domingo, 6 de maio de 2007


Engenheiros à moda da paróquia

"Festeja o almocreve / com banquetes, manjares desusados / frutas, aves, carnes e pescados"

Tome-se um raminho de engenheiros, limpos, novos e gordos, deite-se de molho para se lhe tirar o couro da Ordem e, sem ofender os ditos, enxugue-se num pano ácido. Cubra, de seguida, com pão ordinariamente ralado. Tempere-se com sal, ervas finas, pimenta q.b., uma cabeça de bom alho, uma capela de salsa, quatro cravos d'Abril e sumo de limão verde. Meta-se depois no espeto os curiosos engenheiros bem atados com barbante, pingando-os de quando em quando com a marinada feita, e estando bem assados passa-se pela peneira, juntando-se-lhes uma colher de culi, uma folha de lello, sumo de laranja azeda e um golpe de vinagre para engrossar o molho. Tendo tomado boa cor tire-se fora e sirva-se para o que se quer, com os ornamentos do costume. Chame-se o dr. Coelho para lavar as impurezas. Bom apetite.

Benfica: destruir ... dizem eles!

A equipa do Benfica arrasta-se, dolorosamente e melancolicamente, em campo. Como qualquer incipiente equipa, vegeta ao longo do tempo sem força física e anímica que se veja. Os últimos jogos confirmam (mas não seria só por eles) que o Benfica tem sido admiravelmente destruído. Não há paciência para, todos os anos, assistir à grosseria de ouvir dizer que "se vai (re)construir uma equipa", quando ela é, simplesmente, liquidada.

O inefável Presidente da instituição Sport Lisboa e Benfica muito contribui para esta faina paupérrima e degradante da equipa. Coleccionador de cacofonias para a canalha do peão sorrir de malvadez clubística, o senhor Luís Filipe Vieira, meio guerrilheiro de bancada meio palrador alucinado, devia respeitar mais os associados, os adeptos e a camisola do clube. E o seu grandioso passado! Mesmo que os saloios do velho 3º anel acreditem, e obscenamente assim acontece, o ensaio da tão putativa equipa-sonho confunde qualquer observador de futebol não-fundamentalista. Aquilo não é uma equipa de futebol. Quanto muito um alegre grupo excursionista que em horas varonis dá uns pontapés numa bola.

O sábio engenheiro (não inscrito na Ordem) Fernando Santos, singular escolha do sr. Vieira, é a miséria das misérias nativas. Aluno megalómano da excêntrica táctica do triângulo invertido, não conseguiu nunca entender para que serve aquilo. Descaradamente, o valor da história que lhe venderam é nulo. Pior que isso! É que a equipa ficou, de vez, sem aquilo que os mais tradicionais chamam de meio-campo e sem qualquer ligação entre sectores. A menos que essas minudências tenham desaparecido da prática de futebol, pode-se afirmar que como organizador e treinador de equipas de futebol o eng. Santos presume que dá cavadelas na relva mas não apanha minhoca alguma. A obra do eng. é completa, soberba e eficaz para acabar de vez com um grupo de trabalho. O dr. Artur Jorge, ao pé dele, é um principiante. Erudito, bem entendido. Mas principiante! Decididamente.

Sigmund Freud [n. 6 Maio 1856–1939]

"Ah!, como estas coisa são ditas / em termos freudianos!"

"Se a lei é primeiro que tudo informada por um conjunto de princípios morais, estes representam uma espécie de genitalidade da moral que é sustentada e imposta para indicar uma modalidade de contrato com o qual a lei e os corpos devem ter uma relação (...) O ideal da pessoa é o que sobretudo a instituição quer conformar; mas como o ideal envolve portanto uma dimensão especulativa (no duplo sentido); concerne por isso o espelho. Produzir sósias é, de facto, para a instituição o ideal absoluto, divino (…) A 'pessoa' é pois constituída como carecida, imperfeita e por isso instituída numa falta de submissão à lei”" [Giancarlo Ricci]

"Deus é a mulher tornada inteira" [Lacan]

"A fala, o canto, os movimentos da língua e da pena estão investidos de um simbolismo genital: a palavra representa o pénis e o movimento da língua ou da pena, o coito" [Didier Anzieu]

"O caralho pequeno, a cona frígida, o pénis-clitóris, a família assassina, os amigos canalhas: se tivesse sido diferente, teria sido possível ter! E ter-se-ia conseguido falar: ver tudo aquilo que ninguém tem, a que ponto somos todos idênticos na privação e na 'infortúnia', como cabe a cada um o mesmo mortificante baralho de cartas viciadas, graças à qual já ninguém se dá conta daquilo que realmente vive, ou poderia viver segundo a paixão incarnada, desejo concreto, vontade de se realizar. Em vez disso, contempla-se esfomeado a imagem do Outro magnífico, imensamente profuso de tudo aquilo que nos falta. A isso, pelo menos, e já é muito, sabem os amantes escapar efemeramente. Se eles se olham, é porque sabem ver-se. Desejam-se, logo reconhecem-se. Desiludem-se, logo sabem o que procuram. Odeiam-se, logo sabem que não bastam a si próprios" [Giorgio Cesarano]

sábado, 5 de maio de 2007


Cidade Proibida – Eduardo Pitta

No dia 16 de Maio, pelas 18,30 horas na FNAC do Chiado, será o dia (há muito esperado) do lançamento do romance de Eduardo Pitta [Da Literatura], "Cidade Proibida", sob a chancela da QuidNovi.

A apresentação estará a cargo do escritor Fernando Pinto do Amaral.

A não perder.

In-Libris - Catálogo de Maio 2007

Catálogo da In-Libris (Porto), com um conjunto de peças mui estimadas de Adolfo Casais Monteiro, Al Berto, Alberto Pimenta, Álvaro Ribeiro, Alexandre O'Neill, Ana Hatherly, António Ramos Rosa, Ferreira de Castro, Fiama Hasse Pais Brandão, Helder Macedo, Herberto Helder, José Cardoso Pires, José Gomes Ferreira, José Régio, José Rodrigues Miguéis, José Viale Moutinho, Manuel Bandeira, Manuel da Fonseca, E. M. Melo e Castro, Mendes Corrêa, Natália Correia, Óscar Lopes, Paulo Quintela, Revista Oceanos (vários numrs), Urbano Tavares Rodrigues, entre outras obras.

A consultar on line.

terça-feira, 1 de maio de 2007


A Cantiga é uma Arma – G.A.C. Vozes na Luta

"Levai a má consciência que afirmais eu ter para a barricada que frequentais e aquecei com ela, amigos, o pequeno-almoço auroral das vossas boas consciências" [Alexandre O'Neill]

Estamos em tempo de saudosismo neste "país em diminuitivo". Viemos de outras estórias que a idade (ainda!) não larga, até porque regressa o presuntivo responso que o "respeitinho é que é preciso" [evidentemente ... O'Neill]. Mas há gente que não se esquece. Não queriam mais nada? Na certeza que os novos "conquistadores de almas" fazem o coro da criadagem da governança, muito ao jeito de "uma casa uma janela, fazer contas dentro dela" [Salazar citado por O'Neill], daqui, neste 1º de Maio de 2007, vos oferecemos

para esta viagem aos bocados, "uma sílaba, um conselho, um cigarro", uma canção de tempos imemoriais

A Cantiga é uma Arma - G.A.C. & José Mário Branco

Boa noute!

