segunda-feira, 7 de novembro de 2005


Do Mulherio: anotações espirituais & cavalheirescas

"Pergunto-me se nos podemos interessar pela alma de uma mulher que tem as pernas irremediavelmente curtas" [Henry Montherlant] / "Deus! Como estavas bonita hoje ao telefone" [Sacha Guitry] / "Quando as velas se apagam, todas as mulheres são bonitas" [Plutarco] / "Como sexo, as mulheres são insuportáveis, mas, na hora do sexo, não têm nada de melhor" [Millôr Fernandes] / "As mulheres não são senão órgãos genitais articulados e dotados da faculdade de gastar todo o dinheiro que nós possuímos" [William Faulkner] / "A virtude da mulher é a melhor invenção do homem" [Cornélia Otis Skiner] / "Os homens amam o que os demove de serem sublimes" [Agustina Bessa-Luís] / "Pobre mulherzinha! Boceja depois do amor como uma carpa saída da água sobre a mesa da cozinha" [Flaubert] / "Nunca consegui ver os ombros de uma jovem sem pensar em fundar família" [Larbaud] / "Abstenha-se de contar à sua mulher as infâmias que lhe fizeram as que a precederam. Não vale a pena dar-lhe ideias" [Sacha Guitry] / "Na adolescência amamos as outras mulheres porque elas são mais ou menos parecidas com a primeira. Mais tarde, amamo-las porque elas diferem entre si" [Flaubert] / "Ser-se primeiro amante de uma mulher não significa nada: o segredo está em ser-se o seu último amante" [Maurice Donnay] / "As mulheres seriam mais encantadoras se pudéssemos cai-lhes nos braços, sem lhes cairmos nas mãos" [Bierce] / "Algumas mulheres coram quando são beijadas. Outras chamam a policia. Outras insultam. Outras mordem. As piores são as que se riem" [Aron] / "Eu sei que a mulher é um prato para os deuses, se o diabo não o temperar" [Shakespeare] / "A mulher será sempre o perigo de todos os paraísos" [Paul Claudel] / "Não sabemos o quanto as mulheres são uma aristocracia. Não há povo nelas" [Michelet] / "O perigo de fechar as mulheres nos museus é que elas começam logo a endireitar os quadros" [Aron]

Et ... pour cause: "Tão cheios de homens, os homens" [Maria Velho da Costa] / "Gosto de duas espécies de homens: os domésticos e os estrangeiros" [Mae West] / "Um homem ... fica tão bem numa casa" [E. Gaskell] / "Macho não quer dizer mucho" [Zsa Zsa Gabor]

[retirado da revista Vida, O Independente, org. & recolha de Inês Pedrosa, 16/06/1989]

Das Revistas

Las Revistas Literárias y Políticas del Franquismo (I) [Magazine Littéraire] / El mensaje oculto de Hypnerotomachia Poliphili [Magazine Littéraire] / Les belles parures [Magazine Littéraire] / L' «ultra-gauche», histoire et confusion [A Contretemps] / Albrecht Dürer and Nicholas Cusanus: the Real, the Ideal, and the Quantification of the Body / Écrivains & Enquêteurs [Alibis] / Surréalisme et révolution [Astu] / Le dialogue entre Octavio Paz et Benjamin Peret [Astu]

domingo, 6 de novembro de 2005

[Os novos escritores e o movimento chamado «neo-realismo»]

Curioso escrito de Jaime Brasil, "Os novos escritores e o movimento chamado «neo-realismo»", separata da Revista Afinidade, nº12, 1945, reimpressa por "erros de composição", onde o autor nos diz que "a jovem literatura portuguesa, grávida de todas as influências externas e internas, deu à luz entre as dores do mundo e as sua próprias, algumas obras que não serão definitivas, mas deixam entrever grandes esperanças". Considera, ainda, que "os jovens escritores beberam nesses antepassados [geração de 70] a seiva da rebeldia, a ânsia de renovação conceptual e formal". Porém, Jaime Brasil, salienta "o impulso decisivo" da "jovem literatura brasileira que, desordenada, e ainda bárbara na forma, brotou, com vigor da flora tropical, nos começos do segundo quartel deste século". E que "mais do que um estimulo, parece ter havido uma emulação. Dir-se-ia que o facho da criação literária ia passar de mão, para a outra margem do Atlântico" e que "num supremo esforço, sem acordo prévio e, repetimos, sem ambiente favorável, a juventude intelectual da margem de cá retomou o facho de erguer ao alto".

