[
Os novos escritores e o movimento chamado «neo-realismo»]
Curioso escrito de
Jaime Brasil, "
Os novos escritores e o movimento chamado «neo-realismo»", separata da Revista
Afinidade, nº12,
1945, reimpressa por "erros de composição", onde o autor nos diz que "a jovem literatura portuguesa, grávida de todas as influências externas e internas, deu à luz entre as dores do mundo e as sua próprias, algumas obras que não serão definitivas, mas deixam entrever grandes esperanças". Considera, ainda, que "os jovens escritores beberam nesses antepassados [
geração de 70] a seiva da rebeldia, a ânsia de renovação conceptual e formal". Porém,
Jaime Brasil, salienta "o impulso decisivo" da "jovem
literatura brasileira que, desordenada, e ainda bárbara na forma, brotou, com vigor da flora tropical, nos começos do segundo quartel deste século". E que "mais do que um estimulo, parece ter havido uma emulação. Dir-se-ia que o facho da criação literária ia passar de mão, para a outra margem do Atlântico" e que "num supremo esforço, sem acordo prévio e, repetimos, sem ambiente favorável, a juventude intelectual da margem de cá retomou o facho de erguer ao alto".
Depois,
Jaime Brasil considera necessário "remontar às correntes que polarizaram a inteligência portuguesa do começo deste século para cá", referindo a ?"corrente
progressiva" nascida sob o domínio republicano, seguida de uma outra inspirada pelo "doutrinarismo político da
Action Française", de cunho "
regressivo". Diz que feito o balanço dessas forças, passe alguns valores individuais brilhantes? a sua "acção na vida mental portuguesa foi nula", assumindo que "
arte e política são valores não só diferentes, mas antagónicos". Passa depois a apreciar a revista "
Orfeu", referindo
Fernando Pessoa e a "renovação poética operada", para saltar para a revista "
Presença" ["
trouxe uma rajada de ar do largo"], de onde considera que "surgiu a querela 'da
arte pura e da
arte social', do individualismo do artista - interiorístico, todo em desfibrações psicológicas - e do artista preocupado com o
colectivo, com o bem comum, de olhos abertos perante as duras realidades da vida".
O texto prossegue em busca dessa "
juventude inquieta", quer na sua atitude estética ou "simplesmente literária", para considerar
Ferreira de Castro ["
o primeiro que, em língua portuguesa, tratou dos problemas sociais"] como precursor dessa nova corrente, inclusive antecedendo "os modernos
romancistas brasileiros". Segundo
Jaime Brasil, os mais dotados desses jovens escritores, são a saber:
Alves Redol,
Soeira Pereira Gomes,
Afonso Ribeiro [ver "Aldeia"],
Manuel da Fonseca ["Cerromaior"],
Fernando Namora,
Carlos de Oliveira,
Vergílio Ferreira [romance "O Caminho fica longe" que não saiu e que retrata a vida académica em Coimbra e "Onde tudo foi morrendo"],
Manuel do Nascimento ["Eu queria viver" e "Mineiros"],
José Loureiro Botas ["Litoral a Oeste" e "Frente ao Mar"],
António Vitorino ["Gente da Vieira" e "A Vida Começa Assim"],
Ramos da Cunha ["Lá fora o sol brinca"],
Assis Esperança ["E a noite não acaba"],
Joaquim Ferrer ["Ilha Doida"],
Roberto Nobre ["Jardim Fechado"],
João Falcato ["Fogo no Mar"],
Julião Quintinha,
Fausto Duarte ["Auá" e "Revolta"] e, evidentemente, os jovens poetas do "
Novo Cancioneiro", com sede em
Coimbra.