EDUCAÇÃO: dias amargos, gente inútil (I Parte)É fácil a oratória & o palanfrório contra as "corporações", o funcionalismo público ou a canalha. Está –
sempre esteve – na moda. Nos dias d’hoje, a sabatina calha aos professores e educadores, aliás conforme a tradição em tempos de crise (económica, social e de valores). O
professorado regularmente foi perseguido, injuriado e humilhado, sempre a despeito do seu único "crime": o ter investido no estudo, nas suas qualificações e no trabalho socialmente honesto. Foi assim na
Monarquia, continuou covardemente na
I República e a investida definitiva e repressiva dá-se já durante o
Salazarismo. Hoje regressa concludentemente com o governo do eng.
Sócrates.
Sejamos simpáticos: um grupo de curiosos "educadores" ligados à
União Nacional dos interesses & corporações instalados na paróquia implodiu – de vez – com o ensino, a educação e a Escola Pública e, no acto, desembestou publicamente contra a classe docente, essa putativa "
massa igualitária e anónima". Já –
AQUI,
AQUI,
AQUI ou
AQUI – apresentámos a redacção contra tal afadistada investida, portanto não voltaremos a tal moléstia.
Com a sra.
Lurdes Rodrigues e os seus dois gnomos à cabeça, presumivelmente sustentados numa "imaculada" teoria de pronto-a-vestir educativo nunca enunciada (
ex-ante) eleitoralmente ou conhecida na razão superior da sua operacionalidade entre os países civilizados,
surgiu uma brigada trauliteira de gente inútil, habilidosa na encenação e provocação política, generosos na ignorância, moralmente irresponsáveis. Que entre o apoio a tal gente se encontrem sinceros "reformadores" do sistema de ensino e educação, insatisfeitos com o modelo existente na Escola, não é inédito nem impossível. Porém é cansativa a esfarrapada argumentação sobre a
avaliação e o seu
dogma, deixando de fora todos os aspectos críticos sobre a Escola (como p.ex., os objectivos educacionais, a administração e gestão escolar, a matriz curricular, o trabalho pedagógico, a formação de professores, etc.),
dogma esse onde tudo e todos têm de ser avaliados, crença irracional presente na tirania do ter que ser aprovado sempre pelo outro a cada momento (
A. Ellis, 1971). Até porque o modelo que sustém a doutrina é insustentável, quer do ponto de vista de uma escola de qualidade quer como organização institucional.
A literatura sobre o tema "
avaliação de desempenho dos professores" não permite argumentar positivamente o construído actual do modelo de
Lurdes Rodrigues & João Freire. Muito pelo contrário, conforme os vários conflitos organizacionais patentes e que dia-a-dia ocorrem e teimam em desocultar. Mesmo o arrazoado conceito teórico de "
profissão e profissionalidade docente" aplicado (uma justificação constante para a miséria do modelo) não permite inferir qual o
perfil do professor (até pelo processo de fragmentação em curso) a avaliar e a sua
regulação, apenas justifica os motivos da
desqualificação e
proletarização da profissão, por ora encetada. De facto, tal ideologia do profissionalismo (conforme, e bem,
Lurdes Rodrigues critica no seu livro
Sociologia das Profissões, Celta, 2002), que curiosamente mais parece ter saído de uma velha e desadequada "sociologia das ocupações", pelo modelo a implementar pretende apenas legitimar e efectuar a
desprofissionalização docente, em tempos de emagrecimento do Estado (assunto que o
pouco escrupuloso Mário Soares não relaciona com o actual ataque feito aos docentes, passe a sua intenção e graça política de combate ao insidioso neoliberalismo) e onde, via
ECD, a avaliação tem lugar central.
[ver a propósito da questão da
profissionalização docente, entre
outros: A. Nóvoa, C. De Lella, C. Dubar, C. Gauthier & M. Mellouki, C. Maroy, Contreras, E. O. Shiroma, K. Densmore, L. Kreutz, Lortie, M. F. Enguita, M. Ludke, M. T. Estrela, M. Tardif, P. Bourdieu, P. Perrenoud, Pochmann, R. Bourdoncle, R. Canário, V. Isambert-Jamati]
[
continua]