Depois, Jaime Brasil considera necessário "remontar às correntes que polarizaram a inteligência portuguesa do começo deste século para cá", referindo a ?"corrente progressiva" nascida sob o domínio republicano, seguida de uma outra inspirada pelo "doutrinarismo político da Action Française", de cunho "regressivo". Diz que feito o balanço dessas forças, passe alguns valores individuais brilhantes? a sua "acção na vida mental portuguesa foi nula", assumindo que "arte e política são valores não só diferentes, mas antagónicos". Passa depois a apreciar a revista "Orfeu", referindo Fernando Pessoa e a "renovação poética operada", para saltar para a revista "Presença" ["trouxe uma rajada de ar do largo"], de onde considera que "surgiu a querela 'da arte pura e da arte social', do individualismo do artista - interiorístico, todo em desfibrações psicológicas - e do artista preocupado com o colectivo, com o bem comum, de olhos abertos perante as duras realidades da vida".

O texto prossegue em busca dessa "juventude inquieta", quer na sua atitude estética ou "simplesmente literária", para considerar Ferreira de Castro ["o primeiro que, em língua portuguesa, tratou dos problemas sociais"] como precursor dessa nova corrente, inclusive antecedendo "os modernos romancistas brasileiros". Segundo Jaime Brasil, os mais dotados desses jovens escritores, são a saber: Alves Redol, Soeira Pereira Gomes, Afonso Ribeiro [ver "Aldeia"], Manuel da Fonseca ["Cerromaior"], Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Vergílio Ferreira [romance "O Caminho fica longe" que não saiu e que retrata a vida académica em Coimbra e "Onde tudo foi morrendo"], Manuel do Nascimento ["Eu queria viver" e "Mineiros"], José Loureiro Botas ["Litoral a Oeste" e "Frente ao Mar"], António Vitorino ["Gente da Vieira" e "A Vida Começa Assim"], Ramos da Cunha ["Lá fora o sol brinca"], Assis Esperança ["E a noite não acaba"], Joaquim Ferrer ["Ilha Doida"], Roberto Nobre ["Jardim Fechado"], João Falcato ["Fogo no Mar"], Julião Quintinha, Fausto Duarte ["Auá" e "Revolta"] e, evidentemente, os jovens poetas do "Novo Cancioneiro", com sede em Coimbra.

quinta-feira, 3 de novembro de 2005


Wilhelm Reich [1897 - m. 3 Novembro 1957]

"... Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé Ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade. O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza, força e grandeza alheias. Que se orgulha dos seus grandes generais mas não de si próprio. Que admira as ideias que não teve mas nunca as que teve. Que acredita mais arraigadamente nas coisas que menos entende, e que não acredita no que quer que lhe pareça fácil de assimilar

(...) Eu sei que não és apenas medíocre, Zé Ninguém. Sei que também tens as tuas grandes horas na vida, momentos de «júbilo» e «exaltação», de «voo». Mas falta-te a coragem para subir cada vez mais alto, para manter a tua própria exaltação. Tens medo de altos voos, medo da altura e da profundidade. Nietzsche já te disse isto muito melhor, há muitos anos já. Só que não te disse porque é que és assim. Tentou transformar-te num super-homem, um Übermensch que superasse o que tens de humano. O Übermensch tornou-se «Führer Hiltler». Tu permaneceste Übermensch. Eu gostaria apenas que fosses tu próprio ..."

[Wilhelm Reich, Escuta Zé Ninguém!, Dom Quixote, 1972]

Locais: Wilhelm Reich / Wilhelm Reich (1897-1957) / Wilhelm Reich / Quem é Wilhelm Reich? / Fundácion Wilhelm Reich [Espanha] / Escuta Zé Ninguém!

terça-feira, 1 de novembro de 2005


Alfred Jarry

"Alumiai, irmãos, o caminho de vosso senhor, grande peregrino. Seguimo-lo alegres sem dúvida: fechados em grandes caixas de lata durante toda a semana, só ao domingo podemos respirar o ar livre. Palafreneiros das Serpentes de Bronze, nós somos os Pa, nós somos os Pa, nós somos os Palotins.

