercio, s/d / A Virgem e Portugal, direcção literária de Fernandes de Castro Pires de Lima, Ed. Ouro, Porto, 1967, II vols / D. Carlos História do seu reinado, por Rocha Martins, 1926 / Bibliografia da Literatura Portuguesa, de Maussaud Moisés, Edição Saraiva, São Paulo, 1968 / Pharmacopêa Portugueza, Edição oficial, Lisboa, Imprensa Nacional, 1876 / Revista Sol, Dir. Fernando C. Pires de Lima e Virgilio A. Dantas, Primavera 1968. nº 7 (a Outono-Inverno 1971-72 nº 16), 10 nums / Traité d'Economie Politique ou Sample Exposition de la manière dont se forment, se distribuent et se consomment les richesses, de Jean-Baptiste Say (4ª ed.), Paris, 1819, II vols / Defeza das Ordens Religiosas e Analyse do Relatório do Mata-Frades, por Almeida Silvano, 1884
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004
Bom Dia ... Carlos Paredes
n. em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925
"Um grande respeito pelos outros. Eis o que faltou às utopias, mas nunca deixou de estar presente na vida, na música e nos gestos de Paredes. É nesse mundo, de Amigos que se respeitam e se amam, que vive Carlos Paredes; é desse mundo, onde a Verdade e o Prazer caminham de mãos dadas, que nos ilumina com a grandeza simples dos sons que só ele sabe inventar" [Viriato Teles]
Oh! ... Público!?
Na primeira página d'O Público de domingo, entre as licenças de maternidades à la Bagão Feliz e a novíssima reforma prisional que está aí a estoirar, desponta o curioso título: "Durão Barroso quer apressar decisão de Cavaco Silva sobre candidatura presidencial". A imprevidente brincadeira, a cargo de Helena Pereira, pode ser acompanhada na página 12, num texto sem sentido algum, salvo pelo que aí se jura: a entrevista de Santana Lopes "foi concertada" com Durão Barroso.
Desde logo, nesse aranzel tão politicamente jornalístico, somos levados a meditar como foi pensada a questão. Imagina-se, as fontes ao que se sabe não elucidaram a Helena, o exercício conspiratório entre o edil de Lisboa, o primeiro-ministro, o beneditino Marques Mendes, mais dois ou três sociais-democratas soi-disant, e teme-se pela sanidade intelectual da jornalista d'O Público.
Silêncio! ... que se está a conspirar. Sem dúvida. Só não se sabe se os conjurados citados, se a senhora jornalista saída de algum relicário do cavaquistão. É que nem o Marcelo caiu nessa, à mesa da TVI, que nisto de santos Lopes só para crentes. Nem se ouviu gritar: "apanhei-te cavaquinho!". Nem consta que os leitores d'O Público possam ser confundidos com os intelectuais do Correio da Manhã.
Ah! como para escrever essa "beleza de hortaliça" no jornal é suposto o agreement da redacção, é de presumir que tivessem acompanhado, com toda a emoção, o exotismo da notícia. Nada nos espanta mais, pois, de facto, "o futuro é uma pescadinha de passado na boca" [Edgar Xavier].
domingo, 15 de fevereiro de 2004
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