Vamos mudar isto

"Isto está insuportável. A nossa sociedade está irracional, barbarizada, desumanizada. E isto é o nosso olhar de intelectuais. Mas depois começamos a pensar nas pessoas que estão mesmo mal, naqueles olhares que vemos no telejornal, aqueles que ao fim de trinta ou quarenta anos de trabalho vão para casa sem nada, apenas com um casaco nas mãos (...) isto tem de ter uma leitura política qualquer (...) Isto não serve. Não tem nada a ver com os valores da humanidade, tanto a nível quotidiano como global. O capitalismo está a destruir famílias, pessoas, comunidades ['é para repetir os horrores do passado?'] não. Então o que é? Não sabemos. Temos é que tentar. Ir buscar aquilo que houve de mais válido nas ideias e nos sonhos transformadores do passado, ver o que estragou aquilo, e conseguir um novo caminho (...) Mudar de vida"

[José Mário Branco, Vamos mudar de vida, in Ípsilon-Público, 27/04/07]

segunda-feira, 30 de abril de 2007


A intensidade da vitória

"Vitória é aquela vez em que a gente não perdeu" [Millôr Fernandes]

Amarga vitória dos andrades no campeonato de futebol! Triste e natural fim da lagartagem! Má sina a nossa, ó camaradas do glorioso!

O desaforo e fanfarronice dum miserável presidente do SLB, que escolhe tão fracativos jogadores e professa tão estulto treinador; o comando sem génio, firmeza estratégica, técnica e física desse cérebro mirrado que dá ao nome de eng. do Tenta; a intensidade pérfida do "triângulo invertido" do bronco Fernando Santos (a novidade táctica insultuosa dos indígenas treinadores lusos); o ruído proferido pelos vassalos falantes da Sport TV ao longo do jogo do Benfica-Sporting e de todos os outros, que é um study-case indígena só comparado ao espírito varonil do dr. Santos Silva em defesa do retorno do exame prévio; a inútil polémica sobre a putativa intensidade do toque faltoso do lagarto Caneira sobre Miccoli (as regras da arbitragem nunca se cumprem, aliás como tudo neste delicioso país) ou, ainda, a "ceifa" feita em Karagounis que o oficial do exército (que não árbitro, que é uma outra coisa) Pedro Henriques não puniu devidamente; os comentários desbragados, virtuais e doutrinários do Bruno Prata - o oráculo do sr. Pinto da Costa em terra dos Andrades; tudo isso exalta e, ao mesmo tempo, amansa qualquer adepto de futebol.

O mundo do futebol doméstico é uma merdice, tais os dotes que todas essas figuras ostentam. Os manguitos a esses cavalheiros, que ainda se podem fazer (thks! ó comissário Santos Silva), são o único orgulho que nos resta. Porque o futebol, ó meus amigos, o sublime futebol ... está a circular lá fora. Não há pachorra para estas lambugens pátrias e para a perda de tempo desta curiosa mentira, que é o futebol nativo. Há mais vida, mesmo que menos perfeita, para além do futebol. Trate disso, ó leitor!

domingo, 29 de abril de 2007


Leilão de uma Biblioteca - 7, 8 e 9 de Maio

Biblioteca de um Historiador do Livro (Parte II) - eis a continuação do leilão (de um total, presumivelmente, de cinco) do que dissemos ser "a copiosa [e valiosa] livraria de um dos ‘mestres’ da história do livro e bibliófilo alumiado, o dr. Artur Anselmo". Vale a pena reler o que em post anterior referimos.

O leilão desta II Parte decorre nos dias dias 7, 8 e 9 de Maio, pelas 21 horas, no Amazónia Lisboa Hotel (ao Jardim das Amoreiras), e estará a cargo de Pedro Azevedo, conceituado leiloeiro e profundo conhecedor da actividade do livro antigo, que, como sempre, apresenta um distinto e estimado catálogo.

Algumas referências (I Sessão/noite): Academia dos Singulares de Lisboa, 1692-1698, II vols / Acção Realista: revista quinzenal (monárquica), nº 1 (22 de Maio de 1924) ao nº 32 (Outubro 1926), 32 numrs / Almanach isrealita ‘Meoded’ para o anno 5677 (de 28 Setembro de 1916 a 16 de Setembro 1917), publicado por Samuel H. Mucznick, Hazan da Synagoga ‘Shaaré Tilvá’, Schojet e Mohel do Comité Isrealita de Lisboa, 1916 / Almanaque, publicação mensal, sob dir. J. A. de Figueiredo e or, gráfica de Sebastião Rodrigues, Outubro 1959 a Maio 1961 (col. O'Neill, Cardoso Pires, Vasco Pulido Valente, Stauu Monteiro, Baptista Bastos, Abel Manta, Sophia, etc.), 20 numrs / Os Gatos, de Fialho de Almeida, 57 numrs (Agosto 1889 a Janeiro 1894) / Alvorada: revista litteraria mensal, dir. Paulo Osório, 1896, 3 numrs / Adolescente, de Eugénio de Andrade, 1942 / Annona ou mixto-curioso. Folheto semanal que ensina o methodo de cosinha e copa, ..., nº1 a nº 36 (1836 a 1837), 35 numrs (total 36) / Cartas Espirituais do venerável padre Frei António das Chagas, 1762, II vols / Aqui e Além: revista de divulgação cultural, dir. Carlos A. Dias Ferreira, nº1 a nº5 (Março-Abril 1945 a Outubro 1946), V numrs / Archivo Pittoresco: semanário illustrado, vol I a vol Xi (Julho 1857 a 1868), XI vols / Arte Livre: revista semanal de arte e literatura, dir. Azevedo Coutinho, nº1 a nº6 (1897), 32 numrs [Queirosiano] / A Arte, dir. A. de Sousa e Vasconcelos, volI a vol III (Jan. 1879 a Set. 1881), III vols [Camiliano] / Arte & Vida: revista d'arte, critica e sciencia, dir. Manoel Sousa Pinto e João Barros, 1904-1905, 9 numrs (compl. 10) / Arte: revista internacional, dir. Eugénio de Castro e Manuel Silva Gayo, 1895-1896, 4 numrs / O Atheneu artístico-litterario: gazeta illustrada, dir. Ferreira de Brito, 1880-1881, 52 numrs / O Bardo: jornal de poesias inéditas, Março 1852 a Março 1854, 25 numrs / Bibliotheca familiar, e recreativa offercida á mocidade portugueza, 1835-36, 38 numrs / Boletim da Casa de Camilo (III primeiras séries completas), 1964-1988, 64 numrs / Conjunto Obras de António Botto / Monarchia Lvsitana (todos os volumes da 1ª ed.), de Frei Bernardo de Brito e Frei António Brandão / Flora Lusitanica, de Félix de Avelar Brotero, 1804, II vols / Vida de Dom Frei Bertolomev dos Martyres da Orde dos Pregadores, por Frei Luis de Cácegas, 1619 / Cadernos de Poesia, org. Tomaz KIm, José Blanc Portugal, Ruy Cinatti, 1940-42, 5 folhetos / Cadernos do meio-dia, coord. António Ramos Rosa, Casimiro de Brito, 1958, Faro, 3 numrs / Rimas Varias de Luis de Camoens, 1685-1689, V tomos / Cancioneiro de Ajuda, ed. Carolina Michaelis Vasconcelos, 1904, II vols / 37 Obras [invulgares e raras] de Camilo Castelo Branco / Catálogo do I Salão dos Independentes ..., 1930 / Chronica constitucional do Porto (nº1 a nº144; e nº 1 a nº308), 1833 [órgão oficial do exercito liberal) / A Cidade de Évora: boletim da Comissão Municipal de Turismo de Évora, 1942-1987, 70 numrs / Lendas da Índia, de Gaspar Correa, dir. Rodrigo Felner, 1858-64, IV vols / Almocreve de petas, de José Daniel Rodrigues da Costa, 1797-1819, 137 folhetos / várias Obras [folhetos, contos, rimas] de José Daniel Rodrigues da Costa

