sábado, 14 de agosto de 2004
[Da Súcia-dade]
O regaço do poder político é um acto preliminar que desnuda qualquer virtude ansiosa. E sabe-se a tentação do lusitano pela delação, facécia e torpeza, que ciclicamente surge na batalha das ambições políticas, mesmo que aqui e ali subsista a lenda de egrégias santidades, evocadas entre burlescas vaidades e sublimes actos de fé pela coisa pública. De facto, a peça político-policial que assistimos, via processo Casa Pia, tornou-se uma venda a retalho de informações entre jornalistas, a classe política e responsáveis de Instituições, um lugar comum da denúncia, uma comédia maledicente, uma vida torpe, que o indígena afastado da azáfama do exercício do poder muito aprecia. Somos sempre deliciosamente esforçados em qualquer obscenidade.
O assunto das K7s (presumivelmente) roubadas adensou a curiosidade do Portugal profundo. Suspeitamos que, ungido de luar, não há nenhum português, supostamente ilustrado, que não murmure adocicadas análises e enfastiadas urdiduras em noutes de passeio à beira-mar. Pior ainda: dão-nos requintadas teorias, sarcásticas insinuações, cínicos prantos, curiosos pastiches. Modulando e manipulando informações a seu belo prazer, à putativa nobreza da dor que furtivamente expelem em artificiosas efabulações resta a pouca serenidade com que lançam dissimulados avisos à navegação, reparos desbragados sob a lei e o direito, visando neutralizar qualquer reflexão sobre o estado da justiça e o exercício da cidadania. Ao que se presume, cabe unicamente às elites o entretimento, a inteligência e o saber dessa demanda, enquanto o povo ironicamente sobrevive, por iliteracia técnica-jurídica e política, graças às emoções das leituras dos jornais, revistas e blogs.
Assim, as diversas peças paridas à volta desta intriga de Verão são, manifestamente, para todos os gostos e suspiros.
Há a chacota da maquinação e descredibilização do processo Casa Pia pelos beneditinos jornalistas do CM (extraordinário trio de ex-jornalistas desportivos, os 2 Octávios mais o Marcelino) que engordaram o improviso da investigação à custa de ilegalidades pífias e manipulações graciosas e que agora, convertidos que foram ao estado de indignação legalista, despertam caricaturalmente para a defesa da lei, com o Sindicato dos Jornalistas como patrono e o MP ausente. Rodeados de "fontes" que controlam sem qualquer incomodidade, o requinte manipulador do Octávio e Cia empolgam a movimentada plateia de probos defensores do estado de direito. Como está em marcha o tal processo de descredibilização, pouco importa assuntos perfeitamente inócuos, como o segredo de justiça, a ética jornalística ou a manipulação de informações. Aliás se tais episódios sempre existiram, porquê perder tempo como isso? Estão nesta sensibilidade veneradora o CM, parte do MP e do Governo, o "prisioneiro" desnudado Souto Moura, o excomungado Salvado e os fogosos Manuel & José da GL. Aliás, os resfolegantes posts destes últimos opiniosos bloguistas atingem o paradoxo de instruírem a plebe da blogosfera sobre os malefícios de ilicitudes havidas, via a autópsia de um post de JPP - o que não deixa de ser hilariante procedente de quem vem - a par d'outras calcetadas pistas a seguir, em deslumbramento e inspiração.
Noutro lado, persiste a comédia de capa e espada da cabala contra o PS e Ferro Rodrigues, agora claramente vigorosa dada as transcrições d'O Independente, o posicionamento da PGR e a delinquência entre jornalistas e importantes figuras institucionais. Por outro lado, a entrevista a desoras do ex-director nacional da PJ - revelando desconhecer "o quid obscurum do métier" - é um remoque a quem o incumbiu de singularíssima tarefa, que por ora se desconhece. O que não deixa de ser significativo e perturbador.
Por último, os frémitos desta semana parecem não abalar a monotonia da PGR, se tivermos em conta o anterior caudal de comunicados proferidos e a precedente chinfrineira de mau gosto de Souto Moura, face aos agora muito mal-amanhados comentários sobre todo este caso. A trapalhada é para continuar. Avancem os próximos.
[In Memoriam António Domingues - 1920/2004]
"... Na Cervejaria
dizia
um senhor e sua mulher de azul e mise exactamente
no momento em que leve
ágil
animal
pisa o chão duro e frio do salão
um valente Rodolfo Valentino conhecido
do casal
Alarga-se o sorriso de gambas róseas
na boca do senhor
um adeusar de sua mão papuda
em louvor
do amigo Rodolfo
Ela de faces em rosácea e alva dentadura
logo revelada
fica enlevada
mas honesta na Cervejaria pensa:
- Meu marido dá-me todo o conforto do lar
dá-me gambas ao jantar
e mais logo dá-me quatro horas de Ben-Hur na plateia
onde a moda nova oferece as minhas pernas
às vistas desarmadas
dá-me futuro
recheio no seguro e o Rodolfo
só me daria aquilo com que sonhei durante
tanto tempo
amor, amor, amor apenas"
[António Domingues, in Primeira Imperial]
terça-feira, 10 de agosto de 2004
[Em Agosto malha a gosto]
Há uma ingenuidade evidente na insensatez das férias. O sonho da quietude ondulante, o clima ameno, a paisagem de sossego, tudo isso se esmorece quando os indígenas lusos & os estrangeirados resolvem avançar direitos à civilização. Avessos a qualquer manifestação de urbanidade, os indolentes veranistas iniciam uma actividade febril, deliciosamente saloia, refervida numa algazarra de consumo pós-moderna, entre os festejos evocativos do poder local, o bálsamo da praia aquém dos nefastos bafos lisboetas e as noites tormentosas do trottoir público. Bem cedo as autarquias e demais lugarejos entenderam que seria conveniente afastar essa ideia bizarra de serem os termos de Lisboa. A transitória hospedagem em Agosto há muito deixou de ser esse paraíso de recrear o espírito e a saúde. A vida moderna estilhaçou tudo e todos. Má sorte os mistérios de Agosto.
- [dos jornais] o vulgar destes dias é a inexistência das curiosas e enternecidas reprimendas jornaleiras. Com as várias sinecuras a banhos, o requinte dos jornais e revistas reveste-se de harmoniosas prosas romanceadas, exuberantes murmúrios políticos bem limados, festas de high-life mimosas e invulgares. A carpintaria dos jornais é o "Homem". A máxima destes dias é que "o estilo é o Homem". Compreende-se. Porém, a acreditar no Editorial d'O Público do dia 7 de Agosto, José Manuel Fernandes não pratica essa colorida e movimentada etiqueta. Não está distraído. A sua perfumada peça, plena d'estilo colorido no alto do seu talento, faz referência, pela énesima vez, à suposta legalidade da invasão do Iraque. Que saudades do regresso do senhor director, do seu trabalho educativo, do seu formidável espanto. É sempre bom saber que nem os ares convalescentes d'Agosto definharam a sua linguagem florida, mesmo que o choradinho seja mero rabicho intelectual.
