quinta-feira, 6 de outubro de 2005
Coimbra no dia 6 de Outubro de 1910
"Os emissários enviados no dia 5 a Lisboa, pelos republicanos de Coimbra, regressaram pelas 3 horas e meia da noite, com a carta de nomeação do dr. Francisco José Fernandes Costa para o cargo de governador civil. Conhecido o facto logo estralejam foguetes, acorrem milhares de pessoas e a Filarmónica «Boa União» sai para a rua tocando a Portuguesa e a Marselhesa, logo seguida pela Filarmónica «Conimbricense». Por volta das 8 horas foi içada a bandeira verde-rubra nos Paços do Concelho e, seguidamente, o dr. Fernandes Costa apresentou-se no Governo Civil, onde o dr. José Jardim, último governador monárquico, lhe deu posse e retirou, acompanhados do ex-administrador José Gaspar de Matos, tendo sido acompanhados, urbanamente, até à porta do edifício por Fernandes Costa e cumprimentados respeitosa e deferentemente pelos republicanos e pelo povo, ao que os depostos responderam correctamente.
A força que estava em Santa Clara recolhe ao quartel, ao tempo na Sofia, sendo aplaudido pelo povo.
Um cortejo, precedido pelas referidas bandas, sobe pela Calçada, Arco de Almedina, Rua Fernandes Tomás, Rua Joaquim António de Aguiar, Sé Velha, Rua Borges Carneiro, Largo da feira, Largo do Castelo e Rua Larga, para saudar o governador, e com ele, a República.
Nesta altura um exaltado propôs que se incendiasse a Biblioteca da Universidade. E, como encontrasse eco noutros exaltados, o barbeiro Joaquim Lobo contrariou a ideia, com o argumento de que, agora, a Biblioteca passava a ser do Povo e este não devia destruir o que lhe pertencia.
No edifico do Governo Civil, o dr. Fernandes Costa fez um discurso de agradecimento e recomendou brandura e generosidade. O cortejo retira e, pelas 13 horas, realiza-se uma sessão solene na Câmara Municipal, presidindo o dr. Fernandes Costa, secretariado pelo dr. António Leitão, novo administrador do concelho e pelo dr. Sílvio Pélico, presidente da Câmara,.
O dr. Fernandes Costa proferiu palavras de exultação pela proclamação da Republica, fez o elogio do Governo Provisório e propõe que a actual vereação continue até às novas eleições, visto ter sido eleita por sufrágio popular e ter feito boa vereação.
O dr. Sílvio Pélico responde fazendo o elogio do povo e, agradecendo a proposta, pede, renúncia de mandato.
O dr. Sidónio Pais, lente de Matemática, reforça o pedido do dr. Fernandes Costa, e o dr. Sílvio acaba por ceder (...)
As fábricas, oficinas, repartições e lojas fecharam e o povo trocava abraços, cheios de entusiasmo e, à noite houve iluminação e uma marcha aux flambeaux.
O testamenteiro do dr. Inácio Rodrigues andou pela freguesia de Santa Cruz a distribuir 100 mil reis por cada pobre pois que o testamento dispunha que tal se fizesse no dia da proclamação da Republica (...)
[in Efemérides de Coimbra, O Despertar, 12 de Janeiro de 1966]
domingo, 2 de outubro de 2005
Incêndios na Figueira da Foz
De novo as chamas invadem a Figueira da Foz. A partir das zonas fronteiriças às povoações da Serra da Boa Viagem, passando pela Senhora da Encarnação, mesmo a poucos metros do Leclerc, já em Tavarede, descendo depois até à nova circunvalação perto de Buarcos, toda a tarde (e começo da noite) a cidade da Figueira da Foz esteve (e está) debaixo de um manto de fumo espesso e negro, com vários focos de incêndios, misteriosamente (mesmo que o vento seja forte e a cidadania dos homens frouxa) originados do nada. Em Outubro, os incêndios (e os homens) ainda não estão moribundos. Quantos anos de tormentos nos restam!?
"Para que uma floresta seja esplêndida
Necessita de anos de infinito.
Não me deixeis tão depressa, amigos
Da merenda sob granizo.
Abetos que dormis nas nossas camas,
Perpetuai na erva os nossos passos"
[René Char, in Para que uma floresta]
Importante Leilão de Livros e Manuscritos - 6 e 7 Outubro
Organizado pelo Palácio do Correio Velho realiza-se no próximo dia 6 e 7 de Outubro na Calçada do Combro, 38 A, Lisboa, um leilão de livros e manuscritos, que pode ser consultado on line.
"Tem-se dito que o melhor espelho do carácter de um homem de letras é, em regra, a sua correspondência particular. Uma inocência despida de cautelas e uma sinceridade nua de artifícios transparecem nas cartas íntimas que, neste caso, o homem e não o escritor, dirige, em momentos de tormento, a familiares, amigos muito próximos ou a pessoas humildes com quem não fazia a menor cerimónia e de quem nada havia a temer (...)
