quinta-feira, 28 de maio de 2009
HOMENS SEM QUALIDADES
O dr. Cavaco, verdadeiramente, nunca foi bem um político ou estadista convincente e providencial. Um chefe que inspirasse confiança. Um espírito à altura do seu papel. Para tal era preciso carácter, integridade, autoridade pessoal, lucidez, vigor, cultura. Não era necessário ser intelectualmente grande, bastava prudência e sinceridade pela "coisa" pública. No invés, o dr. Cavaco apenas quis sobreviver para a sua viagem pessoal, mesmo quanto sugeria estar a tutelar os desígnios pátrios. Sorte grande a sua, desilusão a de todos nós.
As vagas teorias sobre a Democracia, Portugal ou a Europa desse filho pródigo de alguma direita saudosa (o novo Messias) morreram logo na razão dos curiosos desmandos que a sua governação divulgou. A felicidade pública do nativo, artificialmente excitada, expirou mesmo antes de se avistar a "aritmética economista" do seu vindouro "oásis". Como diria Ramalho Ortigão: "os deuses eram de palha".
O dr. Cavaco não nos salvou da ruína, da decadência, não modificou o regime ou o sistema político, não soube construiu uma Res Publica, uma democracia. Apenas se rodeou no poder (sem que qualquer indignação se lhe visse) de um sem número de "adesivos" ou curiosos "senadores" que, mesmo aparentemente servis, astutamente o utilizaram para despojarem o orçamento do Estado. Os seus "procuradores do povo" arrumaram, antes de tudo, a sua própria clientela e souberam bem representar os seus interesses pessoais.
O dr. Cavaco, no meio do seu azedume contra a canalha, só conduziu o país para a confusão e abuso de uma "rede clientelar" de consequências absolutamente desastrosas. A política pós-Cavaco passou a ser uma "questão de compadres", de intrigas e as "avenidas do futuro" construídas, herança da sua obra financeira, foram um inegável "brinde" aos novos caudilhos. A trágica destruição das instituições, o desamparo à sociedade civil, o cansaço e a desmoralização a que hoje assistimos (e a que estamos condenados) venceram-nos definitivamente. Não por acaso estes dias irae da desvairada governação do regedor Sócrates são consequência funesta disso tudo. A lista dos Dias Loureiros, Oliveira e Costa, os prebentados de Macau, os melífluos Constâncios, o Lopes da Mota e os Freeport intermináveis que lentamente surgem, não têm fim à vista. A degeneração é total. Não há que estranhar!
NOTA: Ontem o dr. Cavaco, depois do pedido de demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado, disse que não distingue "um de outro dos 19 conselheiros de Estado" e que todos lhe mereciam "igual respeito". Esta infeliz observação é quase um insulto ao próprio Conselho de Estado e, reconhecidamente, os conselheiros não mereciam tal "entusiasmo". O dr. Cavaco fez de Dias Loureiro o cérebro da sua campanha presidencial, levou-o para o Conselho de Estado e fez a sua apologia até ao fim. Que mais imprevistos ou incidentes precisamos de assinalar?
Boletim Bibliográfico 41 de Livraria Luis Burnay
Está online o Boletim 41 da Livraria de Luis Burnay [Calçada do Combro, 43-47, Lisboa], que apresenta 710 peças estimadas, procuradas e raras.
De registar uma curiosa, invulgar e valiosa “colecção de revistas infantis portuguesas ilustradas reunidas pacientemente ao longo de muitos anos por um coleccionador amigo". Assim temos Abc-zinho (1921-25), Cavaleiro Andante (1952-62), Album do Cavaleiro Andante, Bip-Bip (1961-62), Diabrete (1941-51), O Falcão (1958-60), Foguetão (1961), O Gafanhoto (1903-04), O Jornal dos Pequeninos (1907-09), O Mosquito (1936-53), O Mundo de Aventuras (1949-59), O Senhor Doutor (1933-43), o Tic-Tac (1932-36).
Consultar o Catálogo – aqui.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
COSTAS & DIAS ASSIM!
"Este aldrabão a reinar com a gente ... Devolve-nos mazé a massa, irresponsável" [Ernesto Sampaio]
O país acordou hoje numa cacofonia emocional notável. Pudera! Os coriscos acumulados por esse génio da gestão financeira (uma lenda do Cavaquismo empresarial), de nome Oliveira Costa, na sessão de ontem no Parlamento, foram um rendez-vous irrepreensível. O bom do nativo, ele próprio sofredor dessa "problemática do ego" que o sábio Costa atribui ao não menos sábio Dias Loureiro, depois do prudente silêncio que sempre legitimou a cantilena do poder, numa náusea aprumada & autorizada, estremeceu do seu desespero profundo e atirou-se ao Costa & Dias ... assim.
Tantos anos de rasgados oásis Cavaquista, bem plantados na paróquia; alguns mais sob louvação & requinte do bloco-central; outras tantas páginas lusas que o regaço do Barrosismo e as sinecuras do sr. Sócrates (agora sob manutenção do obcecado crente Vital Moreira) inventivaram nesta doce estrivaria, que o bom do nativo – lambuzando a esmola e desfeiteando o tempo perdido –, desata em impropérios contra a bem montada "rede clientelar", zurzindo curiosamente nos "despojos do cavaquismo" & demais "ismos". E não perdoa!
A elite que Abril fez nascer e multiplicar-se, essa geração sem valores nem curriculum e que laboriosamente correu à esfregação do poder político (para partir, depois, para o económico e financeiro), criou a reputação de ser quem "mais-pilha", numa infamante acção de destruição pública, sem precedentes. Oliveira e Costa & Dias Loureiro podem ser um enjoativo caso de falta de "decência", ou mesmo configurar uma banal "ajuste de contas" nesta estância à guarda do dr. Cavaco, mas seguramente que exibem o "melhor" que as elites lusas podem dar. O que não é de admirar!
sexta-feira, 22 de maio de 2009
JOÃO BÉNARD DA COSTA (1935-2009)
"... e ter-te-ia dado uma água viva" [Jo. 4,10 – in Os Dias do Senhor, 1962]
Entraram muitas vidas na vida de João Bénard da Costa. A religião e a política, a arte e a vida, a literatura e a música, o cinema e a festa, e que são - tão só - uma "forma de nos defendermos contra a morte e uma forma de compensação diante do terror que a vida inspira" [J.B.C., in D.N., 2005]. Muito cá de casa, também Bénard da Costa foi o nosso portfólio de emoções. E tal como ele próprio disse, em salvaguarda de um futuro a fazer, só se restitui ao tempo "o que cada tempo a seu tempo trouxe". E o tempo de Bénard da Costa foi magnífico, para nossa glória.
João Bénard da Costa nasceu a 7 de Fevereiro de 1935. Estuda no liceu Camões, transfere-se para o liceu Pedro Nunes para seguir Direito, que troca por Ciências Histórico-Filosóficas. Contra aquilo que denomina "desordem estabelecida" [entrevista ao Público], porque "um cristão não poderia aceitar aquilo", João Bénard da Costa (como muitos outros) participa civicamente nas lutas de antanho contra o situacionismo e em prol de uma Igreja livre e de respeito pela pessoa humana. Na faculdade (no 2º ano) pertence à Juventude Universitária Católica (J.U.C.), tendo sido nomeado seu presidente (1957). Nas eleições presidenciais de 1958 [Humberto Delgado] aparece como primeiro subscritor de uma Carta ao director do jornal "Novidades" [jornal criado pela hierarquia da Igreja e que apoiava Américo Thomaz] apelando a que o jornal exerça uma "acção esclarecedora de princípios e de problemas, que pudesse orientar ... a consciência política dos católicos portugueses" [sobre o assunto consultar, "Católicos e Política", Pe José da Felicidade Alves, 1970, 2ª ed., p.13-16].