- [cassetes piratas] o sonho de Adelino Salvado nunca ninguém o saberá. A não ser que brote forte e rigoroso na reprodução das célebres cassetes piratas, musicando-as à cadência da sua citada comissão de serviço político-partidário, de muita estimação. O talento de senhor ex-director da PJ ficará ardentemente inscrito na envolta demissão de Maria José Morgado, na volúpia dedicada ao célebre "Apito Dourado" e, principalmente, no desvelado zelo com que defendeu o segredo de justiça. De tal modo a obra cresce, que o poder político resolve ultrapassar a justiça, com o teclado Santana Lopes e Souto Moura musicando investigações, alardeando desveladas paixonetas pela lei e a ordem do mundo da justiça. Entretanto, para que a comédia de verão não espere, o inefável jornalista Octávio, do pasquim Correio da Manhã, promove sem qualquer rebuço judicial, providências cautelares, ridicularizando tudo e todos. Por sua vez, o sr. Óscar do Sindicato anunciou qualquer coisa que ninguém entendeu, entre aventuras para jornalistas em começo de carreira e verduras protestatórias que ofusca a inteligência, enquanto a PGR lança sobre a nossas malabrutas cabeças um espantoso texto, da mais pura e casta insanidade. Como são de folia as tardes de Agosto.
Livraria Modo de Ler
Vítor Silva & Santos apresenta o seu 21º Catálogo da Livraria situada no Porto (Praça Guilherme Gomes Fernandes, 38, 2º A). Em pleno Agosto faz bem receber catálogos assim.
Algumas referências: Escrita da Terra e outros Epitáfios, de Eugénio de Andrade (tiragem fora do mercado, de 310 expls), 1974 / Sete Livros Sete Retratos, por Eugénio de Andrade (tiragem especial em caixa própria, em homenagem ao poeta na atribuição do prémio Camões), Porto, 2001 / Árvore - Folhas de Poesia, 1951-53, IV fasc. (compl.) / Litoral a Oeste, de José Loureiro Botas, 1940 / Contemporânea - Revista mensal, dir. de José Pacheco, Lisboa, 1922-24, X números (incompl.) / Daqui Houve Nome Portugal (antologia de verso e prosa sobre o Porto, c/ pref. de Eugénio de Andrade), 2000 / In Memorian Eça de Queiroz (org. de Eloy do Amaral e Cardoso Martha), Lisboa, 1922 / O Mês de Dezembro e outros Poemas, por Vasco Graça Moura (c/ guaches de Júlio Resende), Porto, 1976 / Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma, por Irene Lisboa (rara) / Flores e Canções, de Cecília Meireles (ilust. de Vieira de Silva), Rio de Janeiro, 1979 (ed. rara) / Céu em Fogo, de Mário de Sá-Carneiro, Lisboa, 1915 (rara) / Camões dirige-se aos seus contemporâneos e outros textos, por Jorge de Sena, Inova, 1973 (tir. de 310 expl) / Antologia dos Economista Portugueses (sec. XVII), por António Sérgio, Lisboa, 1924 / O Algarve na Obra de Teixeira-Gomes (c/ 40 des. de Bernardo Marques, Lisboa, 1962 (ed. 500 expls) / Poemas Malditos, de Paul Verlaine (c/ desenhos eróticos de José Rodrigues), 1981 / A Vida Começou Assim (Novelas), por António Vitorino
domingo, 1 de agosto de 2004
Pierre Bourdieu [n. 1 Agosto 1930-2002]
"... o livro de P. Bourdieu e de J. C. Passeron, Les Héritiers, permanece actual (...) este livro chama a atenção para os mecanismos que, no interior da própria escola, transformam as desigualdades sociais em desigualdades escolares. Em particular, desmistifica a ideologia do dom, que olha como «natural» o que é, afinal, herança cultural de classe. «Os estudantes mais favorecidos», escreve, Bourdieu e Passeron, «não só devem ao meio de origem os hábitos, o treino e as atitudes que lhes são mais úteis nas tarefas escolares, mas herdam também saberes e um savoir-faire, gostos e um bom gosto, cuja rendibilidade escolar, embora indirecta, não deixa de se verificar (...)
Assim, estes dois autores concluem que nem as desigualdades esconómicas nem a vontade política bastam para explicar a discriminação escolar - o sistema educativo contribui também, através da sua própria lógica, para assegurar a perpetuação do privilégio. A igualização formal face à escola (a «igualdade de oportunidades») jamais conseguirá, portanto, superar as desvantagens dos alunos oriundos das classes trabalhadoras ..." [Maria Filomena Mónica, in Escola e Classes Sociais, GIS, 1981]
Locais: P. Bourdieu / Pierre Bourdieu (1930-2002) / Pierre Bourdieu Bibliography / Pierre Bourdieu sociologue énervant / Le constructivisme structuraliste de Pierre Bourdieu / La vie Sociologique de Pierre Bourdieu / Sociólogo Cidadão / Hommage à Pierre Bourdieu / En Memoria de Pierre Bourdieu / Lire Pierre Bourdieu / Obituary
sexta-feira, 30 de julho de 2004
[Secam as fontes]
"Secam as fontes e os rios.
ardem as searas e a nossa casa
a as arvores nuas amaldiçoam o céu,
sem sabermos porquê!
Morrem os jovens antes de se amarem
e os poetas com os seus poemas inacabados
e as crianças olhando espantadas para o céu,
sem saberem porquê! ..."
[Tomaz Kim, in Os Quatro Cavaleiros, 1943]
"Secam as fontes e os rios.
ardem as searas e a nossa casa
a as arvores nuas amaldiçoam o céu,
sem sabermos porquê!
Morrem os jovens antes de se amarem
e os poetas com os seus poemas inacabados
e as crianças olhando espantadas para o céu,
sem saberem porquê! ..."
[Tomaz Kim, in Os Quatro Cavaleiros, 1943]
Breviário Luso
- antes e depois dos incêndios que, decididamente precipitaram de novo o país, nada permanecerá para contar. A mesma incúria já cansada, a imprudente vaidade de todos os governos maviosamente ineptos, os sempre desinquietantes episódios da nossa incapacidade de sermos solidários, o doloroso abandonado de cidadãos, dos mais pobres e mais débeis que o país fará por esquecer, o descomunal embuste desta nossa civilização sem dor nem revolta. A culpa morrerá solteira. A nossa canseira é imensa. Que vida é a nossa? Alguém sabe?
- fomos fustigados ao longo de dois tenebrosos anos, sem qualquer gosto ou prazer nosso, pela senhora Manuela Ferreira Leite e Cia Lta. Fizemos de bobos da corte Barrosista. Os sábios economistas a soldo governamental, os jornalistas petulantes dos diários da especialidade, os demagogos da coisa pública, os jovens efebos neo-liberais, todos eles engendraram a maior das aleivosias em torno do cumprimento do PEC, pela saúde das contas públicas. A fraude era demais evidente, mesmo para putativos gorjeios académicos. A monumental mentira aí está, tal como qualquer mortal equidistante de paixões sempre assumiu. A realidade é outra, sempre foi outra. Não esqueceremos os serviçais a soldo da senhora ex-ministra das Finanças. Podem ter a certeza.