Gostaria de destacar, dentre os autógrafos, um núcleo de 46 poemas de Sebastião da Gama, cerca de 12 cartas e bilhetes-postais de Mário de Sá-Carneiro, 25 escritas por Vitorino Nemésio e 8 cartas de António Gedeão, ao seu colega e amigo Pissarro, repassadas da maior melancolia e solidão. Os poemas de Sebastião da Gama, guardados até hoje, como um tesouro, pelas mãos piedosas de um íntimo amigo, são o canto desse grande plantador de sonhos, professor e poeta, desaparecido aos 28 anos, e que doente durante todo o seu curso e todo o magistério, viveu, por prescrição médica, no Portinho da Arrábida, região que cantou comovido, nos seus poemas. Ele foi poeta pela graça de Deus, ser permanente em fraternal convívio com as almas e com as coisas, fazendo da vida uma alegre dádiva, pressentindo já a sua existência demasiado breve para o canto que devia cumprir. As cartas de Vitorino Nemésio, são na sua maioria escritas ao irmão Teotónio, de Coimbra, onde foi aluno de Direito e de Letras, militante republicano académico e membro do grupo literário Tríptico, precursor da «Presença». (...) Mário de Sá-Carneiro, nas cerca de 12 cartas e bilhetes-postais, dirigidos a Armando Cortes-Rodrigues, Fernando Pessoa e José Pacheco, transparece como o génio que conseguiu dotar a literatura portuguesa, na prosa e sobretudo no verso, de algumas das suas formas mais originais, densas e expressivas. (...) Rómulo de Carvalho, professor metodólogo, cientista e poeta estreado aos 50 anos, com o pseudónimo de António Gedeão, revelou-se surgindo como um grande poeta, de um modernismo assente em alicerces clássicos. O conjunto da sua obra poética foi publicado nas «Poesias Completas», de 1964. (...)
[Isabel Maiorca, in Catálogo]
Livros & Arrumações
Curiosa separata da Revista Brasileira de Geografia, nº 4, Ano VII, com um trabalho de Moacir M. F. Silva, intitulado "Como se distribuiu a iluminação pública do Rio de Janeiro", datada de 1946. Refere os "ciclos" por que passou a iluminação da cidade "como serviço público organizado" [iluminação a azeite, a gás e iluminação eléctrica]. Situa a "iluminação pública a azeite de peixe" no final do sec. XVIII [no tempo de José Luís de Castro].
"Era especialmente carne de baleia que fazia objecto de ativo comércio no Rio-de-Janeiro. Entravam as baleias em Maio à procura das águas mais tranquilas da baía (Guanabara) para a época da cria e até fins de Agosto permaneciam numerosas (...) Eram os principais produtos, além da carne, o chamado azeite de peixe, as barbatanas e os resíduos chamados borra (galagala) que, ligados à cal do Reino davam às edificações uma consistência notável (...) Os depósitos de azeite eram na Lapa dos Mercadores e no Bairro de São-José (...) Cada baleia, calculava-se então, dava 16 pipas de azeite e 15 arrobas de barbatanas" [citado, pelo autor, da Historia da Cidade do Rio-de-Janeiro, de Delgado de Carvalho, 1926]
Diz-nos Moacir Silva que, antes da iluminação a azeite de peixe, a cidade por mais de duzentos anos ["desde a sua fundação em 1565 até finais do sec. XVIII"] "dormiu inteiramente à escuras".
"Naqueles tempos o povo recolhia-se cedo; ao anoitecer fechavam-se quase todas as casas, havia limitado numero de lojas de comércio, e sendo as ruas tortuosas, estreitas, sem calçamento, nem iluminação, tornava-se perigoso o transito nocturno, especial emente nas ruas em que não havia os lampeões dos nichos ..." [citação do autor da obra O Rio-de-Janeiro, sua história, monumentos, etc., do Dr. Moreira de Azevedo, 1877, II vol.]
Apresenta Moacir Silva o edital de 3 de Janeiro de 1825, onde se estabelece o "horário de recolher": "No verão, depois das 10 horas da noite, e no Inverno, depois das 9, até a alvorada, ninguém se poderá isentar de ser revistado. E para que todos saibam dessas horas, o sino da Igreja de São Francisco de Paula e do convento de São-Bento dobrarão pelo espaço de meia hora, sem interrupção. Todas as portas das casas de residência deverão ser fechadas logo que anoiteça. Depois dos toques de sinos, ninguém poderá ficar parado nas ruas, bem como nas portas das tabernas". E porque foi tal edital saído da pena do desembargador Francisco Alberto Teixeira de Aragão, "o povo passou a chamar o sino da Igreja de São Francisco de Paula, o «Aragão»".
A iluminação a gás ocorre nos meados do sec. XIX (25 de Março de 1854). Refere-se que a "Praça D. Pedro II, as ruas do Ouvidor, Rosário, General Câmara, São-Pedro e Primeiro de Março", foram as primeiras "que tiveram lampeões de gás". A partir daí o calçamento a paralelepípedos das ruas teve lugar. Até 1828 a iluminação "estava a cargo da Intendência Geral da Polícia" e manteve-se até fins de 1933 quando desaparece para dar lugar à iluminação eléctrica ["a partir de 1 de Janeiro de 1934 toda a iluminação pública está sendo feita por electricidade"].
Curiosa separata da Revista Brasileira de Geografia, nº 4, Ano VII, com um trabalho de Moacir M. F. Silva, intitulado "Como se distribuiu a iluminação pública do Rio de Janeiro", datada de 1946. Refere os "ciclos" por que passou a iluminação da cidade "como serviço público organizado" [iluminação a azeite, a gás e iluminação eléctrica]. Situa a "iluminação pública a azeite de peixe" no final do sec. XVIII [no tempo de José Luís de Castro].