Ao mesmo tempo (1956) funda com Pedro Támen e Nuno Bragança o "Centro Cultural de Cinema", de orientação católica, que curiosamente marca um tempo de ruptura com a "arte" e estética de referência "neo-realista", via defesa do "cinema de autor".
Forma-se em 1959, mas não fica na Faculdade com o lugar de assistente (foi convidado por Delfim Santos) porque toma, anteriormente, posição – como católico e homem livre – contra a ditadura, na campanha de Humberto Delgado (1958), o que o impede de seguir a carreira pública. Concorre a uma bolsa da Fundação Gulbenkian, para continuar a sua tese de licenciatura sobre Emannuel Mounier. Lecciona em colégios (como o Liceu Francês Charles Lepierre e o Colégio Moderno) e só na década de 60 regressa ao antigo liceu Camões, onde nas suas instalações organiza o "primeiro festival de cinema".
Como membro da J.U.C., e na qualidade de seu presidente, dirige o jornal da organização "O Encontro". Nasce então essa curiosa tentativa de fundar uma revista como a francesa "Esprit" (revista humanista personalista, de clara inspiração via Emmanuel Mounier) e, sob providencial ajuda de António Alçada Baptista (na altura sócio principal da livraria-editora Moraes), juntamente com Pedro Támen, Nuno Bragança, Alberto Vaz Silva, nasce a importante e saudosa revista "O Tempo e o Modo" (nº1, Janeiro de 1963).
Participa, ainda, na cooperativa Pragma - fundada por um grupo de católicos [a 11 de Abril de 1964, curiosamente primeiro aniversário da encíclica Pacem in Terris – sob a Pragma, consultar "Entre as Brumas da Memória. Os Católicos Portugueses e a Ditadura", de Joana Lopes, Âmbar, 2007, p.61-79] – importante "plataforma de diálogo entre intelectuais de esquerda, crentes ou não" [ibidem] e que foi, evidentemente, perseguida pela PIDE, dando lugar a um conjunto vasto de protestos e (de memoráveis) abaixo-assinados direccionados quer ao poder político quer as entidades eclesiásticas, o que levou a uma maior consciencialização e radicalização de grande número de católicos contra a ditadura. Do mesmo modo, intervém nas tertúlias e debates da revista "Concilium" (1965 – vidé Joana Lopes, ibidem), lançada pela editora Moraes e que vem "aprofundar" e dinamizar o espírito do Vaticano II.
É na coluna de "Artes e Letras" da revista "O Tempo e o Modo" que Bénard da Costa escreve e faz crítica de cinema, sua antiga, sólida e grande paixão. Convidado pela Gulbenkian para ser o responsável pela secção de cinema da Fundação, aceita de bom grado. Participa, integrado na C.D.E., nas eleições de 1969. No princípio dos anos 1970, João Bénard da Costa dirigiu o Centro Nacional de Cultura.
O dia 25 de Abril, por que tanto esperava, apanhou-o a caminho do Conservatório Nacional (onde leccionava História do Cinema) e é aí que Villaverde Cabral [ver entrevista sua ao Público] o informa do golpe que decorria. Curiosamente, nessa noite, encontra-se num jantar em casa de Nuno Bragança (e Maria Belo) com um dos grupos que formaram o M.E.S., até sair em Dezembro desse ano, em ruptura com a organização [vidé I Congresso], acompanhando o "grupo do Florida" [Jorge Sampaio, Joaquim Mestre, João Cravinho, Galvão Teles, César Oliveira, Nuno Brederode dos Santos. O nome "grupo da Florida", refere-se ao grupo de comensais que se reuniam na "mesa reservada no snack-bar do hotel" do mesmo nome – cf. Os Anos Decisivos, César de Oliveira, 1993, p. 147]. Integra com os seus companheiros ex-MES, posteriormente, o Grupo de Intervenção Socialista [GIS]. Em 1980 foi subdirector da Cinemateca Nacional, depois director, entre 1991 e 2008. Publicou e colaborou em diversos livros [lembrar o nunca citado "Os Dias do Senhor", editado pela Moraes em 1962], folhetos, catálogos e periódicos, sendo notáveis os seus textos no jornal Independente e no Público.
Nota: hoje (21,30 m) a Cinemateca fará uma sessão especial de homenagem a Bénard da Costa, passando um dos filmes da sua vida "Johnny Guitar".
[texto também publicado no Almanaque Republicano]
quarta-feira, 20 de maio de 2009
LEILÃO DA BIBLIOTECA DO DR. LAUREANO BARROS
Conforme AQUI referimos, começa amanhã o Leilão - consultar AQUI os Catálogos - da magnífica e invulgar Biblioteca do Dr. Laureano Barros. No jornal Público de hoje (ver P2), Luís Miguel Queirós refere o seguinte:
"A Livraria Manuel Ferreira inicia esta noite, na Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, o leilão da biblioteca de Laureano Barros (1921-2008), um professor de Matemática e figura da oposição ao regime salazarista que, ao longo de décadas, reuniu na sua casa de Ponte da Barca aquela que é, muito provavelmente, a mais notável colecção privada de literatura portuguesa constituída na segunda metade do século XX.
Nascido em Matosinhos em 1921, Laureano Barros não foi, nem nunca quis ser, uma figura pública, mas a sua biblioteca era bem conhecida dos muitos investigadores que a frequentavam, e todos os bibliófilos lhe conheciam o nome, pronunciado com reverência pelos alfarrabistas. Não era caso para menos. Os mais de seis mil lotes que agora vão ser leiloados incluem, por exemplo, a primeira edição da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, de 1614, um objecto mítico da bibliofilia internacional. O coleccionador devia ter, aliás, uma admiração particular pelo aventureiro e prosador quinhentista, já que se deu ao trabalho - e à decerto não pequena despesa - de encontrar e adquirir todas as primeiras dez edições da Peregrinação.
Para se ficar com uma ideia do gigantismo desta biblioteca, basta verificar que a sessão inaugural do leilão, amanhã à noite, irá terminar com uma série de lotes compostos por livros de Sophia de Mello Breyner Andresen, tendo a ordem de licitação sido organizada por ordem alfabética dos apelidos dos autores, ou seja, não se conseguirá chegar, sequer, ao final da letra "A". Seguem-se mais duas sessões, na sexta-feira e no sábado, e o leilão será depois interrompido até à quinta-feira seguinte, prolongando-se então novamente até sábado.
Os potenciais compradores vão dispor de um cuidado e volumoso catálogo em seis volumes - ele próprio um utilíssimo instrumento bibliográfico - e poderão ainda apreciar todas as peças na sede da Junta de Freguesia do Bonfim, onde estarão expostas já a partir de hoje à tarde (...)"
