segunda-feira, 10 de novembro de 2008


Ensino: agravos, calúnias & blogs

1. Maria de Lurdes Rodrigues, ainda ministra da educação, deu ontem uma série de entrevistas às televisões a propósito da manifestação de repúdio dos professores contra a sua pessoa. Esteve em todas elas, pastoreando os incautos espectadores e celebrando a sua incompetência política. Em todas elas, a arrogância e "teimosia" assumidas apontam para a sua insipiência em "matéria de gestão de organizações". Que é total.

Tratando quer um "quartel”" quer uma escola, como sendo uma única e a mesma organização, logo iguais conceptualmente, o seu exercício intelectual e académico põem em evidência as suas fracativas competências científicas-pedagógias na matéria. E revelam o estado do ensino académico indígena. E logo ela que, não por acaso, aparece como sendo uma putativa expert nesse folheto curioso que é a sociologia das organizações. Se não se soubesse que tal panegírico é assunto recopilado via o imaginário providente de João Freire (anarquista aposentado), com o apoio dos inefáveis empregados do regime que vegetam no ISCTE ou desconhecendo-se como a douta socióloga aplica na prática política e governativa os ensinamentos teóricos que lecciona, seríamos julgados a acreditar na bondade das suas medidas. Infelizmente não é assim! Qualquer um que queira saber as razões que estão por detrás do conflito entre (todos) os professores e a ministra tem à sua disposição na internet todos os materiais para uso do contraditório nessa matéria. Que o faça, livremente. Se for ainda capaz.

2. Calúnias. Não falamos das afirmações do caluniador e provocador Emídio Rangel, porque o caso é de foro psicanalítico e não argumentativo. As palavras insulsas ficam sempre bem a quem as profere.

Mas os editoriais do DN e do JN, pelo fraseado gasto e a manifesta inverdade no que escrevem, para além de ridículo são de lamentar. O editorial do DN é, de facto, de uma leviana ignorância e maledicência ao considerar puras deturpações como "casos concretos". O jornalista (?), presume-se o próprio Marcelino, não estudou a matéria em causa, limitando-se a repetir os rumores lançados pela ministra da educação. É ignorante porque afirma que "professores avaliados tem apenas de preencher uma ficha de definição de objectivos com duas páginas" – o que não é verdade totalmente – repetindo ad nauseam o que é lançado via governo. O porquê deste extraordinário e típico rumor era curioso de descobrir. O João Marcelino tinha (e tem) ocasião de saber se é ou não assim: basta ir a uma qualquer escola ou consultar documentação na internet.

Mais: o João Marcelino repete "que há muitos professores que já foram avaliados". O Marcelino, dando préstimos a iguais afirmações da ministra, não sabe que tipo de professores foram avaliados, em que contexto e como. Esquece-se de dizer que a tais docentes (os contratados e os que subiam de escalão até final do ano lectivo) não se utilizou a mesma metodologia (só tiveram de fazer a sua autoavaliação) com que agora se brinda os docentes do quadro e que, curiosamente, se encontram actualmente a trabalhar, na sua maioria, em caixas de supermercado ou estão no desemprego. Mas podia saber quem foi "avaliado" (e como?) se fosse autónomo, tivesse interesse, fosse atento e soubesse fazer uma simples pesquisa. Isto é, se fosse jornalista.

Por fim, é inútil referir o study case desse típico gerente dos jornais dos regimes, o senhor José Leite Pereira, director do JN. Num editorial abjecto, repetindo a pataco as enormidades do seu camarada João Marcelino (porque será?) pincela uma sensaborona croniqueta, onde o que avulta é apenas a pífia repetição desse espantalho das corporações e da defesa de direitos adquiridos. Para isso estamos conversados. Não é o jornalista Leite Pereira que pode vir dar lições sobre essa matéria. Ou a vergonha caiu de vez?

3. Por sua vez a Blogosfera, quase sempre escrava de factos e da retórica política posta a correr por criaturas sem nome, dorme "como um cevado". Bem comportadinha e sem liberdade de acção, como qualquer liceal, faltou à chamada. O ensino ou a educação irritam-lhe ou parcos neurónios, sonega-lhe a inspiração e a verve. A Blogosfera embirra com o ensino e os educadores. Fosse outro o escarcéu, já tinha publicado excelentes gatafunhos de gramática política & parido tão artificiosos como retrincados textos. Muitos dos blogs, ditos de referência, estão mais para a agulha e o dedal partidário. Ou sindical. Ou corporativo. Afinal porque razão haveriam de prosar e debater o ensino ou a educação? Acaso alguns desses extraordinários "cães de guarda" do regime, na sua boémia internauta, poderiam gastar as teclas, contestar ou opinar sobre a questão, talvez, absolutamente vital do país que é o ensino e a educação? Não podiam! Isto porque, tais fervorosos bloguers frequentam, como almas gémeas ou como comensais, o repasto do regime. Ora nunca se viu alguém morder a mão que lhe dá de comer. Evidentemente que não.