"Era especialmente carne de baleia que fazia objecto de ativo comércio no Rio-de-Janeiro. Entravam as baleias em Maio à procura das águas mais tranquilas da baía (Guanabara) para a época da cria e até fins de Agosto permaneciam numerosas (...) Eram os principais produtos, além da carne, o chamado azeite de peixe, as barbatanas e os resíduos chamados borra (galagala) que, ligados à cal do Reino davam às edificações uma consistência notável (...) Os depósitos de azeite eram na Lapa dos Mercadores e no Bairro de São-José (...) Cada baleia, calculava-se então, dava 16 pipas de azeite e 15 arrobas de barbatanas" [citado, pelo autor, da Historia da Cidade do Rio-de-Janeiro, de Delgado de Carvalho, 1926]
Diz-nos Moacir Silva que, antes da iluminação a azeite de peixe, a cidade por mais de duzentos anos ["desde a sua fundação em 1565 até finais do sec. XVIII"] "dormiu inteiramente à escuras".
"Naqueles tempos o povo recolhia-se cedo; ao anoitecer fechavam-se quase todas as casas, havia limitado numero de lojas de comércio, e sendo as ruas tortuosas, estreitas, sem calçamento, nem iluminação, tornava-se perigoso o transito nocturno, especial emente nas ruas em que não havia os lampeões dos nichos ..." [citação do autor da obra O Rio-de-Janeiro, sua história, monumentos, etc., do Dr. Moreira de Azevedo, 1877, II vol.]
Apresenta Moacir Silva o edital de 3 de Janeiro de 1825, onde se estabelece o "horário de recolher": "No verão, depois das 10 horas da noite, e no Inverno, depois das 9, até a alvorada, ninguém se poderá isentar de ser revistado. E para que todos saibam dessas horas, o sino da Igreja de São Francisco de Paula e do convento de São-Bento dobrarão pelo espaço de meia hora, sem interrupção. Todas as portas das casas de residência deverão ser fechadas logo que anoiteça. Depois dos toques de sinos, ninguém poderá ficar parado nas ruas, bem como nas portas das tabernas". E porque foi tal edital saído da pena do desembargador Francisco Alberto Teixeira de Aragão, "o povo passou a chamar o sino da Igreja de São Francisco de Paula, o «Aragão»".
A iluminação a gás ocorre nos meados do sec. XIX (25 de Março de 1854). Refere-se que a "Praça D. Pedro II, as ruas do Ouvidor, Rosário, General Câmara, São-Pedro e Primeiro de Março", foram as primeiras "que tiveram lampeões de gás". A partir daí o calçamento a paralelepípedos das ruas teve lugar. Até 1828 a iluminação "estava a cargo da Intendência Geral da Polícia" e manteve-se até fins de 1933 quando desaparece para dar lugar à iluminação eléctrica ["a partir de 1 de Janeiro de 1934 toda a iluminação pública está sendo feita por electricidade"].
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas
A voz que se solta, ali da pedra esquerda ao lado, sobre a campa de todos nós é tormento arrebatado. Um agasalho d'alma em desencontros incertos. E que se acolhe nos braços quando a cabeça e o tronco são míseros descaminhos. Para que a narração dê mostras de gratidão, para todos aqueles que o tempo afoitou nas virtudes domésticas, eis Belle & Sebastian, em Stay Loose. Que cada um tropece em si próprio, são os nossos votos. Boa noute.
"I was feeling like a loser
You said «Hey, you've still got me»
I was feeling pretty lonely
You said «You wanted to be free»
I was looking for a good time
You said «Let the good times start»
With a quiver of your eyelid
You took on someone else's part..."
[Belle & Sebastian, Stay Loose - letra aqui]
O Alegrismo
"Sobre o mais belo trono do Mundo nunca se sentou senão um rabo" [Montaigne]
O ruído das presidenciais é enorme. Singular pelo entusiasmo manifesto entre os indígenas, memorável de arrebatamento in blogosfera lusa & admirável de literatura política pelo oratório delicioso da imprensa, as presidenciais revelam-se uma ementa difícil de tragar.
A galeria pública dos putativos candidatos - por ora sufocados em ambiciosas estratégias de vaidade - que se consideram legítimos descendentes do actual "notário da lei" - Jorge Sampaio - para se sentarem no cadeiral da casa de Belém, é assombrosa. Tanto ou quanto extraordinário é o silêncio, cheio de graça, dos partidários conservadores, liberais & coisa e tais, momentaneamente órfãos do mistério presidencial. Manifestamente ainda não se está em época de bolo-rei, mas a privação do "pater-família" de Boliqueime começa a impacientar tais gentios, mesmo que a aritmética das sondagens seja um belo manto para o próximo Inverno. O embuçado presidencialista, agasalhado pelo luxo da ex-maioria governamental, ao que nos diz, muito consumido de humildade e divino em paternalismo, anda convictamente estupefacto. Suspeitamos que a corja dos modestos saudosistas de antanho, também. Talvez todos eles se recordem das sábias palavras de Mário Saa: "A história principal da vida dum homem é a sua aflição". Pode ser que sim. E, talvez por isso, o espectro tarda em felicitar a nação. Mas a nação, como se sabe, estima andar prenhe de felicidade, esplendor e glória. Não está para aflições, mesmo que o "génio" assegure entusiasmo.