Ler tudo AQUI, Caderno P2.
sábado, 16 de maio de 2009
IN MEMORIAM DE EDGAR RODRIGUES (1921-2009)
O militante libertário, escritor anarquista e infatigável pesquisador do movimento operário, Edgar Rodrigues (aliás, António Francisco Correia) faleceu no dia 14 deste mês, no Rio de Janeiro. Nasceu em Angeiras (Matosinhos) a 12 de Março de 1921, "filho de um militante anarco-sindicalista português do Sindicato da Construção Civil filiado à CGT" [cf., aqui] e desde muito jovem (em casa dos pais) entra em contacto com o ideário anarquista e as doutrinas libertárias. Exila-se no Brasil (1951), fugindo à ditadura de Salazar, tendo adquirido, mais tarde, a nacionalidade brasileira.
Edgar Rodrigues trabalha inicialmente na construção civil, enquanto colabora dedicadamente com os exilados oposicionistas portugueses [apoia Humberto Delgado] e denúncia vigorosamente a ditadura do Estado Novo. Publica, por isso mesmo, os livros "Na Inquisição de Salazar" (Rio de Janeiro, 1957) e "A Fome em Portugal" (Rio de Janeiro, 1958), o que lhe vale a proibição de entrada em Portugal. Liga-se, entretanto, ao movimento anarco-sindicalista e libertário brasileiro, adoptando o pseudónimo de Edgar Rodrigues. Conhece os "velhos" militantes libertários brasileiros José Oiticica (colaborando no jornal "Acção Directa" e, depois da morte de Oiticica, dá continuidade ao Centro de Estudos, com o seu nome) e Edgard Leuenroth, com os quais trabalha activamente. Mais tarde será preso (1969) "durante a repressão desencadeada pela ditadura militar contra os anarquistas do Centro de Estudos José Oiticica do Rio de Janeiro".Trabalha na "reorganização do MLB", no Rio de Janeiro, participa no Congresso Anarquista de S. Paulo (1986), faz parte dos fundadores do "Círculo e Arquivo Alfa" (dota o Centro com um vasto espólio arquivístico, saindo do Centro em circunstância pouco esclarecedoras) e do Grupo Libertário Fábio Luz. Escreveu em diversos jornais e revistas de diversos países e é um dos fundadores da célebre Editora Mundo Livre (1960, Rio de Janeiro).
É notável o seu trabalho de recolha, investigação e divulgação das lutas operárias e da cultura libertária, principalmente em Portugal e no Brasil. Sendo um autodidacta ou um "filósofo-autodidacta", não recorrendo à vulgata académica, este adepto do "anarquismo operário" e crítico do que denomina "anarquismo dos intelectuais" deu uma inestimável contribuição ao estudo do movimento operário e social e das ideias anarquistas, em especial, pela inquebrantável pesquisa feita e publicada e que é uma fonte bibliográfica inesgotável.
No que diz respeito a Portugal, além dos inumeráveis escritos em jornais e revistas, regista-se a publicação em livro das seguintes obras:
"Na Inquisição de Salazar", Rio de Janeiro, 1957; "A Fome em Portugal", Rio de Janeiro, 1958; "O Retrato da Ditadura Portuguesa", Rio de Janeiro, 1962; "Portugal Hoy", Caracas, 1963; "Breve História das Lutas Sociais em Portugal", Lisboa, Assírio e Alvim, 1977; "O Despertar Operário em Portugal (1834-1911)", Lisboa, Sementeira, 1980; "Os Anarquistas e os Sindicatos (1911-1922)", Lisboa, Sementeira, 1981; "A Resistência Anarco-Sindicalista (1922-1939)", Lisboa, Sementeira, 1981; "A Oposição Libertária à Ditadura (1939-1974)", Lisboa, Sementeira, 1982; "O Porto Rebelde", Porto, Editor Fernando Vieira, 2001; "Lembranças Incompletas" [Autobiográfico], S. Paulo, Editora Opúsculo Libertário, 2007.
Locais: Biografia de Edgar Rodrigues / Edgar Rodrigues: uma curta Biografia / Nota de falecimento de Edgar Rodrigues [de onde retiramos, a foto acima] / Morre Edgar Rodrigues, o mais antigo exilado político português no Brasil / Edgar Rodrigues e o Movimento Anarquista no Brasil
[publicado, também, no Almanaque Republicano]
sexta-feira, 15 de maio de 2009
LEILÃO DA RENASCIMENTO – LIVROS E MANUSCRITOS
No próximo dia 26 e 27 de Maio (21,30h), via RENASCIMENTO (Rua Agostinho Lourenço - ao Areeiro -, 20 C, Lisboa), haverá lugar a um Leilão de Livros e Manuscritos. Trata-se de 922 lotes (de merecida estimação) sobre diversos assuntos.
Algumas referências da I Sessão: A Arte Popular em Portugal (dir. F. de C. Pires de Lima), III vols / Obras Completas de Nicolau Tolentino de Almeida, 1861 / curioso álbum de Fotografias de Itália / Antiguedades Mexicanas publicadas en homenege á la memoria de Cristobal Colón por la Junta Colombina de México, 1892 (c. 145 Litografias) / Annuario da Sociedade Nacional Camoneana, 1881 / Archivo Republicano, dir. Victor de Sousa, Setembro 1911 (colec. imcompl.) / Orlando Furioso, Ariosto, Lx, 1895 / Histoire Pittoresque de L'Équitation, por Charles Aubry, 1833 / Voyage Dans les parties Sud de L’Amèrique Septentrionale ..., de William Bartram, Paris, 1801, II tomos / [3 Mapas] Battle of Mount Tabor (Napoleónica) / Exercícios Espirituaes ..., do Pe. Manuel Bernardes, Lx, 1757, II vols (IV impressão) / Bodas de Oiro Cientificas de António Cabreira e VII Centenário da Tomada de Tavira, Lx, 1942 / Trité de L’Art de Fabriquer La Poudre à Canon ..., Bottée et Riffault, Paris, 1811 / Os Lusíadas (ed. III Centenário, publ. Emile Biel), 1880 / Cancioneiro [da Ajuda e da Biblioteca Nacional) / Carta Constitucional da Monarchia Portugueza (ed. Microscópica), 1832 / Corografia Brazilica ou ..., pelo Pr. Manuel Ayres de Azal, Rio de Janeiro, 1817, II tomos / Obras de José Daniel Rodrigues da Costa / Ensaio Económico Sobre o Comercio de Portugal e Suas Colónias, de José J. da C. de Azeredo Coutinho, 1794 / [Cozinha] Cuisiniere La Bourgeoise, Suivie de L’Office ..., 1788 / Origem da Insigne Ordem Militar do Tusão D'Ouro ..., de António Pereira de Figueiredo, 1785 / conjunto curioso (e valioso) de Folhetos do Sec. XVIII e XIX / A Caça no Império Português, por Henrique Galvão, 1943, II vols / Gazeta de Lisboa (de 7 de Janeiro de 1716 a 31 de Dezembro de 1722), VII vols / In Memoriam de Camillo, 1925 / Jornal de Coimbra (vol. I ao Vol. XVI), Lisboa, 1812 (a 1820) / Historia da Vida, Morte e Trasladação de Sancta Isabel ..., Lisboa, 1680 / Amanhan, de Manuel Laranjeira, 1902 / Famílias de Portugal, por Jacinto Leitão Manso de Lima, 1925, XXVI vols / Livro de Horas (sec. XV), 171 folhas em pergaminho.
