domingo, 13 de março de 2005


André João Antonil [m. na Baía a 13 Março de 1716]

"O inconveniente do pseudónimo [André João Antonil é pseudónimo de João António Andreoni] envolveu, durante muito tempo o autor da «Cultura e Opulência do Brasil» em atmosfera de duvidas e confusões. Houve até quem admitisse tratar-se de um escritor paulista [S. Blake], de origem ignorada [Inocêncio considera-o de origem italiana]. No entanto João António Andreoni era muito conhecido em seu tempo, pelas funções eclesiásticas por ele exercidas. Mas a circunstância predominante que o deixou no olvido, reside na excessiva precaução do governo lusitano, determinando o sequestro e destruição da obra que ele escreveu, em virtude das noticias consideradas indiscretas, sobre as minas de ouro e prata, tornaram-se, igualmente, raríssimos os exemplares das edições subsequentes (...)

Trata-se do primeiro economista que manifestou publicamente, em livro, durante o período colonial (...) Além das contribuições prestadas, com referência ao cultivo da cana do açúcar e do fumo, à indústria incipiente do açúcar e do tabaco, encerra informações sobre pecuária, a extracção e exportação do pau brasil e ouro (...) Além da parte agrícola, encerra excelentes dados estatísticos sobre o progresso da colónia no segundo século de existência e oferece subsídios do maior interesse para o estudo económico do Brasil.

A despeito de haver logrado franco parecer, favorável à sua publicação, por parte dos representantes do santo ofício e do censor do paço, houve ordem de sequestro imediato (...) Destruíram a edição de 1711, da oficina real de Deslandes, salvando-se apenas três ou quatro exemplares. Nova tiragem se fez, quase um século depois, graças às providências de frei José Mariano da Conceição Velloso, quando dirigia a tipografia do Arco Cego, em Lisboa. Fê-la porém incompleta, pois só extraiu do exemplar que lhe foi confiado pelo conselheiro Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, a primeira parte, relativa ao açúcar, com o título de «Extracto sobre os engenhos de assucar no Brasil e sobre o methodo, já então praticado, na factura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e Opulência (...)». José Sylvestre Ribeiro, distinto bibliógrafo português, servindo-se talvez do mesmoe exemplar pertencente a Ordonhes, ou por sus influencia, cuidou da 3ª edição, em 1837. Afonso de Taunay, no 4º capitulo do estudo bio-bibliográfico de Antonil, relata as ocorrências sobre as edições do encarecido livro.
Antonil usara também do pseudónimo Anonymo toscano, circunstancia que determinou Barbosa Machado, no dizer de Varnhagen, haver excluído a obra da sua Biblioteca Lusitana..."

[Arthur Motta, in História da Litteratura Brasileira, São Paulo, 1930]

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sexta-feira, 11 de março de 2005


Para não esquecer o Horror

"Creio no homem. Já vi
dorsos despedaçados a chicote,
almas cegas avançando aos saltos
(espanhas a cavalo
de fome e sofrimento). E acreditei.

Creio na paz. Já vi
altas estrelas, recintos chamejantes
e amanhecentes, incendiando rios
fundos, caudal humano
para outra luz: vi e acreditei.

Creio em ti, pátria. Digo
o que já vi: relâmpagos
de raiva, amor em frio e uma faca
chiando, fazendo-se em pedaços
de pão: embora hoje só haja sombra, vi
e acreditei"

[Blas de Otero, Fidelidad, in Pido la Paz y la palavra, 1955, trad. José Bento (1985)]

Um ano depois do horror do 11 de Março, em Madrid. Dessa tormenta que não nos abandona. Desse remanso incrédulo que as lágrimas não hão-de deter. Da dor e espanto desenganado. "Una sombra tristíssima, indefinible y vaga / como lo incerto, siempre ante mis ojos va / tras de outra vaga sombra que sin cesar la huye / corriendo sin cesar ..." [Rosalia de Castro]. Limpámos as feridas. E depois? Que é feito de nós? Da nossa culpa, do desespero, da nossa raiva? Que abismo é o nosso? Lançai os olhos ao mundo e vede que o clamor não se pode quedar discreto. Um ano depois desse cansaço que temos na memória, o maior tributo após um ano sobre o 11-M será nunca o esquecermos. Nos nossos afectos. Para nossa protecção e liberdade. Porque se faz tarde.