Orelhas ao vento, em fileiras apressadas, marchamos num passo guerreiro, e as pessoas que nos vêem passar tomam-nos por militares.
Nós somos os Palotins! Vivemos dependentes de uma dobradiça, mijamos por uma torneira, e o ar chega-nos por um tubo em U! Nós somos os Palotins!" [A. Jarry, in &ETC, nº16, 31/10/1973]

"... Sim meus senhores, espevitem bem as orelhas e não façam muito chinfrim ... nós massacramos uma infinidade de gente ... o nosso sonho é fazer sangrar, esfolar, assassinar; arrancamos os miolos, publicamente, todos os domingos, algures nos arredores, em cima de um estrado com cavalinhos de madeira e vendedores de coco à volta ... peripécias antigas, que se aqui estão arquivadas é porque nós somos muito ordenados ... e por isso mesmo ordenamos agora aos senhores Juízes que nos condenem à maior pena que lhes passe pela cabeça, para que ela seja proporcional connosco; mas não à morte, isso não ... Estamos já a ver-nos como forçados, com um belo boné verde, todos repimpados à custa do Estado, e ocupando os nossos ócios com qualquer trabalhinhos leves" [A. Jarry, in Antologia do Humor Negro, Afrodite, 1973]

Alfred Jarry [1873 - m. 1 Novembro 1907]

"Como ele próprio disse: «Redon - o que misteria» ou «Lautrec ? o que cartaz», há que dizer: Jarry, o que pistola. «E - escreveu ele no ano em que morreu, a Mme Rachild ? é grande a felicidade de ... proprietário poder dar tiros de pistola no nosso quarto de dormir»" [pref. a Alfred Jarry, in Antologia do Humor Negro, Afrodite, 1973]

"Esse pão com fome de polacos e de bicicleta com a poesia com as tripas de fora atravessando incólume etra de Ubus, o amoroso voador de diamante em visita ao absoluto, Alfred Jarry de seu nome incandescente, que eu conheci estava no meu primeiro solo de ranger de dentes e ele atirava ao alvo - ó cabecinhas - , esse Pão que todos os dias nos rebenta na boca logo de manhã, e depois na mesa, e na cama à noite, e sempre, enquanto este tempo de Ubus não for empurarrado para o alçapão, Alfred Jarry de seu nome de letras crepitando no sonho e escrito no espelho de perigos de cada um.

Este poeta e a vida, paixão e morte da sua vida não devem sofrer homenagens para além do palito, que é, supõe-se, o que todos aqui vêm trazer, cada um à sua maneira, e visto que desviar as balas que continuam a passar alegremente em direcção ao inimigo ainda vivo seria o mesmo que desarmar o franco-atirador que foi Alfred Jarry - e ficarmos desarmados (...)

A vibrante canção de recusa e de degolação que é a vida e a obra de Alfred Jarry colocam a poesia, e ele, na primeira linha dos grandes atiradores da passagem do século. Cabe aos poetas não esquecê-lo e passar a palavra" [António José Forte, in &ETC, número especial dedicado a Alfred Jarry, nº16, 31/10/1973 ]

Locais: Alfred Jarry / Alfred Jarry (1873-1907) / Alfred Jarry / Alfred Jarry (Francia, 1873-1907) / Alfred Jarry 1873-1907 / Alfred Jarry et la littérature de son temps / Ubu Roi ou les Polonais / Alfred Jarry Corbeil, Paris / alfred jarry: absinthe, bicycles and merdre / 5 poemas / Un precursor desconocido de heidegger: Alfred Jarry (Gilles Deleuze) / Ubu vous salue bien

O Terramoto de Lisboa de 1755

"Perto das 8 horas, um leve tremor. Às 9 e 3 quartos, quando as ruas e as igrejas estavam cheias de gente, sentiu-se no ar um fragor como um desfilar de um carro, seguido levíssimo tremor de terra que a pouco e pouco foi aumentando durante seis a sete minutos com força horrível e agitação espantosa de todos os edifícios sagrados e profanos. A terra tremia debaixo dos pés, depois subia e descia, ondeava, oscilava e as casas bailavam como navios no meio das ondas, perdendo o centro da gravidade, enfraquecendo-se nos alicerces, desconjuntando-se, desarticulando-se e caindo fragorosamente. Depois outro som, à guisa de trovão, com outro tremor de terra mais violento que antes, agitando com mais ímpeto os edifícios que tinham ficado de pé, e pelo espaço de três minutos. Seguiu-se outros: a 8 e 11 de Novembro, na noite de Natal, Quinta-Feira Santa e 'Ordinariamente depois de cada quarto de Lua'

