quinta-feira, 30 de setembro de 2004


[No dia do nascimento de Artur Portela Filho - 30 Setembro 1937]

"Com Salazar, impacientavam-se na antecâmera. Com Marcello Caetano, entraram, de roldão, na vida pública.
Vêm de Económicas e Financeiras, de Engenharia, de Sociologia. Têm quarenta anos. São apolíticos.

Estão na Assembleia Nacional, na Câmara Corporativa, nos Gabinetes Técnicos. Fazem sauna, são católicos progressivos e falam alto, forte.
São a 3ª geração de 1926. A Primeira era Mário de Figueiredo. A segunda, Ulisses Cortez. A terceira, Francisco Balsemão.

A política, ela própria, globalista, surge-lhes como um romantismo. Não há política. Há políticas. Não há política. Há soluções.
Solução do problema económico. Solução do problema rodoviário. Solução do problema urbanístico. Solução do problema migratório.

Portugal é um exercício. A Europa, um exame de frequência. O desafio americano, um concurso. A EFTA um treino. O Mercado Comum, um curso semestral. (...)
Ideologicamente são cegos. Profissionalmente são aptos. A política é um pretexto. A eficácia, um fim em si mesmo.

São a nova aristocracia. O País é, de súbito, para eles, das esferas de acção mais próximas, a que dá mais chances. A política não é, para eles, res publica, civismo, humanismo. É performance ..."

[Artur Portela Filho, "Marcello Caetano e os Tecnocratas", in A Funda, 1º vol., Moraes, 1972]

Brincadeiras pouco "docentes"

"A evidência necessita de invólucro para não morrer na estrada" [M. C. V.]

Como de costume, proclama-se o divertido sentimento que tudo está bem quando acaba bem. A lista de colocação de docentes é, de hoje em diante, de grande modéstia para qualquer talento imprudentemente instruído em algoritmos educacionais, afinal um simples e trivial jogo de 30 minutos para o verdadeiro indígena com cadastro computacional. A declaração na TV, do erudito operário da programação que pensou, organizou e concretizou a listagem do nosso desassossego, provocou uma suave emoção nas famílias lusas, conquistou o caricato analfabetismo da maioria governamental e, melhor ainda, fez empapar de suor as almas penadas dos sindicalistas.

A bem dizer, todos eles suspiravam pelo começo das aulas. As famílias pelo cansaço de aturar os filhos e educa-los com a branda ternura com que a escola-armazém o faz. A maioria, apinhada de grandes educadores, afugentou o mau-olhado e a chacota do dr. Justino, ao mesmo tempo que retirou o doce à oposição. Os sindicatos de professores, obstinados em defesa de um engasgado concurso sem qualquer credibilidade, ficaram momentaneamente info-míopes e aderiram, porque a luta segue sempre dentro de momentos, à bondade decorativa da listagem. Os professores, pela natureza das coisas, pouco se importaram se estavam sequestrados numa qualquer ilegalidade, desde que o trabalho apareça, que a vida está difícil.

Porém, a divertida ideia que pode ter valimento a lista de colocação de docentes é de uma audácia nunca vista. E, deste modo, a desabrida prosápia desse genial programador da "teoria do jogo da cadeira" torna-se, no imediato, numa infausta trapalhada, que fará da empreitada ministerial motivo não só de chacota mas também de graves penalizações administrativas e monetárias. Quer isto dizer, que partindo-se da lógica economicista de não abrir lugares no quadro de escolas, para que exista poupança, todo este processo de colocação de professores - que deve ser sempre pensado em termos técnico-pedagógicos - redundou desgraçadamente num desperdício de dinheiro público, para além de um tormento para alunos, famílias, professores e educadores. Como é habitual.

Boletim da Livraria de J. A. Telles da Sylva

Pode-se consultar on line, o Boletim nº 33 da Livraria J. A. Telles da Sylva, Rua Laura Alves, nº 19, 3º Esq, Lisboa, referente ao mês de Setembro e a cargo de Margarida M. Soares Franco, que como sempre é de grande interesse bibliográfico.

quarta-feira, 29 de setembro de 2004



Miguel Cervantes [n. 29 Setembro 15470-1616]