quarta-feira, 25 de abril de 2007


25 de Abril de 1974 ... a palavra ...

"A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques: temos de semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba na tua boca
"

[Eugénio de Andrade]

terça-feira, 24 de abril de 2007


Catálogo Bibliográfico 15 da Livraria D. Pedro V

Saiu o Catálogo Bibliográfico do mês de Abril da Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16 - Lisboa).

Algumas referências: Conjunto de livros estimados de António Botto [Cvriosidades Estheticas, 1924 - Cartas que me forma devolvidas, 1932 - Alfama, 1933 – Ciúme, 1934 - Dar de beber a quem tem sede, 1935 – Sonetos, 1938 - Baionetas da morte, 1936 - 9 de Abril, s.d – Não é preciso mentir, 1939 – Motivos de belleza, 1923 - Isto sucedeu assim, 1940] / Poemas e Fragmentos, de Bertold Brecht, Coimbra, 1962 / A Grande Opção: servir ou destruir Portugal, por Marcello Caetano, 1973 / Amor e Melancolia ou a Novíssima Heloisa, de António Feliciano de Castilho, 1828 / O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, Cervantes, 1876, II vols / A Cidade Queimada, de Mário Cesariny Vasconcelos, 1965 / O Minho Região de Beleza Eterna, por José Crespo / Trovas de Coimbra, de A. Gonçalves Cunha, 1931 / Estática e Dynamica da Physionomia, por Júlio Dantas, 1909 / Oiça António Ferro, por Artur Inês, 1933 / À Lareira, de Júlio César Machado, 1872 / A Vida Sexual, de Egas Moniz, 1904 / Mundo Português. Imagens de uma Exposição Histórica, 1940 / Passagem de Nível, de Sidónio Muralha, 1942 / , de António Nobre, Lisboa, 1898 / Las Razas Humanas, por Federico Ratzel, 1888, II vols / As Encruzilhadas de Deus, de José Régio, 1935 / Vasco Fernandes e os Pintores de Viseu do Século XVI, 1946

segunda-feira, 23 de abril de 2007


Dia Mundial do Livro

Antena 1 - Francisco José Viegas sugere-lhe um Livro, hora a hora.

Em Lisboa: Casa Fernando Pessoa [MegaSaldos] / Dia Mundial do Livro na Hemeroteca Municipal de Lisboa [livros e periódicos à venda] / Lisboa Cidade do Livro [ver programação aqui] / Feira do Livro

[via Mundo Pessoa]

sexta-feira, 20 de abril de 2007


III República - 33 Anos depois do 25 de Abril

A Alma Republicana passa também, como não podia deixar de ser, pelo retrato da III República, que o 25 de Abril de 1974 abriu. Não é possível esquecer essa aurora do céu português, que mulheres e homens durante longos anos, com ânimo, esperaram. E foram muitos que, contra o medo e a tirania, conspiraram e lutaram. Alguns deles não viram chegar esse "dia inicial inteiro e limpo", como Sophia pronuncia, mas ficaram para sempre na história colectiva da República. Outros entraram pelo 25 de Abril dentro, com alegria, ilusões e utopias. De diferentes condições sociais e distintas matizes políticas, com sorrisos e percursos ideológicos diferentes, as esperanças de Abril dominaram todos nós. Com entusiasmo, incerteza, revolta, desilusão, tragédia e dúvidas, o caminho feito por cada um de nós, e por todos, a memória não pode nem deve esquecer.

O Almanaque Republicano, a partir de agora, pretende recuperar factos e acontecimentos esquecidos, personagens, grupos e organizações que atravessaram e suportaram o período do Estado Novo até à III República, recolhendo do passado os ventos que a "Revolução de Abril" de 1974 sacudiu. 33 anos depois, temos muito que conversar. 33 anos depois, temos muito para lembrar. Que assim seja.

[via Almanaque Republicano]

Tem dor e tem puta - Mário Cesariny, ed. Biblarte, 2000

O Leilão anunciado por nós aqui e que pode ser consultado on line, apresenta cada vez mais fotos e imagens das peças que vão estar à venda. E algumas são de excelente qualidade, como aquela que, acima, atiramos sobre as vossas cabeças. Mário Cesariny ao V. dispor.

O Leilão terá lugar dia 12 de Maio, às 16 horas, no Centro Cultural de Belém, sala Vieira da Silva. Tome nota. A não perder.

Até tu ... Soares!

O dr. Mário Soares, o original Mário Soares que o bom siso (antigo) louva, não precisava de ser o "bombeiro" do actual grupelho socialista. Retirado estava, virtuoso ficava. Nem devia participar numa peça velha e por demais gasta, de misantropia partidária e ímpeto evangélico, invocando, sem discernimento algum, personagens tão diferentes entre si – em carácter, robustez ética e intelectual - como Ferro Rodrigues e José Sócrates. As palavras proferidas, aqui, presumidamente irreflectidas, transformam doravante o PS num imenso vaudeville, em que deploravelmente o dr. Soares ombrearia, lado a lado, com o inefável Jorge Coelho em actor principal, os manos Sócrates & Silva Pereira como excelentes debutantes, a inenarrável criatura dos brados José Lello como palrador e José Junqueiro, o homem dos raids ministeriais, como empresário. O dr. Mário Soares estará, talvez, desgastado. Mas convinha não abusar do enorme capital que granjeou e não desbaratá-lo entre gente pouco recomendável. Senão caímos no eterno problema da democracia: "é que quando o povo toma o palácio esquece-se sempre de puxar o autoclismo" [corrigenda de uma outra de Millôr Fernandes]. Não há vaidades transparentes. O dr. Soares devia sabê-lo.

segunda-feira, 16 de abril de 2007


Gustave-Henri Jossot (ou Abdul Karim Jossot) [n. 16 Abril 1866–1951]

Nascido em França, Gustave-Henri Jossot foi um ilustrador famoso, caricaturista virulento e escritor. Ideologicamente perto do anarquismo, participou em importantes revistas satíricas (como L'Assiette au beurre, 1900) e libertárias do seu tempo. Vai para a Tunísia e aí converte-se (1913) ao Islão, [adoptando o nome de Abdul Karim, no que foi entendido como «une réaction de l’âme contre la civilisation mécaniste»] tendo mais tarde (1923), e como resultado do seu individualismo contemplativo, seguido a corrente sufista (mística). Morre na Tunísia em 1951.