Pode-se consultar (em breve) o Catálogo - realizado por José Vicente - online, AQUI.
"FRASES QUE IMPÕEM RESPEITO"
- "Augusto Santos Silva considera 'gravíssimas' as declarações do presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público sobre alegadas pressões aos procuradores do caso Freeport. Estas afirmações 'não podem passar sem consequências', disse o dirigente socialista à entrada das jornadas parlamentares do PS, que decorrem em Guimarães [vide exame crítico do conselheiro SS, AQUI]
- "Para [Augusto] Santos Silva - que garantiu estar a falar na 'plenitude do seu ser' – enquanto cidadão, dirigente e ministro - o presidente do SMMP ‘tem que dizer que pressões são, sobre quem são feitas e quem as exerce’, isto porque ‘o facto de alguém dizer que há pressões não quer dizer que elas existam’" [SS em retiro espiritual ou breve resumo de política prática]
- "Mudou a presidência do sindicato dos magistrados do ministério público e a conversa mantém-se. João Palma, assim que tomou posse, logo repetiu a ladainha de que os magistrados sofrem pressões: ‘há pressões, umas conhecidas e outras não, e se for necessário, se não acabarem, direi quais são e quem as faz’.
A história, aliás, não é nova. Primeiro, aparecem nos jornais – sempre nos mesmos, sempre nos mesmos – umas notícias que falam da existência de pressões, logo a seguir vem o sindicato referir sem concretizar as mesmas pressões que os jornais noticiaram sem concretizar. Depois, claro, chega o 'agarrem-me se não eu denuncio'" [notícias ou aviso do céu do sr.Pedro Adão e Silva, conhecido turista à esquerda do sr. Sócrates, em 30/03/09]
- "[Ao post]... só há a acrescentar uma coisa: é que neste caso a questão é mais grave que de costume: é que o Ministério Público (contrariamente aos juízes) é uma magistratura hierarquizada, e o seu mais alto representante institucional - o Procurador-Geral da República - já disse mais que uma vez que nunca houve pressões nenhumas. Como se admite que venha agora o "visconde" dizer o contrário?
Além de violar o princípio da separação de poderes, o pseudo-proletário 'sindicalista' desrespeita a hierarquia em que está integrado!" [reflexão varonil anti-sindical do sr. Carlos Esperança, ex-professor primário]
- "Mais para a frente na entrevista, Palma também disse que há pressões no caso Freeport: quando, como, de quem, contra quem? Aos costumes disse nada. Tão pouco se importou com o facto de o procurador-geral da República ter desmentido quaisquer pressões. Se ele acha, é verdade ..." [confissão para aleitamento do eleitorado do sr. Sócrates, pelo rapaz mui cooperativo]
- "O que é ao certo uma pressão? Como se reconhece? No contexto político-mediático português, a palavra tem vindo a revelar-se deslumbrantemente polissémica ..." [nota erudita ou tratado de escrita para o ensino no Largo do Rato, por Dona Câncio]
Saúde e Fraternidade!
quarta-feira, 13 de maio de 2009
BIBLIOTECA DR. LAUREANO BARROS
"Em ano de comemoração dos seus 50 anos de existência, a Livraria Manuel Ferreira promove um importante leilão de cerca de 6000 espécies bibliográficas constitutivas de uma das mais valiosas bibliotecas particulares do século XX, formada pelo dedicado bibliófilo Dr. Laureano Barros.
Este Leilão será dividido em 3 partes; a primeira decorrerá entre os dias 21 e 23 e 28 e 30 de Maio, a decorrer no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, pelas 21 horas. As restantes, com data a definir, serão oportunamente anunciadas.
Da primeira parte deste leilão destacamos a magnífica colecção de Cancioneiros portugueses antigos; manuscritos e edições originais do poeta Eugénio de Andrade do qual destacamos o seu primeiro e extremamente raro «Narciso», publicado em 1940; as edições originais de «O Lima», de Diogo Bernardes; da «Crónica de Cister», de Bernardo de Brito; do belo livro de Lima Bezerra, «Os Estrangeiros no Lima», as revistas literárias «Árvore», «Athena», «Caliban», «Centauro», «Contemporânea», «Contravento» ..." [ler tudo, AQUI]
Catálogos online - AQUI.
ALBERTO, O PEQUENO
Desde que o infortunado Alberto Costa recebeu o ungido cargo de Ministro, nunca mais a Justiça se alevantou. Por uma série de quebrantos, que decerto a "arte" de Alberto invocou, a Justiça tornou-se uma enorme trapalhada, de tão ridícula e adulterada que está. Alberto Costa tem essa luz aziaga: tudo o que ele toca, fenece. A sua história política, por vezes demasiado entronizada, é uma enorme desilusão. E quando exerce o poder (um qualquer), a balbúrdia em que se vê rodeado é sempre bem maior que a sua excitada vaidade.
Tudo isto a propósito da assuada que vai por aí. Que é séria e de respeito e, não haja dúvida alguma, marca um ponto de viragem – política – em todos estes anos sombrios de palavrório do grupo do sr. Sócrates. O resgate do Partido Socialista desse horror inaudito virá tarde, mas virá! O ajuste de contas, que sem espanto aparecerá então, será exemplar. Este lamaçal, a que alguns chamam irresponsavelmente "estado de direito", terá um dia de ter um fim. A democracia, a civilidade e a modernidade (que tarda) assim o exigem.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
BIBLIOTECA JOSÉ PACHECO PEREIRA - A CASA DAS PALAVRAS
in P2 - jornal Público [6 de Maio de 2009, p.4-5]
terça-feira, 5 de maio de 2009
LEILÃO DO PALÁCIO CORREIO VELHO– COLECÇÃO CAPUCHO
Começa hoje (pelas 21 horas) e segue nos próximos dois dias, o invulgar Leilão do riquíssimo espólio (Colecção e Biblioteca de António Capucho) que foi pertença de António Emídio Ferreira de Mesquita da Silva (1918-2009), pai do Presidente da C.M. de Cascais António d’Orey Capucho, um notável homem de arte e cultura, bibliógrafo e apaixonado coleccionador [ver, "António Capucho. Retrato do Homem através da Colecção", de Luísa D’Orey Arruda et al, Civilização, 2004].
O Leilão, que decorre no Palácio do Correio Velho, apresenta 764 lotes, entre azulejaria, faiança portuguesa, pintura, mobiliário português, uma notável colecção de registos de santos e imagens religiosas, uma curiosa colecção de camafeus e, também, um acervo de livros e manuscritos raros e invulgares, como uma preciosa cartas de armas , iluminuras estimadas e livros de horas.
Absolutamente a não perder.
Consultar os bonitos Catálogos, AQUI.
sábado, 2 de maio de 2009
PORQUÊ, dr. VITAL MOREIRA?
Temos uma forte simpatia pessoal pelo dr. Vital Moreira. Quem passou por Coimbra e acompanhou a lide académica e cultural, saberá entender. Tal clarão, que circunda (ainda) a sua brilhante figura, não se apaga por trajectos pessoais e políticos (antes e depois de Abril), que só ao mesmo diz respeito: como homem livre que é. Ou não estivesse a nossa alma "cavada de trincheiras", como diria Joaquim Namorado.