quinta-feira, 10 de março de 2005


Boris Vian [n. 10 Março de 1920-1959]

"... O erotismo de Os cento e Vinte Dias de Sodoma quando não cai num ridículo assaz cómico não vai nunca além de um Petit Larousse perverso; e os preparativos da orgia que duram páginas e páginas são maçadoras e bem inferiores em sugestão ao Catalogue Général de la Manufacture d'Armes et Cycles de Saint-Etienne, ou ainda aos anúncios matrimoniais do Chasseur français. (...) Pseudo-erotismo também os livros de Delly, de Max du Veuzit e de todas as damas cuja função principal parece se a de fabricar, a longo prazo, novos complexos para uso das jovens católicas (...)

Um outro grande erótico: Ernest Hemingway. Coisa curiosa, é perto das mulheres, reputadas como menos sensíveis que os homens às solicitações do livro, que Hemingway tem maior peso. As cenas de Por quem os sinos dobram onde o herói e a heroína fazem uma data de coisas dentro de um saco de dormir foram-me descritas e relembradas por todas as amáveis pessoas que interroguei sobre a sua concepção de literatura erótica ..." [Boris Vian, in Escritos Pornográficos, Livraria Utopia, 1988]

"Monsieur le Président,
je vous fais une lettre,
que vous lirez peut-être,
si vous avez le temps.

Je viens de recevoir
mes papiers militaires
pour partir à la guerre
avant mercredi soir.

Monsieur le Président
je ne veux pas le faire,
je ne suis pas sur terre
pour tuer de pauvres gens.

C'est pas pour vous fâcher,
il faut que je vous dise,
ma décision est prise,
je m'en vais déserter ...
" [Boris Vian, in Le Déserteur]

Locais: Boris Vian (1920-1959) / Boris Vian / Boris Vian e il jazz / Boris Vian, Artista Multifacetado / Vernon Sullivan ou les pseudo-traductions de Boris Vian
Livros & Arrumações

* "Alexandre Sá Pinto", pelo Dr. António Luiz Gomes, Lisboa, 1967. Trata-se de um conferência, proferida na Escola Industrial Marquês de Pombal, sobre Alexandre Sá Pinto, nascido em Gondozende, Esmoriz, a 7 de Dezembro de 1833. Refere que sai da sua terra, com 16 ou 18 anos, sem ter frequentado uma escola, a não ser "a escola da vida", em direcção à Baía, seguindo depois para Buenos Aires, por lá falecendo em 1926. Foi pintor e forrador de casas, compra e vende terrenos em Buenos Aires, sendo, à medida que a capital da Argentina se desenvolve, senhor de uma considerável fortuna. Consta que veio a Portugal duas vezes, sem passagem pela sua aldeia natal, morrendo solteiro e sem família directa. Pelo seu testamento foi contemplada a Escola Técnica Marquês de Pombal e a sua "similar" do Porto, a Misericórdia de Ovar, o Hospital de Santo António do Porto, bem como instituições em Buenos Aires. Por último é dito que pouco se sabe sobre Alexandre Sá Pinto, sendo que o nosso embaixador na Argentina dizia: "Ninguém sabe nada dele, ninguém o conhecia". O que não deixa de ser curioso. Conclui, António Luiz Gomes, por estabelecer um paralelismo do homenageado com outras personagens, como o Conde de Ferreira (enriqueceu no Brasil) e Rovisco Pais.

* importante separata da Revista da Universidade Técnica de Lisboa, nº12 de Dezembro de 1962, sobre "O Professor Doutor M. B. Amzalak", na data da sua jubilação (4 de Outubro de 1962). Estas Notas Biobibliográficas, com um retrato do antigo Reitor da UTL, referem os seus cargos políticos, a actividade docente, as sociedades científicas que fez parte, as comissões de serviços e, principalmente, apresenta uma extensa bibliografia de "livros, lições e apontamentos em revistas científicas". Divide-se em Economia, História das Doutrinas Económicas, História das Doutrinas Económicas em Portugal (mais de 60 títulos), Economistas Brasileiros, História, Discursos, etc. Nada nos é dito, mas sabe-se que o prof. Amzalak tinha uma importante e copiosa biblioteca, que foi vendida ao "desbarato", depois do 25 de Abril.

terça-feira, 8 de março de 2005

2-Aniversários-2

[na noute finda em que passaram 2-Aniversários-2]

Nestes dias últimos em que a palidez nocturna nos atraiçoou, curvados que estivemos em trabalho suplicado, este pecador almocravado lança daqui, da tenda do Mondego, eternas felicitações ao Alexandre Andrade e ao Tiago Cavaco

José Raúl Capablanca [m. 8 Março de 1942]

Salvé Capablanca! Oh venerável Mestre! Hoje, já fartos de ler novas sobre a garotada, ainda à espera das amêndoas governativas, absolutamente sem pachorra para a economia ou consultas poéticas, corremos para o tabuleiro. Aconteceu-nos a glória do poder divino. Afinal - Mestre! - que seriam as nossas noites sem um jogo de Xadrez?