O terramoto chegou menino a Lisboa e ficou gigante em poucos momentos; sacudiu com tal força e duração que parece não ter havido outro igual depois da morte de Cristo. Abatidos estátuas e arcos, pórticos e baluartes, torres e igrejas, casas e palácios; e a terra abriu-se, rasgou-se em vários lugares. O cais da Rocha foi engolido, o mar ficou mais profundo. Os prédios, caindo sobre outros, derrubaram também estes. Era a derruba da floresta onde umas arvores arrastam na queda as outras arvores. E tudo de surpresa numa cidade de casas altas, de ruas estreitas, desprovidas de praças, numa hora tardia, num dia solene, com as igrejas repletas. O povo ficou gelado e estúpido de espanto. Julgaram uns que o castigo fosse particular da sua pessoa ou da sua família, e quedaram-se de joelhos, mãos cruzadas no peito, cabeça inclinada como réus no patíbulo. Onde o terramoto os apanhou, aí se mantiveram, ou no alto das paredes ou traves, que, agitadas espantosamente, estalavam, ou debaixo dos pavimentos, ou ao lado das paredes a inclinar-se violentamente, esperando da divina justiça o golpe final (...)

E o mar, o manso e lindo mar de Lisboa? Embraveceu, esbravejou e rugiu pela foz do Tejo. Roncava mais e mais à medida que subia; subia para lamber primeiro, abocanhar depois e arrebatar em seguida arvores, mesas, traves, dando em troca à terra apavorada as barcas que as ondas lá deitaram (?)

Primeiro a terra com os abalos, depois com o mar com a fúria das ondas e ainda depois o céu com o fogo, que não deu prejuízo inferior ao terramoto (...) Oito dias durou o grande incêndio e durante semanas e meses não deixou de arder e fumegar, calcinando, incinerando Lisboa ..." [in O Cardeal Nacional, pp.212-215 (aliás, in nota 4. no capitulo XXIV, de Portugal A Corte e o País nos anos de 1765 a 1767, de Giuseppe Gorani, trad. e notas de Castelo-Branco Chaves, 1989]

Locais: 1755 Terramoto no Algarve / A Gazeta de Lisboa e o terramoto de 1755: a margem do não escrito (André Belo) / Colóquio Internacional. O Terramoto de 1755 / Inquisition (Edward Peters) / Lisbon in the Renaissance: A New Translation of the Urbis Olisiponis Description (Damiao de Gois) / O sismo de 1755 / O Terramoto de Lisboa, os judeus e a Inquisição (Rua da Judiaria) / Pequeno Blogue do Grande Terramoto (Rui Tavares) / Poèm sur le désastre de Lisbonne (Voltaire) / Terramoto de Lisboa

segunda-feira, 31 de outubro de 2005


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

"Desenvolvi um método segundo a qual não faço as pazes com as coisas que me perturbam, apenas vou-me embora" [David Berman, in O Morto está vivo, de João Bonifácio, Publico 21 /10/2005]

Exactamente. E, assim, David Berman rouba-nos o destino com este trabalho de erudição e purgação que é "Tanglewood Numbers". Respeitavelmente sem escrúpulos. A evocar desalentos. Decerto "não é uma obra de arte" mas é seguramente "o disco mais denso, orquestrado e acabado dos Silver Jews" [João Bonifácio, ibidem].

"You might as well say fuck me / cause I'll keep on loving you" [D. Berman]

Para ouvidores de linguagem murmurosa, para aqueles que se aposentam das fantasias e destes nefandos dias do pré-cavaquistão, a frescura de espírito & o meneio "belo e comovente" dos

Silver Jews - I'm Getting Back Into Getting Back Into You,

ali, do lado esquerdo da pedra. Boa semana. Ite missa est.

O Anibalismo

"Cavaco Silva não têm programa ou sequer discurso de ideias" [Proença de Carvalho, Rev. Expresso, 29/04/1989]


"... Nunca li uma biografia de Aníbal [lynk da gerência & fora do texto], pelo que tenho de me cingir ao acervo de intuições populares que definem o anibalismo como doença decorrente de um excessivo apego aos elefantes. Mas, segundo a tradição popular, o anibalismo gera, em doses preocupantes, uma conduta pesada e pouco grácil, mais orientada pelo sentido do vento do que pela vista, que é tosca; incapacidade para o subtil e terror das «nuances», o que costuma minar o sentido do humor; uma memória persistente mas grossista; e uma grande dificuldade em sociabilizar fora do ambiente restrito da manada [lynkagem pela gerência, fora do texto de NBS]..." [Nuno Brederode Santos, Anibalismo, in Revista Expresso, 14/10/1989]