O episódio insensato e intolerante que se passou na concentração (e manifestação) do 1º de Maio com o candidato Vital Moreira, que abriu telejornais e relembrou outros "esquisitos" acontecimentos – caso da Marinha Grande, Felgueiras e Matosinhos –, é absolutamente lamentável ao mesmo tempo que não desculpa ninguém.
Que o dr. Vital Moreira – vestindo a pele (na falta de outra) de candidato & propagandista eleitoral – apareça à frente de uma delegação do governo (reaccionário) do sr. Sócrates para a bênção da CGTP e reconhecimento público televisivo, sendo um comportamento bizarro (outros dirão, provocatório) da sua parte, não é impossível (como se viu) nem inesperado (como se comenta). O dr. Vital Moreira tem todo o direito de frequentar lugares, que ele mesmo violentamente enjeita. A liberdade e a democracia são isso mesmo. Que outros assim o não entendam, mesmo sendo de igual modo um agir livre, só os responsabiliza pelos seus arremedos. A cada um a sua imputação!
Por isso, neste alucinado espectáculo, ninguém está de fora. Os exaltados sujeitos que tentaram tirar esforço de Vital Moreira, extravasaram os limites da civilidade, e praticaram um acto gratuito e provocatório, que contra eles se virou. O dr. Vital Moreira, que ao longo destes anos de terror autoritário Socrático se tornou um audacioso especialista em insultos (intelectuais) e ameaças (jurídicas) a quem trabalha e, em especial, aos sindicatos, sabia naturalmente a inoportuna visita de cortesia que ia fazer. A organização da manifestação, a cargo da CGTP, de igual modo não desconhecia a crescente animosidade que Vital Moreira tem no país real, e foi totalmente imprudente e irresponsável. O dr. Vítor Ramalho, decerto obreiro desta baralhada, não fica bem na foto, mesmo que confesse a sua venerável paixão pelos trabalhadores. O sr. Vitalino Canas, a testada política do sr. Sócrates, lá apareceu ao público na sua habitual reclusão provocatória, lançando mais fogo na fogueira.
Entretanto, alguns curiosos "analistas" nas TV’s, num prosaísmo grosseiro, clamaram contra Carvalho da Silva, pelo que (não) disse, manifestando um retorno às velhas relíquias doutrinárias de antanho. A descrição deste espectáculo insano teve o seu auge numa diatribe de Carlos Abreu Amorim na RTPN, que o transformou, o que era um brilhante observador, num vulgar e trôpego comicieiro.
Esta inesperada feira, em pleno 1º de Maio, sugere que os tempos que vamos assistir vão ser de lodo e destruição. A degradação económica e política, a intolerância, a oratória pífia, impregnam os ares. Revolver as cinzas, é o que nos resta. Se ainda tivermos tempo!
quinta-feira, 30 de abril de 2009
O COLEGIAL FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS
Num curioso assomo corporativo, decerto a fazer jus ás palavras de "salvação nacional" vindas do Palácio de Belém, os srs. deputados da nação aprovaram uma revisão da "lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais" inqualificável. Ao que se diz, a sensibilidade desvelada pelos "camaradas" deputados da A.R. pela Festa do Avante (nunca faltámos, devemos dizer), fez nascer um afeitado humanismo e um desejo bravio de resolver (com inspiração legal) as doações voluntárias e as contribuições particulares feitas no decorrer da Festa e que são parte imprescindível das receitas de financiamento do P.C.P. Rezou assim a labita.
Esta habilidade altíssima dos srs. deputados é, no entanto, escandalosa. Que a seriedade (se alguma vez existiu) em travar a corrupção seja abalada pela medida agora tomada, não espanta vinda dos insuspeitos deputados do bloco central dos interesses. Mas que o sublimado diploma comova o grupo parlamentar do B.E., que pretende ser (e tem sido, goste-se ou não) uma reserva ética da nação, ao ponto de o aprovar, causa perplexidade e é incómodo. Tal facto significa que o atoleiro onde o país navega é demasiado profundo e já não tem solução. Que o B.E. não o tenha contestado é trágico. Ou terá chegado a vez do sr. Louçã dar uma de partido "sério" e respeitador do sistema? Era o que nos faltava, agora! Valha-nos, santo Marx!
CHRONICA ECHOLOGICA
O estado de espírito e a energia ambiental do Governo é de pasmar. Depois de prescrever contra-ordenações ambientais (2006) respeitáveis aos prevaricadores, na época acompanhada de uma ruidosa exaltação partidária, o sr. Sócrates – conhecido festivaleiro de questões ambientais –, numa rara sensibilidade humanitária, entendeu (via Conselho de Ministros) fazer "aprovar alterações ao actual regime de contra-ordenações ambientais".
Na aprovação da nova barrela oriunda do douto Conselho, teve-se em conta (em alumiada inteligência) os tempos de "dissolução" económica e por isso considera o sr. Sócrates ser a proposta a mais adequada "ao quadro socioeconómico do país, ajustando a punição à necessidade de não comprometer a subsistência de pessoas singulares e de pessoas colectivas de pequena e média dimensão". As coimas doravante a existirem, a extraordinária concepção dessa figura do "arrependido" ambiental (que aí se mendiga), retratam muito bem o espírito e o exercício de cidadania que o imprudente Ministro do Ambiente professa.
A ridícula argumentação recitada, em sede de Conselho de Ministros, revela uma notável falta de talento argumentatório, uma desconsideração ambiental repulsiva e é, acima de tudo, um insulto à inteligência de todos. Não há pachorra!
GRUPO CESARINY
"Em cima, da esquerda para a direita: Lima de Freitas, Mário Henrique Leiria, Eunice Muñoz, Fernando Alves dos Santos e Mário Cesariny de Vasconcelos. No plano inferior, da esquerda para a direita: Arthur do Cruzeiro Seixas, António Barahona e Diogo Caldeira"
Foto (1978) retirada, com a devida vénia, do espaço estimado de Alberto Castro Ferreira [Skocky ou outro mais "quando se acende a luz"].
sábado, 25 de abril de 2009
IN MEMORIAM DO 25 DE ABRIL
"Estamos no extremo ocidental de uma Europa gangrenada que teima ainda em conservar limpos os punhos e o colarinho, embora tenha podres nas meias e as cuecas estejam borradas de medo antigo, caca seca, agarrada aos Pirinéus, a montecarlos, montecassinos, urais ou andorras do báltico.
Estamos e continuaremos a estar até que a bomba rebente nos nossos tomates inchados, na goteira do sexo, nas moscas que teimam em disputar-nos a cerveja, nas putas que envolvem em dança os cromados dos bares de hotéis de gare.
Poârto ou Parises; Tomar ou Bruxelas; Leiria ou Malmo; a mesma merda.
Estamos quase a rebentar as costuras deste maldito soutien com que nos apertam as mamas da invenção; quase a rebentar as cuecas com que nos espartilham os caralhos da revolta. De pé, ó vitimas da Europa decadente! Nuzinhos até Trancoso! Com pezinhos de lã até Almeida!
Avançar assim, descobrindo novo discurso, importante porque me importa, também me faz bem, talvez te ajude, vos ajude, ajude afinal a acender o rastilho que vai fazer rebentar a bomba ..."