"Se bons açoutes me davam, muito bem montado eu ia: se bom governo eu apanho, mui bons açoutes me custa. Isto não o entendes tu por ora, Teresa minha, mas outra vez to explicarei. Hás-de saber, que determinei que andes de coche, que é o que serve, porque tudo o mais é andar de gatas. És mulher de um governador: vê lá se há alguém que te chegue aos calcanhares (...) D. Quixote, meu amo, segundo ouvi dizer nesta terra, é um louco assisado e um mentecapto gracioso, e eu não lhe fico atrás (...) Daqui a poucos dias partirei para o governo, para onde vou com grandíssimo desejo de juntar dinheiro, porque me disseram que todos os governadores novos levam essa mesma vontade: eu lhe tomarei o pulso, e te avisarei se hás-de vir estar comigo ou não (...) A duquesa, minha senhora, beija-te mil vezes as mãos: tu retroca-lhe com duas mil, que não há cousa que saia mais barata, segundo diz meu amo, do que os bons comedimentos (...)"

[Carta de Sancho Pança a Teresa Pança, sua Mulher, in D. Quixote de La Mancha, Livraria Lello, Porto, 1933]

[A Sé da Guarda]

"... A catedral da Guarda é um verdadeiro tratado esotérico. A nível da planta baixa «jaz» o corpo do Homem Cósmico. Esta simbologia nada tem a ver, segundo alguns autores, com a forma da cruz do templo (nave central e nave cruzeira). Para eles a planta cruciforme diz respeito à relação entre o Homem e o Cosmos (Homem de braços abertos, em posição jacente) e não é característica do Cristianismo. (...) Por exemplo, citando Durand Mende, cada elemento da estrutura de uma catedral possui as qualidades comparáveis às do corpo humano: o transepto ao coração, que bate no centro do edifício; a fachada nascente, a da porta principal, aos pés do Homem Cósmico; a abside, à cabeça. Os pés localizam-se à entrada, evocando a marcha dos peregrinos.

Nos primeiros tempos da Inquisição em Portugal, depois de meados do séc.XVI, a luminosidade do interior da Sé da Guarda foi reduzida por terem colocado no fundo do ousio um Grandioso Retábulo [Nota: de autoria de João de Ruão]. Por esta razão reduziu-se a luz que reflectia na nave central a harmonia cósmica. A Catedral tornou-se sombria (...) A grandeza e a imponência do Retábulo atrai as atenções para quem entra na . Naquele período de intolerância religiosa e perseguição aos Judeus, o testemunho iconográfico das cenas da morte de Jesus ajudou a justificar de maneira equivoca o trabalho dos inquisidores e assanhou os ódios contra os Hebreus, «matadores de Cristo». É curioso notar que a inauguração do Retábulo da Catedral da Guarda coincide com o inicio das perseguições em série e em grupo, junto dos cristãos-novos da Cidade, o que por certo não pode ser dissociado das denúncias ..." [Adriano Vasco Rodrigues, in Guarda Pré-História, História e Arte (Monografia), 2000]

terça-feira, 28 de setembro de 2004



André Breton [1896 - m. a 28 Setembro 1966]

"... O Espírito do homem que sonha satisfaz-se inteiramente com o que lhe acontece. Deixa de poder colocar-se a angustiante questão da possibilidade. Mata, voa mais célere, ama quanto queiras. E se morres, não é na certeza de acordares entre os mortos? Deixa-te conduzir, os acontecimentos não admitem que os adies. Não tens nome. A facilidade de tudo é inapreciável (...)

O homem põe e dispõe. Só a ele cabe pertencer-se todo inteiro, isto é, manter em estado de anarquia o âmbito cada vez mais temível dos seus desejos. A poesia ensina-lho: traz com ela a compensação perfeita das misérias que sofremos ..."

[A. Breton, in Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial, P&R, 1977]


37th World Team Championships
Estoril, Portugal
22 Oct - 5 Nov 2005

[O Terreiro do Paço]

"O Livro de Toth, mais conhecido como Tarot é, como se sabe, constituído por 78 lâminas, originalmente de ouro fino, pertencendo 22 lâminas aos Arcanos Maiores, os esótericos, e as restantes 56 aos chamados Arcanos Menores ou exotéricos (...)

Se observarmos, sob o ponto de vista esotérico, o Terreiro do Paço logo verificamos que a expressão preponderante é a sua vasta, a sua profusa arcaria. Existe uma intencionalidade na disposição muito particular desses elementos que ultrapassa, sem dúvida, a simples função estrutural da sua arquitectura. Os edifícios laterais contêm 28 arcos, cada um, cuja soma é de 56, o que corresponde ao número de lâminas dos Arcanos Menores.