- fez bem ouvir o candidato Manuel Alegre na sua intervenção de formalização de candidatura à direcção do PS. Preste-se homenagem às suas palavras profundas, solenes, arrebatadoras, sentidas, que o desassombro ainda existe. Pode-se gostar ou não do poeta Alegre, mas o certo é que ele é insuspeito de qualquer tergiversação. Foi demasiado claro. Como poucos, hoje, sabem ser. Pode não ganhar nada, mas o "espírito da coisa" ficou. Compreende-se como está, nobremente, feliz o Tugir. Porque os ventos ainda sopram.
- a chiadeira de Moita Flores n'O Independente é uma peça incrível, uma fantástica mixórdia cantarolada em louco desatino. A singular Carta Aberta é tão repelente que merece ser investigada, se ainda se souber por quem de direito. Suspeita-se que muitos ficaram engasgados. A questão a saber é: quem nos salva desta historieta remelosa? Onde está a decência? Onde reside a verdade? Quem nos tira deste ridículo?
Livros & Arrumações
- uma selecção curiosa de artigos publicados em organismos gráficos por Alexandre Vieira, agora publicada em livro, "No Domínio das Artes Gráficas", de edição do autor, 1967, com uma dedicatória manuscrita a Joaquim Gonçalves Piçarra, "colega e amigo dos tempos heróicos". O livro, do importante militante sindicalista e operário tipógrafo, recolhe textos dos periódicos O Gráfico (Á volta do salário mínimo, ...), O Tipógrafo (... E o Amanhã, Exortação aos Jovens, ...), refere ainda vários poetas tipógrafos como Joaquim dos Anjos, Libânio da Silva, João Salustiano Monteiro (ou «João Black»), Manuel Pedro. Oferece, ainda, uma transcrição do importante artigo saído n'O Gráfico nº 61 de 1955, "Tipógrafos Distintos. Para a História das Artes Gráficas em Portugal".
- livro de Artur Portela, "Norberto Araújo. O Jornalista e o Escritor", Lisboa, 1953, onde nos diz: "... Norberto Araújo foi mais do que um grande mestre do jornalismo; foi toda uma escola, uma época, uma geração, na síntese luminosa do que elas tiveram de mais representativo (...) A biografia de um jornalista é, essencialmente, o jornal onde trabalhou. É o caso de Norberto de Araújo, no Diário de Notícias (...) Rachador literário, denominou-se ele uma vez quando Guerra Junqueiro o visitou em casa, depois de um diálogo em que o revolucionário da «Velhice do Padre Eterno» e o cristão humilde dos «Simples», o deve ter levado, de pensamento em pensamento, através da curva do infinito".
- uma selecção curiosa de artigos publicados em organismos gráficos por Alexandre Vieira, agora publicada em livro, "No Domínio das Artes Gráficas", de edição do autor, 1967, com uma dedicatória manuscrita a Joaquim Gonçalves Piçarra, "colega e amigo dos tempos heróicos". O livro, do importante militante sindicalista e operário tipógrafo, recolhe textos dos periódicos O Gráfico (Á volta do salário mínimo, ...), O Tipógrafo (... E o Amanhã, Exortação aos Jovens, ...), refere ainda vários poetas tipógrafos como Joaquim dos Anjos, Libânio da Silva, João Salustiano Monteiro (ou «João Black»), Manuel Pedro. Oferece, ainda, uma transcrição do importante artigo saído n'O Gráfico nº 61 de 1955, "Tipógrafos Distintos. Para a História das Artes Gráficas em Portugal".
- livro de Artur Portela, "Norberto Araújo. O Jornalista e o Escritor", Lisboa, 1953, onde nos diz: "... Norberto Araújo foi mais do que um grande mestre do jornalismo; foi toda uma escola, uma época, uma geração, na síntese luminosa do que elas tiveram de mais representativo (...) A biografia de um jornalista é, essencialmente, o jornal onde trabalhou. É o caso de Norberto de Araújo, no Diário de Notícias (...) Rachador literário, denominou-se ele uma vez quando Guerra Junqueiro o visitou em casa, depois de um diálogo em que o revolucionário da «Velhice do Padre Eterno» e o cristão humilde dos «Simples», o deve ter levado, de pensamento em pensamento, através da curva do infinito".
quinta-feira, 29 de julho de 2004
Darfur
O terror e os crimes contra a humanidade que ocorrem em Darfur não têm indulto. Este aluvião de constantes violações do respeito pela vida humana, contra populações indefesas e os crimes de guerra praticados, revelam a situação onde o Mundo hoje se encontra: num beco sem saída. Com ou sem ONU, mesmo que ofendida pela cegueira dos EUA e baralhada pelos interesses próprios da China, do Paquistão e da Rússia, teremos de confessar que a audácia do governo sudanês e os crimes das ditas milícias Janjaweed e demais rebeldes (?), são a vergonha da comunidade internacional, a nossa vergonha. E o senhor Kofi Annan, de má memória, no seu desvario de virgem ofendida, sem qualquer capacidade de decisão e, como tal, falho de carácter, pois preso que está a compromissos que a invasão do Iraque cedo revelaram, não lhe basta recolher à discursata vulgar ou baixar a cabeça em impotência despeitosa. Porque a limpeza étnica que assistimos não pode ficar impune. A história não o absolverá.
Manuscritos na Livraria Bizantina
Carlos Bobone, da Bizantina (Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa) lançou em Junho o seu primeiro catálogo de manuscritos. Os esplêndidos documentos, a vários respeitos (de morgados, lugares, cargos, profissões, etc.), são interessantes e valiosos e não devem ficar esquecidos.
Para os curiosos refira-se: Memórias de D. Francisco Alexandre Lobo, Bispo de Viseu, sobre os acontecimentos políticos e militares ocorridos em Portugal desde a morte de D. João VI / Carta de Venda do Palácio de Belém, datada de 4 de Julho de 1726. A propriedade, comprada em nome de D. João V por Diogo de Mendonça Corte Real, parte pertencera a D. Manuel de Portugal e seus herdeiros e outra a D. Jorge de Mascarenhas / Arquivo de Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo (1836/1892), médico e prof. da U.C., deputado regenerador, governador civil e conselheiro de estado, composto por 700 cartas de várias proveniências, incluindo um lote de cartas de "dirigentes políticos do concelho da Tábua sobre o julgamento de João Brandão" / Vários conjunto de Folhas de Ordenados dos Condes de Vila Nova, Marqueses de Abrantes, ... / Apontamentos acerca da Introdução e Cultura das Quinas em S. Tomé, 1880, com o conjunto de agricultores e as propriedades existentes / Copiador de Correspondência de João Pedro Soares (Braga, 1874-1881), António José Gonçalves Braga / Manifesto eleitoral da oposição de 15 de Novembro de 1747, com as assinaturas manuscritas de Sá da Bandeira, Manuel Passos, Almeida Garrett, José Ferreira Pinto Basto, Miguel de Canto e Castro, etc / Apontamentos Científicos de Miguel Franzini, Matemático Italiano que foi prof. da U.C. (1772-1810) e do seu filho Marino Miguel Franzini (major de Engenheiros, Ministro da Fazenda, Inspector da Cordoaria, etc.) / Árvore Geneológica dos Senhores de Ficalho / Certificado de Nobreza de D. Louis Pierre de Brederode, Senhor de Aerlanderveen, Cavaleiro da Ordem de Cristo, ... / Livro de Visitações da Freguesia de Nossa Senhora dos Coros, lugar de Teixoso, concelho da Covilhã, sec. XVIII e XIX / Anti-Semitismo. Livro encadernado "com apontamentos jurídicos e pareceres de um jurista, aparentemente professor da Universidade na primeira década do século CVIII". "Denuncia-se a existência de judeus ocultos em algumas terras", incluindo ainda "o parecer sobre uma família que estava infamada de judaísmo na vila de Celavisa" (20 de Agosto de 1708) / Caderno de Profecias de Vários autores, copiado em Setembro de 1840 (curioso)
quarta-feira, 28 de julho de 2004
[Pequeno Grão]
"Pequeno grão por onde não passa
água ou rede de átomos, esta
certeza de ser tão breve e tão
curto o tempo sobre a terra.