Entretanto, o deputado-poeta (ou poeta-deputado) Manuel Alegre enfaixou-se na lide presidencial. O sentimento de júbilo dos órfãos & desvalidos da política, em sede presidencial, com o fim da meditação "alegrista" e ufanos pela chamada "republicana" aos indígenas, foi total. A fé no "imperativo cívico" foi comovente. Ei-los que partem afagados pelo entusiasmo de cidadania e com fé heróica de "somar votos à esquerda". Mesmo que lhes digam que "o poeta é um fingidor" a romagem está conseguida e reclama-se laureada vitória. Pouco lhes importa que o "alegrismo" se passeie recatadamente braço dado com a "fraude" da governação "socrática" ou se o sublime descanso (ou discurso) "poético" sobre a crise económica e social nunca tenha sido quebrado. A marcha não admite razão. O "alegrismo" é uma derradeira paródia lusa. Quando despertar do torpor da presumida "rebeldia" revelará o seu delicado caminho. E o drama final disso tudo surgirá. Porquanto "o homem paciente vale mais do que o valoroso".
II - Livros sobre o Rio de Janeiro antigo (continuação da encomenda)
"... Rio em ol em amba em umba sobretudo em inho
de amorzinho
benzinho
dá-se um jeitinho
do saxofone de Pinxinguinha chamando pela Velha Guarda
como quem do alto do Morro cara de Cão
chama pelos tamoios errantes em suas pirogas ..." [C. Drummond de Andrade]
A. do Vale Cabral [Guia do Viajante no Rio de Janeiro, R. Janeiro, 1882] / Carlos Xavier Paes Barreto [A Cidade do Rio de Janeiro e suas dúvidas, 1959] / Ernesto Sena [O Velho Comércio do Rio de Janeiro, s.d.] / Gondin da Fonseca [Biografia do Jornalismo Carioca, 1941 (com lista de jornais sec. XIX)] / Manuel Bandeira & Carlos Drummond de Andrade [Rio de Janeiro em Prosa & Verso, José Olympio, 1966] / Paulo Berger [A Tipografia no Rio de Janeiro: impressores bibliográficos 1808-1909, 1984] / idem [Bibliografia do Rio de Janeiro viajantes e autores estrangeiros, 1980] / Roberto Macedo [Apontamentos para uma Bibliografia Carioca, Centro Carioca, 1943] / idem [Efemérides Cariocas, 1943] / Ruben Borba de Moraes [Bibliographia Brasiliana, Colibris, 1958 (em inglês mas ok)] / Vivaldo Coaracy [Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, José Olympio, 1955 (ou 1965, ou 1988)] / idem [O Rio de Janeiro no Século 17, 1965]
terça-feira, 27 de setembro de 2005
Benfica Football Club - Encantamento para ganhar
Colhei um coach holandês, na véspera de eleições presidenciais, antes do nascer do sol e quanto o tempo for tormentoso, e seguidamente, se o vício for piedoso e o mau olhado escolástico, colocai-o no antigo terceiro anel, como se faz a um homem cruel pois "Deus não pode estar em tudo e muito menos sempre a trabalhar", advertindo-o de 2 em 2 minutos que as substituições podem não existir pero que las hay, las hay; ordene-se que olhe, sem demora ou horror, para o cliché do horto d'Alvalade, e obrigando-o a dar dois passos atrás e três à frente, tome-se um ramo de azevinho, mais três gotas de Vilarinho misturadas com elixir Veiga, um pó de boa Vieira, lançando-se água de borragens, para resolver a miopia; aplique-se em seguida por todo o corpus do esconjurado. Fazer uma novena, em jejum, com devoção.
T. S. Eliot [n. 26 Setembro 1888-1965]
"... E se eu disser que dou passeios por becos quando anoitece,
E vou fitando o fumo que sobe do cachimbo
De homens em mangas de camisa, à janela, solitários?...
Eu devia ter sido um ferro de duas garras
A rasgar o fundo desses mares de silêncio ..."
[T. S. Eliot, A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock, Assírio & Alvim, 1985]
Locais: The T. S. Eliot Page / T.S. Eliot: Biographical Timeline / T. S. Eliot: poeta de entreguerras
segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Boletim Bibliográfico 27 de Luís P. Burnay
Saiu o Boletim Bibliográfico número 27 do Livreiro-Antiquário Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), referente ao mês de Setembro. De salientar algumas peças monográficas importantes, bem como obras de teor genealógico, literário, histórico e arqueológico. A preços razoáveis.