Na fachada principal, entre as ruas do Ouro e da Prata, contamos, por outro lado, 22 arcos, 11 em cada direcção, a partir da Rua Augusta. Ora, 22 arcos correspondem exactamente ao número de lâminas dos Arcanos Maiores, os arcanos iniciáticos.
Se aplicarmos a cada arco o arcano que lhe corresponde, possuímos a chave interpretativa de um ciclo completo de manifestação: relativamente aos 56 arcos, a manifestação profana, quanto aos 22 arcos frontais, entre as ruas do Ouro e da Prata, a realização oculta." [O. N. Gonçalves, in Quinto Império nº3, Abril de 1991]


À memória de D. Carlos I

[n. a 28 de Setembro de 1863]



"O grande mal dos modernos é ter perdido o senso comum sem ter aprendido a raciocinar. Isto é de resto apenas uma forma do mal de hoje: o termo-nos desligado do passado sem nos termos adaptado ao futuro"

[Fernando Pessoa]

segunda-feira, 27 de setembro de 2004



Heberto Padilla [1932 - m. a 25 Setembro 2000]

"Madre, todo ha cambiado.
Hasta el otoño es un soplo ruinoso
que abate el bosquecillo.
Ya nada nos protege contra el agua
y la noche.

Todo ha cambiado ya.
La quemadura del aire entra
en mis ojos y en los tuyos,
y aquel niño que oías
correr desde la oscura sala,
ya no ríe ..." [H. P., in Exílios]

Alguns Locais: Heberto Padilla / Heberto Padilla (Biografia) / ¿Quién es Heberto Padilla? / Heberto Padilla: delito de poeta / El escritor ante una batalla ideológica / Imágen de Julio Cortázar (por H. Padilla) / Fuera del juego (poesia) / Antologia Poesia

A Posteriori

- é possível que as declarações de David Justino nos jornais e TV's pudessem ser diferentes. Mas a originalidade da cacofonia ministrada, perfeitamente anti-pedagógica diga-se, é que a leveza das acusações do ex-Ministro da Educação Barrosista não tem qualquer sentido técnico, político ou educativo. David Justino é protagonista de si próprio. Transviado do seu métier, com uma total ausência de formação para o cargo, tomba no Mi(ni)stério da Educação sem poder escolher a equipa de trabalho, cerceado que estava numa autonomia por contrato Barrosista-Portista, sem projecto global, sem princípios orientadores, sem estratégia de mudança. O que resta depois das suas esquivas afirmações é a visão de um homem sem aprumo, angustiado e torturado. Pode ter toda a razão do mundo, mas falta-lhe a inspiração para o desvendar.

- a piramidal vitória de José Sócrates na sua eleição para secretário-geral do PS é a sepultura de todos nós. Não porque exista qualquer insensata tramóia conspirativa antidemocrática, mas porque representa, como noutros partidos, a mais perversa vitória do aparelho e dos interesses instalados. Quem, por qualquer motivo, soubesse das peripécias havidas, nas pressões desatinadas feitas, do alarido absolutamente disparatado construído sobre a cabeça dos eleitores socialistas, coraria fascinado. Será assim em todos os partidos, mas podia ser diferente. E não está em causa a figura de Sócrates, agora ocupado a manejar a agulha de candidato a primeiro-ministro com Lopes em fundo, mas sim a ideia que os desmandos e as vaidades de alguns são o ridículo para todos nós, simples mortais indiferentes ao construído democrático.

sábado, 25 de setembro de 2004



William Faulkner [n. 25 Setembro 1897-1962]

[O Som e a Fúria] - "... O romance faz-nos mergulhar, logo de começo, no inferno interior de Benjy, o idiota, o que justifica a reminiscência shakespeariana, que dá o título ao livro: (a vida) «é uma história contada por um idiota, cheio de som e fúria e sem qualquer sentido»

(...) Publicado pela primeira vez em 1929 [The Sound and The Fury], a sua composição recolhe o fruto de uma larga experiência literária, cujos precedentes são simultâneamente europeus e norte-americanos. Destes retoma a tradição impressionista de Henry James e o tipo de narrativa à Hawthorne, que se concentra na análise do dessoramento de uma antiga família; daqueles assimila em particular o magistério de James Joyce ..." [Luís de Sousa Rebelo, in prefácio a O Som e a Fúria, Portugália, trad. de Mário Henrique Leiria e H. Santos Carvalho]