Quase sem forma, sem cor, o
próprio homem irá esquecer os
dias do homem, restarão papéis
com palavras e as ilusões
adiadas para sempre"
[Hélder Moura Pereira, in Á Luz do Mistério, Fenda, 1982]
"Pequeno grão por onde não passa
água ou rede de átomos, esta
certeza de ser tão breve e tão
curto o tempo sobre a terra.
Quase sem forma, sem cor, o
próprio homem irá esquecer os
dias do homem, restarão papéis
com palavras e as ilusões
adiadas para sempre"
[Hélder Moura Pereira, in Á Luz do Mistério, Fenda, 1982]
Ludwig Feuerbach [n. 28 Julho 1804-1872]
"... Para Feuerbach, a «concepção» do mundo sensível limita-se, por um lado, à simples contemplação deste último e, por outro, ao simples sentimento. Refere-se ao «Homem» em vez de se referir aos «homens históricos reais». «O Homem» é a realidade «o Alemão». No primeiro caso, isto é, na sua contemplação do mundo sensível, choca-se necessariamente com objectos que se encontram em contradição com a sua consciência e o seu sentimento, que perturbam a harmonia de todas as partes do mundo sensível que pressupusera, sobretudo a do homem e da natureza. Para eliminar estes objectos é-lhe necessário refugiar-se num duplo ponto de vista: entre uma visão profana que apenas se apercebe daquilo «que é visível a olho nu» e uma outra mais elevada fisiológica, que alcança a «verdadeira essência» das coisas. Não vê que o mundo sensível em seu redor não é objecto dado directamente para toda a eternidade, e sempre igual a si mesmo, mas antes produto da indústria e do estado da sociedade, isto é, um produto histórico, o resultado da actividade de toda uma série de gerações cada uma das quais ultrapassava a precedente, aperfeiçoando a sua indústria e o seu comércio e modificava o seu regime social em função da modificação das necessidades ..." [Karl Marx, in A Ideologia Alemã, Editorial Martins Fontes, 1974]
Locais: Ludwig Feuerbach Archive / Ludwig Feuerbach (1804-1872) / Ludwig Feuerbach / Ludwig Feuerbach (pt) / L. Feuerbach / Feuerbach / Teses sobre Feuerbach
terça-feira, 27 de julho de 2004
O Almocreve em deslocalização
Todos os anos a mesma coisa. Vamos de passeio que o verão começou de vez. Estamos instruídos a calcorrear as mais doces das recordações. Em perfeita deslocalização, que o luxo é um capricho discreto, entramos em cada terra, avenidas, ruas, subimos com a graça e gentileza estabelecimentos, arrais, festas outras, civilizadas ou não, com o mesmo entusiasmo e desassombro de antanho. Dominamos horizontes. É que a arte de saber viajar também se descobre. Esta nossa insinuação de repouso é de uma imensa frescura. Mar, serra, planuras para sentir a soidade, um céu azul. Nada mais.
Mas estamos atentos ... se a paisagem for aliciante. Não se livram de nós.
As «vacansas» de João Carlos Espada
A costumada e proverbial literatice do dr. João Carlos Espada (vide último Expresso) toma a forma de um panfleto muito libérrimo em defesa de "férias sossegadas", via a putativa "serenidade" do dr. Sampaio no caso da nomeação de Lopes & Portas, contra os "profetas da desgraça" usuais. Ao que se presume no delírio de Espada, o fantástico dr. Sampaio arfa, por ora, na sua grandeza de anti-estatista, bem aos modos inchados do antigo canhoto dr. Espada, e desassombra a ciência política indígena pelo seu "gentlemanship" avidamente soletrado pela esquerda liberal. A guia de marcha do dr. Espada pode seguir. A silly season está de volta.
O escriba de "Social Citizenship Rights ..." manifesta a sua estranheza por o "novo governo já estar a ser atacado" pela sociedade civil. Numa expressão de horror espadista, o gentil professor, num bocejo à maneira de Oakeshott, gagueja um "não há liberdade sem estabilidade e referências estáveis". Sentimos o presidente da direcção da secção portuguesa da International Churchill Society nas garras de uma tragédia sem igual. Fez bem o dr. Sampaio na sua picaresca aventura presidencial em salvar essa alma penada do anti-liberalismo.
Seja como for, o doutoral ex-camarada "Lima" continuará a arte de tresler paginas inteiras de Churchill, anunciando na próxima época escolar contrariar os dogmas "revolucionários" e "contra-revolucionários", a partir dos calhamaços de "Second World War" e "A History of English Speaking People", que a surtida aventureira das "vacansas" o impelem a transportar. Voltará para confeccionar teses para épater os anti-liberais, falazar de liberalismo sem defeito, entre um ar gauche alvar e o fulgor poderoso do olhar inteligente. Compreende-se que confesse: "Tenho tanto para ler, que não tenho tempo para descansar". Que não se canse são os nossos votos.
sábado, 24 de julho de 2004
In Memoriam (1925-2004)
Carlos Paredes: "Guitarra com Gente Dentro"
"Se tão inefável alma portuguesa em algum lado encontrou maneira de se comunicar foi nas suas notas que não falam de nada que possa ser dito, mas nascem directamente de um coração sintonizado com o canto inaudível do que nós somos como sentimento e vida." [Isabel Salema, in Público, 17 de Dezembro de 2003]
quinta-feira, 22 de julho de 2004
[à Isabel, evidentemente]
" ... Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;
entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos ...
Pétalas esguias
emolduram-te os dedos ...
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.
Nunca envelhecerás na minha lembrança! ..."
[Saúl Dias]
" ... Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;
entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos ...
Pétalas esguias
emolduram-te os dedos ...
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.
Nunca envelhecerás na minha lembrança! ..."
