
"
Creio no Inferno; é portanto aí que estou" [
Rimbaud]
A política é o nosso inferno. Nosso purgatório. Quando desnudada, o seu acto de revelação remete para a ocultação, e caímos numa crispação entre o corpo (falante) e o poder. O discurso oficial e oficioso não esconde nem mostra. Os seus efeitos são meros jogos de linguagens à maneira de
Wittgenstein. Estamos no paradigma da "
política oblíqua" – não há antes nem depois. Num mundo em crise, num país em crise, numa crise em crise ... que melhor saudade que a da vida (
Vieira).
São, pois, tempos curiosos os que vivemos. Erro nosso ou o "
excesso de civilização dos incivilizáveis" (
Pessoa)? Vários corpos, imensos rostos, mas "
qual é o sujeito do outro"?
Barroso e o seu ar
blasé de quem não é nada com ele, ou eu sou diferente dos outros?
Portas, com aquele tom grave, inchado, cuspindo ameaças, dedo em riste que a democracia segue dentro de momentos? A
Ferreira Leite, impassível, em serviço de tracção ao défice orgulhosamente nosso? O inefável
Figueiredo Lopes completamente inútil, simplesmente inactivo, meticulosamente deformado do tédio da governação? O
Carmona Rodrigues curandeiro de viadutos, amotinado das obras públicas? O
Theias, ambientalmente semeado num filme outro, enterrado até à cabeça num qualquer riacho de província? O
Roseta, excomungada a social-democracia que o dinheiro amansou, num carrossel cultural que não sai do lugar? O amestrado
Arnaut, frenético, piscando o olho em cerimónias, tábua de engomar da governação? Todos em osmose universal, todos mesmo aqueles que "
fazem mijar a caneta para cima do papel de jornal" (
Péret).
Dilema da "mulher de César"O
Presidente da Câmara da Figueira da Foz teceu comentários inaceitáveis sobre qualquer tipo de suspeição levantada no (
agora) caso dos terrenos do
Vale Galante, conforme se pode ler n'
O Publico de ontem. Vários blogs figueirenses (
O Palhinhas,
Amicus Ficaria) já se tinham referido ao facto em causa, que irritou o senhor presidente. O engenheiro
Duarte Silva não pode ameaçar cidadãos quando questionado sobre assuntos da sua governação. Não é pago para tal. E como sabe "
à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer séria".
A notícia vinda no jornal
O Publico é, goste-se ou não, preocupante. Independentemente da actual autarquia ter (ou não) as mãos atadas sobre o negócio feito pela gestão de
Santana Lopes da venda do terreno à
Imofoz (
Grupo Amorim) e à sua configuração nos termos da hasta pública ("iniciar, no prazo de um ano, a construção do hotel", o que não foi feito), tal não lhe permite impedir que se procure explicações para a venda do terreno em menos de 24 horas, feito pela própria
Imofoz a uma outra empresa (
Fozbeach), com mais valias de 1,145 milhões de euros.
Os cidadãos têm o direito e o dever de procurar explicações para este caso, não sendo bastante o engenheiro
Duarte Silva assumir que o negócio feito por
Santana Lopes lhe "é alheio", ou mesmo dizendo que o "anterior executivo foi pouco prudente". Até porque, na
Figueira (ao que se sabe) ninguém é mudo. Há muito tempo.