sexta-feira, 30 de julho de 2004
Breviário Luso
- antes e depois dos incêndios que, decididamente precipitaram de novo o país, nada permanecerá para contar. A mesma incúria já cansada, a imprudente vaidade de todos os governos maviosamente ineptos, os sempre desinquietantes episódios da nossa incapacidade de sermos solidários, o doloroso abandonado de cidadãos, dos mais pobres e mais débeis que o país fará por esquecer, o descomunal embuste desta nossa civilização sem dor nem revolta. A culpa morrerá solteira. A nossa canseira é imensa. Que vida é a nossa? Alguém sabe?
- fomos fustigados ao longo de dois tenebrosos anos, sem qualquer gosto ou prazer nosso, pela senhora Manuela Ferreira Leite e Cia Lta. Fizemos de bobos da corte Barrosista. Os sábios economistas a soldo governamental, os jornalistas petulantes dos diários da especialidade, os demagogos da coisa pública, os jovens efebos neo-liberais, todos eles engendraram a maior das aleivosias em torno do cumprimento do PEC, pela saúde das contas públicas. A fraude era demais evidente, mesmo para putativos gorjeios académicos. A monumental mentira aí está, tal como qualquer mortal equidistante de paixões sempre assumiu. A realidade é outra, sempre foi outra. Não esqueceremos os serviçais a soldo da senhora ex-ministra das Finanças. Podem ter a certeza.
- fez bem ouvir o candidato Manuel Alegre na sua intervenção de formalização de candidatura à direcção do PS. Preste-se homenagem às suas palavras profundas, solenes, arrebatadoras, sentidas, que o desassombro ainda existe. Pode-se gostar ou não do poeta Alegre, mas o certo é que ele é insuspeito de qualquer tergiversação. Foi demasiado claro. Como poucos, hoje, sabem ser. Pode não ganhar nada, mas o "espírito da coisa" ficou. Compreende-se como está, nobremente, feliz o Tugir. Porque os ventos ainda sopram.
- a chiadeira de Moita Flores n'O Independente é uma peça incrível, uma fantástica mixórdia cantarolada em louco desatino. A singular Carta Aberta é tão repelente que merece ser investigada, se ainda se souber por quem de direito. Suspeita-se que muitos ficaram engasgados. A questão a saber é: quem nos salva desta historieta remelosa? Onde está a decência? Onde reside a verdade? Quem nos tira deste ridículo?