Algumas referências: Adágios, Rifãos e Anexins da Língua Portuguesa, tiradas dos melhores Authores Nacionaes, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L [iniciais de Francisco Rolland Impressor Livreiro em Lisboa], 1780 / O Morgadio de Fontelas: Vasconcelos de Amarante, de Artur da Mota Alves, Lisboa, 1937 / Judeus em Montemor-o-Novo, por António Alberto Banha de Andrade, 1977 / Bibliografia das Bibliografias Portuguesas, de António Anselmo, 1923 / Burro de Ouro de Appuleio, traduz. em Port. [atribuída a trad. ao 1º Barão de Vila Nova de Foscôa], Lisboa, 1847 (raro) / Boletim do Núcleo Cultural da Horta, vol. I, nº1, Horta, 1956 [imp. dado conter o artigo Os Judeus na Ilha do Faial, de Marcelino Lima] / Os Brados e clamores dos Povos, lavradores, opúsculos demonstrativos da falta de cultura nas Províncias d'Alemtejo Estremadura publicados a beneficio do Estado pelo curioso e pratico, já velho agricultor Aonio ou Cidadão Campónio [pseud. de António José Alves - citado], 1823 / Catálogo da Livraria Duarte de Sousa, Lisboa, 1972-1974, II vols / Catalogue de la Biblioteque de M. Fernando Palha, Lisbonne, 1896, IV vols [ref. importante Camoniana vendida em conjunto à Univ. de Harvard] / [Correios] Alvará - Artigos que se mandão addicionar ao Regulamento do Correio geral de 1 de Abril de 1799 [artigos da responsabilidade de José Diogo Mascarenhas Neto] / Terras do Alto Paiva (concelho de Vila Nova de Paiva), de C. Manuel Fonseca da (Minimus) Gama, Lamego, 1940 / A Ibéria: memoria em que se provam as vantagens politicas, económicas e sociaes da União das duas Monarchias Peninsulares ..., Typ. Universal, 1853 [termina o exemplar com uma «Nota sobre a conveniência de ser Santarém a capital da Nação Ibérica»] /Inventário Artístico de Portugal [Distrito de Coimbra, por Vergílio Correia; Distrito de Évora, pró Túlio Espanca] / Lusitana: revista de estudos portugueses, directora Carolina Michaelis de Vasconcellos, redac. Afonso Lopes Vieira e Reynaldo dos Santos, 1924-1927, X vols / Esboço Histórico do Neo-Realismo, por Fernando Namora, 1961 / Pedras de Armas e Armas Tumulares do Distrito de Braga, por Vaz Osório da Nóbrega, Vol I, Tomo I e II, 1970 / Geographia e Estatística Geral de Portugal e Colónias, de Gerardo A. Pery, 1875 / Retratos e Elogios de Varões e Donas, que ilustram a Nação Portuguesa em virtudes, letras, armas e artes ..., 1806-1822 / Sumário dos Luziadas, ... proferido no dia 10 de Junho de 1937, no jardim da gruta de Camões em Macau, por António Maria da Silva, 1937 (raro) / Tesouro Heráldico de Portugal ou Tratado de Armaria Portuguesa ..., de António José Vaz velho, 1958-1963, IV vols / Sermões do Padre António Vieira, orto, Livraria Chardron, 1907-1909, XV vols (ed. popular) / Elucidário das Palavras, Termos e Frases que em Portugal antigamente se usaram ..., por Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Porto, 1965-66, II vols
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Jorge de Sena
"O problema não é salvar Portugal, mas salvar-nos de Portugal" [Jorge de Sena]
Sábado passado, enquanto os devotos da política acompanhavam a malga económica do Expresso da meia-noite, na RTP2 havia serviço bem público. Por uma vez, fomos agraciados por um programa sobre Jorge de Sena. O eterno esquecido. Graças, pois.
"Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquercer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha."
[Jorge de Sena, in O Tempo e o Modo, nº59, Abril de 1968]
" ... Tudo isto o não digo para defender-me, ou para acusar, ou pelo gosto desagradável de lembrar águas passadas e sujas. Apenas o digo porque os meus leitores de hoje não serão os de ontem e não sabem, pois, a história externa da poesia que se lhes depara agora. Um dever de lealdade me obriga a informá-los dessa história externa. Eu sei que me acusarão, como sempre, de excessivo pessoalismo, de verrina, de ser inferior a mim próprio ao deter-me em ninharias que o tempo inteiramente dissolve. Mas é, quanto a mim, uma absoluta hipocrisia ou um desamor pela humanidade alguém fingir ou sentir uma superior distância entre a sua pessoa e tais insignificâncias. De insignificâncias é feita a nossa vida, por excepcional ou extravagante que seja, e de tudo isso se adquire aquela sageza dolorosa e fruste que é, afinal, alguma grandeza que a poesia tenha"
[Jorge de Sena, in prefácio Poesia I (aliás, Jorge de Sena e a Cultura Verdadeira, por João Rui de Sousa, in O Tempo e o Modo, ibidem]
Curiosa Democracia
A Alemanha foi a votos. Por um fenómeno delicado de explicar, os indígenas alemães debateram economia, mais ou menos Estado, segurança social, mais ou menos Europa, reflectiram em torno dos impostos domésticos, da globalização, esgrimiram argumentos simpáticos, ouviram propostas arrojadas, inspiraram-se no passado-presente, entusiasmaram-se, indignaram-se até. O resultado foi o que se sabe.