"O Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP) emitiu ontem uma nota de imprensa em que considera "impróprias e injuriosas" as afirmações de Cavaco Silva, ao abordar a necessidade de diminuição de funcionários públicos, numa conferência proferida na passada quarta-feira, na Faculdade de Economia do Porto. "Como nos vamos livrar deles? Reformá-los não resolve, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e diminui as receitas de IRS. Só resta esperar que acabem por morrer", afirmou o antigo líder do PSD.
Tal declaração mereceu por parte do SINTAP "contestação e mesmo indignação". O sindicato considera que "este professor de Economia esquece-se das obrigações que tem como antigo primeiro-ministro deste país, esquece-se deliberadamente do que fez enquanto governante com a criação dos 'disponíveis' e esquece-se também da forma como 'resolveu' (?!) os problemas dos trabalhadores da administração pública no seu tempo de governo". Lembrando ainda que "o professor Cavaco Silva" é "ele próprio trabalhador da administração pública"", o sindicato pergunta: "Qual a sua moralidade para dizer hoje o que diz? ..."

[reflexão notável do prof. Cavaco, que em boa hora nos foi lembrado via mail por M. Pires, e publicada no Público, "Sindicato da Administração Pública Contesta Declarações de Cavaco" - no dia 2 de Março de 2002]

Curtas & grossas

Os deploráveis indigentes que assentam extraordinários rabos no cadeiral de S. Bento, animados pelos sublimes discursos da governação & folgados que estão dos trabalhos parlamentares, deliberaram adestrar uma "greve de zelo" e, assim, não despacharam em tempo útil a "nova lei do fim das regalias dos políticos" (curiosamente a lei, que foi aprovada na AR a 28 de Julho último, tem um "trânsito" sinuoso e fatigante, em comparação com a publicação célere de igual pronúncia face ao funcionalismo público). O privilégio que estas criaturas têm, o contentamento íntimo com que ludibriam os indígenas, é absolutamente notável. Quem nos salva desta corja é que ninguém sabe. Umas valentes bengaladas dadas, com infinita graça e furtivo amor pátrio, nos costados emproados dessa gentinha, eram sugestão recomendável. No mínimo exigia-se a requisição civil à moda do Sócrates.

Quando se assiste à corrida vigorosa dos autarcas às tomadas de posse, para usufruir dos infectos privilégios com que se brindam, compreende-se como a ignóbil classe política é tão lesta no reparo e achincalhamento dos funcionários públicos - a seus olhos, os únicos meliantes deste Portugal. Que do inenarrável Carmona de Lisboa ao não menos inefável Rui Rio (Cavaquista de primeira fila), passando pela rapaziada festivaleira da província (rosa, laranja ou vermelha), até arribar ao camarada e vate inspirado Carlos Marques (até tu ... Louçã!), e com esse artista Osvaldo Castro à batuta, o "consenso" seja generalizado não nos espanta. Estivéssemos nós em Espanha, fossemos nós por um dia cidadãos espanhóis, que a munição de manguitos & outros vigorosos "aplausos" seriam notáveis. Mas não estamos nem somos! Infelizmente!

sábado, 29 de outubro de 2005


Rua da Judiaria - II assombrosos anos

A memória encantatória trazida a todos nós pela Rua da Judiaria, o tempo lembrado, nunca descansado, ou a fraternidade, assim tão necessariamente luzente, são um amparo para todos nós. Os lugares, as vozes, os rostos & alma que se reconhecem no mais singular de todos os blogs em língua lusa, é um luxo que devoramos cada dia. Uma imensa soidade que faz parte da nossa portugalidade e desse mysterio de ser português. Um olhar de passos idos, uma viagem muy encoberta. Essa força espiritual é um fado em todos nós. Um chamamento velado. Um reencontro. Obrigado Nuno. Saúde e fraternidade.

In Memoriam Joaquim de Carvalho

"Apesar de contestada [a filosofia portuguesa] por uns, indiferente à maior parte, mas aproveitada por estranhos, pensámos sempre que o Génio Nacional, como unidade viva e livre, se deveria reflectir na Filosofia.
Com efeito, se uma nacionalidade é em si um produto espiritual, para nós mais representativo do que a comunidade de interesses, sentimentos, tradições, língua, caracteres étnicos, autonomia do poder politico, etc, com que ordinariamente é definida, se, por outro lado, a filosofia não é estéril e vão exercício da inteligência, mas uma exigência imperiosa do espírito, o que impede teoricamente que um povo livre, na plenitude da sua autonomia, se afirme e reconheça, independentemente doutras manifestações, na Filosofia?..."