[Saúl Dias]
O Circo Lopes & Portas ou o governo segundo o dr. Sampaio
Não se trata de qualquer descoberta. As coisas sucedem em política, sempre, tal e qual como se aguardava que acontecessem. Em verdade, entre o enfado e o riso, o sentimento claro sobre o laborioso esforço cénico da formação do governo Lopes & Portas é uma desmedida chacota, divertida estouvadice, que por ser tão enjoativa e de má toada deixa toda a gente desassossegada. O tropeço incómodo, mesmo antes de começar a função, destes desencontros ministeriais, a bazófia do soporífero Portas sobre o repositório ambiental de Nobre Guedes ou o mau-olhado aplicado à putativa performance militar de Teresa Caeiro, torna este ofegante governo um enorme disparate. Não se sabe porque razão temos de aturar, mesmo que a diversão seja insuperável, os meneios destes jovens mendigados da coisa pública. Até o inefável Diogo Feio, pasme-se, chegou a Secretário de Estado da Educação.
A paródia destes senhores, com a bênção do dr. Sampaio, revela um total desnivelamento dos critérios de selecção da classe política e sugere ter-se chegado ao grau zero da incompetência. O interesse público assim confiado a infantis funcionários partidários torna impossível abordar qualquer questão com serenidade e objectividade possível. Os episódios lamentáveis destes dias manifestam um atrevimento político do senhor Presidente da República, a saber: a defesa de um governo que, pela primeira vez na história lusa, é possuidor do perfil mais medíocre de sempre. Sabia-se que em toda a vida económica, social e cultural portuguesa se declarava um facilitismo constrangedor, uma banalidade desesperante. Agora, pela mão diluída do dr. Sampaio resplandece no espaço governamental uma alucinada mediocridade. Infeliz deste país que tudo permite. Eis tudo.
Catálogo 66 da Livraria Bizantina
Acaba se sair o Catálogo da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa), com um conjunto simpático de monografias e outras peças curiosas, a preços perfeitamente acessíveis.
Algumas referências: Almanaque Ilustrado de Fafe (nºs de 1928, 1930 e 1955) / Boletim Oficial das Festas do 1º de Maio do Concelho do Cartaxo em 1937 / Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica, Afrodite, 1975 / Arte de Roubar Patrões. Conselhos a criados e criadas .... Escripto com Penna de Oiro por uma Macacão Callejado no Serviço, 1883 / O Integralismo Lusitano, de Leão Ramos Ascenção, Edições Gama, 1943 / As Monjas de Semide, por Lino d'Assumpção, Coimbra, 1900 / Sintra e seu Termo, de José de Oliveira Boléo, Lisboa, 1940 / Critica da Critica, e Defensa da Defensa. Dez cartas dedicadas ao Conde de Oeiras, por Pe. Joaquim Velho do Canto, Off. Pedro Ferreira, 1760 / O Gozo de Si Mesmo, do Marquez de Caraccioli, Typ. Rollandiana, 1789 / Notas para a Historia do Jornalismo em Elvas, por António José Torres de Carvalho, nº 1 a 48, 1931-32 / Elucidário do Viajante do Buçaco, de Augusto Mendes Simões de Castro, 1932 / O Mosteiro de Arouca, por Maria Helena da Cruz Coelho, 1988 / Contribuições para a Historia da Imprensa em Moçambique, Codam, 1973 / Subsídios para Historia das Candidaturas Norton de Matos (1949), Quintão Meireles (1952) e Humberto Delgado (1958), Edições Delfos / Colleçam das Antiguidades de Évora escriptas por André de Rezende, Diogo Mendes de Vasconcellos, Gaspar Estaco, Fr. Bernardo de Brito e Manoel Severim de Faria, organização de Bento Joze de Souza Farinha, 1785 / Monografia do Parque da Pena, por Mário de Azevedo Gomes, 1960 / O Convento e a Igreja de S. Francisco de Évora, por M. Carvalho Moniz, 1959 / A Verdade Monárquica, de Alberto de Monsaraz / Vieira de Castro e a Sua Tragédia, por Gomes Monteiro, 1932 / Mosteiro e Coutos de Alcobaça, por M. Vieira Natividade, 1960 / Monografia do Concelho de Loulé, por Athaide Oliveira, 1986 / Camillo Castello Branco. Notas e Documentos: Desaggravos, por Silva Pinto, 1910 / O Concelho de Macedo de Cavaleiros, por Armando Pires, 1963 / Acerca do Integralismo Lusitano, de Raul Proença, 1964 / Memórias da Villa de Arrayolos, de J. H. da Cunha Rivara, Arraiolos, 1983, II vols / Belém e Arredores Através dos Tempos, de José Dias Sanches, 1940 / O Movimento da Unidade democrática e a Moção Política do Porto, por Pedro Veiga (Petrus), 1968
terça-feira, 20 de julho de 2004
Fidelino de Figueiredo (1889-1967)
n. a 20 de Julho de 1889
"... Nem sempre tem sido bem comprehendida a função da bibliographia, como trabalho auxiliar, nem na sua qualidade nem na sua extensão. Essa funcção é bem maior e bem differente do que frequentemente pensam os bibliographos. É fóra de duvida que a bibliographia deve constituir uma especialidade autónoma, como a divisão das funções aconselha, mas é absolutamente necessario que essa bibliographia soffra uma radical transformação, erguendo-se de capricho de collecionadores à categoria de actividade util, de trabalho auxiliar da critica, sem que nessa subalternidade haja dedignidade. Sem uma solida educação critica e sem a vista de conjuncto que dá a representação dum fim superior, o colleccionador é quasi sempre destituido de qualquer noção de valor, que presida à escolha das espécies. Em resultado, como não sabe avaliar, collecciona tudo, sem attender à qualidade, e organiza collecções de superfluidades ..." [Fidelino Figueiredo, in A Critica Litteraria como Sciencia, 1920]
Locais: Fidelino de Figueiredo / Bibliografia / O Homem e a Obra
Papéis & Arrumações
- separata (rara) de Luís de Bívar Guerra, "História Genealógica de uma família do Alentejo", 1949, onde o autor disserta sobre "a assimilação dos judeus no nosso país", quer pela "via religiosa" quer "pelos casamentos mistos". É referido que "da confusão entre os actos do cristianismo e as práticas cripto-judaicas foi nascendo neles um catolicismo adulterado pelas reminiscências do mosaismo", apresentando uma classificação das "famílias eivadas de cristã-novice, quanto à assimilação pelo casamento" em cinco grupos. São considerados casos como o de Barros e Sá ("violentemente acusado de judeu"), e é analisada em pormenor a família Bougado (chamada pelo povo por "Queridos" apelido antes do baptismo) de Matosinhos, citando seguidamente Diogo Ribeiro e Leonor de Castro (de Beja) que tiveram uma filha Maria ("a judia bonita") que casou com Belchior Dias Bocarro de Évora, etc... Apresenta no fim a continuidade genealógica dessa família, bem como os processos consultados para o trabalho.
- separata do Boletim «Estremadura» da Junta da Província (Janeiro a Dezembro de 1959) de Gastão de Bettencourt, intitulada "Folclore do Sul do Brasil Presença de Portugal", onde o autor pretende, a partir do sul do Brasil e com "afinidades" com a região ribatejana, descrever "os núcleos primitivos da colonização naquelas fecundas terras" e, evidentemente, a "vida do gaúcho" (que se assemelha "à vida do nosso campino" "nos costumes campeiros"). É referido que "festejam-se, tal como cá, os três santos de Junho e, dos costumes açoritas lá fixados", a "típica festa do «Divino»" [...Espírito Santo], e depois é feito um estudo comparativo entre um conjunto de danças e músicas do lado brasileiro (Chimarrita, ao que se sabe de procedência açoreana; cordeona, com motivos de fadango; dança pesada, tirana, quero-quero, mancada ou polca antiga) e português. Curioso.