Locais: Gustave-Henri Jossot / Gustave-Henri Jossot (1866-1951) / Islamic Anarchism

A biblioteca particular de Calouste Gulbenkian

"Como se sabe, não sou um bibliófilo especializado, e nunca me aventuraria a comparar a minha aptidão e os meus conhecimentos aos seus, mas sou infalivelmente atraído por toda e qualquer expressão de arte e beleza, e esta atracção sempre me inspirou relativamente a todas as secções da minha colecção"

[Calouste Gulbenkian, Carta ao antiquário Marinis (Florença), Junho de 1948, in Retrato do bibliófilo, Expresso-Actual, 14/04/2007]

No dia 19 de Abril, o site da Biblioteca Particular de Calouste Gulbenkian será inaugurado. Ler aqui.

sábado, 14 de abril de 2007


Uma questão de Carácter

"O político tem como o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a caça" [L. A. Palmeirim]

A laboriosa carreira política do eng. Sócrates, pelo que se ouve e lê, estaria, segundo alguns iluminados, para continuar. A delicada questão da sua putativa via académica, inevitavelmente nunca existiu. É o que redizem por aí, em santa harmonia, modestos comentadores, o esculápio Menezes, dois ou três puristas de estratégia, o dr. Coelho e o cintilante spin doctor Luís Paixão Martins. Aliás o eng. Sócrates está aqui para nos salvar do mal, que como se sabe é impetuoso e infame. É assim no martírio da educação ou no festim do choque tecnológico, com ou sem OTA e TGV, entre o enrugado SNS do altíssimo dr. Campos ou no virote do castigado défice. Os aplausos do raminho afamado de politólogos do reino, em trechos enturvados de emoção, são o melhor momento deste Portugal perfeito.

Portanto, os amotinados da coisa pública, entre uns petiscos vulgares para correr o fastio da iteração do dizer político, regressam rápido, de régua e esquadro na mão, aos cenários masturbatórios da análise estadística. Não espanta, provavelmente, que nenhuma barrela política, que muitos com excessiva ingenuidade aguardam há muito, tenha lugar. Os sábios colunistas não o permitiriam, o indizível júbilo da canalha não consente e, mesmo, a PGR parece que não engendra desacato algum em toda esta história. Deste modo, questões como o "carácter", a "credibilidade" e a "confiança" do primeiro-ministro de um país europeu, não vêm ao caso. Há é que governar!

Este curioso prenúncio atesta bem como Portugal - o país mais atrasado de todas as Europas - está sujeito não só às epidémicas palavras do conciliábulo da classe dirigente ou dos seus patronos, como ainda se solidariza com o ludíbrio dos profissionais da política. A civilização nativa é uma lamúria episódica. Como o carácter ou a sua falta. O resto, sim o resto, é que nunca é uma perda de tempo. Salvé nobres cidadãos!

quarta-feira, 11 de abril de 2007


In-Libris - Catálogo Extra Ecologias Abril 2007

Curioso Catálogo da In-Libris (Porto), todo ele dedicado à temática da terra e da vida, com estimados e há muito esgotados livros de agricultura, botânica, zoologia, medicina tradicional, ciências naturais, alimentação e receitas caseiras, etc.

A consultar on line.

segunda-feira, 9 de abril de 2007


Mariano Gago e o caso Unigate

Um animado Mariano Gago consumiu a sua (há muito esperada) conferência de imprensa com factos confusos quando não obscuros e proclamou aos indígenas, sob uma encantadora indignação muito fora de prazo, um provisório encerramento compulsivo da Universidade Independente. A vexatória questão Unigate, a desvergonha do funcionamento (financeiro, curricular e pedagógico) daquela instituição de ensino privado e a solenidade do acto público, assim o exigia. Muito bem.

Porém, mesmo que a imaginação de quem respeitosamente o ouviu seja piedosa, parece que as piores das circunstâncias permanecem. O formidável trabalho de expurgação sobre a situação irregular da Universidade Independente, levado a cabo pela conferência de imprensa de hoje, e, do mesmo modo, a clarificação sobre o balbúrdia que foi a Universidade nos tempos idos de 1995/1997, rendeu muito pouco. A vassourada de Mariano Gago não foi higiénica, nem produziu efeitos. A questão, longe de se dissipar, permanece e agrava-se mesmo, tais as contradições presentes e, principalmente, a repugnante ousadia do Ministro em defesa de um ensino sem qualidade sustentado em certificados ou no esperançado canudo, sem que se prescreva a necessidade de esforço, de trabalho, de rigor e validade científica e pedagógica. E, aqui, reside a questão central em todo este caso Unigate. Aliás, pode dizer-se mesmo, de todo o ensino privado e público, do básico ao secundário, do superior ou cooperativo.

Não nos ocupamos, pois, do caso da credibilidade (ou não) do senhor primeiro-ministro, por muito respeitosos possam ser os admiráveis argumentos de Mariano Gago ou mesmo se tal provoca qualquer "regozijo" na canalha partidária. Convenhamos, apenas, que o discurso utilizado por Mariano Gago não é rigoroso nem justificado. Bastará referir a necessidade da existência de um continuidade curricular e pedagógica numa Universidade recém aberta (o que não se verificou entre 1995/97) e atender ao facto que as irregularidades existirem há muitos anos atrás, sem que o controle por parte da Inspecção-Geral da Ciência e do Ensino Superior tenha detectado qualquer falta séria.

Assim, o facto de a UNI passar, de um momento para outro, de uma instituição a funcionar normalmente para registar, depois, um "calamitoso" e "lastimoso" estado de degradação, só ornamenta a frontaria de quem quer. O que é evidente é que uma Inspecção Geral de Ensino que está dependente da tutela, por muito que os senhores inspectores consigam a proeza de terem estatuto de independência e autonomia, não pode apresentar nunca o vigor e a energia que se pretende e que, eles mesmo, exigem e aspiram. Saber que na velha Inglaterra a inspecção de ensino está afecta à Rainha, fora do compadrio partidário e da caridade política, diz muito e explica, também por aqui, a situação do ensino e da educação na paróquia. Vai-se seguir tal exemplo de idoneidade, ou irá continuar esse sentimento de indiferença e de imoralidade? Que o diga Mariano Gago, se para tal estiver interessado.

