segunda-feira, 27 de setembro de 2004


A Posteriori

- é possível que as declarações de David Justino nos jornais e TV's pudessem ser diferentes. Mas a originalidade da cacofonia ministrada, perfeitamente anti-pedagógica diga-se, é que a leveza das acusações do ex-Ministro da Educação Barrosista não tem qualquer sentido técnico, político ou educativo. David Justino é protagonista de si próprio. Transviado do seu métier, com uma total ausência de formação para o cargo, tomba no Mi(ni)stério da Educação sem poder escolher a equipa de trabalho, cerceado que estava numa autonomia por contrato Barrosista-Portista, sem projecto global, sem princípios orientadores, sem estratégia de mudança. O que resta depois das suas esquivas afirmações é a visão de um homem sem aprumo, angustiado e torturado. Pode ter toda a razão do mundo, mas falta-lhe a inspiração para o desvendar.

- a piramidal vitória de José Sócrates na sua eleição para secretário-geral do PS é a sepultura de todos nós. Não porque exista qualquer insensata tramóia conspirativa antidemocrática, mas porque representa, como noutros partidos, a mais perversa vitória do aparelho e dos interesses instalados. Quem, por qualquer motivo, soubesse das peripécias havidas, nas pressões desatinadas feitas, do alarido absolutamente disparatado construído sobre a cabeça dos eleitores socialistas, coraria fascinado. Será assim em todos os partidos, mas podia ser diferente. E não está em causa a figura de Sócrates, agora ocupado a manejar a agulha de candidato a primeiro-ministro com Lopes em fundo, mas sim a ideia que os desmandos e as vaidades de alguns são o ridículo para todos nós, simples mortais indiferentes ao construído democrático.