E Vc porquê espera? Deixe os embrulhos das fotografias das amadas, arrecade a amargura de ser ainda miúdo e ... vá jogar com(o) o Mestre. Ou assista, civilizadamente, a uma admirável partida entre Capablanca contra Alekhine. Buenos Aires, 1927. O tango está a passar por ali. Haja esperança.

Locais: José Raúl Capablanca / Most Played Openings / Historical Photographs (xadrez) / World Chess Champions / World champion: 1921 to 1927
Livros & Arrumações

* Páginas Portuguesas de Afonso Botelho, Lisboa, 1949, é um opúsculo correspondente a três artigos e uma resposta a Pequito Rebelo [Pequito Rebelo e a Nova Geração), publicados anteriormente no "Ressurgimento" e, no caso da resposta a PR (dizia PR, "a primeira geração do Integralismo teve de combater a Anti-nação, vós tereis e não só vós, mas a mocidade de todo o mundo porque o erro é universal..."), lido no acampamento monárquico de 1948. Este último texto é importante. Considerando que "Pequito Rebelo não falou a um grupo de Integralistas novos" mas sim "falou a uma geração", Afonso Botelho tece considerandos vários sobre o Integralismo e a sua doutrina, assumindo que entre a doutrinação integralista e "o começo da nossa juventude há uma espaço vazio de missão". E que "houve alguns momentos em que supusemos ter encontrado o nosso caminho mas, dolorosamente, muito antes da idade própria para as desilusões, desiludimo-nos". Refª várias a Salazar ("a grande esperança de Salazar era a juventude e expressamente o disse, mas na realidade não o podia ser, porque a ideia que ele fazia dessa juventude era totalmente contrária à realidade"). Curioso.

* José V. de Pina Martins é admirável de se ler. O opúsculo "A Poesia de D. Francisco Manuel de Melo", Edições Brotéria, 1967, tem sempre esse encantamento, essa luminosidade, que só alguns escritos nos conseguem dar. O exercício ensaístico sobre as Cartas Poéticas de Francisco Manuel de Melo, é um trabalho meticuloso, sempre com a presença de apuradas notas e reflexões, muitas em nota de pé-de-página, de rara sensibilidade. O texto de Pina Martins percorre 30 páginas que se lêem num fôlego. Está lá tudo: a "espiritualidade" de FM de Melo que se funda na "destas dores da experiência", a leitura da poesia a partir do "drama espiritual" e "no sofrimento moral proveniente da sua privação da liberdade", o realce para alguns aspectos e "motivos de reminiscência platónica", a lírica religiosa que inspira "O Canto da Babilónia", a situação moral do poeta, a presença da modernidade na poesia de F. Manuel de Melo. Um livro a não perder.

domingo, 6 de março de 2005


Afonso Duarte [m. 6 Março de 1958]

"Não posso já com ervas nem com árvores;
Prefiro os lisos, frios mármores
Onde nada está escrito

Meu gosto da paisagem fez-se escuro;
Nenhures é o lugar que mais procuro
Como homem proscrito.
...
Eu não sei se amanhã será meu dia,
Recolho-me furtivo na poesia,
Incerto o chão que habito ...
" [A. Duarte, in Grito, 1940]

Locais: Afonso Duarte, 1884-1958 / Afonso Duarte / Ereira ou a memória de Afonso Duarte / 6 Poemas

sábado, 5 de março de 2005


Anna Akhmatova [m. 5 Março de 1966]

"Bebo ao lar em pedaços,
À minha vida feroz,
À solidão dos abraços
E a ti, num brinde, ergo a voz...
Ao lábio que me traiu,
Aos mortos que nada vêem,
Ao mundo, estúpido e vil,
A Deus, por não salvar ninguém
" [A. Akhmatova, in Último Brinde]

Locais: Ana Akhmatova / Anna Akhmatova (1889-1966) - pseudonym of Anna Andreyevna Gorenko / Anna Akhmatova / Anna Akhmatova(Cronologia) / A Collection of Poems / Poesia

Passa por mim no Governo!