"Se sobre todas as coisas reina a dignidade da consciência humana; qualquer ideário político, qualquer arquitectura do Estado que a esqueça, esmague ou remova para o fundo do cenário, é intrinsecamente falsa e moralmente pecaminosa ..."

"Quando um país tem a dita de possuir uma oligarquia de políticos, claros nos propósitos, seleccionados e confirmados pelo voto de opinião, honrados com o adversário quando lhe chega a hora de governar, o povo vive subtraído às oscilações extremistas das leis do pêndulo e podem chover estrelas ou picaretas que não se abalará a paz interna.
Se esta meia-dúzia de homens se desentender, se se deixar atrair pela sereia do mando, tapando os ouvidos à frágil voz do Servir, na bigorna da politica soa o timbre das espadas, com as quais, como advertiu Talleyrand, se podem fazer muitas coisas, salvo sentar-se alguém nas pontas.
Sempre assim foi e será, assim como, pelo contrário, sempre foi e será o diálogo claro e publico entre os dirigentes políticos o bastião inabalável da paz civil. Governe a direita, governe a esquerda, o essencial é que, no círculo dos oligarcas, quem governa saiba demitir-se, e quem quer o poder saiba esperar"

[Joaquim de Carvalho, in Diário Liberal (1933 e 1938), citado por Cruz Malpique, in Perfil intelectual e moral do prof. Joaquim de Carvalho, 1959]

"Junto ao túmulo de Joaquim de Carvalho"

"Meu querido pai, apenas quero dirigir-te a minha última oração de amor bem junto à tua derradeira e já etérea presença física, para que partas e saibas antes da despedida que levarei no meu sangue violado a tua estirpe e que afinal estás enganado: - a tua sepultura não é esta fria cama onde hoje singelamente te trazem a imensa ternura e o imenso respeito duma Nação (duma Nação? Não, querido pai, de todo o mundo culto, dos inúmeros amigos e admiradores teus que a esta hora te choram por terras ultramarinas, brasileiras, espanholas, francesas, italianas, argentinas ? sei lá por onde mais o teu nome era bandeira ao vento da cultura, da justiça e da independência moral!) Não, que a tua ultima morada não são as imutáveis arestas destas pedras, mas a humilde charneca do sangue igual da tua companheira, a nossa mãe. Aí o teu repouso e a tua permanente reaparição. Estaremos eternamente contigo porque não foste apenas o pensador, o escritor e o professor notabilíssimos ? mas o pai santo, no seio da família, e o santo homem, no seio da comunidade. Dignificaste a palavra cristã. Honraste os valores humanos da generosidade e da tolerância. Tudo o mais que criavas era apenas eco da tua bondade e da tua natural inteligência sensível. Jamais poderei deixar de te ver junto aos livros e debruçado sobre a vida, esse livro mestre de livros. Eras indomesticável ou só domesticável às causas supremas da redenção e da valorização do homem cá na terra. Os homens que tu mais amaste forma santos como tu, chamassem-se Spinoza ou Antero. Tu os recreaste através de ti porque nascera contigo o padrão de valores de outros valores. E o teu valor máximo era a humildade à maneira de Spinoza (nunca te seduziu a riqueza material), o coração generoso de Spinoza, o orgulho moral e liberal de santo Antero, e a certeza de que um homem serve a Pátria ao longo dos séculos e que só nessa perspectiva ainda mais apreciarão o teu trabalho. Não tinhas medo à história. E a historia, um dia, há-de julgar-te como um símbolo"

[Oração proferida pelos seus filhos, no cemitério da Figueira da Foz, em 29 de Outubro de 1958]

quarta-feira, 26 de outubro de 2005


Welcome to Elsinore - II Aniversário

O castelo de Elsinore é uma linda história. Todos os preceitos se resgatam naquela casa de todos os dias. Há felicidade em Elsinore. Com ou sem o choque tecnológico. O espírito inquieto da Carla, "entre o metal fundente e as muralhas graníticas", entre o glorioso que apaixona e a poesis que é infinita, o tempo corre de inocência. Fez no dia vinte e quatro, 2 (dois) 2 anos de existência afectuosa. Preciosa. Parabéns. Daqui se envia, em jeito de abraço

Mário Cesariny Vasconcelos (ele mesmo) em You Are Welcome to Elsinore

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Saúde e fraternidade

Já tomou o seu Cavaco hoje!?