Homenagem a Adriano Correia de Oliveira [n. 9 Abril 1942 -1982]

"Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema ...
"



Hoje, dia 9 de Abril, na data de nascimento de Adriano Correia de Oliveira e em sua homenagem, a Câmara Municipal da Marinha Grande promove uma sessão, exposição e espectáculo musical à sua memória. Ao cantor e, principalmente, ao excelente homem que foi, e hoje muito injustamente esquecido, será feito o devido e justo reparo. Finalmente.

Leilão Amadeo - fotografias, livros, etc

Sob direcção de Luís & Bernardo Trindade (Lisboa) irá decorrer no dia 12 de Maio, pelas 16 Horas - no Centro Cultural de Belém - um Leilão de Fotografias, Livros e Equipamentos vários, sob o nome de Amadeo [de Souza Cardoso], com peças de grande valor e estimação. A não perder.

Pode consultar aqui, dentro de dias, o belíssimo e esmerado catálogo do leilão, que não pode passar despercebido. Um encanto, por demais. Tome nota.

Luiz Pacheco: entrevista ao Correio da Manhã

"Os óculos pesam nos olhos que cegaram. À cabeceira, o jornal 'Avante' e um livro de José Gomes Ferreira não são bibelôs, mas companhias. Luiz Pacheco, criatura de inteligência rigorosa, de lucidez sobrenatural, um livre pensador que disse e diz coisas que não são fáceis de serem ditas, está preso a um cadeirão, tem o robe vestido, o aquecedor ligado e uma manta para o frio não lhe magoar o esqueleto. Nasceu em Lisboa, na Rua da Estefânea, a 7 de Maio de 1925, pai de oito filhos - frutos de muitos amores, na vida escolhida, que foi dura por prazer, só fez o que bem entendeu (...)

- Oh miúda, eu já li muito. Nem queira saber o que eu já li. Agora é a minha filha que me lê os artigos de jornais e algum livro que eu queira ler. Ocupo o raio do tempo a ver a RTP Memória. Estou a ver coisas que nunca tinha visto. Como por exemplo, o Júlio Isidro, o Zip-Zip. Gosto de ver velhadas. (…)

[O melhor aluno do Liceu Camões gosta de velhadas...] - Não me faça rir. Mas fui o melhor daquela malta toda. Entrei em 1936 e fiquei lá oito anos. Sentava-me sempre na carteira da frente, porque os meus olhos já eram dois sacanas. O avô desse tipo chamado Eduardo Prado Coelho foi meu professor. Nós cagávamo-nos no gajo.

[Quando é que funda a editora Contraponto?] - A editora começou a funcionar em 1951, logo depois do primeiro número da revista. Nasceu no ensaio de uma terceira via e só tinha um critério: os gajos do Estado Novo não podiam entrar. Vivia um bocado à mercê do facto de eu e o Jaime Salazar sermos amigos. Quando foi publicado o 'Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano', de Mário Cesariny, o Jaime ficou f. Pensava que a editora era só para ele. Mais tarde, o mesmo aconteceu com Cesariny, quando Herberto apareceu. Razão tinha o Gaspar Simões em chamar-me 'O sacristão do Surrealismo', por publicar aquela gajada. Não faz muito tempo, vendi a editora à irmã do Manuel Alegre por um preço de m..

[Era amigo de Cesariny?] - Essa pergunta traz água no bico. Dizem que nós éramos amantes. Um disparate. O gajo não fazia o meu género. Eu nunca tive a mania de Paris. Ele tinha.

[É autor de muitos livros, mas nunca escreveu romances] - Porque é preciso ter disciplina. Mas não é como escritor que posso ser importante. Se me perguntarem da minha importância é como editor. Editei muitos livros que eram muito baratos. Tinha bons autores, Raul Leal, Natália Correia, António Maria Lisboa, Herberto Hélder, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny. Jamais editaria, por exemplo, o Fernando Namora. Ele era um aldrabão. Ou o José Agualusa, que não escreve nada. É um pateta alegre.

[O que nos diz dos políticos?] - São uns m. Comparados com eles próprios. Aquela que foi ministra das Finanças era uma tipa séria, mas era cá um camafeu.

[Gosta do José Sócrates?] - Quem é? Não o conheço.

[Mas gosta de Pedro Santana Lopes?] - É um 'bom vivan'. Não deixou obra nenhuma, mas sabe viver. Andava nas discotecas e estes gajos – o pequeno, o gajo que é quase anão – fez-lhe a folha. O Santana é um senhor. Gosta das noites. E bebe o seu copinho. Eu deixei de beber há uma semana. Ao almoço bebia vinho - tinto, pois está claro. Quando se fala em vinho fala-se em tinto.

[O País reconhece as pessoas?] - Não podemos falar de um só País. De Lisboa ao Porto existem dois países ou, talvez, existam quatro países em Portugal. Por exemplo, o Mário Soares, quando era Presidente da República, deu-me 650 contos. Uma vez, no Chiado pedi-lhe 20 paus emprestados. E ele deu-mos. Este presidente, o actual, que tem aquela cara, não me deu nada.

[Vive de alguma pensão?] - Tenho um subsídio de 120 contos, graças ao Alçada Batista. E também ao Balsemão, que teve a feliz ideia de inventar o decreto do mérito cultural. O Santana despachou um decreto que favorece pessoas que estão na minha situação. Mas não é por isso que gosto do rapaz. O tipo sabe o que é bom. O que é bom para mim são umas garotas, que vêm cá de manhã para me fazerem a higiene. Não é mau"

[Luiz Pacheco entrevistado por Miriam Assor, in Correio da Manhã, 8/04/2007 - sublinhados nossos]

sábado, 7 de abril de 2007


Momento de vacationes

Andamos em trovas, antigas e modernas, de forma dialogal e sem apetites doutrinários. O nosso affaire é semear o olhar e a depravação. Entre um tinto barroca, bem feminino por sinal, que é uma intemperança de malvadez, copiosas livrarias de uso beneditino, os jogos do Glorioso superiormente temperados por receitas que nenhuma pragmática pode castigar, duas ou três postas no Almanaque, eis que a nossa vidinha é esta: "sem ter pátria, nem lei". O vate Gomes Leal sabia-o bem! São, pois, os nossos exercícios pascoaes de imensa validade, ou não fôssemos "um profissional de velhas gerações" [Nelson Rodrigues dixit]. A coisa, de tão admirável se descobre, faz-nos revigorar.