Porém, no seu exercício de civilidade, desencantaram alguns dos melhores espíritos jornaleiros, aqueles que frequentam, com espírito liberal, as "boticas" da democracia, os "iluminados" da narrativa democrática. Aqueles que têm sempre razão e nunca se enganam cansaram-se de vez. O brado desses paternais ayatholas da democracia e do bem-estar económico e social soou alto entre a "nebulosa" eleitoral. É uma dor de alma ver o fastio de tais criaturas. Os gorjeios que a natureza deu a tais exemplares cidadãos, que dançam nos jornais e TV's ao som grave do imperium neocon, não fizeram sorrir os indígenas locais. Cabisbaixos, reivindicam de momento fecundas alianças eleitorais, enquanto suspiram por uma qualquer forma de afastar o povo ingrato, a plebe, a escória social, do impiedoso voto popular. Fossem eles os únicos a estenderem a caneta atrás do biombo democrático que a perfeição era absoluta. Há que, educadamente, correr com a escumalha eleitoral. A bem da Nação. E do Império.
Entre os indefectíveis neoconservadores da nossa paróquia, marca presença constante e inspirada, o inefável José Manuel Fernandes mais a sua equipa amestrada (um beijo ... Teresa de Sousa). A consternação à situação alemã (ou será ideologia alemã?) produziu uma análise prodigiosa em editorial tormentoso de JMF. Que nos diz? Pois, que a actual situação é culpa das massas. Não querem o neoliberalismo, confessa JMF, antevendo-se uma lágrima a desfalecer sobre as teclas do PC. Mais: que o Partido Liberal existe, mas que os malandros do Partido de Esquerda roubam, não já criancinha como no tempo da doença infantil do sr. Director, mas sim votos. Eis, portanto, o impulso reformador do sábio JMF, agora ofertando o seu génio aos rudes alemães, miseravelmente abafado pelo gentio votante. E a tudo isso lhe dá o nome de análise política. Curioso.
Arrogâncias
Arrogância, s.f. (do lat. arrogante-). Em que há arrogância, altivo, soberbo, insolente || Que é valente, corajoso, intrépido, brioso || Soberba, altivez || Dito, acção soberba, insolência. [in GDLP, de José Pedro Machado]
Tudo é possível na/pela "arrogância", mas siga-se os seus passos e veremos que os protestos e o desassombro de muitos perante os sinais de tão infeliz "malvadez" são uma simplória satisfação de ressentimentos tardios. A "loucura moral" dos psicopatas da política, no sacudir das palavras grosseiras do putativo "arrogante" ou candidato, resulta quase sempre numa "ladainha" melíflua, mas descaradamente ardilosa na sua retórica, cega na sua pungente "dor" partidária e pouco misericordiosa em epítetos sobre essa "vil" prática. Daí que, e afinal, os insultados e caluniados somos sempre nós - os que não se iludem com facilidade. De certo modo, e a coberto da "etiqueta" ou do manual do politicamente correcto, os "castos" comentadores tentam resistir à sua "alienação" político-partidário. A patologia em todos estes casos de indignidade face ao bruto "meliante", ao exultado "arrogante", tão histrionicamente revelada ao "cidadão taberneiro" pelos "opinion-makers", é uma simples "psicose de defesa". Na melhor das hipóteses, uma simpática neurastenia.
Assim, não por acaso, o animoso debate Carmona versus Carrilho registou lastimosas análises sobre a alma do "bom" debate, que, evidentemente, alimentou toda a turba dos ressabiados da política. Depois de tosquiado o putativo "arrogante" ou "o grande ordinário", segundo a lisonja do eng. Carmona, não lhe foi sequer concedida qualquer desafronta, no desfecho do grande espectáculo. Ao que se presume, num pais civilizado, depois da copiosa chuva de "carinhos" e "meiguices" Carmonianos, a solenidade exigia que se trocasse cumprimentos afectuosos, no final. Mas nada disso aconteceu, como nos elucida a récita do politólogo-guru Ricardo Costa, como sempre inimitável no chocalho off-record & "sublime" na meditação das estratégias partidárias.
A partir daí, as queixas maviosas alastraram aos indígenas, que como se sabe têm por hábito levar e calar, desde os tempos de Cavaco & Guterres, até ao fadário de Barroso & Sócrates. E é bom de ver que a "bondade" destas observações levadas a cabo pela "milícia" dos comentadores do reyno, deixa de ser uma "luta" de (isentas) opiniões, para professarem complacentes alinhamentos político-partidários. Não há melhor perversidade. A "neurose de carácter" dos comentadores "dribla" qualquer um de nós e infesta tudo. Não há maneira de se lhe escapar. Resta levantar ... e fugir.
terça-feira, 13 de setembro de 2005
Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas
Para a ilustríssima assembleia que consulta sublimes instruções & abraça preceitos poéticos em gemidos libertadores; para os devotos do império de Sócrates and Cia Inc. ou para os sacrificados da graça & remédio do déficit, ambos sorrindo em paixão melosa; eis, ali ao lado na pedra, o precioso testemunho do mistério dos homens, argumento onde se vê que "o dia e a noite se encontrá". Talvez. Bom luar.
"eu vi o cego lendo a corda da viola
cego com cego no duelo do sertão
eu vi o cego dando nó cego na cobra
vi cego preso na gaiola da visão
pássaro preto voando pra muito longe
e a cabra-cega enxergando a escuridão
eu vi a lua na cacunda do cometa
vi a zabumba e o fole a zabumbà
eu vi o raio quando o céu todo curisca
e o triângulo engolindo faísca
vi a galàctea branca na galàctea preta
eu vi o dia e a noite se encontrá ..."
