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O mais inteligente dos homens é, em douta opinião, aquele que se chama imbecil ao menos uma vez por mês, e hoje quem vai nisso? É reparar no que dizem, escrevem e fazem os nossos pluralistas duma figa. Noutros tempos, um imbecil compenetrava-se de que o era, até convinha. Na longa noite fascista (oh, estes lugares-comuns são deliciosos!) era prudente. Agora acabou-se! E baralharam tão bem as cartas, numa batota tão sabida e repetida, que um homem inteligente já não se distingue do imbecil. Estes tipos, pós 25 de Novembro, fizeram-no de propósito. Um imbecil, aliás, não tem preço. Isto é, não vale nicles. Um traque sempre é qualquer coisa. E esta referência escatológica lembra-me que estou na hora do jantar. E isso quer queiram quer não, é indispensável ao meu PREC (=processo de recuperação em curso). (...)
[Luiz Pacheco, Portugal dos Pequeninos, in Letras e Artes, DP, 10/11/1977]