Estamos assim afastados das confecções levadas a cabo pelo ilustríssimo dr. Santos Silva, o novel evangelizador socrático e do escarcéu da Universidade Independente (ou, do mesmo modo, da converseta do falso lento Zé Mariano). E embora nos custe conferir o que em tempos foi o legítimo Santos Silva (idem para o Mariano) e descobri-lo, agora, arrastando-se em lastimoso dever de obediência censória e de notório mau gosto, recusamos, por ora, produzir qualquer prancha. As nossas transacções, como se nota, são inocentemente limpas. Porque, afinal, "o mais do azar / É Salazar / que sabe de palavrinhas mansas / e não consta que faça hipoteca" [mestre Vespeira, ele-même]

Terminamos, enviando ao futuro Ilustríssimo Senhor Director da Divisão de Censura & Diversões Públicas do Governo, com a devida vénia, e para os nossos prudentes ledores

Tom Zé - Requerimento à Censura

In-Libris – Catálogo de Abril 2007

Catálogo da In-Libris (Porto), de novo com um conjunto de peças curiosas e estimadas, entre as quais obras de Álvaro Lapa, Alves Redol, Ana Hatherly, António Sérgio, Bento Carqueja, Campos Lima, Carlos Queiroz, D. Leite de Castro (Folk-Lore Vimaranense), Eugénio de Andrade, Ferreira de Castro, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Inocêncio Francisco da Silva (Dicionário), Joaquim Costa, Luís Augusto Palmeirim, Luiz F. Gomes (Jornalistas do Porto), Mariana Alcoforado (trad. Eugénio de Andrade), Melo e Castro, Mons. J. Augusto Ferreira (sobre Vila do Conde), Viriato Barbosa (monografia da Povoa de Varzim), Visconde de Vila-Maior (O Douro Illustrado), Wenceslau de Moraes.

Um bom Catálogo. A consultar on line.

Semanada

Esta semana ... estivemos assim. Oh! Hum! "nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovídio]

Foto - Adega da Quinta do Noval, in Catálogo da In-Libris

sexta-feira, 30 de março de 2007


Leilão de Livros e Manuscritos - 3 e 4 de Abril de 2007

O Palácio do Correio Velho realiza nos próximos dias 3 e 4 de Abril - Calçada do Combro, 38 A, pelas 15 horas - um importante Leilão de Livros e Manuscritos. A não perder. Catálogo on line.

"... curioso lote de livros sobre arte, história, ensaios e literatura portuguesa e francesa, clássicos dos sécs. XVII ao XX e outros de grande interesse e temática vária. Para além disso, vão também à praça quatro valiosos acervos de documentação histórico - politica e literária dos sécs. XVIII ao XX, destacando-se os seguintes conjuntos:

- Espólio do General Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho Póvoas (1773-1852), constituído por milhares de documentos da maior importância para a história politico-militar de Portugal no século XIX, com relevo para a génese da legião portuguesa ao serviço de Napoleão, história das invasões francesas, operações e movimentação de tropas, e guerra civil portuguesa (...)

- Espólio de António Bernardo da Costa Cabral, 1º Conde e 1º Marquês de Tomar (1803-1899). Este acervo é riquíssimo nos aspectos políticos e militares, com centenas de cartas de personalidades importantes da época, mas também sobre Tomar, onde Costa Cabral adquiriu muitas propriedades na zona do Convento de Cristo, havendo algumas cartas ou documentos referentes aos freires e à Ordem, para além de outras respeitantes ao Museu(zinho) de História Natural, em Évora, ou à Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro (...)

- Espólio do Morgado da Quinta de Pancas, sita em Alenquer, formado por centenas de documentos dos finais do séculos XVIII ao XIX, respeitantes à administração dos bens do Morgadio, cartas de natureza pessoal e familiar (...)

- Cartas inéditas de Ramalho Ortigão (1836-1915) a Henrique Resende Dias de Oliveira, enviadas de Lisboa, Foz do Porto, Paris e Suiça, datadas de 1910 a 1915 e nas quais retrata com grande sagacidade a vida politica, social e cultural portuguesa da época conturbada vivida depois da implantação da República, em 1910 (...)”

nota: leia-se a curiosa Introdução de Isabel Maiorca sobre este conjunto de cartas de Ramalho Ortigão

[Isabel Maiorca, in A Memória das Coisas, Catálogo do Leilão, 19 de Março de 2007]

quinta-feira, 29 de março de 2007


Mariano Gago - o mudo

O governador do Ensino Superior, Mariano Gago, apresenta-se ao público como um ministro, envergonhadamente, mudo. Até agora, várias semanas passadas, nenhuma alma indígena sabe o que Mariano Gago abriga na sua sábia cabeça sobre o descrédito e a imoralidade que reina na Universidade Independente. Espera-se pelas 18.30 da tarde - hora a seguir ao chá - para se saber do ofício do Ministro do Ensino Superior e, talvez, acompanhar a descompostura do outrora vigário do IST, Zé Mariano. Veremos se a rebaldaria, o grosseirismo e a promiscuidade na gestão privada da UI, perfumada com a mais desorientada das pedagogias, é severamente punida.

Em toda esta questão, em todo este montão de lixo que se tornou a "guerra" na UI, nunca se intrometeu o senhor Ministro da tutela. Mudo e quedo, Mariano Gago deixou seguir a repugnante "estória", não se sabendo se o fez por simples ingenuidade ou por excesso de pura estratégia política. Por causa disso mesmo, a devassa caiu sobre todas as instituições de ensino privado. Nenhuma está, doravante, fora de torpíssimos olhares. E, nem todas o mereciam. Até porque a função do ministro não é de dar açoites nas nádegas aos prevaricadores da lei ou a delinquentes feridos, mas no invés, acompanhar a gestão financeira, curricular e pedagógica dos estabelecimentos de ensino privados (e públicos), a todo o momento.

A demissão dos diferentes ministérios da tutela, a promiscuidade entre a classe politico-partidária e o corpo docente, é caso para investigação judicial. E para que o "tribunal público do riso" não dite a sua sentença. Que o ministro afaste, de vez, esse anátema, é o que se espera. Aguardemos.

terça-feira, 27 de março de 2007


Jogos de sábios

O programa da D. Elisa na TV indígena, a que com muita piada chamou "Os Grandes Portugueses", ao que se sabe, sobressaltou a nação, incomodou uns castiços democratas e fez furor entre os neo-fascistas & aparentados. A coisa da D. Elisa era de génio: uns tantos sábios em comunhão de adquiridos - como o inenarrável António Costa Pinto, alvorado a historiador do reyno, o sagaz Portas, o salazarista Jaime N. Pinto, a D. Odete, o recauchutado Júdice, o agricultor Rosado Fernandes - bem embebidos em meia dúzia de instruídos doutores & com umas tantas avis raras de permeio e já estava a novena feita. D. Elisa, a musa do ardentíssimo entretimento, de freio na mão, sorria.

A tribo de sábios, em animada pesporrência, aspergiu o negócio do Estado Novo e desfolhou bizarras estórias pátrias, que mil louçãos não desdenhariam. A missa pelo defunto, ao cair da noite, prometia. Com o fim alcançado e antes de anunciar "O Grande Português", D. Elisa em preliminar de erotismo intelectual, filtrou por entre deleitosos lábios, e à cautela de mimosos favores, um impolítico aviso que o galardão corrente era de puro entretenimento. Depois, mais aliviada, lá brandiu o troféu para o Botas de S. Comba, o estimulante Oliveira Salazar. A pateada, curiosamente, veio no dia seguinte. Sabe-se como é lerdo o bom indígena luso.