[Tom Zé, Xique Xique - letra aqui]
O mistério da Educação
O Ministério da Educação anda numa agitação deslumbrante, só comparável à embriaguez mediática da implosão das torres de Tróia. Por toda a parte, sacudindo o pó do cadáver adiado que é o ensino em Portugal, o sentimento do festivo Sócrates anima os foliões do processo educativo.
Visto que os putativos lamentos do inflamado José Manuel Fernandes ou a escrita sensível do Valente da Gradiva ainda não desabaram nas páginas d'O Público, tudo leva a presumir que estamos perante uma virtude educativa socrática. Também é verdade que, o inefável David Justino, ungido noutros tempos pelo senhor director para tarefas educativas, e que não soube (dizem) ou não teve tempo (sussurram outros) de honrar o plano espargido pelo duo redentor citado, rende homenagem aos despachos administrativos da senhora Ministra, decerto em feliz recordação ministerial. Demais, os encarregados de educação, em deleitosa excitação, estremecem de gratidão por tanto inglês assim espalhado à plebe, aplaudem a prescrição de mais cuidados professorais pelo dia fora e respiram, cientificamente falando, pela ilustrada formação em matemática dos docentes saídos das ESE, que ao que parece não dominavam a matéria. Tudo corre no melhor dos mundos.
A reforma educativa socialista foi árdua mas não difícil. A gravidade da missão era apenas dar com o chicote governativo ao corpo docente e não-docente, conduzir os prevaricadores pela arreata, irresponsabilizar pais e encarregados de educação. Afinal - como o trio iluminado manifesta um silêncio de zelo perante tais medidas -, era esse o prodígio no ensino e da sua reforma que tricotavam pelos jornais e com que instruíam os indígenas. Simples, portanto!
Daqui procede que questões como os planos curriculares, laboriosamente selados por David Justino, e absolutamente inacreditáveis num país sério (vidé os do ensino secundário), a carga horária lectiva e não-lectiva, o trabalho/discurso cientifico e pedagógico dos professores, a avaliação de alunos e docentes, o alargamento da escolaridade obrigatória, a reformulação ou encerramento das ESE, são de tal modo obscuros de paradigmas, irrelevantes no discurso da escola, desfasados do campo educativo e da intervenção escolar, que não merecem qualquer resposta ou análise. Intervir administrativa e autoritariamente no corpo docente lançando a confusão, equívocos vários, desabridas intolerâncias inconstitucionais, fragmentando e desvelando as fissuras escolares, eis a panaceia para uma instrução melhor e de qualidade, que nos vai levar (dizem!) ao topo da UE. Compreende-se, deste modo, como os adeptos do "eduquês" que configuraram todos estes anos a praxis educativa lusa, proliferam no pesado aparelho do Ministério da Educação. É só contar os comissários políticos oriundos das ESE e dos Politécnicos para entender a extraordinária reforma do ensino em Portugal. Com o aplauso de muitos. E o silêncio de uns quantos.
"Cavaco: retrato de um português muito conhecido"
"... o dr. Cavaco entrou em cena, afirmando classicamente a imoralidade da política (...) Em 1978, expusera com inteira franqueza, as suas opiniões sobre o assunto na revista Economia: nomeadamente a de que «o político como criatura dedicada à prossecução dos interesses da sociedade como um todo» era um mito. Os políticos, segundo o dr. Cavaco, só se movem por duas ordens de 'objectivos': «o seu próprio bem-estar» e a sua «permanência do poder». Donde resulta, como ele a seguir minuciosamente argumenta, que a política constitui o principal impedimento a que uma sociedade seja bem governada. Num mundo ideal, não existiria política, isto é, não existiria partidos: existiria apenas a vontade de competência (...)
Esse 'homem de Boliqueime', que chegava do 'nada', magro e esfomeado, cumpridor e virtuoso, endurecido pelas humilhações e pelos começos difíceis, reflectia a multidão que rilhava o seu ódio aos políticos nas universidades e nos ministérios, nos jornais e nas empresas públicas. Cavaco era a própria essência do arrivismo. Sendo um autêntico reacionário, detestava a burguesia tradicional e proclamava a sua dedicação ao povo: queria o prestígio da autoridade, o amor do trabalho e o fortalecimento da família; vivia obcecado com a sua própria competência, a sua importância e os sinais exteriores da sua dignidade. E não conseguia impedir que transparecesse, sob este já desagradável exterior, uma vaidade ingénua e vertiginosa, que apregoava as suas proezas atléticas, a sua perene juventude, os seus graus académicos, o seu saber, a sua clarividência e até, constantemente, os elogios que recebia do estrangeiro, como se a sua fama, partindo de Boliqueime e parando em Lisboa, fosse o caminho do mundo (...)
Ele sente-se como o proverbial menino holandês com o dedo no dique. Se alguém o mover um só milímetro segue-se o desastre. Ceder uma vez significa animar as fúrias e frustrações portuguesas, que já de si andam agitadas. Ele não cede. Dá audiência real à oposição e chama à conversa 'diálogo'. Não se corrige, mesmo quando erra, e, se se corrige, nega que se corrigiu (...)
Cavaco supõe que a sua impassividade inspira confiança. Inspira, pelo menos, uma certa apatia e tende a desencorajar as partes queixosas, que se cansam de bater com a cabeça num muro. Ele acha isso óptimo, sem perceber que perde no processo. O principio fundamental do cavaquismo não lhe permite perceber (...)