[Eduardo Guerra Carneiro, in Como não quer a coisa, &ETC, 1978 - sublinhados nossos, p. sim]
Jose Mario Branco - Menina dos meus olhos
EDUCAÇÃO - 35 ANOS DEPOIS
"...há convicção dos adultos de que a sua acção educativa é importante ... e é, não nego que seja mas não é tão importante pelo que eles dizem nem pelo que fazem, mas sobretudo pelo que eles são! É a autenticidade que é importante ... E também já aqui disse uma vez, numa destes conversas, que a arte de educar ou de ser educado, é a arte de fazer falhar a educação que nos foi dada ..." [João dos Santos, in rev. A Ideia, nº 38-39, 1985]
"A educação, desde os primórdios da humanidade, tem tido, quase sempre, como principal motivação a integração da criança no mundo dos adultos, tanto a partir da família como da religião e da escola e, por último, da sociedade, com os mais broncos a ditarem as normas, as regras e a moral que deverá enformar os despojados" [Ilídio dos Santos, in rev. Utopia, nº 23, 2007]
"A ideia de eternidade é a mais grosseira que um homem pode conceber a respeito dos seus actos (...) O principal drama afectivo da vida, a seguir ao perpétuo conflito entre o desejo e a realidade que se lhe mostra hostil, parece de facto ser a sensação do tempo que se esvai" [Guy Debord, Rapprt sur la constrution des situations, 1957, aliás, in rev. Utopia, nº 1, Abril 1995]
[ilustração de António Valério]
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A EDUCAÇÃO DO MEU UMBIGO
Quando a história da governação do sr. Sócrates na instrução e educação em Portugal se fizer (com rigor, seriedade e modernidade), o estudioso terá de consultar o excelente blog de Paulo Guinote. Os textos aí produzidos, as notas valiosas de investigação, as ideias e propostas enunciadas - em defesa da Escola e da Instrução Pública - constituem um contributo insubstituível para entender o sistema educativo, a dimensão "político-pedagógica do profissional da educação", a profissão docente e a sua autonomia face ao Estado e às corporações de interesses, nesse período.
Contra a demanda irresponsável e a hostilidade reaccionária dos sábios da 5 de Outubro (e dos seus patrulheiros), o acervo documental que nos facultou Paulo Guinote (e um extraordinário grupo de docentes, que aí se reagruparam) é uma fonte imprescindível para entender os jogos do poder político, os (des)propósitos sindicais e revela o espírito que "exalta a vida" (Vaneigen), nessa afronta que a memória não esquecerá. O aprofundamento com que todas as questões foram analisadas e contraditadas, à revelia daqueles que venderam a alma (pedagogos e especialistas em eduquês), aliada à participação colectiva de vasto número de profissionais livres e libertos, estabeleceu uma rede de histórias notáveis e de respeito. O campo educativo, que as cabeças intelectivas à ordem do sr. Sócrates formatou, deixou marcas profundas e irreparáveis.
A Educação do Meu Umbigo saiu em suporte de papel. Auspiciosamente! Para facultar os espíritos deformados, para reclamar o exercício da liberdade e ridicularizar grotescos experts, para manter a memória. Como tal, indispensável.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A TONSURA DESTES DIAS
Na chamada Blogosfera, a tonsura destes dias fez-se, por motivo de devoção, gorjeio & acabamento teorético, à volta da questão da trova & da "gramática" da sra. Fernanda Câncio. Isto é a produção jornalística com que a sra. tricota a pauta impressa no D.N. parece que incomodou uns tantos liberais, alguns sacerdotes que habitam no Expresso e outros prelados da objectividade da informação, dando origem a uma curiosa polémica.
A sra. Câncio, espírito que paira entre assuntos fracturantes e autoridade consultora do sr. eng. Sócrates & governo, e que não lemos por tédio e precaução anti-reaccionária, verteu insólitos (quanto persistentes) pensamentos que a matriz ética ou deontológica (não se sabe qual) não poderia permitir – ao que nos dizem. Invocando a existência de conflitos de interesses, com origem numa putativa relação privada, os fascículos saídos arrebataram os trovadores da Blogosfera e, pasme-se, até o Expresso, desse precoce sábio Henrique Monteiro.
O sedutor debate (e o dissenso) que se seguiu teve o seu esplendor neste curioso texto ("A democracia da suspeita"), que – passe o facto de confundir moral com ética e esta com deontologia – se subscreve, em parte. Mas, como talvez diria o dr. Pacheco Pereira (e bem!), "essa não é a questão fundamental". Porque, afinal, a prosa oratória da sra. Câncio só é perfeita (e consumida) por quem já está disso convencido. Os encómios aos seus textos "testiculares" surgem, curiosamente, da maioria de adeptos das tais causas fracturantes, que (sem inocência) trocam a melíflua nutrição da sua prosa, pretensiosamente radical, que lhes reverdece a alma e lhes adoça a vida privada, pela pouca original atitude de cedência face ao exame do poder autoritário e de pensamento único que tudo corrompe - e que sublimam para o dia de finados. Com ou sem declaração de interesses, a questão em debate não permite esquecer a ostentada (e medíocre) propaganda que se observa e é total. No resto, a converseta é estimulante e, até mesmo, imperiosa. Porque os tempos do jornalismo estão "feios" e a causa "corrompida pela língua", como diria Kraus. E assim o cremos!
CHICO BUARQUE
"Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência (...)
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse 'endereço de gente desclassificada', está o antigo cemitério onde jaz seu avô"
ler AQUI.
NESTE CANTINHO OCIDENTAL ... NADA DE NOVO!
Um cidadão aterra vindo da inquietada civilização, para lá dos mares, e neste cantinho que da Ocidental praia lusitana nos fita ... nada de novo se passa. A degradação social & política nesta paróquia, que vai afagando a inspiração e as "cabeças cúbicas" dos dirigentes (enquanto nos vão afivelando a mordaça), é tremenda. Por sua vez, a liça jornalística vai arrastando pitorescos linguarejares e admiráveis depoimentos, com que entretêm a canalha. O inventário desta desdita – mais que uma charada diligente, – é uma curiosa e astuta intenção de laboriosas gentes, sem nenhuma dignidade ou honra.
Alguns mimos que saíram por estes dias, são elucidativos:
- a crise da crise (sistémica, como se diz nos preliminares do economês) está para continuar, estremecida nesta "morte suspensa", que a arreata do dr. Constâncio e o prelo indulgente do dr. Teixeira dos Santos vai permitindo. Tais sábios, equiparados no intelecto, parecem que estão admirados com a intensidade da "coisa" e com os detalhes desse mau-olhado que atravanca esta nossa lojeca. Mas, de facto, o descoberto político que põem a circular, face ao estado depressivo da economia e aos desafios rápidos que se exigem, não passa de mera doutrina (de boca de palmo), num aranzel absolutamente desprezável. Para o governo e o dr. Cavaco, na circular que espreita a cada "santo" dia, a culpa é do comboio da crise. Para a oposição (!?), o folhetim da tragédia, está no parlatório dos amigos e (des)conhecidos do sr. Sócrates. Isto é, não fornicam nem saem de cima. Cremos nós, que a pateada (que tarda) deste povo de mansos credores é pouca para tanto ócio à solta e estreita para cobrir a fronte dessas luminárias. A bengalada, que a contradita exigia a toda essa gentinha abusada, não faz sementeira. Muita pena!