Agora, depois de embrulhados os capotes, o raminho de sábios irá publicar farta e copiosa obra sobre o espírito desse Grande Português. Já começou, aliás, quando Dom Costa Pinto apareceu no bucólico programa da Sic-Notícias, enchendo de lirismo o programa preferido da canalha. O revisionismo histórico está, ainda, nos seus alicerces, mas promete muita papeleta aos paroquianos. Curiosamente, a vanguarda operária bloguista, em velocidade perturbante, explorou a civilizada pista que deixa sem dormir o bom povo português: afinal o dr. Oliveira Salazar era fascista, um demo-liberal pacífico (como assegura o moderno Arroja), um autoritário avozinho saloio ou um antepassado do eng. Sócrates? Ninguém sabe. Um dia, D. Elisa e os validos revisionistas explicarão. Até lá, tratemos de fazer as malas. Adiante!

Leilão de Antiguidades, Pintura Moderna e Contemporânea

A Leiria e Nascimento realiza hoje - no Palácio das Exposições da Tapada da Ajuda, às 15 h e às 21,30 horas - um leilão de "Antiguidades, Pintura Moderna e Contemporânea, Objectos de Arte e Jóias".

Excelentes peças de Alzira de Barros, António Carneiro, António Soares, Arménio Anjos, Carlos Botelho, Carlos Lança, Cutileiro, Falcão Trigoso, Francisco Simões, João Penalva, Joaquim Costa, Joaquim Ramos, Jorge Barradas, Jorge Vieira, José Júlio Teixeira Bastos, Júlio Resende, Mário Silva, Nicolas Berchen, Thomaz de Mello (Tom), Noronha da Costa, Nuno Siqueira, Oskar Pinto Lobo, Roque Gameiro, Sá Nogueira, Stuart Carvalhais, Victor Bélem, pinturas do séc. XVIII, etc.

sexta-feira, 23 de março de 2007


O jornal Público e o Eng. Sócrates

O orgulho de "campeão" desvelado do jornalisticamente correcto, tomado aqui na sua visão romântica de formação da opinião pública, foi abraçado hoje pelo jornal Público na notícia mais artificiosa que nos foi dado ler: o caso da licenciatura do eng. Sócrates. Como "alma falante" do serviço militar dos escribas indígenas, a direcção do jornal Público aproximou-se, sem piedade alguma, da causa fatal de um qualquer panfleto. Pode a sua direcção, ofegante por carência de notícias, publicar os editoriais (duvidosos, como o de hoje) que entender em sua defesa, que o fait-divers é tremendo. Expliquemos.

O caso da licenciatura (ou não) de Sócrates não é festividade para o contraditório e a luta política. Sócrates, licenciado ou não, jamais deixará de ser arrogante, manipulador ou um exímio dissimulado. Não pode haver qualquer equívoco, sobre esta questão. Do mesmo modo que o presuntivo rumor que o senhor José Manuel Fernandes está, generosamente, regougando a soldo do patrão Belmiro é pura especulação, senão palavrório ignóbil. Os boatos não são meros superlativos para a opinião pública. Apenas uma infame comédia, aliás pouco original.

O propósito da direcção do Público ir a reboque da oratória presente na blogosfera doméstica, por muito reveladas que sejam (e geralmente, são) as suas verdades, mostra o estado e a (des)legitimação do serviço público vulgarizado nos jornais, mesmo os de referência. A bondade de policiar a blogosfera não exorciza a falta de trabalho de "casa", a exigência de uma deontologia fora da miséria do espectáculo jornalístico e a missão integral do escriba. Tão só suporta a sua narrativa enquanto "meros executores" de comunicações indirectas. De facto, a "bulimia" da investigação jornalística foi "chão que já deu uvas". Desapareceu, de vez, presumimos sem saudades das direcções de jornais.

Mas se o jornal Público, na insólita nota editorial, entende (como parece que entende) que "não deve ignorar que [os boatos] existem e que a melhor forma de acabar com eles é confirmá-los ou infirmá-los", então terá muito que obrar daqui para a frente. Porque há dezenas e dezenas de anos (a fio) de rumores que correm (alegremente) entre a classe politica, nos albergues de partidos e no cantar de cafés, sobre os inúmeros expedientes de enriquecimento académico, profissional e financeiro da classe politica nacional e local. Vai arregaçar as mangas, definitivamente, o senhor José Manuel Fernandes?

No fim, fica apenas o reconhecimento da balbúrdia e do porreirismo que habita nas instituições privadas de educação. Sem qualquer avaliação, este estupendo refúgio dos espoliados da política doméstica, navega com a total permissão do poder. Se nos lembrarmos da exaltação em sua defesa pela liberal direcção do Público, ao longo do tempo, e do silêncio ensurdecedor sobre o assunto, compreende-se o que temos pela frente. A falta de decoro da direcção do Público é, pois, total.

quarta-feira, 21 de março de 2007


Water is Life

"Para eles [tuaregues], a música é tão valiosa como a água, mas felizmente mais abundante, pois mesmo antes de começar a andar - diz-se - as crianças aprendem a bater em tambores para imitar o ritmo dos camelos" [Jorge Lima Alves, in Cartaz-Expresso].

Eis, para ledores ressequidos desta vidinha sem futuro acolhedor, mas mesmo assim venturosa na/pela sedição de cândidas noutes, que (ainda) não desesperámos de vencer

Tinariwen - Soixtante Trois


Boa noute!

Homenagem a Jaime Cortesão [Restaurante Tavares]

1º plano, da esquerda para a direita, João Pedro de Andrade, António Lobo Vilela, Jaime Cortesão, Luís da Câmara Reys, Ferreira de Castro, Adolfo Casais Monteiro.

2º plano, da esquerda para a direita, Alexandre Vieira, Adriano de Gusmão, Gaspar de Almeida, Sant'Ana Dionísio, Augusto Casimiro, Roberto Nobre, Mário de Azevedo Gomes, João Dantas, David Mourão-Ferreira, David Ferreira, Jaime Mourão-Ferreira.

[foto, in David Mourão-Ferreira, s.l., s.d.]

In Memoriam Fernando Alvarenga [1930-2007]

"O poeta Fernando Alvarenga deixou-nos, no passado dia 19 de Fevereiro. Já debilitado de saúde, vivia desde há cerca de um ano, num lar da terceira idade, em Amarante, onde uma infecção respiratória o obrigou a internamento hospitalar e o vitimou.

O funeral teve lugar na cidade de Ermesinde, na manhã do dia de Carnaval, em altura que seria, por certo, do agrado do poeta.

Nascido em Ermesinde a 14 de Abril de 1930, e nos últimos anos da sua vida aqui radicado, viveu também em Angola, de 1969 até 1975, circunstância que contribuiu para uma das facetas mais marcantes da sua obra poética, que alguns críticos consideraram única pela originalidade de ter sido o primeiro criador de rimances africanos em língua portuguesa.