[Credo]

"Creio na Arte, símbolo de apóstolos e mártires, toda poderosa, criadora de todas as belezas e no Livro, a sua expressão máxima, o qual é concebido pela graça do génio, nasceu do Sonho, padecendo o mortal sob paixão criadora, crucificando-se o artista para erguer o seu monumento, tentando pintar os Infernos e os Céus, e um dia surgiu divino, guardando a chama do Sol, e ficou colocado à mão direita de Deus, cinzelador da Terra, do Infinito e do Mar, de onde iluminará os vivos e os mortos. Creio na natureza, musa inspiradora e reveladora dos génios, na ressurreição da beleza, na Obra Eterna. Amem"

[N. A. Archer de Lima, in Livro de Horas para a Culto do Alfarrábio, Lisboa, Tip. do Comércio, 1928]

Boletim Bibliográfico 21 de Luís P. Burnay

Luís Burnay, Livreiro-antiquário com morada na Calçada do Combro, 43-47, Lisboa, lançou o seu 21 Boletim, com um conjunto de 545 livros esgotados e raros, a preços razoavéis.

Algumas referências: Agostinheida, poema heróico-cómico, [de Nuno Álvares Pereira Pato Moniz], 1817 / Quarenta Anos de Vida Literária e Política, por António José de Almeida, 1933-34, IV vols / A Mornaça: a revolta nos Açores e Madeira em 1931, de Ferro Alves, 1935 / Santos Portugueses, por João Ameal, 1957 / Descripção e Historia do Concelho de Moimenta da Beira, pelo Abade d'Arcozellos, 1926 (raro) / As Sciencias Malditas. Esboço de Filosofia hermética, de João Antunes, 1924 / O Archeologo Português, revista importante e valiosa dirigida por Leite Vasconcelos / D. Maria I, de Caetano Beirão, 1934 / O Antisemitismo, por Adolfo Benarús, 1937 / O Povo Português nos seus costumes, crenças e tradições, de Teófilo Braga, 1995, II vols / O Senhor D. Pedro II Imperador do Brasil: Biographia por Joaquim Pinto de Campos, 1871 (raro) / Amor e Melancolia, ou a Novíssima heloisa, de A. Feliciano de Castilho, Coimbra, 1828 / Lisboa Antiga: O Bairro Alto, 1902-1904, V vols / Guia Histórico do Viajante em Coimbra e Arredores, por Augusto Mendes Simões de Castro, 1897 / O Movimento Monarchico, por Álvaro Pinheiro Chagas, 1913, II vols / O Surrealismo na Poesia Portuguesa, organ. de Natália Correia, 1973 / Da Pulhice do Homo Sapiens (Da Monarquia de vigaristas, pela Republica de Bandidos à Ditadura de papa), de Humberto Delgado, 1933 / Historia da Franco-Maçonaria em Portugal (1733-1912), por Manuel Borges Grainha, 1976 / Guia e Manual do Jardineiro ou Arte de Cultivar os Jardins, com uma estampa explicativa seguido da linguagem das flores ..., [anónimo], 1862 / As Sociedades Secretas, de Serge Hutin, 1959 / A Ilharca Incógnita ou memorias do Cavalheiro de Gastrines ..., 1802, VI vols / Jurisconsultos Portugueses do Século XIX, sob direcção de José Pinto Loureiro, 1947 / Os Cátaros: origens, desenvolvimento, perseguição, extinção, por Jesus Mestre Godés, 2001 / Obras de Francisco Sá de Miranda: ed. fac-similada de 1595, com estudo de Vítor Aguiar e Silva, 1994 / Governantes de Portugal desde 1820 até ao Dr. Salazar, por António Manuel Pereira, 1959 / Amieira do Antigo Priorado do Crato (subsídios para uma monografia), por F. V. Rasquilho e Tude M. Sousa, 1936 / A Barba em Portugal: estudo de etnografia comparativa, de J. Leite de Vasconcelos, 1925 (raro) / Corografia portugueza e descripcam topográfica do famoso Reyno de Portugal, com as noticias das fundações das Cidades, Villas & Lugares ..., de António Carvalho da Costa, 1868, III vols / Definições e Estatutos dos Cavalleiros, e Freires da ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Historia da Origem e Principio della, Of. De Miguel Manescal da Costa, 1746 (raro) / Galeria das ordens Religiosas e Militares, desde a mais remota antiguidade até nossos dias, Porto, 1843, II vols (raro) / Regra da Cavalaria e Ordem Militar se S. Bento d'Aviz, Lisboa, Impressa por Jorge Rodrigues, 1631 / O Vidro em Portugal, de Vasco Valente, Porto, 1950