- separata (rara) de Luís de Bívar Guerra, "História Genealógica de uma família do Alentejo", 1949, onde o autor disserta sobre "a assimilação dos judeus no nosso país", quer pela "via religiosa" quer "pelos casamentos mistos". É referido que "da confusão entre os actos do cristianismo e as práticas cripto-judaicas foi nascendo neles um catolicismo adulterado pelas reminiscências do mosaismo", apresentando uma classificação das "famílias eivadas de cristã-novice, quanto à assimilação pelo casamento" em cinco grupos. São considerados casos como o de Barros e Sá ("violentemente acusado de judeu"), e é analisada em pormenor a família Bougado (chamada pelo povo por "Queridos" apelido antes do baptismo) de Matosinhos, citando seguidamente Diogo Ribeiro e Leonor de Castro (de Beja) que tiveram uma filha Maria ("a judia bonita") que casou com Belchior Dias Bocarro de Évora, etc... Apresenta no fim a continuidade genealógica dessa família, bem como os processos consultados para o trabalho.
- separata do Boletim «Estremadura» da Junta da Província (Janeiro a Dezembro de 1959) de Gastão de Bettencourt, intitulada "Folclore do Sul do Brasil Presença de Portugal", onde o autor pretende, a partir do sul do Brasil e com "afinidades" com a região ribatejana, descrever "os núcleos primitivos da colonização naquelas fecundas terras" e, evidentemente, a "vida do gaúcho" (que se assemelha "à vida do nosso campino" "nos costumes campeiros"). É referido que "festejam-se, tal como cá, os três santos de Junho e, dos costumes açoritas lá fixados", a "típica festa do «Divino»" [...Espírito Santo], e depois é feito um estudo comparativo entre um conjunto de danças e músicas do lado brasileiro (Chimarrita, ao que se sabe de procedência açoreana; cordeona, com motivos de fadango; dança pesada, tirana, quero-quero, mancada ou polca antiga) e português. Curioso.
segunda-feira, 19 de julho de 2004
Mayakovsky (1893-1930)
n. a 19 de Julho de 1893
Locais: Vladimir Vladimirovich Mayakovsky 1893-1930 / Mayakovsky and His Circle / Vladimir Mayakovsky / Vladimir Majakovski (1893-1930) / Vladimir Vladimirovich Mayakovsky / Slap in the Face of Public Taste (Manifesto Futurista)
Livros & Arrumações
- conferência de Magnus Bergstrom intitulada "O Amor e a Saudade em Portugal", "pronunciada no Teatro Nacional de Almeida Garrett, aos 2 de Fevereiro de 1930, na primeira representação em português, da ópera «Crisfal», poema de Afonso Lopes Vieira e música de Ruy Coelho". Refere: "... D. Duarte, taciturno e filósofo, estudando a saudade nas suas causas, define-a «sentido do coraçom». Bernardino Ribeiro simboliza-a no rouxinol, que, depois de pousar num verde ramo e de cantar docemente, se deixa cair morto sobre a água ..."
- n'A Arte Musical, ano VI, nº 121 (15 de Janeiro de 1904) existe um texto biográfico sobre o Conde de Farrobo . Refere o autor, Francisco da Fonseca Benevides, que o Conde de Farrobo prestou "grandes serviços á cauda liberal, na lucta entre D. Pedro e D. Miguel". Salienta que tendo a esquadra liberal a 11 de Outubro de 1832, comandada por Sartorius, "destroçado a esquadra miguelista", os marinheiros vencedores amotinaram-se "por não lhe pagarem as soldadas". Nessa situação o Conde de Farrobo adiantou "os fundos necessários". Ao que nos é dito a "grandiosidade do Conde de Farrobo era porém excedida pelo seu incurável desleixo" e, assim, "foram tristes os últimos annos da [sua] vida", de tal forma que "a perda da sua fortuna foi acompanhada de um espécie de depressão mental", tendo falecido a 24 de Setembro de 1869. Apresenta, ainda, a revista um interessante trabalho sobre "Violas d'Arco" e um curioso texto de Alberto Pimentel, "Camões e a Opera".
- conferência de Magnus Bergstrom intitulada "O Amor e a Saudade em Portugal", "pronunciada no Teatro Nacional de Almeida Garrett, aos 2 de Fevereiro de 1930, na primeira representação em português, da ópera «Crisfal», poema de Afonso Lopes Vieira e música de Ruy Coelho". Refere: "... D. Duarte, taciturno e filósofo, estudando a saudade nas suas causas, define-a «sentido do coraçom». Bernardino Ribeiro simboliza-a no rouxinol, que, depois de pousar num verde ramo e de cantar docemente, se deixa cair morto sobre a água ..."
- n'A Arte Musical, ano VI, nº 121 (15 de Janeiro de 1904) existe um texto biográfico sobre o Conde de Farrobo . Refere o autor, Francisco da Fonseca Benevides, que o Conde de Farrobo prestou "grandes serviços á cauda liberal, na lucta entre D. Pedro e D. Miguel". Salienta que tendo a esquadra liberal a 11 de Outubro de 1832, comandada por Sartorius, "destroçado a esquadra miguelista", os marinheiros vencedores amotinaram-se "por não lhe pagarem as soldadas". Nessa situação o Conde de Farrobo adiantou "os fundos necessários". Ao que nos é dito a "grandiosidade do Conde de Farrobo era porém excedida pelo seu incurável desleixo" e, assim, "foram tristes os últimos annos da [sua] vida", de tal forma que "a perda da sua fortuna foi acompanhada de um espécie de depressão mental", tendo falecido a 24 de Setembro de 1869. Apresenta, ainda, a revista um interessante trabalho sobre "Violas d'Arco" e um curioso texto de Alberto Pimentel, "Camões e a Opera".
sábado, 17 de julho de 2004
O "governo" do dr. Sampaio
"Também os acho pouco asseados: todos sujam as suas águas para as fazer perecer profundas" [Nietzsche]
Confirma-se. O "governo" do dr. Sampaio, sem grandes surpresas, diluindo a intencionalidade de alguns analistas mais manhosos, não conseguiu demover o eterno interesse dos grupos económicos e, singularíssimo, apresenta rostos contorcidos e fermentados para a luta política. Varrido o escol Barrosista, despedidos que foram para o suplício da privada, os novos ministros num arranjo cénico à Parque Mayer lá estão, desconjuntados e fora do seu palco de origem, prontos na sua vaidade ministeriável para imortalizar o pronto-a-servir de Lopes & Portas.
