domingo, 6 de novembro de 2005

[Os novos escritores e o movimento chamado «neo-realismo»]

Curioso escrito de Jaime Brasil, "Os novos escritores e o movimento chamado «neo-realismo»", separata da Revista Afinidade, nº12, 1945, reimpressa por "erros de composição", onde o autor nos diz que "a jovem literatura portuguesa, grávida de todas as influências externas e internas, deu à luz entre as dores do mundo e as sua próprias, algumas obras que não serão definitivas, mas deixam entrever grandes esperanças". Considera, ainda, que "os jovens escritores beberam nesses antepassados [geração de 70] a seiva da rebeldia, a ânsia de renovação conceptual e formal". Porém, Jaime Brasil, salienta "o impulso decisivo" da "jovem literatura brasileira que, desordenada, e ainda bárbara na forma, brotou, com vigor da flora tropical, nos começos do segundo quartel deste século". E que "mais do que um estimulo, parece ter havido uma emulação. Dir-se-ia que o facho da criação literária ia passar de mão, para a outra margem do Atlântico" e que "num supremo esforço, sem acordo prévio e, repetimos, sem ambiente favorável, a juventude intelectual da margem de cá retomou o facho de erguer ao alto".

Depois, Jaime Brasil considera necessário "remontar às correntes que polarizaram a inteligência portuguesa do começo deste século para cá", referindo a ?"corrente progressiva" nascida sob o domínio republicano, seguida de uma outra inspirada pelo "doutrinarismo político da Action Française", de cunho "regressivo". Diz que feito o balanço dessas forças, passe alguns valores individuais brilhantes? a sua "acção na vida mental portuguesa foi nula", assumindo que "arte e política são valores não só diferentes, mas antagónicos". Passa depois a apreciar a revista "Orfeu", referindo Fernando Pessoa e a "renovação poética operada", para saltar para a revista "Presença" ["trouxe uma rajada de ar do largo"], de onde considera que "surgiu a querela 'da arte pura e da arte social', do individualismo do artista - interiorístico, todo em desfibrações psicológicas - e do artista preocupado com o colectivo, com o bem comum, de olhos abertos perante as duras realidades da vida".

O texto prossegue em busca dessa "juventude inquieta", quer na sua atitude estética ou "simplesmente literária", para considerar Ferreira de Castro ["o primeiro que, em língua portuguesa, tratou dos problemas sociais"] como precursor dessa nova corrente, inclusive antecedendo "os modernos romancistas brasileiros". Segundo Jaime Brasil, os mais dotados desses jovens escritores, são a saber: Alves Redol, Soeira Pereira Gomes, Afonso Ribeiro [ver "Aldeia"], Manuel da Fonseca ["Cerromaior"], Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Vergílio Ferreira [romance "O Caminho fica longe" que não saiu e que retrata a vida académica em Coimbra e "Onde tudo foi morrendo"], Manuel do Nascimento ["Eu queria viver" e "Mineiros"], José Loureiro Botas ["Litoral a Oeste" e "Frente ao Mar"], António Vitorino ["Gente da Vieira" e "A Vida Começa Assim"], Ramos da Cunha ["Lá fora o sol brinca"], Assis Esperança ["E a noite não acaba"], Joaquim Ferrer ["Ilha Doida"], Roberto Nobre ["Jardim Fechado"], João Falcato ["Fogo no Mar"], Julião Quintinha, Fausto Duarte ["Auá" e "Revolta"] e, evidentemente, os jovens poetas do "Novo Cancioneiro", com sede em Coimbra.