- na notável Europa (do fraco Barroso), quase sempre sem política global e coerente, a Economia é acima de tudo uma técnica e uma arte ("policy science"), que a realidade social contraria em abundância. Curiosamente, os paradigmas foram-se de vez, sem um único queixume. E nem mesmo os (agora convertidos) novos-keynesianos passam no "teste do mercado" e podem (rapidamente) "salvar o capitalismo dos capitalistas". Quem assiste aos inenarráveis estudos sobre a crise pelos modernos sábios convertidos à coisa pública, só pode sorrir ... de enfado! Afinal Marx manda sempre "lembranças". Por sua vez, na morada do sr. Obama a resposta (por duvidosa que seja) é diferente. Enquanto ali existe voz e comando único capaz (!?) de inverter o (im)possível, na Europa do dr. Barroso há lassidão, incúria e mediocridade. Não por acaso, o dr. Barroso foi de novo entronizado chefe dessa escola. Por cá e por essa extraordinária Europa.
- a continuada (e histórica) chantagem política sobre os cidadãos independentes, teima em persistir. Esta semana – ao que nos dizem – uns embargados "renovadores comunistas" reapareceram da longa noite socrática, esclarecendo o gentio de Lisboa da necessidade de advogar a causa comum da "esquerda". Num golpe de mágica, esses desastrados professos da "frente de esquerda”, pretendem viabilizar uma presumida governação da cidade de Lisboa pelo sr. António Costa, gnomo do sr. Sócrates. A opinião de tão "vasto" auditório intelectual – uns renovadores de qualquer coisa, mais a ínclita geração de sábios que vivem à custa do poder e uns tantos obscuros sujeitos – entende que o sr. Sócrates & Cia é democrático e até mesmo de "esquerda". O génio desta assombrosa convicção anda por aí. Pode ser que essa espinhosa missão tenha vencimento, porque a memória do gentio é curta e me(r)d(r)osa. Mas esse contorcionismo pouco sério - a fazer negócio - degrada a vida política e enterra de vez o que quer que seja que tenha (ainda) a voz, a inteligência e a frescura de esquerda. O desamor de uns tantos, não pode ser exemplo para a miséria de todos. Para esse peditório ninguém é arrastado com inocência. A memória não esquece.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
quarta-feira, 1 de abril de 2009
A ARTE DE FURTAR
"...Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei?
Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei?
Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo
Aqui d'El Rei!"
CATÁLOGO de ABRIL – Livraria Olisipo
Acaba de sair o Catálogo de Abril da Livraria Olisipo (Largo Trindade Coelho, 7, Lisboa), de José Vicente, com um conjunto curioso de Almanaques [Ponte de Lima, de Gotha], Álvaras Pombalinos, livros de Arte, História e Descobrimentos, peças de Literatura, Monografias, Revistas Literárias [Graal, Silex], Periódicos [Cerveira Nova, Panorama, Revista de Estudos Hebraicos, Revista Occidental], etc.
Consultar o Catálogo, AQUI.
terça-feira, 31 de março de 2009
NENO VASCO
"Acaba de sair a obra de pesquisa histórica, 'Minha Pátria é o Mundo Inteiro' do historiador brasileiro Alexandre Samis sobre o militante anarquista português Neno Vasco (1878-1920), um intelectual que actuou nos meios operários em Portugal e no Brasil com particular importância na imprensa sindicalista da época. Apesar da sua morte prematura destacou-se como um dos mais importantes militantes anarquista da sua época, sendo autor do livro 'A Concepção Anarquista do Sindicalismo'. Neste 90 anos de fundação da CGT e do jornal A Batalha [1919-1934] esta é uma contribuição ao conhecimento da história do anarco-sindicalismo em Portugal" [via Letra Livre]
"Minha Pátria é o Mundo Inteiro. Neno Vasco, o Anarquismo e o Sindicalismo Revolucionário em Dois Mundos", de Alexandre Samis, Lisboa, Letra Livre, 2009
PINTO MONTEIRO
O Procurador-geral da República, animando o debate político, arquivou uma vez mais assunto cuja grandeza (e gravidade) seria motivo de legítimo silêncio. Não resistindo ao vespeiro onde está metido e não sabendo ultrapassar as convulsões por que passa o sistema judiciário luso (de obra e graça do inegável Alberto Costa e seus antecessores), Pinto Monteiro satisfaz-se em esclarecimentos atribulados, num notável esforço de serenar os paroquianos. Jamais o Ministério Público foi tão adubado, como agora. As intervenções turbulentas a que se dedica, julgando alumiar o espírito do Ministério Público e restituir ordem à "casa", enfraquece a própria organização judiciária. Supremo paradoxo que em tudo sugere o sublime dizer do vate Camões:"um fraco rei faz fraca a forte gente".
O comunicado do sr. Procurador-geral da República não faz serenar os espíritos (por muito democrático que seja o patrulheiro Santos Silva), não garante a autonomia dos seus principais intérpretes e muito menos produz segurança aos cidadãos. Mais: a nova cruzada feita, diz muito sobre o estado da justiça em Portugal. Ao ameaçar com processos disciplinares magistrados e demais indivíduos, Pinto Monteiro cai numa trovoada pouco respeitosa. O caminho por que enveredou não é o melhor trilho. Até porque o que a Procuradoria-Geral da República devia esclarecer de vez, em respeito ao estado de direito e aos contribuintes, seriam as razões porque o processo Freeport esteve em banho-maria este tempo todo. E sobre isso não há nenhum tipo de comércio intelectual. Os cidadãos têm todo o direito a saber para onde vão os seus impostos e ao mesmo tempo avaliar o estado da justiça em Portugal. É essa satisfação que Pinto Monteiro não pode declinar. De todo!
domingo, 29 de março de 2009
TARCÍSIO TRINDADE
"Olha para o artista no andaime
A desenhar os frescos da gare marítima
Como se olhasse para uma igreja gótica.
- Menino, que tal lhe parece aí de baixo?
- Mestre, vou deixar a távola e a rima
E embarcar à aventura
Ser Bartolomeu em miniatura"
[Tarcísio Trindade, "António Tavares de Carvalho em Alcântara a ver trabalhar o Almada", in "Os Meninos e as Quatro Estações", Ed. Panorama, 1960 (aliás ed. fac-sim. da Livraria Campos Trindade, 2008]
Único e curioso livro de poemas publicado por Tarcísio Vazão de Campos e Trindade, ou Tarcísio Trindade, nos tempos idos de 1960 e agora em reimpressão, em justa homenagem, pelos seus filhos. Tarcísio Trindade é um dos mais estimados livreiros-alfarrabistas do país, sendo proprietário da famosa Livraria Campos Trindade (nº44, da Rua do Alecrim, Lisboa), agora dirigida por seu filho Bernardo.
Nascido em 1931, Tarcísio Trindade frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, foi antiquário em Alcobaça e seu Presidente da Câmara, desde 1969 até ao 25 de Abril de 1974. Perfeito gentleman, de rara intuição e cultura, deve-se a ele a "descoberta" [na Feira do Rastro de Madrid, Espanha, segundo o próprio] do precioso incunábulo "Tratado da Confissom" [impresso em Chaves em Agosto de 1489, e que antecipa de seis anos a "entrada da tipografia de língua portuguesa no nosso país", que até então era representado pela Vita Christi, impressa em Lisboa (1495) por Valentim Fernandes], a que se seguiu a sua posterior identificação (1965) pelo então jovem assistente da Universidade de Lisboa, José V. de Pina Martins, e venda [por Tarcísio Trindade e João Pires, em 1965] ao dr. Miguel Quina, tendo depois a Biblioteca Nacional adquirido esse exemplar único da nossa história tipográfica.
