quarta-feira, 22 de setembro de 2004


Herança Barrosista

A arte de administrar da governação de Durão Barroso é o maior atestado da tragédia que tombou sobre as nossas cabeças. A coreografia política obscena manifestada, a arquitectura reformista afiançada até à exaustão - suprema vaidade revelada em mimosas prédicas à nação -, a laboriosa presunção de brilho, talento, sacrifício e confiança no desempenho e competência governamental resultam num mar imenso de aguçados escolhos, numa grosseira e indecoroso aventura sem glória, num espectáculo espantoso de desencantos e amarguras. Todo esse descomunal e misterioso trabalho governativo não foi mais que um monumento à inépcia e incompetência, um embuste desvendado, uma calúnia à inteligência e ao bom-senso. O rendez-vous com os indígenas não passou de uma rosariada pouco empolgante e de muito artifício.

O que se sabe, hoje, por desgraça nossa, está à vista de todos. A chinfrineira do governo do presidente-preocupado-Sampaio diz-nos isso mesmo. Senão, como interpretar a inquietação pelo estado das finanças, do deficit e pelo novíssimo orçamento, do inefável Bagão Félix, aquele a quem não deixaram vestir opa para mal dos nossos pecados? Como varrer a ideia, nas nossas malabrutas cabeças, da negociata dos Hospitais-Empresas, oferecida com emoção reformadora pelo boticário ministro da Saúde? Como entender os mystérios da educação desse impagável duo David Justino & Abílio Morgado? E as pieguices dos chief executive officer estaduais? Ou o desempenho dos figurantes chairman's para todo o serviço da governação empresarial? Que dizer da extenuante lide da gestão da coisa pública, dos vários boys que as sinecuras amamentam? E dos conselhos foliões desse cabriolet Luís Delgado? E a estridente gritaria à plebe do arq. Saraiva, entretido que está no tiroteio da contra-informação? Estaremos todos nós a malucar? Poderá ser?

[A leviandade política, com que a Sra Ministra da Educação alimentou o processo de colocação de professores, mesmo que a boa fé exista, é inaceitável. Não querendo enxergar, desde o início, as desmandas informáticas (porque as outras só terá consciência daqui a uns tempos) herdadas anteriormente, aferrolhando-se ao compadrio e à balbúrdia laranja, não fez mais que dar uma triste imagem de perdedora. Desde a primeira hora que a Ministra devia ter suspendido o concurso de docentes, tendo mesmo sido avisada para tal facto, e só mordeu o freio da derrota política por sua inteira vontade. À banalidade do seu desempenho televisivo acresce a impotência de se sujeitar à gritaria dos sindicatos e a ouvir o ar grave de catedrática educativa Fátima Bonifácio (para quando uma avaliação pedagógica a estes senhores?). Pior descrédito é impossível.]