A União Nacional Cavaquista tem assinalado - com a maior das inspirações altaneiras - o "medo", o "muito medo" que os heréticos & ruidosos esconjurados anti Cavaquistas & anti messiânicos observam nestes dias funestos. Várias bocas humedecidas de saliva musculada fornecem ao pagode o altíssimo gozo das virtudes presidenciais do candidato prof. Silva, enquanto vão imolando os putativos hereges em escrita surrada. Os da União Nacional são de poucas brincadeiras. Os linguados com que paternalmente nos brindam, no santuário dos jornais & blogs, são para acreditar. A chibata está à vista.

Portanto, para aqueles que chafurdam em afável camaradagem demoníaca; para aqueles que não conhecem a virtude recompensada do candidato e como tal não praticam o bem constitucional; eis o que se deve dizer, três vezes em voz alta, olhando em volta. Eis as palavras convenientes:

"Tenhamos medo. Sejamos desconfiados, prudentes, reflexivos. Se virmos um gato preto deitemos sal sobre o ombro ou façamos uma figa. Se nos sair pela boca, sem querer, o que realmente pensamos batamos na madeira, diabo seja surdo, cego e mudo, um, dois, três. Entremos com o pé direito em todas as portas (a menos que sejamos canhotos). Máximo cuidado no partir de vidros e entornar azeite" [in Almanaque, Fevereiro de 1960]

terça-feira, 25 de outubro de 2005


Max Stirner [n. em Bayreuth, 25 Outubro 1806-1856]

"Eu sou o inimigo número um do Estado, que se vê sempre perante a alternativa: ele ou eu" [Max Stirner]

Locais: The Ego and Its Own [Stirner] / Max Stirner The Ego and Its Own [Anarchists] / The Individualist Anarchists: An Anthology of Liberty / Dora Marsden and Early Modernism: Gender, Individualism, Science [Stirner & Nietzsche] / The Conquest of Bread and Other Writings [Peter Kropotkin] / The Aesthetic Politics of Modernism [in Anarchy and Culture] / The Age of German Idealism

"All The News Fit To Print" - cabeçalho do New York Times [25 Outubro 1896]

"October 25, 1896- The Times slogan: "All The News That's Fit To Print" makes its first appearance on the editorial page." [ler aqui]

"All the News That's Fit to Print" coined by Ochs himself after a contest finds no stronger candidate for a slogan, first appears on the editorial page. It moves to Page 1 on February 10, 1897"

"When my great grandfather Adolph Ochs created the slogan 'All the News That's Fit to Print' a century ago, it was his way of declaring the newspaper's intention to report the news impartially during a time when yellow journalism prevailed ..." [ler aqui]

Locais: The New York Times / The New York Times: A Chronology 1851-2001 / The New York Times [Art History] / Adolph Ochs / All The News Fit To Print / "The New York Times was established in 1851..." / The ironic and historic dimensions to scandals at New York Times

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

[Inferno]

"Inferno ...
Inferno é isto tudo!
- com um acto de variedades
e intervalos
para fumar nos corredores
"

[Joaquim Namorado, in Incomodidades, 1945]

Os Equívocos de Cavaco Silva

"Que gente reiterativa. È tão bom!" [A. O'Neill]

Cavaco Silva regressou. Parece repousado, pasmado de 10 anos de espera, pouco abundante em palavras, desatento aos anos da sua longa (des)governação e muito festivo, demasiado talvez. Afastado, prudentemente, da crise penosa em todos estes anos, ambiciona sair das trevas da política indígena repelindo os seus dilectos "filhos" e "enteados". Cavaco jura que não é mais um "Aníbal político". E, de fronte erguida, ar emproado e um tanto pedante, apresenta-se escondido da turba laranja, essa "canalha" que tão bem iluminou no caminho ao assalto da administração pública e aos subsídios da União Europeia.

"Pai" e "mãe" do "monstro" que é o Estado e que inventivamente construiu para os incautos, Cavaco Silva "destruiu-se" no "território da corrupção" com que risonhamente embalou a sua governação. Hoje tresanda de hipocrisia. E mesmo que o seu dissídio seja honesto, não se vê como se deva perdoar o seu diminuto carácter no exercício da coisa pública.