[Vasco Pulido Valente, "Cavaco: retrato de um português muito conhecido", in O Independente, 15 de Maio de 1998]
Livros sobre o Rio de Janeiro antigo (encomenda cerimoniosa ao ...)
"... eu sou Sá, sou o Rio de Janeiro com os seus tamoios, seus negros, seus cafuzos, seus 'galegos' também ..." [Lima Barreto]
Mano, eis a listagem primeira a anotar pelos seus encantos e eloquência. O Rio de Janeiro antigo é impressão inquietante. Há que colher bem os frutos e iluminar o desejo. Carece de corrida imediata, até porque a bolsa não tem discurso. Boa sorte!
Aluísio de Azevedo [Casa de Pensão, 1884] / idem [Cortiço, 1890 - mto imp.] / idem [A Girândola de Amores (aliás "0 Mistério de Tijuca"), 1910] / Coelho Neto [Capital Federal, 1883] / idem [A Conquista, 1899 (a de 1913 'tá cá] / Gilberto Ferrez [O Velho Rio de Janeiro através das gravuras de Thomas Ender, 1957] / J. P. da Graça Aranha [Viagem Maravilhosa, 1930 - refª ao Carnaval] / Joaquim Manuel de Macedo [Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro, 1862 (ou 1942, ou 1966)] / idem [Memórias da Rua do Ouvidor, Typ. Perseverança, 1878 (ou 1966)] / idem [A Moreninha, 1884 (ou 1910-2)] / José da Rocha Leão [Os Libertinos e Tartufos do Rio de Janeiro, 1860] / José de Alencar [Sonhos d'Ouro, 1872] / Júlia Lopes de Almeida {Ânsia Eterna, 1903] / Lima Barreto [Recordações do Escrivão Isaías Caminha, publ. em Portugal, 1909] / idem [Triste fim de Policarpo Quaresma, 1915] / idem [Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, 1919 ? mto imp.] / Manuel António de Almeida [Memórias de um Sargento de Milícias, 1884-85, II vols (impossível claro; a de 1861 era boa peça; a de 1900 já cá canta, mas pode ser outros tantos mais]
[a continuar]
sábado, 10 de setembro de 2005
Reflexión sobre el 'Katrina' [Mário Soares]
" (...) Sin embargo, una vez pasado el primer efecto del horror, de compasión por las personas desamparadas y de solidaridad, se impone una reflexión serena y objetiva sobre las causas de la catástrofe natural, sobre la evaluación de los estragos causados, que nos lleve a preguntarnos si podían haberse evitado o, cuando menos, reducido.
Lo cierto es que la catástrofe natural estaba anunciada y estaba prevista, acaso a tiempo de evitar muchas de sus peores consecuencias. Pero las medidas necesarias -sobre todo la evacuación de la población más necesitada- no se tomaron a tiempo e, incomprensiblemente, los auxilios más elementales no llegaron hasta seis días después. El propio presidente Bush reconoció este inaceptable fallo con impotencia y consternación. A la desgracia siguieron el pillaje, el aislamiento y el caos.
Los ecologistas ya se han pronunciado. Y el balance es arrasador para la Administración Bush. Con la naturaleza no se juega. Cuando en 1992 se definió en la conferencia de Río el concepto de desarrollo sostenido, se entendió que para sostener el crecimiento económico no se pueden obviar las cuestiones ambientales, ni mucho menos los equilibrios ecológicos fundamentales. El sistema neoliberal no lo entiende así: el valor supremo es el lucro por el lucro - la obtención de dinero fácil, incluso obtenido por medios especulativos -, y la calidad de vida de las personas, sobre todo de las necesitadas, no cuenta en absoluto.
Más de una década después de la conferencia de Río, EE.UU. sigue sin ratificar la convención de Kioto. El agujero de ozono no es una ficción de un científico loco: el calentamiento de la Tierra sigue evolucionando y provocando alteraciones climáticas que están a la vista en todas partes. Ya se sabe: "Quien siembra vientos recoge tempestades"... Por otra parte, la actual política de Estado, propia del neoliberalismo, ya viene de Reagan. Las infraestructuras públicas están dejadas de la mano de Dios, no ha habido dinero para reforzar los diques, aun cuando existía el peligro de que se vinieran abajo, como había sucedido en alguna ocasión. La población más pobre está abandonada a su suerte - como en los países del llamado Tercer Mundo - porque los ricos siempre disponen de medios para huir de las amenazas.
Las imágenes transmitidas a todo el mundo son de una crueldad atroz. Duele verlas. Es imposible no pensar en la dimensión social y racial de la tragedia, como es imposible no pensar en la dimensión política. EE.UU. es un país profundamente dividido, con guetos de miseria y de pobreza comparables con los peores del Tercer Mundo. ¿Siempre ha sido así? Tal vez. Pero los dos mandatos del presidente Bush, tan infelices tanto en el orden interno como en el externo, han contribuido mucho a agravar su situación, y de manera peligrosa. Los amigos sinceros de EE.UU. como yo tienen el deber de decirlo bien alto para que la opinión ilustrada norteamericana les oiga y tenga el valor de cambiar el rumbo que se ha seguido hasta ahora. (...) [continua, ler mais aqui]
[Mário Soares, 08/09/2005, in La Vanguardia]
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