"A generosidade é o dom do que convém, sem qualquer reparo, à compensação" [Avicena]

Temos governo. Os missionários de Sócrates são aquilo que se esperava. Abundantes tecnocratas, made in IST & outras Instituições meditabundas, consumidos pela respeitosa sebenta, alguns profanos aparentemente virtuosos e estimados profissionais da labuta política. Ainda não foi, segundo dizem o rol da eminência parda jornaleira que domestica o país, espalhado o perfume pátrio governativo, mas para nossa glória não houve recurso à tralha Guterrista em dose elevada, pelo que a epidemia está contida. Resta esperar.

Como curiosidade, refiram-se os sediciosos ecos que os comentadores costumeiros lançaram ao rebanho luso, em torno das personagens eleitas. Desde logo um sujeito, que se desconhece o que tem feito para a posteridade da pátria, de nome Van Zeller, absolutamente fascinado pela presença de Freitas do Amaral na governação. De tal modo confundiu o comércio da CIP com a azia revoltosa perante o excomungado Freitas, que julgámos recuar a 1975. E lá fomos, obedientemente, consultar o calendário. Uf! O Van Zeller afinal era um fingidor.

Depois, recebemos as instruções do monge Luís Delgado que com a sua louvável caridade liberal atestou que este Governo era pior do que o prometido, e, evidentemente, inabilitado para a função, isto depois de evocar Lopes & Portas, em reza. A noite não podia findar sem que o pensamento de Guilherme Silva, o desamparado guerreiro Santanista & Jardinista, na mais pura ex ironia, nos tenha dito cobras e lagartos desta segunda, terceira ou mesmo quarta escolha socrática. Excelente!

Por fim, ainda não tínhamos atacado o café matinal, já o camarada José Manuel Fernandes, o devoto militante que no principio dos anos oitenta não renunciava à reorganização do PC, para espanto de todos, freneticamente escrevia no seu jornal achar tumultuoso a presença de Freitas do Amaral no governo da Nação. A verdade é que Feitas do Amaral era um perigoso terrorista anti-Bush, novo Rei do Mundo para o estabelecido JMF, o que, presumimos, nos poria a guerrear com o exército americano. Cruzes, canhoto! Mas, como nos lembrámos da animada cena passada in illo tempore no Palácio de Cristal, a que decerto o camarada JMF serviu, compreendemos a reprimenda. E o fogo ardente do senhor director. Há coisas que não esquecem.

Pier Paolo Pasolini [n. 5 Março de 1922-1975]

"Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
...
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
...
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Salò, não se importariam de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua
"

[Eugénio de Andrade, Requiem a Pier Paolo Pasolini, 1977]

Locais: Pier Paolo Pasolini / Pier Paolo Pasolini / Vida e obra / Pier Paolo Pasolini: Cinema as Heresy / Écrits corsaires de Pier Paolo Pasolini Le sens du combat / Orgia

quinta-feira, 3 de março de 2005


Eugénio de Castro [n. 4 Março de 1869-1944]

"Aqui, Eros! Para quê de ampulhetas um par!
Dupla medida tens, leviano? - Numa, a hora,
Se os amantes estão juntos, é voadora;
Se estão longe, na outra, expira devagar
"

[Zeitmass (aliás Medida do Tempo) de Goethe, trad. de Eugénio de Castro]

Locais: Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944) / No centenário da publicação de Oaristos

Em louvor do Pe. Nuno Serras Pereira

Participamos ao piedoso Padre Serras Pereira, a quem consagramos tributo de lágrimas e martírios inconfessáveis, mais alimento para as seus votos por ora postos em formato de Anúncio Público, para que o ilustre padre possa ser grande, respeitoso e devoto. Daqui nos curvamos, meditando nos prodígios dos cânones e nas instruções recebidas, porque justos e misericordiosos. Graças!

"... Abandonar uma Avé-Maria a meio, contar uma anedota ou chupar pevides de abóbora durante a missa, destruir um hino ou uma ladainha, rasgar ou riscar um salmo penitencial, são atitudes que abrem a porta ao pecado ..."