Enquanto isso, o dr. Sampaio, numa ironia very british, fervilha de júbilo pelo cumprimento do dever imperioso da democracia representativa. No seu intimo o dr. Sampaio desvanece-se de emoção perante a presunção da diatribe entre um PP assim musculado e um PPD, de lábia sonsa é um facto, mas refém do cozinhado governamental. Coisa, já se sabe, que os críticos de sofá político não conseguem entender na sua lufa-lufa antisantanista. Na verdade, fora a confusão na orgânica governamental que o ilustre Lopes atabalhoadamente pratica, o que se verifica é uma deliciosa e fascinante insinuação entre um PPD/PSD ávido de ritmo eleitoral (não é verdade mr. José Luís Arnaut & dr. Mexia?) e o re-fundamentalismo de Bagão Félix, em versão agora marialva. O sr. Álvaro Barreto, um clássico, está lá para dar sobriedade governamental. Os outros ... porque não havia mais ninguém.
Assim sendo, não restam dúvidas que enquanto todos ecoam palavras de consagração ao inteligente Lopes (o tal que não pode ser menosprezado), o dr. Portas confeccionou uns valentes pares de ministros, em lugares específicos, capazes de em dois anos o salvarem da hecatombe eleitoral. Não se cuide o dr. Lopes (o tal, dizem, que não pode ser subestimado) que o sequestro está à vista. Resta saber quem desertará em primeiro lugar. Aguardemos.
Erle Stanley Gardner [n. 17 Julho 1889 - 1970]
"Murder is not perpetrated in a vacuum. It is a product of greed, avarice, hate, revenge, or perhaps fear. As a splashing stone sends ripples to the farthest edges of the pond, murder affects the lives of many people." [in, The Case of the Horrified Heirs, 1964 - Ver Aqui]
Papeladas & Arrumações
- curioso "ensaio de critica leve, de philosophia amena", denominado "Cartas Biologicas", de Pires de Mirandola, editor Carlos Viana (s/d). Diz-nos: "... É evidente que nem todos podem mandar e que, por mais systemas e teorias que se inventem, ha-de ser sempre um pequenissimo núcleo de homens que ha-de governar os povos e estes quando são sensatos, intelligentes e praticos como o inglez, o allemão, o belga e outros assim o entendem e executam. O portuguezinho valente não: ... não há um único que não se julgue habilitadissimo e competentíssimo para salvar a Pátria e então se chega a ser qualquer coisa como caixeiro ali da respeitabelissima tenda dos srs. Jyronimo Martins & Filhos o menos com que se contenta é com uma estatua de pedra. Qualquer sapateiro de escada, em vez de se occupar conscientemente em deitar tombas e por meias solas, a única coisa em que pensa é tocar um solo de rabecão e se apparece alguém com geito para o rabecão esse quer logo ser jornalista ou deputado ..."
- interessante conferência "proferida na Faculdade de Letras de Coimbra em 10 de Março de 1963", por Adriano Moreira, sobre "O Neutralismo". Como "determinantes políticas do neutralismo" é referido: "sendo o anticolonialismo o principal elemento da ideologia neutralista, o nacionalismo é a sua preocupação dominante."
- curioso "ensaio de critica leve, de philosophia amena", denominado "Cartas Biologicas", de Pires de Mirandola, editor Carlos Viana (s/d). Diz-nos: "... É evidente que nem todos podem mandar e que, por mais systemas e teorias que se inventem, ha-de ser sempre um pequenissimo núcleo de homens que ha-de governar os povos e estes quando são sensatos, intelligentes e praticos como o inglez, o allemão, o belga e outros assim o entendem e executam. O portuguezinho valente não: ... não há um único que não se julgue habilitadissimo e competentíssimo para salvar a Pátria e então se chega a ser qualquer coisa como caixeiro ali da respeitabelissima tenda dos srs. Jyronimo Martins & Filhos o menos com que se contenta é com uma estatua de pedra. Qualquer sapateiro de escada, em vez de se occupar conscientemente em deitar tombas e por meias solas, a única coisa em que pensa é tocar um solo de rabecão e se apparece alguém com geito para o rabecão esse quer logo ser jornalista ou deputado ..."
- interessante conferência "proferida na Faculdade de Letras de Coimbra em 10 de Março de 1963", por Adriano Moreira, sobre "O Neutralismo". Como "determinantes políticas do neutralismo" é referido: "sendo o anticolonialismo o principal elemento da ideologia neutralista, o nacionalismo é a sua preocupação dominante."
quinta-feira, 15 de julho de 2004
Rosalía de Castro (1837-1885)
m. a 15 de Julho de 1885
"Escritora galega. Descendente, por parte de sua mãe, de uma família da velha nobreza, o facto de ser filha ilegítima de um sacerdote marca-a profundamente desde muito jovem. Escreve em galego e em castelhano e acaba por se tornar um elemento preponderante do «Resurdimento Galego». Aos vinte anos publica La flor, seu primeiro livro de versos. Nos seus Cantares gallegos (1863), breves glosas de canções populares, manifesta a sua intensa nostalgia da terra galega. Em Follas novas (1880), obra de uma maior intensidade lírica, exprime a sua intimidade com mestria e simplicidade, abordando a natureza como puro símbolo da sua nostalgia desenganada. En las orillas del Sar (1885) acentua-se o seu pessimismo. Os temas predominantes nesta colectânea são a inelutável realidade da dor, a inexorável passagem do tempo e um obsessivo sentimento da morte. No conjunto, a sua obra gira em torno de três temas básicos: uma visão costumeira da Galiza rural, um conteúdo metafísico que a parece aproximar da filosofia existencial e a denúncia das assimetrias sociais da Galiza. Por outro lado, Rosalía é uma importante inovadora estilística, pois utiliza novos ritmos, mais flexíveis e harmoniosos do que os usuais na sua época." [ver aqui]
Locais: Rosalía de Castro (1837-1885) / Biografia / Rosalia (biografia & obra) / Poemas / Rosalía de Castro (Títulos digitalizados) / Rosalia Castro (Cantares Gallegos) / Rosalía de Castro - o el color de la amargura
[Horas Tras Hora ...]
Hora tras hora, día tras día,
entre el cielo y la tierra que quedan
eternos vigías,
como torrente que se despeña,
pasa la vida.
Devolvedle a la flor su perfume
después de marchita;
de las ondas que besan la playa
y que una tras otra besándola expiran.
Recoged los rumores, las quejas,
y en planchas de bronce grabad su armonía.
Tiempos que fueron, llantos y risas,
negros tormentos, dulces mentiras,
¡ay!, ¿en dónde su rastro dejaron,
en dónde, alma mía?
Partido Socialista: um imenso vazio (II)
A contenda em torno da "luta pela conquista do centro", suposto o eleitorado flutuando como qualquer corsário em busca de abrigo, é recorrente no discurso oficioso. Desastradamente, tal linha conceptual original e comovente, mesmo que nos assegurem a sua referência nos manuais de literatura política, manifesta dificuldades na sua aplicabilidade. A pluralidade de estratégias de sobrevivência dos vários clientes que configuram essas posições "ao centro", só têm sentido em situações bem particulares. E mesmo aí, não é conveniente construção mecanicista na análise e muito menos o assumir, como hipótese, que esse "centro" é inamovível ideologicamente. E muito de "ideológico" mudou nestes tempos últimos, sendo que os eleitores, fortemente informados (globalização oblige), não são já o lugar da "irracionalidade". Quer isto dizer, que existe uma "lógica de cuidado" de características noviciadas, perante o impasse económico, social e cultural a que a todos assistimos. Falar da conquista do "centro" significa, portanto, neste contexto, exactamente o quê? E se considerarmos que há muito está esgotada a bipolarização, sendo necessárias alianças à direita e à esquerda, então para que serve a luta pelo "centro"?