sexta-feira, 24 de setembro de 2004



F. Scott K. Fitzgerald [n. a 24 Setembro 1896]


Faites à La Main

- os funcionários públicos do M.E. se fossem coloridos pelo mão do inefável dr. Medina Carreira não depenicavam listas de colocação de docentes, muito menos escarafunchavam numa semana o que só se pode fazer em vários meses (salvo milagres autorizados pela tutela e na sua primeira versão por inteligentes sindicalistas). Nem procuravam disfarçar o desconcerto da sra. Ministra de Educação ou as oração do incontinente Santana. Muito menos alinhavam nas divertidas afirmações dos Sindicatos de Professores, sob o aconchego sorrateiro do dr. Paulo Sucena ou do subtil piscar de olhos do dr. João Dias da Silva. Evidentemente que, para o tão habilidoso como ressaibiado dr. Carreira, há muito que uma qualquer bula teria atirado os dissolutos e gastadores funcionários públicos para o seguro redil do desemprego. A bem da Nação, em amparo da absorvente faina de um qualquer conselho de administração da CGD ou em defesa da enérgica administração da EDP. O dr. Carreira jaz posto como um pároco denunciador da plebe, ao mesmo tempo que debaixo da capa lhe caem mapas e mapas de números baptizados, emolumentos depravados, papéis espirituosos. O tabelião dr. Medina Carreira tem um sonho: ver o professor Silva Lopes e a doutora Teodora Cardoso de lápis na mão a fazer listas de colocações de docentes, em vez de se incomodarem a reflectir sobre economia, finanças ou orçamento. Por moralidade e a bem da Nação.

- o furor erudito do vendedor de sistemas Dias da Cunha é arrebatador. O presidente do SCP topa os folguedos do futebol em rápida vistoria, mas quando pretende agarra-los a bicharada desaparece misteriosamente. A-peseiro disso lança raios e coriscos implacáveis, barafusta no oráculo de Alvalade, faz hermenêuticas muito condimentadas nas TV's. O alarido deve frutificar. Até porque, empoleirado nas Torres das Antas, Jorge Nuno Pinto da Costa reflectindo sobre a transcendência do Uno juntamente com o filósofo Víctor Fernández, vai estabelecendo os competentes regulamentos. E Bruno Prata, o cómico de serviço aos jornais, arquitecta prosa suculenta sobre a equipa azul e branca para os cabisbaixos associados. O sistema seguirá dentro de momentos, nem que seja faites à la main. Dias da Cunha antecipadamente agradece.

quarta-feira, 22 de setembro de 2004



Antonio Saura [n. 22 Setembro 1930-1998]

Herança Barrosista

A arte de administrar da governação de Durão Barroso é o maior atestado da tragédia que tombou sobre as nossas cabeças. A coreografia política obscena manifestada, a arquitectura reformista afiançada até à exaustão - suprema vaidade revelada em mimosas prédicas à nação -, a laboriosa presunção de brilho, talento, sacrifício e confiança no desempenho e competência governamental resultam num mar imenso de aguçados escolhos, numa grosseira e indecoroso aventura sem glória, num espectáculo espantoso de desencantos e amarguras. Todo esse descomunal e misterioso trabalho governativo não foi mais que um monumento à inépcia e incompetência, um embuste desvendado, uma calúnia à inteligência e ao bom-senso. O rendez-vous com os indígenas não passou de uma rosariada pouco empolgante e de muito artifício.

O que se sabe, hoje, por desgraça nossa, está à vista de todos. A chinfrineira do governo do presidente-preocupado-Sampaio diz-nos isso mesmo. Senão, como interpretar a inquietação pelo estado das finanças, do deficit e pelo novíssimo orçamento, do inefável Bagão Félix, aquele a quem não deixaram vestir opa para mal dos nossos pecados? Como varrer a ideia, nas nossas malabrutas cabeças, da negociata dos Hospitais-Empresas, oferecida com emoção reformadora pelo boticário ministro da Saúde? Como entender os mystérios da educação desse impagável duo David Justino & Abílio Morgado? E as pieguices dos chief executive officer estaduais? Ou o desempenho dos figurantes chairman's para todo o serviço da governação empresarial? Que dizer da extenuante lide da gestão da coisa pública, dos vários boys que as sinecuras amamentam? E dos conselhos foliões desse cabriolet Luís Delgado? E a estridente gritaria à plebe do arq. Saraiva, entretido que está no tiroteio da contra-informação? Estaremos todos nós a malucar? Poderá ser?