Cuida o dr. Cavaco que o (quase) silêncio com que friamente e pacientemente se remeteu faz desaparecer o fastio destes 20 anos de miserabilismo pátrio e os seus 10 de governação. Aonde depois, Guterres, sem paciência nem capacidade, compreende, e tarde demais, que os "boys" da rosa estimavam esses bons e animados tempos do dr. Cavaco. E, é claro, daí só pode dar em fuga ... envergonhada. Onde assoma Barroso, crescido nesse melífluo redil de antanho e que habilidosamente dá um salto ainda maior, sem qualquer rebuço ou pudor. Depois, por complacência de Sampaio, cai-nos sobre as nossas cabeças a histriónica dupla Lopes & Portas, que de tão incompetentes foram no deslumbramento da governação que deixaram tudo à mostra e o país à beira de um ataque de nervos. E onde, de momento, Sócrates baralha e torna a dar, para ficar tudo como estava. Vinte anos calcetados na mais desvairadas das políticas e com a mais grosseira classe dirigente conhecida. Que tornou Portugal no país mais atrasado da Europa.

Eis o quadro negro de 20 anos de pronunciamento Cavaquista. Onde o trecho inaugural da "obra" portuguesa ou "oásis" trôpego se começa a desenhar, em chacota carnavalesca. Onde a "competência", a "capacidade de decisão", a "honestidade" e a "responsabilidade" (para seguir o madrigal político do sr. Ramalho Eanes, agora muleta pegadiça de Cavaco) nunca existiu. E que só o disparate da fraseologia eleitoral, a demagogia e o populismo tornam banais. Lucidez precisa-se! Que a memória não nos torne irracionais.
[O fim do super-homem]

"O governo [do prof. Cavaco Silva] falhou algumas metas económicas e o homem que nunca se engana, que conhece os «dossiers» e que domina os números, afinal, enganou-se.

(...) falta saber se Cavaco Silva é apenas e fundamentalmente um político de rara habilidade que sabe exactamente o momento de «saltar» para o poder (e, também, o de retirar-se em beleza) e aproveitar com perícia as conjunturas favoráveis; ou se Cavaco Silva é um governante rigoroso e competente que sabe conduzir as situações e transformá-las (...)

Cavaco vai regressar também a tempo de usufruir sozinho os resultados conjugados de um conjunto de factores praticamente «únicos» para a economia portuguesa. Herda uma situação financeira reequilibrada pelo Governo do Bloco central, em 1983 e 1984, graças a uma dolorosa política de austeridade; aproveita de uma conjuntura externa altamente favorável; recebe como brinde os efeitos da integração de Portugal na CEE e o impacto das transferências de verbas que saldam em milhões e milhões de contos. A sua determinação em romper o Bloco Central partia, naturalmente, do conhecimento das magníficas perspectivas enumeradas.
É nessa conjuntura que mais uma vez Cavaco Silva pode governar com o objectivo essencial de ganhar as eleições seguintes e transformar o seu governo minoritário de 1985 num governo dotado de uma maioria inigualável, em 1987.

(...) Face à primeira dificuldade na evolução económica (...) Cavaco começará, porventura, a enfrentar o seu grande teste: vencer também nos momentos difíceis.
Durante um ano, ele soube transformar, mais uma vez com grande habilidade política, os efeitos de uma conjuntura externa, favorável como nenhuma outra, no resultado da sua capacidade de gestão interna. As «performances» económicas monopolizaram o discurso governamental. Uma meta desinflacionista verdadeiramente recorde atribui um número - 5,5 - à imagem de marca do governo. Cadilhe chamou a este objectivo uma verdadeira «correcção estrutural». Quebrado agora o fetiche, confrontado agora o Governo com um erro de previsão de quase cinquenta por cento, as tentativas de emendar a mão tornam-se quase patéticas.

É ainda o derradeiro esforço para preservar o mito dos super-homens. O Governo omite a parte da realidade que não lhe convém, dizendo que a derrapagem inflacionista de deve a causas externas e esquecendo-se de ter dito que a sua redução no ano passado [1987] também assentou nas mesmas causas externas; muda rapidamente de campo, erigindo o emprego em grande objectivo sem explicar porquê; procura dar de si próprio uma nova imagem de marca, mais virada para os desafios sociais e culturais do que para a mera quantificação dos êxitos financeiros (...)

[Teresa de Sousa, in "O fim do super-homem", Revista Expresso, 1 de Outubro de 1988]