Noutro registo: sabia-se da impossibilidade de António Vitorino, por motivos familiares e por características pessoais, assumir a liderança do seu partido (alguém, curiosamente, explicava as indefinições de Vitorino recorrendo à metáfora "sebenteira": isto é, alguém que ao longo de vinte páginas de didáctica jurídica não permite expor o que quer que seja de substantivo, quando é confrontado com resoluções definitivas revela as costumeiras contrariedades). Ninguém duvida que foi uma perda inultrapassável.
Por outro lado, José Lamego intervém meramente como urgência de ganhar posição num futuro Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu turno, João Soares, por definição, não tem nada a perder e portanto está à vontade, mas o ter perdido com Santana afasta-o de qualquer cenário credível.
Resta José Sócrates, estabelecido na ala mais "direitista" do seu partido, personagem estimada pela classe governamental e mediática. A putativa inflexão à direita do espaço socialista pode-se não verificar totalmente, porque é sabido que o trabalho e o esforço partidário não são o mais forte em Sócrates, pelo que ficará sempre refém do aparelho, que não controla. E, de facto, Sócrates não representa a linha de esquerda do seu partido. Esta, embora pouco expressiva capitalizou o despautério de Sampaio, passe não anunciar ninguém que a habilite à liderança. Helena Roseta seria uma possibilidade, mas Jorge Coelho nunca o permitiria. Fica, pois, o maior partido da oposição num imenso vazio. Num tumultuoso reboliço. Alguém irá ganhar com isso. Estaremos cá para ver.
A contenda em torno da "luta pela conquista do centro", suposto o eleitorado flutuando como qualquer corsário em busca de abrigo, é recorrente no discurso oficioso. Desastradamente, tal linha conceptual original e comovente, mesmo que nos assegurem a sua referência nos manuais de literatura política, manifesta dificuldades na sua aplicabilidade. A pluralidade de estratégias de sobrevivência dos vários clientes que configuram essas posições "ao centro", só têm sentido em situações bem particulares. E mesmo aí, não é conveniente construção mecanicista na análise e muito menos o assumir, como hipótese, que esse "centro" é inamovível ideologicamente. E muito de "ideológico" mudou nestes tempos últimos, sendo que os eleitores, fortemente informados (globalização oblige), não são já o lugar da "irracionalidade". Quer isto dizer, que existe uma "lógica de cuidado" de características noviciadas, perante o impasse económico, social e cultural a que a todos assistimos. Falar da conquista do "centro" significa, portanto, neste contexto, exactamente o quê? E se considerarmos que há muito está esgotada a bipolarização, sendo necessárias alianças à direita e à esquerda, então para que serve a luta pelo "centro"?
Noutro registo: sabia-se da impossibilidade de António Vitorino, por motivos familiares e por características pessoais, assumir a liderança do seu partido (alguém, curiosamente, explicava as indefinições de Vitorino recorrendo à metáfora "sebenteira": isto é, alguém que ao longo de vinte páginas de didáctica jurídica não permite expor o que quer que seja de substantivo, quando é confrontado com resoluções definitivas revela as costumeiras contrariedades). Ninguém duvida que foi uma perda inultrapassável.
Por outro lado, José Lamego intervém meramente como urgência de ganhar posição num futuro Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu turno, João Soares, por definição, não tem nada a perder e portanto está à vontade, mas o ter perdido com Santana afasta-o de qualquer cenário credível.
Resta José Sócrates, estabelecido na ala mais "direitista" do seu partido, personagem estimada pela classe governamental e mediática. A putativa inflexão à direita do espaço socialista pode-se não verificar totalmente, porque é sabido que o trabalho e o esforço partidário não são o mais forte em Sócrates, pelo que ficará sempre refém do aparelho, que não controla. E, de facto, Sócrates não representa a linha de esquerda do seu partido. Esta, embora pouco expressiva capitalizou o despautério de Sampaio, passe não anunciar ninguém que a habilite à liderança. Helena Roseta seria uma possibilidade, mas Jorge Coelho nunca o permitiria. Fica, pois, o maior partido da oposição num imenso vazio. Num tumultuoso reboliço. Alguém irá ganhar com isso. Estaremos cá para ver.
quarta-feira, 14 de julho de 2004
Partido Socialista: um imenso vazio (I)
"A piedade é cruel. A piedade destrói. Não há amor seguro quando a piedade espreita" [Graham Greene]
Estes últimos anos, com a incapacidade desconcertante de regenerar a classe política que as corporações de interesses que habitam em cada partido não permitem, têm sido uma lista de mazelas amargurada, uma fatigada e corrosiva tortura, uma desastrada cacofonia de disparates que dramatizam a vida social e política portuguesa. E na verdade pouco há, ainda, a esperar quando somos suspeitosos de quedarmos "ser sem desejo, sem despeito, sem revolta" [G. Pérec].
Varridos pelo presumido imprevisto que a indecorosa decisão de Jorge Sampaio fez tombar no espectro político-partidário, aturdidos pela obscenidade de ter um primeiro-ministro estouvado politicamente e obsequiante partidariamente, indiferentes ao "assassinato" político de Ferro Rodrigues (que muito a jeito se colocou, diga-se) por acofiados analistas e pela "tralha" socialista, descobrimos, de repente, que estamos manietados em "jogos de poder" que lamentamos, mas que somos impotentes para ultrapassar. Porém, a emotividade da putativa indignação que nos assalta faz-nos desprezar as origens desta agonia que a crise política comporta. Fala-se, evidentemente, do clientelismo e do monopólio dos interesses que nas estruturas partidárias substituem o carácter, a coragem e a verdade de servir os cidadãos e o país. Essa estranha maldição, resultante da conflitualidade entre "tradição" e "modernidade", não pode interferir no nosso labirinto dos afectos sob pena de cairmos no dizer de Cesariny de Vasconcelos: "aquele que se mete a autorizar a autoridade de quem desautoriza não sabe no que se mete".
[a continuar]
[Não me venham dizer]
"Não me venham dizer
que os choupos despidos lembram mágoas
se o sol os veste, solitários e altivos,
erguidos sobre as águas
Longe vem vindo os barqueiros,
metidos no rio até às virilhas.
Nas ínsuas correm em liberdade os potros,
embora mais tarde vão pelas estradas,
seus flancos cingidos pelas cilhas"
[João José Cochofel, in Canção monótona para adormecer o poeta]
"Não me venham dizer
que os choupos despidos lembram mágoas
se o sol os veste, solitários e altivos,
erguidos sobre as águas
Longe vem vindo os barqueiros,
metidos no rio até às virilhas.
Nas ínsuas correm em liberdade os potros,
embora mais tarde vão pelas estradas,
seus flancos cingidos pelas cilhas"
[João José Cochofel, in Canção monótona para adormecer o poeta]
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