[A leviandade política, com que a Sra Ministra da Educação alimentou o processo de colocação de professores, mesmo que a boa fé exista, é inaceitável. Não querendo enxergar, desde o início, as desmandas informáticas (porque as outras só terá consciência daqui a uns tempos) herdadas anteriormente, aferrolhando-se ao compadrio e à balbúrdia laranja, não fez mais que dar uma triste imagem de perdedora. Desde a primeira hora que a Ministra devia ter suspendido o concurso de docentes, tendo mesmo sido avisada para tal facto, e só mordeu o freio da derrota política por sua inteira vontade. À banalidade do seu desempenho televisivo acresce a impotência de se sujeitar à gritaria dos sindicatos e a ouvir o ar grave de catedrática educativa Fátima Bonifácio (para quando uma avaliação pedagógica a estes senhores?). Pior descrédito é impossível.]

Leilão de Livros no Palácio do Correio Velho

[Dias 28, 29 e 30 Setembro]

Arte e Arquitectura / Biografias / Botânica / Brasiliana / Camoniana / Coleccionismo / Direito / Equitação / Gastronomia e Enologia / Heráldica e Geneologia / Literatura / Manuscritos / Numismática / Queirosiana / Revistas / Arquivo de Alfred Tait (Barão de Soutelinho)


Livros & Arrumações

- Da Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, Ano 76, vol. LXXII, nº 443, de Jul/Set. 1977 um curioso trabalho denominado, "A Criação Nacional de Cavalos Árabes e a Homologação do seu «Stud Book»", pelo médico-veterinário José Monteiro. Refere "os seis ramos originais em que é clássico dividir a raça árabe", parte para o estudo da "genealogia do garanhão Aksoum que figura na maioria dos pedigrees dos árabes nacionais da actualidade", citando as fontes. Aponta o facto que a "óptima qualidade dos árabes nacionais resultaria da junção das boas fontes originais que foi possível reunir na Coudelaria Nacional Portuguesa, de um meio próprio para a raça e de uma apertada selecção morfofuncional feita através de severas provas". Por último refere, ainda, que o cavalo árabe "tem sido prejudicado na sua evolução e melhoramento por estar rodeado de lendas mais ou menos fundamentadas, de ideias preconcebidas e de concepções ultrapassadas".

- No II Centenário da Imprensa Nacional [1768-1968], com notas coligidas por Ramiro Farinha, um opúsculo, "Imprensa Nacional de Lisboa. Sinopses da sua História", 1969. Algumas anotações: data de 24 de Dezembro de 1768 o alvará que criou a Impressa Régia, "que ficou subordinada à Junta do Comércio". Como director ficou Nicolau Pagliarini, sendo o mestre-escola e abridor de estampas o célebre Joaquim Carneiro da Silva (aprendeu desenho no Rio de Janeiro com João Gomes, frequentou a escola de Louis Sterni em Roma, seguiu para Florença e a convite do Marquês de Pombal veio para Lisboa) e o mestre-livreiro da Real Biblioteca era António José. A partir das Cortes Constituintes de 1820, passa a denominar-se por Imprensa Nacional. Em 1878 o administrador foi Venâncio Augusto Deslandes (que publica a importante obra, Documentos para a História da Tipografia Portuguesa do Século XVI e XVII, em 1822) e com a sua morte sucede Luís Derouet, sendo substituído em 1915 por Augusto Machado Santos e em 1917 por Almeida Garrett. Da bibliografia consultada registe-se: A Imprensa Nacional e as Humanidades Clássicas", por Rebelo Gonçalves; "A Imprensa Nacional - Subsídios para a Sua História", de José Vitorino Ribeiro; "A Imprensa Nacional de Lisboa - Memória Histórica", por Norberto de Araújo e Artur Pereira Mendes; "A Imprensa Nacional de Lisboa - Breve Notícia Histórica", por Henrique Ferreira da Costa.