[Lândon, in Livro das Coisas Santas, de Carlos Mota de Oliveira, Fenda, 1995]

"... Segundo recentes estudos religiosos, cada penitência resulta de alguns gramas de pecado. E por cada dez gramas de pecado, o penitente aniquila cento e oito gramas de boas acções ..." ["Dictatus Papae, Gregório VII, ibidem]

"... Ao confessar uma multidão de maus juízos e palavras ásperas, o penitente sofre grandes mordidelas da parte do demónio. Isto depende muito do sacerdote confessor, pois tem que escolher entre a quantidade e a qualidade do pecado. E o diabo está sempre presente. Alguns cardeais consideram que esta mordidela é mais ou menos violenta conforme o número de pecados confessados. Outros, porém, sustentam que o diabo prefere a qualidade e morde com menos intensidade quando sabe que o penitente se confessa sem o propósito de se emendar..." [palavras de Pelágio I, ibidem]

"... Sei que os sacerdotes ficam inquietos quando a abadessa Joana entra nos meus aposentos. É evidente que todas as manhãs recebo a sua visita e depois rezamos (...) Tendo em conta a perturbação que estas visitas causam no meu pessoal religioso, mandei colocar dois informadores à entrada da alma de cada um. E o que eu tenho sabido, meu Deus! Entram, diariamente, na alma de cada sacerdote, uma legião de anjos cheios de delírios! Outros, aluados! Outros adoidados! Outros, marijuanados! E digno, digno de respeito, só vi um anjo!..." [Confidência de João XI (931-935), ibidem]

"... Uma nódoa de cereja no hábito de uma monja é desmazelo. Aos olhos dos monges, porém, é tentação. Alguns Irmãos acreditam que os pecados estão colados aos vestidos das monjas como as estrelas estão pegadas ao céu ..." [extracto de uma carta de Pio V, ibidem]

"... À maneira que nos aproximamos da Porta Celestial, vamos deixando progressivamente os pecados. O calor começa a apertar e é preferível ir largando toda a roupa terrena. Peça a peça, ali ficamos nós, à entrada: nus, nuzinhos, uns atrás dos outros, em mansa fila, rosados, róseos e rosadinhos. Alguém, então, autorizará que penetremos ..." [extracto carta dirigida «A Todos os Filhos da Igreja», por Eugénio II (824-827), ibidem]

"... Se são rezadas sete missas por dia, aumente-se para catorze! E quintupliquem-se os outros serviços religiosos! Um baptismo, por exemplo, é pouco! Três, quatro, cinco, pelo menos! E se for preciso, em vez de uma Páscoa, arranjem-se duas Páscoas! Há que depurar, esburgar, expurgar e extirpar!..." [manuscrito encontrado no espólio do Duque de Montorio, de autoria de Silvestre I (314-335), ibidem]

Salvé Lou Costello [m. 4 Março de 1959]

quarta-feira, 2 de março de 2005


Philip K. Dick [m. 2 Março de 1982]

Um Ano a Blasfemar

Felizes os que podem blasfemar contra as impiedades. Coisas copiosas nos dão todos os dias, faz um ano agora, a equipa do Blasfémias. Praticar o bem é o que se lhes deseja. E mesmo que a devoção liberal seja um mistério para nós, daqui lhe desejamos muitas felicidades e iluminados festejos.
Livros & Arrumações

* Separata do Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. XXIV, um texto sobre "A Provedoria de Esgueira", por Mário Alberto Nunes Costa, 1958. Fazendo um historial da formação da Comarca, referindo o "litigio" que manteve (1618/19) com Coimbra, apresenta um conjunto curioso de documentos seiscentistas referentes a Esgueira, ordenadas por Vicente Ribeiro Meirelles, com referência a várias vilas ou actuais cidades do distrito de Aveiro, entre as quais Salreu, Estarreja, Murtosa, Canelas, Fermelã, Branca, Bemposta, etc..

* Um excelente Ensaio Literário e Bibliográfico de Carlos Sombrio, sobre "João de Barros", com pref. de Joaquim de Carvalho, Figueira da Foz, 1936. Apresenta, além de uma extensa bibliografia de João de Barros e vários retratos, um curioso prefácio de Joaquim de Carvalho, onde é referido que ele e Carlos Sombrio "já lá vão quarenta anos (...) traquinavam pela Praça Velha [F. Foz] onde os nossos pais labutavam pelo pão de cada dia e, podendo ser pelo dia seguinte". Refere-se ainda à comemoração do Centenário de Camilo na Figueira (1925) para o reencontro com Sombrio, após que tece considerações em torno do biografado João de Barros. Eis, depois o ensaio sobre João de Barrros, o poeta do Anteu.