Tarcísio Trindade, ao avaliar pelo que nos é dito, tinha anunciado a publicação de uma obra sobre relojoaria antiga portuguesa e inglesa e outros livros de poesia, bem como (sabemos nós), através do estudo de documentos e livros provenientes da sua valiosa biblioteca particular (onde cabe uma preciosa cisterciense), tinha manifestado a vontade de assinar um estudo sobre o Mosteiro de Alcobaça e a Ordem de Cister. Não foi, no entanto, possível tão ardente paixão. Julgamos que a próxima homenagem que lhe for feita (e que será em breve) poderá esclarecer o interesse e a valia dessa entusiástica intenção. Aguardemos.
LIVRARIA MANUEL FERREIRA – 50º ANIVERSÁRIO
Há já alguns dias que recebemos o Catálogo da Livraria Manuel Ferreira, estimado livreiro-antiquário do Porto. Culpa nossa não o ter referenciado. Manuel Ferreira tem lugar primeiro no ofício das letras. A sua dedicação e amor aos livros – de que é um culto e devoto professo – vai mais além que o mero negócio tradicional, que abraçou e nos encanta. Os seus Catálogos, renovando a ilustre tradição bibliográfica lusa, evidenciam um saber pacientemente construído e um trabalho escrupulosamente organizado. Comemorou a sua prestimosa casa o 50º aniversário (1959-2009), servindo-nos com (mais) um admirável Catálogo. Por tudo isso e como testemunho da mais sincera gratidão, parabéns e o nosso obrigado!
quinta-feira, 26 de março de 2009
LEILÃO em PARIS – MOVIMENTO SURREALISTA
Amanhã (dia 27) em Paris (Hotel Drouot, sala 22) vai à praça um importante e valioso Leilão de raros livros, revistas, desenhos, gravuras, fotografias e manuscritos de temática dadaísta e surrealista, verdadeiramente notável e difícil de reunir. Estão representados quase todos os principais autores de referência, nas suas primeiras edições.
Consultar o Catálogo, AQUI.
terça-feira, 24 de março de 2009
LAMÚRIAS & DOR DE CORNO
Com a cultura de rastos, a economia em crise e a política à medida do carácter do sr. Sócrates, o regresso do assunto "futebol" vem mesmo perfeito de oportunidade. Melhor seria impossível! A tribo do futebol – que morre de ternura clubística todas as dias e alienação moral todas as semanas – sugere-nos sempre uma donzela virgem, fazendo beicinho. Mais, sempre sem engenho e muito mostrar de dentes, tem sempre um palavrório à medida da paróquia, principalmente se o assunto mete o seu extraordinário clube. Curiosamente, para o celerado adepto, tanto faz estar à frente do clube o sr. Santos Silva ou a Madre Teresa. Para o caso tento faz! Isso explica bem a qualidade de futebol que temos. E a democracia política onde vamos jogando.
Um clássico nas lamúrias & dor de corno é a rapaziada inenarrável do clube do horto d’Alvalade. Esta semana, levados (com muita oportunidade) pelo incompetente apito de Lucílio Baptista, espalharam um monumento de asneiras, um manguito de factos ridículos, uma opereta bufa.
A oratória desta semana esqueceu, para sempre, todos os casos (e foram muitos) onde o inapto sr. Baptista (e outros) atraiçoou a arbitragem. Esta peculiar dor de corno – muito enérgica, porque o futebol revelado em campo é fracativo – fez aparecer à opinião pública a figura grotesca de Soares Franco, enquanto o pescoço do sr. Pinto da Costa saiu do cepo e o discurso saloio de Filipe Vieira era depurado. A coisa, para estes honrados paroquianos & correligionários, é simples de narrar: um árbitro "ladrão" (versão Paulo Bento) vale mais que um "ladrão" de um banqueiro. Ou de um qualquer administrador de empresa pública. Ou, até mesmo, que o copioso delírio democrático do sr. Santos Silva.
Para o doente do futebol, o sr. Baptista "não tem qualquer tipo de condições para arbitrar em Portugal", mas todas as anteriores criaturas citadas, fazem falta à pátria. Nas próximas eleições (com arbitragem desse génio do apito que é o sr. Cavaco Silva) lá estarão todos a cumprir as regras do jogo. A bem da Nação!
segunda-feira, 23 de março de 2009
domingo, 22 de março de 2009
DON LUCÍLIO BAPTISTA
Teve bem Don Lucílio Baptista em terras do Allgarve. Por um lado, confirmou que, com ele no apito, os caceteiros que se metem com o Glorioso ... levam! Por outro lado, as vicissitudes por que passaram os nobres jogadores do SLB, cansados de serem sarrafeados pela "conversa" de Derlei & Amigos, mereciam um epílogo (literário mesmo, é só ler o que vai para aí nos blogs dos Sporteens) emocionante & chorado. Nunca gargalhámos tanto, desde que o sr. Vitalino Canas apareceu como porta-voz do sr. Sócrates. Parabéns Don Lucílio!
"A los toros
A los toros
A los toros
Derlei mata moros"
Encantador o refrão popular, ex-quisitamente cantarolado pelo gentio do sr. Pinto da Costa. Até o coloquial FJV (hoje em descanso de hooligan) foi chefe da banda. Não temos nada contra a troletada dos jogadores d’Alvalade. Mas quando um jogo de football é um desastre de bola, de táctica, de arte poética, e passa antes a ser um convite para trombadores, tipo general Derlei e essa cadeira dura que dá ao nome de Pedro Silva, faz falta (à malta) um Don Lucílio. Ôba ... se faz!
Quanto aos jogadores do nosso Glorioso, pois, para além de pensarem que o esférico é quadrado (e com muitas flores), não temos depoimentos a fazer. Apenas dizemos que Quim, cumpriu. Era isso que lhe competia fazer. O mais não era obrigado!
Boa noute!
sábado, 21 de março de 2009
RENÉ CHAR
"Pleurer longtemps solitaire mène à quelque chose"
"En poésie, devenir c'est réconcilier. Le poète ne dit pas la vérité, il la vit; et la vivant, il devient mensonger. Paradoxe des muses, justesse du poème"
"A asa do teu suspiro põe penugem nas folhas. O trago
Do meu amor fecha o teu fruto, bebe-o.
Existo na graça do teu rosto que as minhas trevas cobrem
de alegria.
Como é belo o teu grito que o teu silêncio me dá!" [d'AQUI]
TRANSPARÊNCIA
"nem pela voz da sombra da memória
nem diante das piteiras e das ilhas
nem sobre os quebra-gelos das vertentes
se deterá um momento o teu olhar
que humedece todos os lugares.
e hás-de seguir assim; os teus bisturis
afiarão as torres e os cumes,
as águas do oceano e as esquinas.
E fincadas tão fundo em tais espelhos
que há-de manar-te neve dos costados"
[Pedro Garcia Cabrera, Transparência Fugada 22, 1934]
CUSPIR O DIA da POESIA
"Juro
não tem auto-crítica
que me tire
as saudades
de uns tiros"
[Alex Polari, 1978]
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