domingo, 22 de fevereiro de 2004


O Circo e o País Rasca

"A evidência necessita de invólucro para não morrer na estrada" [Mário Cesariny]

Depois de fechar a contabilidade da Mercearia "Portugal" com um défice de 2,8% do PIB, Durão Barroso adverte que as "contas do Estado estão em ordem". Pode ser. Mas, perante a curiosa declaração do senhor primeiro-ministro, recebida em apoteose pelos compadres da governação e seus bacorinhos, e pondo de lado a futilidade da afirmação, pois era isso que se aguardava desde as espalhafatosas inovações de Ferreira Leite ao cardápio da contabilidade pública, cumpre referir para não nos esquivarmos à fadiga, ao folguedo do judicioso Tavares Moreira e à arreata do impagável José Manuel Fernandes , o seguinte:

tal como o FMI, a Comissão Europeia, Miguel Cadilhe et all, dizemos que o PEC sacrifica o "crescimento futuro à estabilidade presente" e que o desenvolvimento económico não se compadece com manobras contabilísticas "vadias", nem a crise económica é ultrapassada sem investimentos produtivos, ou sequer as reformas estruturais ocorrem por qualquer mágica panfletária. E, sobre isso, está tudo por fazer, mesmo que a revelação barrosista seja uma espécie de pescadinha de rabo-na-boca. De outro modo, o reino da maravilha e mistério desta governação não assegura que se possa confiar, minimamente, nos resultados abonados. Primeiro, o défice nominal passa os 5% do PIB e mesmo que por artes mirabolantes se garanta que o défice estrutural tenha diminuído, convêm saber como foi calculado. Até porque se sabe, que o endividamento das Câmaras e Regiões Autónomas se aproximou dos 0,3% do produto e que o saldo da Saúde e Segurança Social, para além da derrapagem de 350 milhões de euros, se desconhece inteiramente. Tal triunfo escorcha-se a si próprio. Estamos num país rasca. Nada de espantos. A rápida intervenção do Banco de Portugal nesta enorme bagunça que são as contas públicas em Portugal é absolutamente necessária. Ninguém de bom senso e com urbanidade, pode confiar em tamanha gente, mesmo que o extasiado Barroso o assegure e o Luís Delgado aplauda. Os dias já não são o que eram. Podem crer.