"De encontrar para a vida uma expressão mais bela,
De encontrar para a alma a perfeição melhor ...
"

Comité Revolucionário Provisório de Kronstadt [2 de Março de 1921]

"... A insurreição de Cronstadt, nascida de revindicação de eleições livres dos sovietes, chegara a concepções que poderemos chamar de anarco-sindicalistas, tomando esta expressão no seu sentido correcto e não naquele polémico e pejorativo habitual. Sem negar o papel dos sovietes, os insurrectos queriam a sociedade administrada pelos sindicalistas reorganizados que se unificariam livremente à escala Pan-russa com associações de produtores. A maturidade política dos insurrectos aparece ainda mais nitidamente quando se considera que, tendo em conta a conjuntura particular dos princípios de 1921, eles tentavam resolver o problema do campesinato e a sua relação com a classe operária. A sua proposta visava até o desenvolvimento da agricultura sem provocar ao mesmo tempo um aumento do trabalho assalariado nos campos (Ao contrario do que fará a NEP) ..."

[J. Barrot, in Notas para uma análise da Revolução Russa, Cadernos de Hoje, 1972]

"... O esmagamento de Cronstadt e a proibição da Oposição Operária [nota: Alexandra Kollontai, Bukharine, Preobajensky, Radek, Chiliapnikov, Bela-Kun, etc.] mostram a vontade dos dirigentes em subordinar toda a acção à nova orientação económica, cuja execução passa evidentemente (e não o inverso) pelo reforço do aparelho de estado, com o qual o Partido [PCR(b)] tende cada vez mais a confundir-se ..."

[A Velha Toupeira (?), in A Oposição Operária, de Alexandra Kollontai (introd.), Afrontamento, Janeiro de 1973]

Locais: The Kronstadt Provisional Revolutionary Committee / The Kronstadt Uprising 1921 / The Kronstadt Commune 1921 / Russian Revolution of 1917, series of events in imperial Russia / A Revolta de Kronstadt

terça-feira, 1 de março de 2005


Um apito dourado para o senhor Costa, já!

"Ele não fazia nada de particular, mas fazia-o muito bem" [William Gilbert]

Temos noutes assim: muito fanáticas. Também podemos contrair a doença do César das Neves, ou não? Dizemos sem qualquer malícia: o senhor António Costa tem, de facto e de direito, obrigação de receber para rastreio arbitral um extraordinário e dourado apito. A requintada prestação que fez no jogo Porto-Benfica, se convenceu indígenas cegos e lacrimantes, uma meia dúzia de exaltados analistas do éter, cinco repórteres estrábicos e recebeu as palmas do edil de Gaia (presume-se que está em todo o lado), a nós, com indisfarçado orgulho encarnado, a justa homenagem que fazemos é dar-lhe o tal apito.

António Costa & Costa foi empanturrado de aplausos. Até o frenético Fernando Seara, de Sintra, jura, pela saúde de Eusébio (já se vê), que a gramática legislatória da arbitragem foi zelosa e submissa. Não nos convence o testemunho. Ao fim dos 20 minutos científicos e à Benfica, a rapaziada azul e branca foi acometida da doença (praga do César?) das faltas, acompanhadas de impropérios vários ao tal Costa e respectiva família. Conhecemos o filme. Não somos daqueles que pensamos que a arbitragem é tendenciosa se marca penaltys que não existem ou o seu contrário, mas tão só queremos assinalar que um verdadeiro árbitro, daqueles do dourado apito, não necessita dessas divertidíssimas cenas. Basta não admoestar jogadores (seja de que cor tenham) quando prevaricam. Basta permitir que uma qualquer equipa ou jogador intimide o adversário. Basta não manter a ordem (estamos, decididamente, rigorosos) estabelecida pelo cardápio da arbitragem. Sem falsas subjectividades.

Pronto, já está. E foi penalty contra o Simãozinho, passe os gorjeios dalguns. Que se saiba, o ombro ainda não descai até à manápula. Terminamos: o empate é justo, qualquer equipa podia ter ganho. A dúvida é: e o senhor Costa, o António? Ganhou o quê?