terça-feira, 27 de março de 2007


Jogos de sábios

O programa da D. Elisa na TV indígena, a que com muita piada chamou "Os Grandes Portugueses", ao que se sabe, sobressaltou a nação, incomodou uns castiços democratas e fez furor entre os neo-fascistas & aparentados. A coisa da D. Elisa era de génio: uns tantos sábios em comunhão de adquiridos - como o inenarrável António Costa Pinto, alvorado a historiador do reyno, o sagaz Portas, o salazarista Jaime N. Pinto, a D. Odete, o recauchutado Júdice, o agricultor Rosado Fernandes - bem embebidos em meia dúzia de instruídos doutores & com umas tantas avis raras de permeio e já estava a novena feita. D. Elisa, a musa do ardentíssimo entretimento, de freio na mão, sorria.

A tribo de sábios, em animada pesporrência, aspergiu o negócio do Estado Novo e desfolhou bizarras estórias pátrias, que mil louçãos não desdenhariam. A missa pelo defunto, ao cair da noite, prometia. Com o fim alcançado e antes de anunciar "O Grande Português", D. Elisa em preliminar de erotismo intelectual, filtrou por entre deleitosos lábios, e à cautela de mimosos favores, um impolítico aviso que o galardão corrente era de puro entretenimento. Depois, mais aliviada, lá brandiu o troféu para o Botas de S. Comba, o estimulante Oliveira Salazar. A pateada, curiosamente, veio no dia seguinte. Sabe-se como é lerdo o bom indígena luso.

Agora, depois de embrulhados os capotes, o raminho de sábios irá publicar farta e copiosa obra sobre o espírito desse Grande Português. Já começou, aliás, quando Dom Costa Pinto apareceu no bucólico programa da Sic-Notícias, enchendo de lirismo o programa preferido da canalha. O revisionismo histórico está, ainda, nos seus alicerces, mas promete muita papeleta aos paroquianos. Curiosamente, a vanguarda operária bloguista, em velocidade perturbante, explorou a civilizada pista que deixa sem dormir o bom povo português: afinal o dr. Oliveira Salazar era fascista, um demo-liberal pacífico (como assegura o moderno Arroja), um autoritário avozinho saloio ou um antepassado do eng. Sócrates? Ninguém sabe. Um dia, D. Elisa e os validos revisionistas explicarão. Até lá, tratemos de fazer as malas. Adiante!