«Figura incontornável da Cultura da nossa cidade», como 'A Voz de Ermesinde' já antes o tinha apresentado, Fernando Alvarenga foi poeta e ensaísta, tendo a sua obra de ensaio ficado dispersa por numerosos jornais e revistas. Foi, aliás, colaborador de 'A Voz de Ermesinde', a quem ofereceu os direitos de autor de novas edições das suas obras, como noticiámos a 30 de Março de 2004. “A Voz de Ermesinde” dedicou-lhe uma série - 'Fernando Alvarenga' - com a publicação continuada de uma página apenas com ensaios e poemas seus, durante onze números (do n.º 704 ao n.º 714). Foi autor de uma obra consistente, presente em várias antologias ao lado de renomados nomes da Literatura e Ensaística portuguesa" [in A Voz de Ermesinde - ler mais aqui]

[via Lugar Efémero, com a devida vénia]

segunda-feira, 19 de março de 2007


Os miúdos de Paulo Portas

Não tendo especial vocação para qualquer postura democrática construtiva, tal a má-língua com que nos habituou, Paulo Portas aconselha os meninos perdidos do PP, por ora travestidos de liberais, a espectáculos insolentes e repugnantes, como aquele que se passou no Conselho Nacional do PP. O construído jurídico nada diz a esta marujada liberal-portista. Fica, apenas, aquela dica (via SIC) da putativa conselheira a clamar higienicamente contra "os filhos-da-puta" (espécie de vocábulo simbólico entre a garotada portista), enorme confusão entre carroceiros desvairados e o edifício intelectual de um partido a cair no anedotário indígena. O ar saloio de Pires de Lima, Telmo Correia e, especialmente, as ameaças do poltrão Hélder do Amaral, dizem tudo. Betinhos, a brincar a gente séria. Os garotos seguidores (que os há) do velho Botas de S. Comba, não fariam exercício cívico melhor.

A puberdade (sabe-se) é bem curiosa, mas não explica tudo o que se passou em Óbidos. Os miúdos do PP, muito grosseiros no trato e torpes de inteligência, revelam rancor e desprezo (total) pela vida democrática. Cerram fileiras em torno da figura abjecta e enlameada do dr. Portas. E tudo vale, nesse desvario mental. Estão no seu direito, mesmo se o balneário do PP se torne num espaço público devassado. A estrumeira pública com que nos brindaram este fim-de-semana estava escrita. A paródia começou, antes mesmo do camarada Vasco nos reportar, postumamente, a delinquência havida.

Uma palavra para Maria José Nogueira Pinto. A dra Nogueira Pinto nunca pode ser incomodada pelas flatulências daquela gentalha. Se existe alguém que dá credibilidade (pouca que seja, é certo) ao PP, é ela mesmo. Pode Paulo Portas, com a maior da naturalidade, tomar de assalto o PP, que nunca passará de um bobo obsceno. Ele e a sua insolente tropa de choque. A vida o provará.

Ribeiro de Mello

Continua o labor exaustivo de Ricardo Jorge, em torno da figura curiosa de Fernando Ribeiro de Mello e das edições Afrodite, de muita memória. Entre as editoras de antanho há lugar, elevado, para o génio (excêntrico que seja) de Ribeiro de Mello. As fotos postadas na Afrodite, revelam-no. O trabalho paciente do Ricardo Jorge, vestido de sobriedade e engenho, é serviço público. Graças, Ricardo!

Ecos da Semana

"Quem não foge a tempo não ensina estratégia" [Millôr Fernandes]

- A revista Figueira 21 saiu com uma invulgar entrevista ao sempre-em-pé Santana Lopes. O que diz de novo? Pois, para além da trovoada de frivolidades costumeiras, o douto Santana Lopes assegura que o "facto político mais relevante", desde que acabou o mandato na Figueira, foi "o fecho do jornal A Linha do Oeste", pertença de António Tavares. Um humorista, este Lopes. Coisa que um tal Fernando Rodrigues, putativo director da tal revista, ao que aqui se pode ler, não perfilha. Manias!

- Não foi feliz, in illo tempore, o eng. Guterres a trabalhar com os números do engenhoso PIB. A coisa saiu-lhe mal, por modéstia. Mas apesar de não saber a tabuada, Guterres será para sempre um gentleman. O mesmo não se pode afiançar do grotesco Mário Lino, mestre em aeroportos & afins, inchado de soberba em quase tudo. Bastou o eng. Leite Pinto, no último Expresso da Meia-Noite, pedir ao sábio eng. Lino para fazer umas contitas da primária sobre a Ota, para a ignorância espirrar do ministro fanfarrão. Foi caricato reparar no faccis do engasgado, acossado e palavroso ministro. No dia seguinte, quem leu o Sol, soube que o sábio Lino, além de desconhecer a tabuada, mente muito bem em televisão. Excelente ministro, deste fantástico governo.

- Andam por aí, dois Daniéis a ressuscitar a economia indígena. São, por demais, conhecidos. Um assina Amaral, outro Bessa. Ambos escribas espiritualistas do Expresso. Incansáveis na erudição económica, e mesmo que mutuamente não se aturem, fazem uma bonita parelha. Esta semana o pregador Amaral dá uma de bruxo e prevê o seu amo Sócrates na cadeira da paróquia até 2013 ("e sabe-se lá que mais a seguir ..."). Este invulgar economista suspira pela "descida de salários" da canalha, não lê, por miopia, os dados do Eurostat, faz contas à Mário Lino e mendiga uma pastinha rosa qualquer. Uma qualquer, oh! Manelinho! O outro Daniel saiu em defesa do patrão: o tio Belmiro. Este Bessa não sendo tão farsista na tabuada como o Amaral, confessa que ainda "vê, ouve e lê". Não diz é o quê! Mas pouco importa, pois não vai a ministro.

- O adiantado mental João Carlos Espada, esta semana no Expresso, antecipou-se ("informação secreta", diz-nos o apóstolo liberal) em defesa da Câmara dos Comuns, ao que parece vítima da ralé. God bless Espada! A argumentação Espadiana é divinal. Sir Espada, fazendo jus à sua condição de cultor de Popper, acrescenta, picarescamente, ao texto de Sir Karl, "Alguma observações sobre a teoria e praxis do Estado democrático" e, do mesmo modo, ao conhecido ensaio "A política sem essência", um contributo adorável. Espada, seguindo a missiva de Popper, para quem a tarefa fundamental do Estado seria "reconhecer o nosso direito à liberdade e à vida”", e provado que está o conceito kantiano de "benevolência", demonstra que sendo a Câmara dos Lordes não-eleita, "incrivelmente barata", com direito a bar com Tamisa ao fundo, bem servidos que são os My Lord por mimosos empregados de libré, ou aparecendo os Lordes vestidos de "imponentes capas vermelhas para ouvir um discurso escrito pelo governo e lido pela Rainha", não vê qualquer razão particular para se acabar com tão gloriosa, quanto "excêntrica", vetusta instituição. O grande mestre Espada estrangulou-nos com a sua perspicácia. Estamos confiantes. E benevolentes. Siga-se os Lordes, já!